domingo, 17 de março de 2013

TRABALHO - Emmanuel

“E Jesus lhes respondeu: Meu Pai obra até agora, e eu trabalho também.”
(João, 5: 17)

Em todos os recantos, observamos criaturas queixosas e insatisfeitas. 

Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que lhes foi conferido. A maioria revolta-­se contra o gênero de seu trabalho. 

Os que varrem as ruas querem ser comerciantes; os trabalhadores do campo  prefeririam a existência na cidade. 

O problema, contudo, não é de gênero de tarefa, mas o de compreensão da oportunidade recebida. 
De modo geral, as queixas, nesse sentido, são filhas da preguiça inconsciente. É o desejo ingênito de conservar o que é inútil e ruinoso, das quedas no pretérito obscuro. 

Mas Jesus veio arrancar-­nos da “morte no erro”. Trouxe-­nos a bênção do trabalho, que é o movimento incessante da vida. 

Para que saibamos honrar nosso esforço, referiu-­se ao Pai que não cessa de servir em sua obra eterna de amor e sabedoria e à sua tarefa própria, cheia de imperecível dedicação à Humanidade. 

Quando te sentires cansado, lembra-­te de que Jesus está trabalhando. Começamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós, desde quando?

Do livro Caminho Verdade e Vida, lição 4

BURILAMENTO - Emmanuel

Meu pai trabalha até agora e eu trabalho também.
– Jesus.(João, 5:17)

 Muitas vezes entregas-te a melancólicas reflexões em torno de transformações
espirituais que inutilmente intentaste.

* * *

 Deste o máximo de abnegação ao filho estremecido para quem planejaste luminoso
futuro, sem conseguir talvez arrancá-lo à rebeldia em que persiste; ofertaste a própria
existência aos pais queridos, ornamentando-lhes o caminho de auxílio e ternura, e,
provavelmente, nem de leve pudeste arreda-los da discórdia a que jazem atrelados por
longo tempo; situaste todo o coração no carinho por este ou aquele companheiro,
aguardando-lhes em vão qualquer concurso nas tarefas edificantes que te felicitam a
alma; empenhaste os mais nobres sentimentos na melhoria deste ou daquele grupo de
entes amados, seja no lar ou na organização de serviço a que te afeiçoas, e, por maior o
esforço despendido, nada colheste até agora, senão amargura e negação.

* * *

 Em meio do trabalho absorvente costumas interromper as próprias atividades,
indagando de ti mesmo se vale a pena continuar no esforço renovador...Semelhante
introdução ao desespero comumente aparece porque, em muitas ocasiões, experimentas
o desencanto de quem cava num monte de pedras procurando debalde o fio dágua que
lhe foge à sede, ou a fadiga de quem cruza o deserto, em todas as direções, sem achar
caminho para a vanguarda libertadora...Ainda assim, persevera nos bons propósitos e
colabora, quanto possível, pela consecução dos objetivos de fraternidade e
aprimoramento a que devemos todos visar.

* * *

 Uma pergunta só dar-nos-á reconforto: se Jesus, há milênios, trabalha por nós, para
que tenhamos o pequenino clarão de conhecimento com que hoje tentamos dissipar as
sombras que ainda trazemos, por que desanimar na obra de amparo aos que amamos, se
apenas agora começamos a servir no terreno da luz?

Do livro Bênção de Paz

O Sofrimento de Jesus na Visão Espírita

Na visão espírita, Jesus não é literalmente Deus, nem o “Filho de Deus”, mas um “Espírito Puro”, “o  tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo” (KARDEC, O Livro dos Espíritos, pergunta 625) (negrito meu), mas ele não sofreu nem morreu para redimir os nossos pecados, conforme ensina o cristianismo dogmático e mítico (paulinismo).
Como todos já sabemos, mas convém repetir, segundo a doutrina cristã dogmática e mítica, Jesus é literalmente Deus – o “Filho de Deus” e “Deus o Filho” (Deus encarnado, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade) – sofreu e morreu na cruz para pagar nossos pecados, nossas culpas, incluindo o “pecado original” cometido por Adão e Eva. Essa crença, como já vimos em muitas matérias deste blog, é a doutrina central cristã (paulinista) da redenção da humanidade pelo sangue de Cristo derramado na cruz. Quem crê nessa doutrina paulina e luterana está “salvo”, e quem não crê nela está condenado ao fogo do inferno eterno. Isso é verdade ou mito? Como já foi esclarecido em matérias anteriores, mas não me cansarei de repetir, esta doutrina tradicional é a de Paulo e não a de Jesus. Foi Paulo quem centralizou a atividade de Jesus em sua morte, mostrando que é através dela que o homem de fé se liberta de seus pecados, das misérias do mundo e do poder de satanás. Há muito tempo, os teólogos modernos e os estudiosos de história da Igreja vêm afirmando abertamente que o cristianismo da Igreja organizada, cuja questão central é a compreensão da salvação como fruto da morte e do sofrimento de Jesus, se apoiou em fundamentos incorretos. [...] Associando a morte do Unigênito de Deus à redenção de nossos pecados, Paulo retrocedeu às primitivas religiões semíticas, em que os pais deviam imolar seus primogênitos. Paulo também é o responsável pelos dogmas do pecado original e da trindade, posteriormente incorporados pela Igreja (KERSTEN, Holger. Jesus Viveu na Índia: a desconhecida história de Cristo antes e depois da crucificação. 17. ed. São Paulo: Best Seller, 1986, p.34-35) (negrito meu).

O Espiritismo rejeita, com razão, essa velha crença mítica e repugnante do cristianismo dogmático, ensinando-nos que Jesus, mesmo sendo um espírito elevadíssimo, um espírito puro, perfeito, não mais tendo que passar por provas e expiações, aceitou, contudo, encarnar-se e sofrer neste planeta, a fim de cumprir uma MISSÃO em favor de toda a humanidade, ou seja, a MISSÃO de nos ensinar e de praticar, como nenhum outro espírito, a VERDADEIRA RELIGIÃO, A PRÁTICA DO AMOR-CARIDADE.

A essa altura de nossa argumentação, algum cristão dogmático poderia fazer aos espíritas o seguinte questionamento:
Cristão dogmático – Se Jesus, na visão espírita, era um espírito puro, elevadíssimo, um espírito perfeito, que não mais tinha que passar por provas e expiações obrigatórias (Lei de Causa e Efeito), e que não veio à Terra para sofrer e morrer na cruz para pagar nossos pecados, como aceitar o argumento espírita segundo o qual Jesus veio sofrer e morrer para cumprir uma MISSÃO divina, ou seja, a missão de ensinar uma elevada moral à humanidade? Para alguém ensinar uma elevada moral à humanidade, era preciso sofrer tanto, como sofreu Jesus?


Espírita(s) – A Doutrina Espírita esclarece que um espírito pode encarnar-se na Terra por três razões: 1) para expiar obrigatoriamente faltas cometidas em vidas passadas; 2) para passar por determinadas provações escolhidas, a fim de progredir em sua evolução e 3) para cumprir uma MISSÃO divina, em favor da evolução da humanidade, o que explica o objetivo da encarnação de Jesus neste planeta, para o qual ele veio com a MISSÃO divina de nos ensinar e praticar, como nenhum outro espírito, a VERDADEIRA RELIGIÃO, A PRÁTICA DO AMOR-CARIDADE.

O sofrimento, incluindo a morte, significa muito pouco (ou nada) para seres da magnitude de Jesus. Todo o sofrimento de Jesus foi causado por ele ter ensinado e praticado uma moral frontalmente oposta à que era praticada em sua época pelas autoridades judaicas e romanas, como a exploração, a injustiça, a discriminação, o preconceito, o exclusivismo etc. Jesus ensinou e praticou a caridade, o perdão, a humildade, a justiça, o igualitarismo, a fraternidade, o inclusivismo, a tolerância, o amor aos inimigos etc. Tudo isso pôs Jesus em rota de colisão com as autoridades judaicas e romanas.
Foi por causa desses seus ensinamentos e ações em prol da igualdade e fraternidade entre todas as pessoas, sem distinção de classes sociais e econômicas, que ele foi considerado pelas autoridades judaicas e romanas como um camponês rebelde, politicamente inconveniente, que se opunha às leis injustas judaicas e romanas. Foi por isso que ele foi executado, ou seja, por ter sido considerado uma pessoa inconveniente, e não por ter se declarado “Filho de Deus”.
Em resumo, Jesus não se encarnou para expiar erros cometidos em encarnações passadas, nem para cumprir provas escolhidas por ele mesmo, a fim de acelerar sua evolução espiritual, mas para cumprir uma missão divina de ajudar a humanidade a evoluir espiritualmente, através da Lei do Amor, mesmo que, para cumprir esta missão, ele tivesse que enfrentar terríveis sofrimentos, incluindo a morte na cruz. Foi um sacrifício tipicamente missionário, em prol da evolução de nosso planeta. Somente um espírito da magnitude evolutiva de Jesus poderia ter enfrentado e cumprido esta difícil MISSÃO divina em favor da humanidade.
Para concluir a matéria, reafirmo que Jesus, na visão espírita, não sofreu e morreu para nos salvar, ou seja, para pagar nossos pecados (como na visão cristã dogmática), nem para resgatar débitos de vidas passadas, nem para cumprir uma provação escolhida por ele mesmo para agilizar sua evolução espiritual, mas para cumprir a MISSÃO divina de ensinar e vivenciar o amor a Deus e ao próximo, derrubando leis judaicas e romanas exclusivistas, injustas e discriminatórias, mostrando ao mundo que Deus não era o Ser perverso, violento, vingativo, intolerante e exclusivista, como literalmente retratado no Antigo Testamento, mas um Espírito misericordioso, amoroso, justo e compassivo, que não o enviou à Terra para morrer na cruz por nossas culpas, mas para ensinar a humanidade a evoluir espiritualmente mediante a vivência da verdadeira religião – a prática do amor-caridade.

Escrito por José Pinheiro de Souza


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segunda-feira, 11 de março de 2013

Conduta Espírita: No Trabalho, por André Luiz


Desde que se encontre em condições orgânicas favoráveis, dedicar-se ao exercício constante de uma profissão nobre e digna.

O engrandecimento da vida exige o tributo individual do trabalho.

Situar em posições distintas as próprias tarefas diante da família e da profissão, da Doutrina que abraça e da coletividade a que deve servir, atendendo a todas as obrigações com o necessário equilíbrio.


O dever, lealmente cumprido, mantém a saúde da consciência.

Examinar os temas de serviço que lhe digam respeito, para não estagnar os próprios recursos na irresponsabilidade destrutiva ou na rotina perniciosa.

Da busca incessante da perfeição, procede a competência real.

Ajudar aos colegas de trabalho e compreendê-los, contribuindo para a honorabilidade da classe a que pertença.

O espírita responde por sua qualificação nos múltiplos setores da experiência.

Cultuar a caridade nas tarefas profissionais, inclusive naquelas que se refiram às transações do comércio.

O utilitarismo humano é uma ilusão como as outras.

Jamais prevalecer-se das possibilidades de que disponha no movimento espírita para favoritismos e vantagens na esfera profissional.

Quem engana a própria fé, perde a si mesmo.

Em nenhuma ocasião, desprezar as ocupações de qualquer natureza, desde que nobres e úteis, conquanto humildes e anônimas.

O trabalho recebe valor pela qualidade dos seus frutos.

“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” — Jesus. (JOÃO, 5:17.)
Do livro Conduta Espírita pelo espírito André Luiz, psicografado por Waldo Vieira.

Meu Pai trabalha também



Nos capítulos iniciais do livro bíblico do Gênesis, as referências ao trabalho soam como castigo.

Na alegoria adâmica, depois da desobediência ao Todo Poderoso, o homem é condenado a retirar da terra o pão de cada dia, à custa de seu próprio suor.

Desde então, a interpretação é de que trabalhar é uma punição.

Na Roma Antiga, ainda mais intensa ficou essa interpretação ao se associar trabalho ao instrumento de tortura tripallium, de onde se originou o vocábulo.

Através dos séculos, encontramos sentenças enviando condenados para os trabalhos forçados. E, em alguns casos, equivalia a uma sentença de morte, tendo em vista o tipo de trabalho a que eram conduzidos.

Natural que, nascendo e renascendo em épocas distintas e países variados, portemos ainda, na atualidade, os errôneos conceitos de que trabalho é punição. Por isso, passamos a delegar tarefas, mesmo as mais comezinhas, seres catalogados como inferiores: povos vencidos, negros da África, indígenas...

Hoje, quando a justiça julga determinadas faltas, estabelece as penas alternativas, que vão desde o fornecimento de cestas básicas ao cumprimento de determinado número de horas, em serviço comunitário.

Continuamos a adjetivar o trabalho como penalidade. Mesmo quando se trata de atendimento a benefício de alguém.

São penas impostas. Trabalho obrigatório. Punição.

No entanto, o Mestre dos mestres, ao abordar a questão do trabalho, sintetizou em magistral afirmativa: “Meu Pai trabalha incessantemente e Eu trabalho também.”

Conferiu, com tal afirmativa, toda nobreza à ocupação útil. Como Rei Solar, a quem competiu a missão de coordenar todos os detalhes da elaboração do nosso planeta, ingressou na carne como filho de um carpinteiro.

Conforme o costume hebraico, na infância foi iniciado no ofício de Seu pai. Quantos utensílios em madeira devem ter sido moldados por Suas mãos!

E, chegado o tempo do início do Seu messianato, trabalhou sem cessar.

A multidão O seguia aonde fosse. Em um momento Ele falava, instruindo e esclarecendo. Em outro, a Sua tarefa era de escutar corações, abençoar os seres, ofertar-lhes esperança.

A um oferecia o bálsamo da certeza imortalista, a outro apontava a esperança de dias novos.

Após a jornada de exaustivas tarefas, atendendo o povo que O buscava, como ondas contínuas nas praias da Sua bondade, servia-Se da noite para reunir o colegiado apostólico.

Naquelas conversas sob o luar, procedia à avaliação das tarefas realizadas e à capacitação daqueles que ficariam como os obreiros da Boa Nova. Incansável sempre, ao se despedir, anunciou que iria à frente, preparar-nos o lugar.

* * *

Pensemos no exemplo do Nazareno e imitemo-Lo, dando graças pela honra do trabalho no lar, junto aos filhos, aos afazeres infindáveis. No exercício da profissão e na alegria de servir à comunidade. Seja-nos o trabalho motivo de alegria!

Autoria:
Redação do Momento Espírita - Colaboração: Márcia Farbelow

Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também



Testemunho diferente - Richard Simonetti

Relata o Capítulo 5º dos "Atos dos Apóstolos", livro do Novo Testamento que descreve as atividades iniciais da igreja cristã, que a simpatia de que desfrutavam Simão Pedro e seus companheiros, em Jerusalém, em face do piedoso trabalho que realizavam na Casa do Caminho, despertou a ira dos senhores do Sinédrio, que os prenderam e submeteram ao açoite.

Depois os soltaram, ordenando-lhes que nunca mais falassem de Jesus. Registram os versículos 41 e 42: "E eles se retiraram do Sinédrio, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse nome. E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e pregar a Jesus, o Cristo."


Dificilmente os políticos e os profissionais da religião poderiam compreender tão corajosa atitude! É que os cristãos não estavam atrelados aos interesses do Mundo. Eles defendiam a causa de Deus, sob inspiração do Mestre Sublime, que os sustentava nos mais duros testemunhos.

Com Jesus caminhavam, com Jesus trabalhavam, com Jesus sonhavam a construção do Reino Divino, onde todos seriam irmãos, e onde o maior seria sempre o que se fizesse, espontaneamente, servo de todos.

Perseguidos pelos judeus primeiro, depois pelos romanos; torturados, feridos, humilhados e martirizados, conservavam admirável fidelidade aos seus ideais.

Dedicação extremada à semeadura da Fraternidade e do Amor, com a força irresistível do exemplo; sacrifício da própria vida, oferecida em holocausto como testemunho supremo de convicção, quando as forças reacionárias da velha Roma pretenderam eliminar a doutrina nascente com o assassinato coletivo de seus profitentes. Viviam num clima altamente espiritualizado, de exaltação da Fé, sem lugar para vacilações ou dúvidas. Seus lemas bem poderiam ser a dedicação e o sacrifício.

Com o suor da dedicação e o sangue do sacrifício nutriram a árvore nascente do Cristianismo, para que ela se desenvolvesse plena de vigor e esperança, a acenar com novas perspectivas para a Humanidade, em meio à decadente civilização dos césares, que em breve morreria.

A nossa civilização ocidental também apresenta sintomas de decrepitude, e estertora-se nas contradições geradas pelo tremendo contraste entre o progresso material, que leva o Homem à Lua, e o progresso moral, ainda situado no domínio dos impulsos primitivos.

Como proclama a sabedoria oriental: "O Homem aprendeu a movimentar-se no mar e no ar, mas não aprendeu a andar como Homem."

E onde a Razão deturpada cede ao domínio das paixões; onde a Virtude é desdenhada; onde prevalecem os interesses imediatistas; onde a ânsia de poder, riqueza, conforto e prazer constitui a média das aspirações gerais, o fim está sempre próximo como ocorreu tantas vezes outrora.

Diante das tormentas que se aproximam, o Espiritismo situa-se por vigoroso apelo às consciências para a preservação dos patrimônios espirituais e morais da Humanidade.

À semelhança dos primitivos cristãos, os espíritas também são convocados a grandes testemunhos e talvez até mais difíceis, porque não se trata mais de morrer por Jesus e, sim, de conseguir viver com Jesus.

Isto exige autenticidade, capacidade de sermos nós mesmos, de mantermos uma conduta inspirada em convicções legítimas, superando a alienação imposta por uma sociedade de consumo onde os meios de comunicação como a televisão, o cinema, o rádio e a imprensa, colocados a serviço de interesses materialistas, condicionam nossos desejos, nossos prazeres, nosso comportamento.

Diz Erich Fromm, o notável pensador alemão, que o grande perigo que ameaçava o Homem no passado era ele tornar-se escravo, sob imposição dos poderosos e dos tiranos. O grande perigo de nosso tempo - diz ele - é o Homem tornar-se autômato.

E as multidões de hoje, conduzidas como imensos rebanhos, sob indução da propaganda que lhes diz o que comer, o que vestir, como pensar, como amar, procedem como autômatos programados para a mediocridade, incapazes de conceber a existência em termos de aprimoramento moral e espiritual; por isso, não têm condições de participar do banquete do Evangelho, oferecido por Jesus aos que não se alienaram.

Muitos tentam furtar-se à condição de autômatos, e isto tem acontecido particularmente com os jovens, mas continuam teleguiados, embora se proclamem livres, pois escolhendo o caminho da rebeldia, inspiram-se, indevidamente, na negação de todos os valores morais, tomando-se, assim, agentes inconscientes das sombras, presas fáceis de hábeis obsessores que os conduzem por tortuosos caminhos de vício, degradação e crime.

Em se tratando de "vida abundante", segundo a expressão evangélica, superadas as pressões alienatórias do Mundo atual, não há alternativa senão aquela oferecida pelos cristãos primitivos: dedicação e sacrifício.

Dedicação intransferível à causa do Bem, no caminho da Virtude e da Sabedoria, em ritmo de Fraternidade e aprimorar-se para a edificação de um futuro de bênçãos.

Sacrifício de tudo o que satisfaz o Homem perecível, mas não interessa ao Espírito eterno; sacrifício dos programas de televisão, que no estágio atual distraem, mas raramente edificam; sacrifício das conversações inúteis e inconseqüentes, onde vicejam, com facilidade, a maledicência e a malícia; sacrifício das tão procuradas horas de lazer, em que damos livre curso às fantasias que nos oprimem; sacrifício de atividades absorventes com as quais procuramos garantir fartura e conforto, mas que significam quase sempre um marca-passo no caminho da Evolução, ensejando tropeços desastrosos.

Nunca superaremos a alienação, nem deixaremos de ser simples autômatos, incapazes de agir senão sob estímulos exteriores, enquanto nossas mãos e nossa mente não estiverem ocupados permanentemente com o melhor, com a vida em termos de Eternidade, considerada a nossa condição de Espíritos em trânsito pela Terra.

E se nos parece demais o impositivo de tal ação sem limites, recordemos Jesus em João, Capítulo 5.º, versículo 17:

"Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também."

A seara é grande e poucos os trabalhadores


Diferentemente de outros movimentos, no Espiritismo não existem sacerdócio nem funções remuneradas. O dever de trabalhar e de participar compete a todos os que se dizem espíritas, desde o simples fechar de uma porta até a direção da instituição mais importante.

Verifica-se, no entanto, uma carência generalizada de trabalhadores na seara espírita, fato que impede que muitos trabalhos sejam desenvolvidos ou que se realizem com a eficácia desejada.

Participar de um trabalho em favor do próximo ou da comunidade deveria ser um propósito comum de todas as pessoas, pelo bem que proporciona sobretudo àquele que o realiza, uma vez que o trabalho é uma das alavancas do progresso individual e coletivo.

Contrariamente ao que alguns filósofos escreveram, o trabalho nada tem a ver com castigo ou punição divina. Se o fosse, não haveria razão alguma para Jesus ter dito: “Meu Pai trabalha até hoje, e eu também” (João, 5:17).

A Doutrina Espírita mostra-nos que o trabalho é lei da Natureza e é por causa disso que o homem deve o seu sustento e a sua segurança ao trabalho que desenvolve.

Vejamos numa breve síntese o que o Espiritismo nos ensina a respeito do trabalho e sua importância em nossa vida:

– “O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos.” (O Livro dos Espíritos, Prolegômenos.)

– Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais? “Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.” (L.E., questão 675)

– “Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade.” (L.E., 676)

– “Tudo em a Natureza trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o trabalho deles, de acordo com a inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da própria conservação. Daí vem que do trabalho não lhes resulta progresso, ao passo que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si mesmo.” (L.E., 677)

– Achar-se-á isento da lei do trabalho o homem que possua bens suficientes para lhe assegurarem a existência? “Do trabalho material, talvez; não, porém, da obrigação de tornar-se útil, conforme aos meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que também é trabalho. Aquele a quem Deus facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem a existência não está, é certo, constrangido a alimentar-se com o suor do seu rosto, mas tanto maior lhe é a obrigação de ser útil aos seus semelhantes, quanto mais ocasiões de praticar o bem lhe proporciona o adiantamento que lhe foi feito.” (L.E., 679)

– “Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Por que de preferência não trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.” (L.E., 726)

– “A moral sem as ações é o mesmo que a semente sem o trabalho. De que vos serve a semente, se não a fazeis dar frutos que vos alimentem?” (L.E., 905)

*

Em face do acima exposto, seria de grande utilidade examinar o que temos feito das horas, lembrando-nos da séria advertência que Abel Gomes nos fez em mensagem constante do livro “Falando à Terra”, obra psicografada por Francisco Cândido Xavier: “À maneira que nos desenvolvemos em sabedoria e amor, consideramos a perda dos minutos como sendo a mais lastimável e ruinosa de todas”. “Guardamos, cada dia, a colheita dos recursos e das emoções que estamos realmente plantando. Não existe infelicidade, senão aquela que decretamos para nós mesmos.”

Meu Pai trabalha… [Léon Denis]


“Meu Pai trabalha até hoje, e eu trabalho também”. JESUS (João, capítulo 5, versículo 17).
“A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho” FÉNELON (ESPÍRITO)
Em Instruções dos Espíritos, capítulo 1, Item 10 de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
“Todo espírito que deseja progredir trabalhando na obra de solidariedade universal recebe dos espíritos mais elevados uma missão particular, apropriada às suas aptidões e ao seu grau de adiantamento.
Alguns têm por tarefa acolher os espíritos em seu retorno à vida espiritual, guiá-los, ajudá-los a se desprenderem dos fluidos espessos que os envolvem; outros são encarregados de consolar, instruir as almas sofredoras e atrasadas. Espíritos de químicos, físicos, naturalistas, astrônomos, prosseguem em suas pesquisas, estudam os mundos, suas superfícies, suas profundezas ocultas, atuam em todos os lugares sobre a matéria sutil, que fazem passar por preparações, modificações destinadas a obras que a imaginação humana teria dificuldades em imaginar. Outros se aplicam às artes, ao estudo do belo sob todas as suas formas. Espíritos menos evoluídos auxiliam os primeiros em suas tarefas variadas e lhes servem de auxiliares.
Um grande número de espíritos se consagra aos habitantes da Terra e dos outros planetas, estimulando-os em suas pesquisas, fortalecendo os ânimos abatidos, guiando os hesitantes pelo caminho do dever. facilidades desconhecidas na Terra; cada um encontra seu lugar nesse soberbo campo de ação, nesse vasto laboratório universal. Por todos os lados, tanto na amplidão como nos mundos, objetos de estudo e de trabalho, meios de elevação, de participação na obra divina, oferecem-se à alma laboriosa”.
LÉON DENIS. LIVRO: O PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR.

Da lei do Trabalho


SEF – Sociedade Espírita Fraternidade
Estudo Teórico-prático da Doutrina Espírita


Unidade 28
TEMA : Das leis Morais - Da lei do Trabalho: Introdução. Necessidade do
Trabalho, O Trabalho nos Mundos mais aperfeiçoados. O Trabalho e os
Animais. O Trabalho e o Estudo. Limite do Trabalho e do Repouso.


Introdução:
Ao analisarmos o Antigo e o Novo Testamento, encontramos 152 vezes a palavra
trabalho. Porém, é no Evangelho de João, capítulo V, versículos 1 à 17, que encontramos
a inesquecível passagem em que Jesus curando o paralítico do tanque de Betesda,
menciona que ele e o Pai trabalham até hoje.
O Sinal em Betesda.
“Depois disto, havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Ora
em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu de
Betesda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia grande multidão de enfermos: cegos,
mancos e ressicados, esperando o movimento das águas. Porquanto um anjo descia, em
certo tempo, ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descesse, depois do
movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse. E estava ali um homem
que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. E Jesus, vendo este deitado, e sabendo
que estava neste estado, havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são? O enfermo
respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me
coloque no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. Jesus disse-lhe:
Levanta-te e toma a tua cama, e anda. Logo aquele homem ficou são, e tomou a sua
cama, e partiu. E aquele dia era Sábado.”
O discurso provocado pelo milagre.
“Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É Sábado, não te é lícito
levar a cama. Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua
cama, e anda. Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma a tua cama, e
anda? E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão
de, naquele lugar, haver grande multidão. Depois, Jesus encontrou-o no Templo, e disselhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior. E
aquele homem foi, e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara. E, por esta
causa, os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisa no
sábado. E Jesus lhes respondeu: Meus Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.”


Nos ensina Emmanuel, no Livro “Caminho, Verdade e Vida, que em todos os
recantos, observamos criaturas queixosas e insatisfeitas.
Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que lhes foi conferido. A
maioria revolta-se contra o gênero de seu trabalho.
Os que varrem as ruas querem ser comerciantes; os trabalhadores do campo
prefeririam a existência na cidade.
O problema, contudo, não é de gênero de tarefa, mas o de compreensão da
oportunidade recebida.
De modo geral, as queixas, nesse sentido, são filhas da preguiça inconsciente. É o
desejo ingênito de conservar o que é inútil e ruinoso, das quedas no pretérito obscuro.
Mas Jesus veio arrancar-nos da “morte no erro”. Trouxe-nos a bênção do trabalho,
que é o movimento incessante da vida.
Para que saibamos honrar nosso esforço, referiu-se ao Pai que não cessa de
servir em sua obra eterna de amor e sabedoria e à sua tarefa própria, cheia de imperecível
dedicação à humanidade. Quando te sentires cansado, lembra-te de que Jesus está
trabalhando. Começamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós,
desde quando?
Ä Necessidade do Trabalho –
Segundo Joanna de Ângelis, no seu Livro “Estudos Espíritas”, psicografado por
Divaldo Pereira Franco, no capítulo referente ao Trabalho, pode ser definido
genericamente o vocábulo trabalho, como “a ocupação em alguma obra ou ministério;
exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa.”
Prossegue a autora espiritual ensinando que “o trabalho, porém é lei da Natureza
mediante a qual o homem forja (fabrica) o próprio progresso desenvolvendo as
possibilidades do meio ambiente em que se situa, ampliando os recursos de preservação
da vida, por meio da satisfação das suas necessidades imediatas na comunidade social
onde vive.”
Encontramos em “O Livro dos Espíritos”, na Parte Terceira, no capítulo terceiro,
que trata especificamente da Lei do Trabalho, dentro do subtítulo a “Necessidade do
Trabalho”, na questão 674, a indagação se é o trabalho lei da Natureza, a que a
espiritualidade responde:
“O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a
civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os
gozos.”
Rodolfo Calligaris, no seu livro “As Leis Morais”, colaborando no sentido de
melhor detalhar esta resposta, ensina que o trabalho é uma lei da natureza a que
ninguém se pode esquivar, sem prejudicar-se pois é por meio dele que o homem
desenvolve sua inteligência e aperfeiçoa suas faculdades.
Segundo ainda o autor, o trabalho honesto proporciona três realizações que todas
as pessoas buscam:
1) – o trabalho fortalece o sentimento de dignidade pessoal;
2) – o trabalho torna a pessoa respeitada na comunidade em que vive;
3) – o trabalho, quando bem realizado, contribui para a sensação de segurança.
Para que o homem tenha êxito no trabalho, e como tal deve entender-se não
necessariamente o ganho de muito dinheiro, mas uma constante satisfação íntima, faz-se
mister que cada qual se dedique a um tipo de atividade de acordo com suas aptidões e
preferências, sem se deixar influenciar pela vitória de outrem nesta ou naquela carreira,
porquanto cada arte, ofício ou profissão exige determinadas qualidades que nem todos
possuem.Quem não consiga uma ocupação condizente com o que desejaria, deve, para
não ser infeliz, adaptar-se ao trabalho que lhe tenha sido dado, esforçando-se por fazê-lo
cada vez melhor, mesmo que seja extremamente fácil. Isso ajudará a gostar dele. Quando
se trate de algo automatizado que não permita qualquer mudança, como acontece em
muitas fábricas modernas, o remédio é compenetrar-se de que sua função na empresa
também é importante, assumindo a atitude daquele modesto operário cujo serviço era
quebrar pedras e que, interrogado sobre o que fazia, respondeu com entusiasmo: “estou
ajudando a construir uma catedral”.
Importa, igualmente, se adquira a convicção de que embora apenas alguns
poucos possam ser professores, médicos, engenheiros, advogados ou administradores,
todos, indistintamente, desde que desenvolvam um trabalho prestadio, estão dando o
melhor de si, concorrendo, assim, para o progresso e o bem-estar social, como lhes
compete.
De outro lado, pelo fato de ser uma lei natural, o trabalho deve ser assegurado a
todos os homens válidos que o solicitem, para que, em contrapartida, lhes seja exigido
que provejam às necessidades próprias e da família, sem precisar pedir nem aceitar
esmolas.
O desemprego, e consequentemente a fome, a nudez, o desabrigo, a
enfermidade, a prostituição, o crime, etc., constituem provas de que a sociedade se acha
mal organizada, carecendo de reformas radicais que melhor atendam à Justiça Social.
Como acertadamente disse Constâncio C. Vigil, “constitui dolorosa anomalia
deixar-se o ser humano em situação de não poder defender-se da miséria, até delinqüir ou
morrer. O desempregado tem direito à vida. Por conseguinte, o Estado só pode castigá-lo
pelo roubo se lhe proporciona meios para assegurar a subsistência através do trabalho.”
Por outro lado, os que supõem seja o trabalho apenas um “ganha pão” sem outra
finalidade que não a de facultar os meios necessários à existência, laboram em erro. Se o
fosse, então todos aqueles que possuíssem tais meios, em abundância, poderiam julgarse desobrigados de trabalhar.
Em verdade, porém, a lei de trabalho não isenta ninguém da obrigação de ser útil.
Ao contrário. Quando Deus nos favorece, de maneira que possamos alimentar-nos sem
verter o suor do próprio rosto, evidentemente não é para que nos entreguemos ao
hedonismo, mas para que movimentemos, na prática do Bem, os “talentos” que nos haja
confiado.
Isso constitui uma forma de trabalho que engrandece e enobrece nossa alma,
tornando-a rica daqueles tesouros que “a ferrugem e a traça não corroem, nem os ladrões
podem roubar”
Joanna de Ângelis, na mesma obra citada acima, traça um paralelo muito
interessante entre o trabalho remunerado e o que ela chama de “trabalho-abnegação”:
“... Mediante o trabalho remunerado o homem modifica o meio, transforma o
habitat (lugar ou meio onde vive qualquer ser organizado), cria condições de conforto. “
“Através do trabalho-abnegação, do qual não decorre troca nem permuta de
remuneração, ele se modifica a si mesmo, crescendo no sentido moral e espiritual. “
“Utilizando-se do primeiro recurso conquista simpatia e respeito, gratidão e
amizade. Através da autodoação consegue superar-se, revelando-se instrumento da
Misericórdia Divina na construção da felicidade para todos.”
A espiritualidade maior, confirma na questão 676, que o trabalho é imposto ao
homem, por ser uma consequência da sua natureza corpórea, e também um meio de
aperfeiçoamento de sua inteligência. Sem o trabalho o homem permaneceria sempre na
infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bemestar dependem do seu trabalho e da sua atividade. Ao extremamente fraco de corpo
outorgou Deus a inteligência, em compensação. Mas é sempre um trabalho. Desta forma, há o esclarecimento inequívoco de que toda ocupação útil é
trabalho, seja ela material, intelectual, espiritual, etc.
Mais uma vez o entendimento claro e preciso de Joanna de Ângelis vem ao nosso
encontro ao dizer-nos que:
“O trabalho, no entanto, não se restringe apenas ao esforço de ordem material,
física, mas, também, intelectual pelo labor desenvolvido, objetivando as manifestações da
Cultura, do Conhecimento, da Arte, da Ciência.”
Ä O Trabalho nos mundos mais aperfeiçoados:
A questão 678 de “O Livro dos Espíritos” é bastante esclarecedora com relação a
este aspecto. É indagado à espiritualidade:
“Em os mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham submetidos à mesma
necessidade de trabalhar? Ao que eles respondem: A natureza do trabalho está em
relação com a natureza das necessidades. Quanto menos materiais são estas, menos
material é o trabalho. Mas, não deduzais daí que o homem se conserve inativo e inútil. A
ociosidade seria um suplício, em vez de ser um benefício.”
Complementando o entendimento, o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, no seu
capítulo III – Há muitas Moradas na Casa de meu Pai, elucida:
Nos mundos primitivos os seus habitantes são mais rudimentares. “...a força bruta
é, entre eles, a única lei. Carentes de indústrias e de invenções, passam a vida na
conquista de alimentos.”
“Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e
material são muitíssimo diversas das da vida na Terra...”
“Entretanto, os mundos felizes não são orbes (esferas, globos, planetas)
privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; ... a todos são
acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a eles conquistá-las pelo seu
trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no
lodaçal na Humanidade”.
Mais uma vez Joanna de Ângelis, agora no livro “Leis Morais da Vida”,
psicografado por Divaldo Pereira Franco, no capítulo “A benção do trabalho” nos ensina
que “o trabalho é, ao lado da oração, o mais eficiente antídoto contra o mal, porquanto
conquista valores incalculáveis com que o espírito corrige as imperfeições e disciplina a
vontade.”
“O momento perigoso para o cristão decidido é o do ócio (desocupação, folga do
trabalho), não o do sofrimento nem o da luta áspera.
“Na ociosidade surge e cresce o mal. Na dor e na tarefa fulguram a luz da oração
e a chama da fé.”
E, reportando-nos mais uma vez, ao livro “Leis Morais de Vida”, encontramos as
mensagens incentivadoras da autora espiritual:
“Não te escuses à glória de trabalhar pelo progresso de todos, do que resultará a
tua própria evolução...”
“O trabalho de boa procedência em qualquer direção produz felicidade e paz.”
“Produz pela alegria de ser útil e ativo, içando (erguendo, levantando) o coração a
Jesus, que sem desfalecimento trabalha por todos nós, como o Pai Celeste que até hoje
também trabalha.”
Ä O Trabalho e os Animais: -
A questão 677 de “O Livro dos Espíritos” esclarece totalmente a questão.
Questão 677 - Por que provê a Natureza, por si mesma, a todas as necessidades
dos animais?Resposta - "Tudo em a Natureza trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o
trabalho deles, de acordo com a inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da
própria conservação. Daí vem que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e
o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva
acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais se cifra (se baseia) no
cuidarem da própria conservação, refiro-me ao objetivo com que trabalham. Entretanto,
provendo às suas necessidades materiais, eles se constituem, inconscientemente,
executores dos desígnios do Criador e, assim, o trabalho que executam também concorre
para a realização do objetivo final da Natureza, se bem quase nunca lhe descubrais o
resultado imediato."
Ä O Trabalho e o Estudo: –
A Espiritualidade Superior vem insistindo, através de consecutivas mensagens,
pela necessidade do estudo e do trabalho nas fileiras renovadoras do Espiritismo.
Amor e instrução têm sido, em verdade, a palavra de ordem dos Mensageiros do
Cristo.
Os trabalhadores encarnados, identificando-se com o pensamento e a orientação
dos que acompanham, de Mais Alto, a surpreendente e irresistível marcha da Doutrina,
sentem-se, naturalmente, no dever de secundá-los na recomendação.
Aliás, não é de agora que os Espíritos exortam os homens ao estudo, à instrução,
à cultura - cultura no entanto, que não envaideça o homem, mas o torne humilde,
sinceramente humilde.
O Amor é o Trabalho, a Ação, o Serviço.
A instrução é a leitura, o Estudo, o Conhecimento.
Amor e instrução constituem, por conseguinte, duas alavancas, duas ferramentas
que devem estar, noite e dia, nas mãos dos Espíritas.
Estudo sem amor constitui, quase sempre, experiência simplesmente intelectual,
podendo levar à presunção e à vaidade, ameaçando o aprendiz de queda ou fracasso.
É que, via de regra, consoante adverte Paulo de Tarso, “o saber ensoberbece,
mas o amor edifica”.
Emmanuel, falando-nos ao coração, exorta, também: “Recorda que em Doutrina
Espírita, é preciso estudar e aprender, entender e aplicar”.
Trabalho e Instrução - a fim de que o equilíbrio seja uma constante na vida do
aprendiz e na expansão doutrinária.
Devemos, por isso mesmo, também perguntar:
- Que rumo tomaria o nosso abençoado movimento, se, apenas estudando,
olvidássemos os necessitados do caminho?
Aonde iríamos parar, apenas manuseando livros e devorando mensagens, se nos
alheássemos da fome do pobrezinho, da nudez do órfão, da dificuldade da viúva, da
solidão do encarcerado, do desespero do enfermo incurável?
Que seria do Espiritismo - Consolador Prometido por Jesus - se, estimulando a
cultura, lastimavelmente esquecêssemos a sublime legenda adotada pelo insigne
Missionário lionês: Trabalho, Solidariedade e Tolerância ?
Há, portanto, como se observa, uma dupla, inseparável e indissolúvel
necessidade: Amor e Instrução.
Não poderia, evidentemente, enganar-se o Espirito de Verdade:
“Venho, como outrora, aos transviados filhos de Israel , trazer a Verdade e
dissipar as trevas. Escutai-me” - ao preceitar, nos primórdios do Espiritismo,
o imperativo do Amor e da Sabedoria.
“Espíritas! Amai-vos; este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o
segundo.”Ä O Limite do trabalho: –
Assim como o trabalho é imprescindível para o desenvolvimento da inteligência,
para a evolução das pessoas, da mesma forma também o é, o repouso. E como nos
ensina a questão 682, de “O Livro dos Espíritos”, ele também está dentro das Leis da
Natureza.
Questão 682 - Sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, o repouso
não é também uma lei da Natureza?
Resposta - "Sem dúvida. O repouso serve para a reparação das forças do corpo e
também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a fim de que se
eleve acima da matéria."
Na questão 683, indagou-se à espiritualidade: - qual é o limite do trabalho? “O
limite do trabalho é o das forças. Em suma, a esse respeito Deus deixa inteiramente livre o
homem.”
Sendo o trabalho uma lei natural, o repouso é consequente conquista a que o
homem faz jus, para num primeiro momento refazer as forças do corpo, e, na sequência,
para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a fim de que se eleve acima da
matéria. Enquanto o corpo descansa, os laços que o prendem ao Espírito se afrouxam, e
este, com mais liberdade devido à emancipação, pode participar mais diretamente da vida
espiritual.
Cabe neste momento a importantíssima observação de que, durante o tempo
normal de trabalho, devem ser observados os períodos justos do repouso, estejam estes
compreendidos na mesma jornada, ou entre uma e outra, ou através dos períodos anuais
de férias.
Hoje, mais do que nunca, isto é importante, porque a vida urbana se caracteriza
por uma agitação contínua, sendo despendido um gasto excessivo de energias físicas e
mentais.
Cuidemos pois de evitar a exaustão e a estafa, antes que esses males nos
conduzam à neurastenia ou ao esgotamento nervoso.
Por outro lado, ressalvadas as anteriores observações, quando a espiritualidade
menciona que o limite do trabalho é o “das forças”, isto nos deixa claro que, sendo, como
é, fonte de equilíbrio físico e moral, o trabalho deve ser exercido por tanto tempo quanto
nos mantenhamos válidos.
Abalizados psiquiatras e psicanalistas afirmam, com exato conhecimento de
causa, que “todos os seres humanos precisam encontrar alguma coisa que possam fazer”,
pois “ninguém consegue ser feliz sem que se sinta útil ou necessário a alguém”.
Frank C. Cáprio, em sua obra “Ajuda-te pela Psiquiatria”, chega a dizer: ”Tal como
o amor, o trabalho é medicinal. Alivia os males da alma”.
Isto posto, se formos homens de negócios, ao invés de os interrompermos
bruscamente, convém que, ao atingirmos certa idade, diminuamos o ritmo de nossas
preocupações ou o peso de nossas responsabilidades, repartindo-as gradativamente com
nossos auxiliares ou com aqueles que devam suceder-nos, adquirindo, ao mesmo tempo,
algum outro interesse que mantenha ocupado o nosso intelecto.
Se assalariados, que encontremos, ao aposentar-nos, uma ocupação leve, porém
proveitosa, com que preencher saudavelmente nossa vida.
Jamais, em hipótese alguma, condenar-nos à completa ociosidade, a pior coisa
que pode acontecer a alguém.
Benjamim Franklin tinha 81 anos quando foi chamado a colaborar na elaboração
da Carta Magna dos Estados Unidos.
Tomas Alva Edison, tendo começado a trabalhar quando era ainda uma criança,
manteve-se operoso durante cerca de 75 anos, sem nunca ter estado doente. Morreu aos
84, deixando patenteadas mais de mil invenções.Michelangelo (Michelangelo Buonarroti), escultor, pintor, arquiteto e poeta italiano
– 1475/1564. Dentro de seu genial trabalho, podem ser destacadas as obras: o afresco
Juízo Final da Capela Sistina; a Pietá, magnífica escultura da catedral de Florença; a Pietá
Rondanini do Castelo Sforzesco de Milão; construiu a capela Médici, em que ergueu os
túmulos de Lourenço II e de Giuliano de Médici com quatro alegorias – A Noite e O dia, O
crepúsculo e A aurora. Aos 89 anos ainda continuava produzindo obras de arte.
O Marechal Cândido Rondon, notabilíssimo sertanista brasileiro e um dos
grandes benfeitores da Humanidade, falecido em 1958, aos 92 anos de idade, trabalhou
intensamente até a decrepitude, malgrado a rudeza do meio em que passou a quase
totalidade de sua fecunda existência.
Rockefeller, ao completar 90 anos, declarou: - “Sou o homem mais feliz do
mundo. Parece-me começar o viver agora. Sou feliz porque posso trabalhar. Os dias não
são suficientemente longos para que eu possa fazer tudo o que desejo. Indubitavelmente,
o trabalho é o segredo da felicidade.”
Cora Coralina (Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas), escritora brasileira,
nascida em Goiás Velho em 1889, desencarnando em Goiânia em 1985, com 96 anos de
idade. Tendo apenas instrução primária e sendo doceira de profissão, notabilizou-se por
sua poesia ingênua. Publicou: Becos de Goiás (1977 – com 88 anos); e Vinténs de cobre:
meias confissões de Aninha (l983 – com 94 anos). Nesse ano, recebeu o Troféu Juca
Pato, da união Brasileira de Escritores, que a elegeu a Intelectual do Ano.
Nosso maior exemplo, no entanto, encontramos em FRANCISCO CÂNDIDO
XAVIER, nascido em Pedro Leopoldo, modesta cidade de Minas Gerais, em 2 de abril de
1910. Vive, desde 1959, em Uberaba, no mesmo Estado.
Depoimento de Chico Xavier: "(...) Deus nos permita a satisfação de continuar
sempre trabalhando na Grande Causa d'Ele, Nosso Senhor e Mestre.”
A Palavra de Chico Xavier ao completar Quarenta Anos De Mediunidade
(1967) -
"Estes quarenta anos de mediunidade passaram para o meu coração como se
fossem um sonho bom. Foram quarenta anos de muita alegria, em cujos caminhos, feitos
de minutos e de horas, de dias, só encontrei benefícios, felicidades, esperanças, otimismo,
encorajamento da parte de todos aqueles que o Senhor me concedeu, dos familiares,
irmãos, amigos e companheiros. Quarenta anos de felicidade que agradeço a Deus em
vossos corações, porque sinto que Deus me concedeu nos vossos corações, que
representam outros muitos corações que estão ausentes de nós. Agora, sinto que Deus
me concedeu por vosso intermédio uma vida tocada de alegrias e bênçãos, como eu não
poderia receber em nenhum outro setor de trabalho na Humanidade. Beijo-vos, assim, as
mãos, os corações. Quanto ao livro, devo dizer que, certa feita, há muitos anos,
procurando o contato com o Espírito de nosso benfeitor Emmanuel, ao pé de uma velha
represa, na terra que me deu berço na presente encarnação, muitas vezes chegava ao
sítio, pela manhã, antes do amanhecer. E quando o dia vinha de novo, fosse com sol,
fosse com chuva, lá estava, não muito longe de mim, um pequeno charco. Esse charco,
pouco a pouco se encheu de flores, pela misericórdia de Deus, naturalmente. E muitas
almas boas, corações queridos, que passavam pelo mesmo caminho em que nós
orávamos, colhiam essas flores, e as levavam consigo com transporte de alegria e
encantamento. Enquanto que o charco era sempre o mesmo charco. Naturalmente,
esperando também pela misericórdia de Deus, para se transformar em terra proveitosa e
mais útil. Creio que nesses momentos, em que ouço as palavras desses corações
maravilhosos, que usaram o verbo para comentar o aparecimento desses cem livros,
agora cento e dois livros, lembro este quadro que nunca me saiu da memória, para
declarar-vos que me sinto na condição do charco que, pela misericórdia de Deus, um dia
recebeu essas flores que são os livros, e que pertencem muito mais a vós outros do que a mim. Rogo, assim, a todos os companheiros, que me ajudem através da oração, para que
a luta natural da vida possa drenar a terra pantanosa que ainda sou, na intimidade do meu
coração, para que eu possa um dia servir a Deus, de conformidade com os deveres que a
Sua infinita misericórdia me traçou. E peço, então, permissão, em sinal de agradecimento,
já que não tenho palavras para exprimir a minha gratidão. Peço-vos, a todos, licença para
encerrar a minha palavra despretensiosa, com a oração que Nosso Senhor Jesus Cristo
nos legou."
Em 1997, Chico Xavier completou 70 anos de incessante atividade mediúnica, da
maior significação espiritual, em prol da Humanidade, abrangendo seus mais diversos
segmentos. Até essa data, outubro de 1997, Francisco Cândido Xavier havia psicografado
mais de 400 (quatrocentas) obras mediúnicas, de centenas de autores espirituais,
abarcando os mais diversos e diferentes assuntos, entre poesias, romances, contos,
crônicas, história geral e do Brasil, ciência, religião, filosofia, literatura infantil, etc.
Problemas orgânicos acompanharam-lhe a mocidade e a madureza.
Hoje, nos seus abençoados 90 anos de sua vida corporal e 73 de atividades
mediúnicas, as dificuldades físicas continuam trazendo-lhe problemas. Releva observar
que as doenças oculares a as intervenções cirúrgicas jamais o impediram de cumprir, fiel
e dignamente, sua missão de amparo aos necessitados. Sua postura é uma só, obedece a
uma só diretriz: amor ao próximo, desinteresse ante os bens materiais, preocupação
exclusiva e constante com a felicidade do próximo. Ricos e pobres, velhos e crianças,
homens e mulheres de todos os níveis sociais têm encontrado, no homem e no médium
Chico Xavier, tudo quanto necessitam para o reajuste interior, para o crescimento, em
função do conhecimento e da bondade. Francisco Cândido Xavier é um presente do Alto
aos séculos XX e XXI enriquecendo-lhe os valores com a sua vida de exemplar cidadão,
com milhares de mensagens psicográficas que, em catadupas de paz e luz, amor e
esclarecimento, vêm fertilizando o solo planetário, sob a luminar supervisão do Espírito
Emmanuel.
Bibliografia:
Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos – Das Leis Morais – parte Terceira, cap. III – Da Lei do Trabalho.
Kardec, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. III Há muitas moradas na Casa de meu
Pai. Item 8.
Xavier, Francisco Cândido Xavier – Caminho, Verdade e Vida – pelo Espírito Emmanuel – Cap. 4
Trabalho.
Franco, Divaldo Pereira – Leis Morais da Vida– pelo Espírito Joanna de Ângelis – A Benção do
trabalho.
Franco, Divaldo pereira - Estudos Espíritas – pelo Espírito Joanna de Ângelis – Trabalho.
Franco, Divaldo pereira - Otimismo – pelo Espírito Joanna de Ângelis – Ociosidade.
Denis, Léon - Depois da morte -Trabalho, sobriedade, continência - Quinta parte, Cap. LII, p. 303.
Calligaris, Rodolfo - As Leis Morais - A Lei de Trabalho; Limite do trabalho; O repouso.
Peralva, Martins – Estudando o Evangelho – Cap. Estudo e Trabalho.
Apostila da Federação Espírita do Paraná – Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – Unidade II
Das Leis Morais - subunidade 3 – Da Lei do Trabalho – Necessidade do Trabalho; Limite do Trabalho
e do Repouso.
Enciclopédia Larousse Cultural – volumes 7 e 16.



terça-feira, 5 de março de 2013

CRISTO E SUA AÇÃO – PARTE I

João, 5:17-29

17. Mas Jesus respondeu-lhes: "Meu Pai até agora trabalha, e eu também trabalho".
18. Por isso, então, os judeus mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
19. Respondeu-lhes então Jesus e disse-lhes: "Em verdade, em verdade vos digo: o Filho não pode fazer nada por si mesmo, senão o que veja seu Pai fazendo; porque tudo o que ele faça, o Filho também faz semelhantemente.
20. Pois o Pai ama o Filho e lhe manifesta tudo o que faz, e maiores obras que estas lhe manifestará, para que vos admireis.
21. Assim, pois, como o Pai desperta os mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica os que ele quer,
22. porque o Pai não escolhe ninguém, mas deu toda escolha ao Filho,
23. para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
24. Em verdade, em verdade vos digo, que o que ouve o meu ensino e confia em quem me enviou, tem a vida imanente e não vai para o carma; pelo contrário, já se transladou da morte para a vida.
25. Em verdade, em verdade vos digo, que vem uma hora, e é agora, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a tiverem ouvido, viverão.
26. Porque assim Como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmo,
27. e deu-lhe autoridade para fazer a escolha, porque é Filho do Homem.
28. Não vos maravilheis disso, porque vem uma hora em que todos, nos túmulos, ouvirão sua voz e sairão,
29. os que produziram coisas boas para uma restauração de vida, os que praticaram coisas vulgares, para uma restauração de carma.


Quando os judeus se voltam para o Cristo, a fim de pedir contas de seus atos de rebeldia contra as prescrições da religião oficial, provocam-Lhe mais uma lição de suma importância para nossa compreensão das realidades espirituais.

A aula divide-se em duas partes distintas, versando a primeira sobre: 

a) as qualidades e poderes do Espírito; na utilização dessas qualidades e poderes;
b) os resultados consequentes às suas ações, na segunda  parte aprendemos como conhecer a legitimidade da missão dos mestres e da doutrina que eles ensinam. 

Temos que considerar todos os pormenores da lição.  Procederemos, por isso, como na aula sobre o Pão da Vida, tecendo primeiramente comentários linguísticos para, em seguida, interpretar o sentido real do trecho, de incalculável profundidade. Vejamos cada versículo de per si.

17. O verbo duas vezes empregado, e que traduzimos por "trabalhar", é ergázomai (já explicado quando   expusemos os vers. 27-30, na lição do Pão da Vida. Vimos que tem o sentido de "produzir algo (com esforço)", já que esse verbo é derivado de érgon.

18. No original "mais procuravam matá-lo": mãllon ezêtoun autàn apokteínai; seu próprio pai: patêra ídion: fazendo-se igual a Deus: íson heautòn poiôn tôi theôi.

19.Recomeça com a fórmula de garantia da verdade do que vai ensinar: "amén, amén".

Daqui por diante é interessante dar o texto original completo, a fim de mostrar que nossa tradução é fiel e perfeita, sem distorções nem más interpretações. A seguir de cada frase traduzida, reproduziremos em grifo o texto  grego, infelizmente com caracteres latinos, em vista da falta de tipos gregos na tipografia. O Filho não pode fazer nada (ho huiós ou dúnatai poieín oudén) por si mesmo (aph'heaután) se não (eàn mé) o que veja (tí blépêi) o Pai fazendo (tòn patéra poioúnta ), porque tudo o que ele faça (hà gár àn ekeínos poiêi) o Filho também faz semelhantemente (taúta kaí ho huiós homoiôs poieí). O sentido das palavras não deixa a menor dúvida: Pai e Filho são UM, embora o Pai seja "maior que o Filho" (João, 14: 28) pois o Filho procede do Pai.

20. Pois o Pai ama (phílein) o Filho e lhe manifesta tudo o que faz (kai pánta deíknusin autôi hà autòs poiei); e maiores obras que estas (kai meizona toùtôn érga) lhe manifestará (deíxei autôi) para que vos admireis (hína huméis thaumázête).

21. Assim pois como o Pai (hôsper gàr ho patêr) desperta os mortos (egeírei toùs nekroùs; quanto ao sentido de egeirô) e os vivifica (kaí zôopoiei) assim também o Filho (hoútos kaí ho huiòs) vivifica os que ele quer (zopoiei hoùs thélei).

22. Porque o Pai não escolhe ninguém (oudè gàr ho patêr krínei oudéna); já vimos o sentido de krinô: mas deu toda escolha ao Filho (allà tèn krísin pâsan dédôken tôi huiôi).

23. Para que todos honrem o Filho (hína pántes timôsi tòn huiòn) assim como honram o Pai (kathôs timôsi tòn patéra): o que não honra o Filho (ho mê timôn tòn huiòn) não honra o Pai que o enviou (ou timãi tòn patéra tón pémpsanta autón); pémpsanta é o particípio de pémpô.

24. Em verdade, em verdade vos digo: o que ouve meu ensino (ho tòn lógon mou akoúôn) e confia em quem me enviou (kaí pisteúôn tôi pémpsantí me) tem a vida imanente (échei zóen aiónion) e não vai para o carma (kaí eis krísin ouk érchetai) pelo contrário já se transladou da morte para a vida (allà metabebêken ek tóu thanátou eis tèn zôen); metabebêken é o perfeito de metabaínô.

25. Em verdade, em verdade vos digo que vem uma hora (érchetai hôra, sem artigo) e é agora (kaí nún estin) em que os mortos (hóte hoi nekroí) ouvirão a voz do Filho de Deus (akoúsousin tês phônes toù huiú toù theoú) e os que a tiverem ouvido, viverão (kaí hoi akoúsantes zésousin).

26. Porque assim como (hôsper gàr) o Pai tem vida (ho patêr échei zôen) em si mesmo (en heautôi), assim também deu ao Filho (hoútôs kaí tôi huiôi édôken) em si mesmo (en heautôi).

27. E deu-lhe autoridade (kaí exousían édôken autôi) para fazer a escolha (krísin poieín) porque é  Filho do Homem (hóti huiòs anthrôpou estin).

28. Não vos maravilheis disso (mê thaumázete toúto) porque vem uma hora (hôti érchetai hôra) em que todos (en hêi pántes) nos túmulos (en tois mnemeíois) ouvirão sua voz e sairão (akoúsousin tês phônes autòs kaí ekporeúsontai).

29. Os que produziram coisas boas (hoi tà agathà poiêsantes) para uma restauração de vida (eis anástasin zôés, sem artigo), os que praticaram coisas vulgares (hoi tà phaula práxantes) para uma restauração de carma (eis anástasin kríseôs). A palavra phaúla, geralmente traduzido por mal, tem o sentido de "coisa vulgar, comum, ordinária, de pouco preço". O termo anástasis tem o significado principal de "restauração, levantamento, erguimento", e por isso geralmente traduzem como "ressurreição".

Consideremos, agora, o sentido real e profundo da aula sublime que a Misericórdia do Cristo trouxe para nÛós. Bebamos seus ensinos até as últimas gotas, saboreando tudo o que nossa ainda pequeníssima capacidade evolutiva permite.

17. Inicialmente diz-nos o Cristo, terceiro aspecto da Divindade, que Se manifestava plenamente  através de Jesus, falando por sua boca: "meu Pai até agora trabalha e eu também trabalho",  justificando Seus atos desrespeitosos da lei mosaica (lei humana, para a personalidade) com o exemplo divino. Os próprios teólogos israelitas admitiam que Deus continuava trabalhando no cosmo. Philon de Alexandria ("Nómôn Hieròn Allegorías", 1,5) escreve: paúetai gàr oudépote poiôn ho theos, all'hôsper ídion tò kaíein puros kaí chíonos tò psúchein, hoútos kaí theoú tò poieín, ou seja: "Deus jamais deixa de produzir; mas como é próprio do fogo queimar e da neve gelar, assim produzir é próprio de Deus". Cfr. também de Philon, Cherubim, 87, e os rabinos Pinehas e Hosaja, em Bereshit-rabba, 11, citado por strack e Billerbeck, o.c. tomo 2, pág. 461.

A igualdade com o Pai, em tal intimidade que lhe justificava os atos, causou maior celeuma ainda que o desrespeito à lei sabática. Todo israelita se sabia "filho de Deus", a quem chamava Pai; mas considerando sempre um Pai exterior a eles, apenas transcendente e de natureza diferente. O Cristo, de um golpe, embora de modo implícito, declara-se juridicamente IGUAL ao Pai, com os mesmos direitos divinos acima de todas as prescrições religiosas. Foi isso mesmo que entenderam os presentes, conforme anota o evangelista, e isso era ainda muito mais grave do que a própria violação dos preceitos legais.

Em toda esta aula, Cristo prova que, de direito, pode imitar o Pai, não porque sejam hierarquicamente iguais (cfr. "o Pai é maior que eu") mas porque, sendo ele o Filho Unigênito, tudo o Pai Lhe concede, pelo amor que Lhe dedica.

Na realidade assim é. O Pai é o Logos, o SOM-CRIADOR e CONSERVADOR, que constantemente cria e conserva os sistemas atômicos e estelares, em seus contínuos movimentos de rotação e transla- ção. E esses sistemas - que formam miríades de Universos - são as manifestações do Filho Unigênito, o CRISTO CÓSMICO que, de dentro de todos e de tudo - imanentemente - impele tudo à evolução para o Espírito. O amor do Pai pelo Filho (o AMOR é o ESPÍRITO SANTO) faz que tudo caminhe do Amor para o Amor, do Espírito para o Espírito, passando pelas fases dos aspectos intermediários do Pai (SOM, Lógos) e do Filho (impulso evolucionador intrínseco, o CRISTO interno). Sendo o Pai o Som Criador e Conservador, trabalha sempre, criando e conservando. E o filho igualmente trabalha sempre, impelindo tudo pelo caminho da evolução constante e progressiva.

18. Os "judeus" (os religiosos ortodoxos da religião oficial) procuravam sufocar-lhe a voz, a fim de não perderem sua autoridade dominadora das classes populares e mesmo das da alta sociedade: o Espírito abafado pela matéria, o sem-Forma sufocado pela forma, o Infinito limitado pelo espaço, o Eterno restringido pelo tempo, a Vida perseguida pela morte.

19. O ensinamento prossegue, salientando qual A AÇÃO do Filho: fazer tudo o que faz o Pai. Nada pode fazer o Filho por si mesmo, já que é passivo, é o Amado; toda força criadora e propulsora, ativa, de Amante, pertence ao Pai, ao Logos, ao Som Criador, à Palavra produtora do som.

Então o trabalho é feito em conjunto, porque Deus É UM só, quer sob o aspecto de AMOR (LUZ),  quer sob o de AMANTE (SOM), quer sob o de AMADO (que vai dos sistemas atômicos aos estelares, galáxicos, cósmicos). O Pai fala, o Filho obedece; a Palavra cria, o Filho dirige a criação; o Som produz vibrações, o Filho as organiza, tudo ligado e existente e vivificado pela Luz Incriada, o Amor Concreto, que se manifesta em COESÃO nos átomos físicos (minerais), em ADAPTAÇÃO nos ·tomos etéricos (vegetais), em SIMPATIA nos átomos astrais (animais), em DESEJO nos átomos intelectuais (homens), em AMOR nos átomos espirituais (Filhos do Homem). E a ação, sendo conjunta, o Filho age semelhantemente ao Pai, embora "por si mesmo" nada possa fazer: se não houver o impulso criador e sustentador vibracional do som, nada se sustenta.

20. Neste versículo confirma-se a interpretação: o Pai ama o Filho, ou seja, o AMOR (Espírito Santo) é a ligação entre o Pai (Amante) e o Filho (Amado). O verbo philein, aqui usado, exprime o amor terno e instintivo que é o tipo de amor que o Cristo nos pede em relação a Ele. Por causa desse amor, o Pai manifesta ao Filho tudo o que faz; ou seja, tudo o que é criado pelo Som Criador traz em si, intrinsecamente, o sopro divino, o pneuma ou Espírito, que é precisamente o Cristo Interno, o Filho. Então, tudo o que existe pertence ao Filho (cfr. "tudo o que o Pai tem é meu", João, 16:15), porque o Filho é a essência ultérrima de tudo, já que tudo o que existe é a manifestação do Filho.

E maiores obras, maiores produções que estas (atuais) lhe manifestará, "para que vos admireis"; profecia que já vem começando a realizar-se. Entre os israelitas, e a atual concepção da grandeza cósmica, medeia um abismo. Hoje conhecemos muito mais profundamente a constituição das galáxias e do número infinito dos universos com seus sistemas estelares habitados; hoje conseguimos sobrepujar a atmosfera e viajar pelos espaços, coisa que, naqueles idos, só o mencioná-lo, seria julgado rematada loucura; hoje chegamos a compreender a exatidão científica das palavras do Cristo, quanto à criação dos universos e o aparecimento da matéria: "obras muito maiores que estas lhe manifestará, para que vos admireis".

21.Começa agora o Cristo a enumerar as qualidades e poderes do Espirito (individualidade); a primeira é a VIDA; e o exemplo é o da doação da Vida.

Lembremo-nos de que a Vida é a expressão máxima do Filho, é o sopro divino em nós (e por isso até  a ciência não lhe descobriu a essência). Assim como o Pai Criador "desperta os mortos", ou seja, faz que a matéria inerte e morta (inorgânica) se torne matéria viva (orgânica), assim como que despertando de um sono de milhares de milênios, assim também o Filho vivifica, do íntimo das coisas, tudo aquilo que ele quer, ao verificar que está na hora oportuna de elevá-los de nível.

Podemos, também, interpretar como a capacidade de fazer que os mortos tornem a despertar para a vida em nova encarnação. Da mesma forma que o Pai, o Som Criador, desperta os mortos na encarnação mecânica e automática dos seres involuídos, assim o Filho vivifica os mortos na encarnação consciente, quando cada um toma por si a iniciativa de voltar à vida física, impulsionado internamente  pela Centelha divina, que é exatamente o Cristo Interno, o Filho.

22. Tanto é assim, que neste versículo é explicado que "o Pai não escolhe ninguém, mas deu toda escolha ao Filho". Isto é, o Pai age automaticamente, dando movimento e vida A TODOS, mas compete ao Filho escolher o momento exato para determinar os passos evolutivos que cada ser deve dar, e isso porque o Filho é Imanente e dirige a evolução de dentro.

Numa interpretação mais elevada na escala, já podemos entrever a concessão do livre-arbítrio aos seres mais evoluídos. O Pai dá-lhes força e vida, deixando-lhes inteira liberdade; mas o Filho, o Cristo Interno, do âmago do coração de cada homem, escolhe o caminho que quer seguir, buscando sempre a felicidade máxima. De fato pode enganar-se o homem, colocando a felicidade fora de si em coisas externas, mas com o tempo chegará a compreender onde se encontra a meta real e verdadeira de sua felicidade. Para isso o Cristo nos convoca e "seu amor nos impulsiona" (amor Christi urget nos, 2.º Cor. 5:14), pois "o amor de Deus foi derramado abundantemente em nossos corações por meio do Espírito Santo" (Rom. 5:5 ), que é o Amor Concreto.

Então, a escolha cabe realmente AO FILHO, ao HOMEM, a quem foi concedida liberdade absoluta (livre-arbÌtrio), competindo ao Pai Criador conceder a graça àqueles que a escolheram por sua vontade própria: "toda escolha foi dada ao Filho".

Por essa razão é que rejeitamos o sentido analógico de "julgamento", já que jamais exprimiria o ensinamento dado.

23. A escolha foi dada ao Filho com uma finalidade: "para que todos os, homens honrem ao Filho, como honram ao Pai". O Filho, o Cristo-que-em-todos-nós-habita, deve ser por todas as criaturas tratado com a honra que todos tributam ao Pai. Esse mesmo verbo é usado no quinto mandamento da lei mosaica: "honrarás teu pai e tua mãe" (Deut. 5:16). Assim como a lei escrita para a personalidade transitória manda que honremos os seres que nos proporcionaram o corpo fésico, assim a Lei de Cristo ordena honremos o Filho, que é nosso Eu Profundo, tal como honramos o Pai Criador, que nos deu a existência eterna e nos sustenta com Sua Vida.

E a razão é acrescentada: quem não honra o Filho, ipso facto não honra o Pai que o enviou a percorrer a escala evolutiva; porque ambos, Pai e Filho, são UM SÓ, no Amor do EspÌrito Santo: "eu e o Pai somos UM" (João 10:30 ), confessa o Cristo. E, mais especificadamente, diz: "eu estou NO Pai e o Pai está EM MIM" (João, 10:38 e 14:10 e 11). Se é assim como não podemos duvidar que seja - o "envio" do Filho por parte do Pai não pode exprimir o que tem sido ensinado até hoje: que o Pai, lá do "céu", enviou o Filho cá para a Terra, para fazê-lo morrer à mão dos malfeitores; e então, regozijando-se com essa morte, teria perdoado à humanidade. Tão absurda é essa crença que não podemos compreender como atravessou séculos, repetida por gente que parecia saber raciocinar. Seria como se um homem tivesse uma fazenda e fosse lesado anos a fio por seus empregados. Então resolveu que perdoaria os empregados, mas com uma condição: que eles lhe matassem o filho único! Infantilidade inconcebível, essa teoria da "redenção", pela morte do "Filho de Deus". E o sentido do ensino é tão diferente! Vê-lo-emos a seu tempo.

24. Passa então o Cristo a falar no resultado das ações dos homens, e nas condições indispensáveis ao êxito da evolução, sem perigo de atrasos na caminhada. As condições são duas: a) ouvir o ensino que o Cristo nos traz, em nosso âmago; e b) confiar no Pai que em nós habita sob a forma de vida, e donde partiu o Filho para constituir nossa essência profunda.

Também os resultados obtidos serão duplos: a) ter a vida imanente, UNA com o Cristo e, por isso mesmo, b) não mais cometer erros, mas passar diretamente da morte do corpo encarnado para a vida liberta do Espírito, não mais sujeita à lei cármica das encarnações compulsórias (kyklos ananke).

Quem ouve o ensino e se entrega ao Pai confiadamente, atrai a si a graça do Encontro Místico e se unifica com o Cristo, que é um com o Pai (cfr. "eu estou EM meu Pai, e vós EM MIM, e eu EM VÓS",
João, 14:20). Ora, nesse estado, ninguém caminhará para o carma; mas, embora encarnado, "já se transladou (sentido literal de metabébêken) da morte para a Vida".

25.Com a repetição da fórmula de garantia da veracidade do que afirma, o Cristo assegura que chegará uma hora - e já começou desde aquele momento - em que os mortos (os encarcerados na carne) ouvirão a Voz do Filho de Deus, o Cristo Interno; e todos os que a tiverem ouvido (e seguida seus ensinamentos) viverão no Espírito.

26. Depois dessas explicações, já bastante claras, não satisfeito, utiliza-se o Grande Mestre Inefável de repetições didáticas, repisando os mesmos conceitos com palavras diferentes, a fim de evitar qualquer dúvida que ainda pudesse pairar na interpretação dos ouvintes. Toca novamente nos três pontos esclarecidos: a) a Vida; b) a escolha (livre-arbítrio) ; c) o resultado (carma) das ações livremente realizadas.

Diz, então: assim como o Pai tem vida em si mesmo (já não é mais o poder de dar vida, mas o fato de ter em si a vida), assim concedeu que o Filho tivesse vida em si mesmo.

Com efeito, proveniente da Vida-Amor, manifestação da Vida Plena, o Pai é a própria VIDA que se ativa sob o aspecto de Amante, e como o Filho é o próprio Pai que se estende e manifesta, também o Filho, o Cristo, tem em si a vida passiva sob o aspecto de Amado. Três aspectos de um só Amor; três faces de um só triângulo; três raios de uma só Luz; três harmônicos de um só Som; três expressões de uma mesma Vida.

27. Repete a seguir que o Pai concedeu ao Filho o poder da escolha, deixando-Lhe o livre-arbítrio, e isso "porque é Filho do Homem", porque já está na plena posse de suas faculdades psíquicas e intelectuais (racionais), podendo avaliar o que ele julga ser melhor para si mesmo.

28. Volta então ao assunto do carma, ao resultado das ações, esclarecendo que ninguém se maravilhe de ver chegar uma hora em que todos (pántes) nos túmulos (da encarnação física) ouvirão a voz do Cristo Interno, e sairão dos túmulos para colher o fruto de suas obras.

29. E aqui vem a separação: todos os que tiverem produzido "coisas boas" conseguirão uma restauração  de vida no Espírito imortal, mas aqueles que, porventura, tiverem praticado "ações vulgares" (de pouca valia, apenas cuidando dos interesses materiais), esses se encaminharão para uma restauração do carma.

A lógica da sequência do ensinamento é perfeita. Só não procederia, se acompanhássemos as traduções correntes, que falam em "ressurreição da vida" e em "ressurreição do juízo". Que significaria essa "ressurreição DO JUÍZO"? Não faz sentido o agrupamento dessas duas palavras. Por isso traduzimos aqui anástasis como "restauração", sentido real dessa palavra, registrado nos dicionários, e que nos esclarece com precisão o ensino do Cristo.