sexta-feira, 9 de maio de 2014

Não vim destruir a Lei - Godoi


Não vim destruir a Lei

Rodrigo de Godoi - Fevereiro de 2006


Acredito que existam inúmeros artigos, textos e livros sobre esse tema, mas lembro-me que na universidade ouvíamos um professor comentar sobre a nossa péssima mania de achar que não precisávamos mais pesquisar sobre determinado assunto quando muitos já o haviam estudado, como se fosse possível esgotá-lo. Sendo assim, permita o leitor que falemos sobre o Capítulo Primeiro de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado Não vim destruir a Lei.
Como não poderia deixar de ser, o início do Evangelho tem como propósito anunciar o surgimento do Espiritismo. Para esclarecer que a Doutrina Espírita constitui a Terceira Revelação, é preciso mencionar as duas primeiras. De início, temos o Decálogo, ou os Dez Mandamentos, Leis Divinas e imutáveis, que num primeiro momento ficaram sob a responsabilidade de Moisés, para que fossem transmitidas a um povo espiritualmente muito atrasado, quase animalizado. Atualmente essas Leis são responsabilidades de todos os que estão encarnados, considerando o fato de que constituímos uma humanidade (um pouco) menos atrasada.

Além dos Mandamentos, Moisés estipulou, com o auxílio de outros colaboradores (1) , uma série de leis para que as pessoas não matassem umas às outras. Esses regulamentos, se assim podemos chamar, diferentemente dos Dez Mandamentos, correspondem a leis que deveriam ser atualizadas de acordo com o avanço do tempo e com o amadurecimento desses espíritos encarnados. Entre essas leis temporárias poderíamos citar algumas:

Quem ferir a outro de modo que este morra, também será morto. (Êxodo, 21: 12)
Quem ferir a seu pai ou a sua mãe, será morto. (Êxodo 21: 15)
Quem amaldiçoar o seu pai ou sua mãe, será morto. (Êxodo 21, 17)

Poderíamos levantar a seguinte questão: O chamado Velho ou Antigo Testamento tem relevância para o entendimento da Doutrina Espírita?
Claro que sim, mas é necessário relativizar o grau de importância de cada ensinamento. A importância de Moisés é que a humanidade teve um primeiro contato com a noção de justiça, por mais absurda que essa justiça possa parecer nos dias de hoje. Seria demais qualquer ensinamento mais profundo em relação a estas leis para esse período. Para cada lição há o seu devido tempo.
Com a chegada de Jesus, 18 séculos depois (2), os Dez Mandamentos foram resumidos em dois ensinamentos mais abragentes, e não menos importantes: "amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo" (3) . A idéia de justiça, com Moisés, agora era atualizada com a Lei de Amor. Conforme nos ensina a Doutrina Espírita, enquanto a chamada Lei Antiga corresponde a um clamor dos homens pedindo sinais dos Céus, o Novo Testamento (Segunda Revelação), trazido por Jesus, é a resposta de Deus, dizendo que O Pai Eterno está presente ao lado de Seus filhos, e que os ama incondicionalmente.

Mas e o Espiritismo?
Conforme nos ensina o Evangelho, o Espiritismo é o Consolador prometido há 2000 anos (4). A Doutrina Espírita é isenta de dogmas. Não veio para contestar o que foi ensinado por Jesus, e sim para auxiliar a humanidade na compreensão e cumprimento de suas lições. Não se pretende como Doutrina única e possuidora exclusiva da verdade. Mas é o Espiritismo a Doutrina que esclarece sobre a continuidade da vida do espírito após a morte do corpo físico, assim como explica a reencarnação e as leis de provas e expiações. Sendo uma Doutrina muito recente, às vésperas de completar 150 anos, o Espiritismo ainda terá muito que caminhar com a humanidade. No mundo todo há bilhões de pessoas que ainda não crêem na "vida a pós a vida", quanto mais na possibilidade de comunicação com a espiritualidade, o que se dirá sobre a reencarnação. No Brasil isso é uma exceção, não só pelo fato de haver milhares de instituições espíritas atuantes, mas por ser uma nação que quase não pratica a intolerância religiosa. Quando o faz, isso se dá em proporções muito menores do que em outros países.

Daí a importância de fazermos um esforço para entendermos o primeiro capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo, porque este terá que ser, não apenas lido e relido muitas vezes, mas também será necessário que os espíritas entendam sua responsabilidade sobre o que conhecem, e que tenham a humildade para não fazer proselitismos. O Evangelho nos ensina a não pregarmos frases como "Fora do Espiritismo não há salvação", justamente para não compartilharmos de práticas excludentes. Não será difícil crer que muitos homens (espíritas ou não) que atualmente são esclarecidos e de alma pacífica, tiveram encarnações passadas como fariseus (5), ou até mesmo inquisidores (6) e tiranos. O capítulo Primeiro do Evangelho serve para nos despertar para uma época de esclarecimento, caridade e fraternidade, e para que não sejam repetidos tantos erros do passado. Deus permita que possamos seguir o exemplo de Paulo de Tarso e que diante do nosso Caminho de Damasco, ouçamos também o chamado de Jesus e tenhamos a coragem de atendê-lo.

Notas: (subir texto)
1-Entre aqueles que auxiliaram Moisés, podemos destacar Arão, seu irmão, e Josué a quem foi designada a tarefa de sucedê-lo.
2-A Gênese, cap. I, tópico 49.
3-Mateus, cap. XXII, v. 34 a 40.
4-João, todo o capítulo XIV.
5-Do hebreu parush: divisão, separação: Seita fundada por volta de 200 anos antes do Cristo. De acordo com a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, os fariseus "tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas. Servis cumpridores das práticas exteriores do culto e das cerimônias; cheios de um zelo ardente de proselitismo, inimigos dos inovadores, afetavam grande severidade de princípios; mas, sob as aparências de meticulosa devoção, ocultavam costumes dissolutos, muito orgulho e, acima de tudo, excessiva ânsia de dominação (...)"
6-Clique aqui para obter algumas informações sobre a Inquisição.

Rodrigo de Godoi, colaborador do Centro Espírita Casa de Emmanuel (Itatiba-SP).

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