segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CURA NO TEMPLO - Pastorino

(Sábado, 23 de abril do ano 30)

João, 5:1-16

1. Depois disso, havia a festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
2. Ora, em Jerusalém, junto à (porta) das ovelhas, há uma piscina, que em hebraico é chamada Bethesda, a qual tem cinco pórticos.
3. Nestes jazia grande número de enfermos, cegos, coxos, paralíticos [esperando o movimento da água,
4. porque descia um anjo em certas épocas e agitava a água da piscina; e o primeiro que entrasse na piscina depois de a água mover-se, ficava curado de qualquer doença que tivesse].
5. Achava-se ali certo homem, que havia trinta e oito anos estava enfermo.
6. Vendo-o Jesus deitado, e tendo sabido que estava assim desde muito tempo, perguntou-lhe: "queres ficar são"?
7. Respondeu-lhe o enfermo: "Senhor, não tenho ninguém que me ponha na piscina, quando a água é movida: enquanto vou, outro desce antes de mim".
8. Disse-lhe Jesus: "Levanta-te, toma teu leito e caminha". 
9. Imediatamente o homem ficou são, tomou seu leito e andou.
10. Era sábado aquele dia. Pelo que disseram os judeus ao que fora curado: "Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito'.
11. Ele respondeu-lhes: "O que me curou, esse me disse: toma teu leito e caminha".
12. Perguntaram-lhe, então: "Qual foi o homem que te disse: toma teu leito e caminha"?
13. Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se retirara, já que havia muita gente naquele lugar.
14. Depois Jesus o encontrou no templo e disse-lhe: "Olha, ficaste curado: não erres mais, para que te não suceda coisa pior".
15. Saiu o homem e foi dizer aos judeus, que fora Jesus que o curara.
16. Por isso os judeus perseguiam Jesus, porque fazia essas coisas nos sábados.


Após a magnífica aula sobre o Pão da Vida, em que Cristo nos revelou a Via Contemplativa e a Via Unitiva, Jesus "Sobe a Jerusalém".

Observamos que houve troca de folhas nalgum manuscrito primitivo (já Orígenes o notara) e o atual capítulo 5.º tem que ser lido depois, do 6.º. A inversão é bem clara pela crítica interna. Por causa  dessa troca, os mss. A, B, D, N, W e theta trazem "uma festa" (sem artigo), ao passo que os mss. aleph, C, L, delta e as versões coptas (boaírica e saídica, respectivamente do alto e baixo Egito) trazem o artigo: hê heortê, "a festa". Quando era assim determinada, a expressão "a festa" designava a Páscoa. Estávamos, pois, na segunda Páscoa da "vida pública" de Jesus (ver a primeira em João, 2:13, e terceira em João 12:1).

"Junto à (porta) das ovelhas", no original: epi tôi probatikêi (literalmente "perto da probática") pode exprimir quer o nome da porta do ângulo nordeste do templo, quer uma confusão com a piscina  "probática" primitiva, em que se lavavam as vitimas antes do holocausto.

O nome dado à piscina (kolumbêthra, literalmente "banho público") apresenta variantes:
1) BEZATHA, por Euzébio, baseado em Josefo (Bell. Jud. 5, 4, 2 e 5, 6 e 7) que cita o novo bairro de Jerusalém, dando-lhe o nome de Bezata, que significa "cidade nova"; é aceito por Lagrange.
2) BEZETHA, por Vincent, significa '"corte".
3) BELZETHA, em D, no Sinaítico de Paris e poucos outros.
4) BETHSAIDA, nos mss. B, C, W e na Vulgata (é o menos provável).
5) BETHZATHA, nos mss. aleph, L, 33, e, 1; aceito por Nestle.
6) BETHZETHA, aceito por Tischendorf, Westcott-Hort e Van Soden.
7) BETHESDA, nos mss. A, C, E, F, G, H, S, V, theta, omega e muitos outros gregos; nas versões síriaca oficial (Peschito), nítria, árabes e em dois mss. da Vetus Itálica; aceito por Vogels, Prat, Merck, Weiss, Bem e Bover. Citado nessa forma por Jerônimo (De Situ et Nom. Loc. Hebr., Patrol. Lat. vol. 23, col. 884); João Crisóstomo (In Joanne Hom. 36,1, Patrol.Graeca, vol. 54, col. 203); Cirilo de Alexandria (In Joanne, Hom. 2 e 6, Patrol. Graeca, vol. 73, cols. 336 e 988); e Dídimo de Alexandria (De Trinit.2, 14, Patrol. Graeca vol. 39, col. 709).

Como vemos, BETHESDA (que significa "Casa da Misericórdia") tem mais testemunhos.

A piscina ocupava um quadrilátero de 120 m por 60 m, e era cercada por uma galeria em arcadas  (pórticos), dividida em duas partes iguais por uma comporta que tinha, por cima, uma quinta galeria também em colunata como as outras quatro. A bacia ficava circundada por aleijados que esperavam que "a água se movimentasse". O movimento das águas era provavelmente causado pela abertura da Comporta, a fim de jorrar água limpa na piscina.

A segunda parte do vers. 3 e todo o vers. 4 parece que foram interpolados posteriormente, por algum comentador, pois não figuram nos mss. S, B, C, D, W, 33, 134, 157, f, t e na Vulgata de Wordsworth; apenas os mss. A, L, delta e theta trazem essas palavras. Devem ser cortadas, segundo a maioria dos hermeneutas; pois se exprimissem a verdade, "representariam o maior milagre relatado na Bíblia",  milagre inexplicável, em que "o primeiro chegado era curado". Além disso, nenhum texto além desse alude a esse caso extraordinário.

Entre os enfermos, havia um deitado no chão (katakeímenon) doente havia 38 anos. Quando Jesus  veio a saber naquele momento (gnóus supõe conhecimento recente) o tempo da enfermidade, se condoeu dele e perguntou-lhe se queria curar-se. Respondeu-lhe o doente que não tem quem o ajude "a descer à água quando esta se movimenta", frase que provavelmente teria provocado a explicação interpolada nos vers. 3 e 4. Pelas palavras, parece tratar-se de um paralítico.

Uma frase apenas é dita por Jesus: "levanta-te, apanha tua esteira e caminha". Alguns viram nessa  frase uma repetição da narração do fato ocorrido em Cafamaum (Mat. 9:2-8; Marc. 2:1-12; Luc. 5:17-26; veja vol. 2). Mas as circunstâncias diferem totalmente e o ensino ministrado é de outra ordem: lá acentua-se a autoridade do Filho do Homem de resgatar o carma, e aqui sua autoridade acima das prescrições teológicas da guarda do sábado (cfr. Mat. 12:1-8; Mar. 2:23-28; Luc. 6:1-5; vol. 2).

Realmente, entre as 39 proibições de trabalhos, aos sábados, é expressamente mencionada a do   transporte de um leito, com alguém deitado nele ou vazio.

João, que sempre designa por "os judeus" os principais cabeças dos israelitas, coloca de imediato a  questão, com a repreensão ao infrator. Este joga a responsabilidade "em quem o curou", que ele não sabia quem era: Jesus se afastara rápido, confundindo-se na multidão. Talvez para não ser solicitado a fazer outras curas? E por que curou apenas UM, entre tantos enfermos que lá estavam?

Mais tarde Jesus "o encontra no templo" (cfr. 9:35), recomendando-lhe que não voltasse a errar, para que lhe não sucedesse coisa pior. Libertado de seu carma, não fosse contrair outro laço, talvez de  resultados mais dolorosos.

O comportamento deste doente, indo logo denunciar Jesus àqueles que o haviam repreendido, parece bastante estranho. Alguns pretendem desculpá-lo, atribuindo-lhe apenas o desejo de tornar conhecido seu benfeitor. Realmente, com a lábia dos mal-intencionados, estes talvez o tenham convencido a dizer quem o curou, para que pudessem "louvá-lo" ...

Comentário simbólico


Aqui é-nos apresentado um episódio privativo da narrativa de João, obedecendo à mesma técnica didática utilizada na lição do Pão da Vida: partindo de um exemplo prático, de uma experiência viva, finaliza com o desenvolvimento de um tema teórico.


Em vista da importância do ensino posterior, há que prestar atenção a todos os pormenores e sinais fornecidos pelo narrador, como por exemplo à numerologia, simbolismo muito usado pelo quarto evangelista, sobretudo no Apocalipse. Neste trecho comprovamos ainda uma vez a veracidade desta nossa assertiva (já salientada por nós em outros passos), quando João assinala minúcias numéricas totalmente secundárias e inexpressivas, não fora o símbolo que exprimem (piscina com 5 pórticos ... enfermo havia 38 anos ...).

Mas tudo isso é base para posteriores esclarecimentos, na lição teórica Vejamos o trecho.

Inicia-se salientando que "Jesus subiu a Jerusalém pela festa (da Páscoa)". Dirigia-se da Galiléia  (Jardim fechado" da individualidade) para a Judéia ("Louvor a Deus" da personalidade religiosa   filiada a igrejas), colocando sua meta em Jerusalém ("Cidade da Paz", onde poderia desenvolver um tema profundo em relação às criaturas que já se achavam pacificadas no caminho religioso da evolução). E isso por ocasião da "festa da Páscoa", isto é, da alegria da passagem da ordem inferior da personalidade, para a superior da individualidade.

Nesse ambiente, anota-se o local da lição prática: a "porta das ovelhas", o lugar mais indicado para um "Bom Pastor" conversar com aqueles que, "quais ovelhas entre lobos", desejavam penetrar o  sentido profundo das Escrituras, libertando-se do sentido "literal". Era exatamente a porta de acesso a
uma lição espiritual profunda.

Não nos esqueçamos de que as ovelhas constituem o símbolo do holocausto, do sacrifício da parte animal do ser humano, quando aceito resignadamente. Ao contrário, por exemplo, dos suínos, que berram revoltados ao serem sacrificados, as ovelhas caminham sem protesto para a tosquia e até para o holocausto de suas vidas: "não abriu a boca, como o cordeiro que é levado ao matadouro e como a ovelha que é muda diante dos que a tosquiam" (Is. 53:7).

O ensino de que a ovelha (cordeiro ou carneiro) é o símbolo da parte animal do ser humano, e que é esta que deve ser sacrificada, nós o recebemos desde o Antigo Testamento (cfr. Gênesis, cap. 22). YHWH ordena a Abraão que vá a Moriah e ali lhe sacrifique seu único filho Isaac, "a alegria" (ou seja, seus veículos físicos, "filhos" únicos do Espírito); obedecendo à letra da ordem, Abraão encaminha-se para o local determinado e chega a amarrar Isaac no altar do sacrifício, levantando o cutelo para imolá-lo. Faz-se então ouvir a voz de YHWH, esclarecendo que não era esse o sentido da ordem; que se alegrava por vê-lo obediente, mas que não sacrificasse o corpo (o "filho"); é quando Abraão vê um carneiro e o imola, isto é, quando compreende a alegoria, percebendo que o holocausto pedido é apenas do animalismo ainda residual no homem.

Na "porta das ovelhas" havia uma piscina, um "banho público" (lugar destinado à limpeza e purificação dos corpos) com CINCO pórticos; outra anotação que deixa perceber que a criatura- paradigma da lição já se achava purificada e limpa em sua parte da animalidade.

Recordando e aplicando o conhecimento dos arcanos, vemos que se trata de um modo de assinalar  que ali "a Providência divina governaria a vida universal e a vontade do homem dirigiria sua força vital (cfr. pág- 121).

Tanto assim é que João registra o nome simbólico da piscina, Bethesda, ou "Casa da Misericórdia". Esse nome não consta de nenhum outro documento histórico, nem podia constar, pois foi escolhido pelo evangelista para fazer compreender a quem no pudesse, o significado da lição: um Manifestante divino que chegava às criaturas misericordiosamente para elucidá-las.

Mas também aprendemos que a lição se referirá aos seres já purificados no corpo, os quais, tendo superado as fases da personalidade (físico, etérico, astral e intelectual) estão começando a perceber, consciente ou inconscientemente, o plano da individualidade, o quinto plano, embora não consigam sozinhos dar o passo decisivo. Daí o fato ocorrer na "porta" (entrada) das "ovelhas" (dos dispostos ao sacrifício) numa "piscina" (depois de purificados) na "Casa da Misericórdia" onde receberão a Provid ência que governa a vida universal, já que eles se acham prontos a dirigir suas forças vitais nesse sentido. Então, tudo está preparado, o discípulo está pronto, vai aparecer o Mestre Revelador dos segredos eternos.

A seguir João acrescenta que "ali havia grande número de enfermos". Ora, isso jamais teria sido possível na vida real. Numa cidade dominada pelos romanos havia quase um século (de 63 A.C. a 30 A.D.), nunca seria permitido um enxame de enfermos mendigos em redor - e banhando-se! - num  local destinado aos banhos públicos, frequentados pela nata da sociedade. A entrada nas Termas era severamente controlada em Roma, em Atenas, em qualquer outra cidade importante. Por que não no seria em Jerusalém?

Então, resultando a anotação do evangelista uma inverdade histórica, só podia ser alegórica. Tanto o é, que ele ainda cuida de especificar os tipos de enfermos: cegos, coxos e paralíticos. Aí temos, pois, aqueles que, embora começando a perceber a individualidade, nos lugares de "louvor a Deus" (isto é, nas religiões oficiais) e embora na "cidade da paz" (ou seja, em estado" pacificados pela convicção religiosa) estavam CEGOS, não compreendendo o que com eles se passava, não vendo a realidade evolutiva; eram COXOS, como que caminhando com uma perna só (a devoção) sem conseguir usar a outra (evolução), ou se achavam PARALÍTICOS, sem poder dar um passo sequer na estrada certa. Todas as três espécies de enfermos que não poderiam mover-se sem ajuda de outrem!

Notemos que João não fala de surdos, pois estes seriam os que não queriam ouvir ninguém, vaidosos e      
presunçosos de seus conhecimentos, e portanto não estariam ali aguardando o Mestre. Também não fala de mudos, de leprosos, de possessos ou obsidiados, de epilépticos, de hidrópicos ... Cita apenas as  
três classes que, precisamente, teriam dificuldade de "lançar-se à água quando esta se movimentasse":
os cegos não enxergariam o movimento da água; os coxos poderiam mover-se claudicando com dificuldade; e os paralíticos não poderiam mover-se ... Ora, se na realidade a cura se desse tal como literalmente dá a entender o Evangelho, não haveriam de faltar os portadores de outras moléstias, que com facilidade poderiam atirar-se na piscina, curando-se. Como lá não estavam? Mais um pormenor que nos chama a atenção para o simbolismo da cena.


E é realçado esse simbolismo pelo fato de o Mestre dirigir-se a apenas um dos presentes, ao que já estava preparado de todo para caminhar à frente, dando o passo decisivo para a atuação da Centelha divina nele.

Com efeito, é anotado que esse, que ali estava, já se achava "enfermo" (fraco) havia trinta e oito  anos. Que significaria o número 38? Não vemos outro simbolismo que a falta de DOIS ANOS, para completar QUARENTA. E sabemos que 40 (veja vol. 1) exprime a luta do Espírito com o mundo exterior. Em sua encarnação (materialização do astral e do etérico), o Espírito, a Centelha divina, ainda não havia atingido a exteriorização de si mesma no plano da personalidade; ainda não conseguira manifesfar-se a esta: faltavam dois anos somente.

Recordemos que o DOIS é, no plano humano, a receptividade feminina, o campo pronto a receber a semente fecundadora. Então, faltava apenas receber a manifestação da PALAVRA (o Logos, ou SEGUNDO aspecto da Divindade) para que essa Centelha se manifestasse à personalidade. O homem
estava pronto, aguardando a mão que o ajudasse a dar o passo definitivo.

E o Cristo pergunta-lhe se ele quer dá-lo. Nada é feito sem que o livre-arbítrio da criatura o decida (é o simbolismo do CINCO: a vontade do homem para dirigir sua força vital).

A resposta dele mais uma vez confirma nossa interpretação: "não tenho quem me ponha na piscina, quando a água é movimentada". Por que não teria ele dito simplesmente "quero"?

Na realidade, sabemos que a ÁGUA simboliza a interpretação alegórica das Escrituras. E é disso que se queixa o enfermo: não podia mover-se sozinho para ir buscar essa compreensão profunda  (faltavalhe a "chave") e não encontrara ninguém que lhe proporcionasse meios de penetrar a alegoria, extraindo das palavras físicas, da letra, o SENTIDO espiritual (cfr. vol. 1).

Aqui compreendemos as frases de João nos vers. 3 e 4, que podem perfeitamente ser aceitas neste sentido mais profundo: de tempos a tempos desce um ANJO (chega à Terra um Mestre, um Manifestante divino, um Avatar) e "movimenta as águas" (revela certos sentidos alegóricos e simbólicos profundos das Escrituras); e os "enfermos" que entram nessas águas (que compreendem a lição e a vivem) se curam de suas fraquezas. Não se referia João, com essas palavras ao fato expresso pela letra,mas a um sentido oculto, que pudesse ser captado por quem tivesse a capacidade de compreender: qui potest cápere, cápiat.

Diante dessa disposição de aceitação plena, em que o enfermo apenas solicita a ajuda de alguém para iniciá-lo, o Cristo resolve fazê-lo. Levanta-te, isto é, eleva tuas vibrações íntimas; toma teu leito, ou seja domina teu corpo, carregando-o como um peso necessário, embora incômodo e externo a teu Eu verdadeiro; e caminha, e prossegue avante tua jornada evolutiva em busca do Espírito.

A seguir o Evangelista salienta que era sábado, dia prescrito ao repouso. E por isso os "judeus" (os "adoradores de Deus", sequazes ortodoxos da religião oficial) protestam, ao vê-lo afastar-se das prescrições religiosas correntes. Todos os religiosos fervorosos (ou fanáticos) colocam a observância externa dos cultos e ritos como base de salvação, e condenam com veemência (excomungando) todos os que, libertando-se das exterioridades, procuram seguir o Espírito (individualidade).

O doente desculpa-se, dizendo que Aquele que o havia curado (que lhe havia revelado o caminho a seguir, manifestando-lhe o sentido secreto do espiritualismo) esse lhe havia ordenado que não desse importância aos preceitos impostos pelos homens, mesmo que tivessem sido "atribuídos" à Divindade.

Quando lhe perguntam "quem era" esse, responde "não saber": trata-se do Grande Inominado, o Cristo Interno, que a personalidade de Jesus nos revela plenamente. Mais tarde, em outro contato íntimo e profundo (Jesus o encontra NO TEMPLO, isto é, o Cristo tem contato com ele no coração), percebe de Quem se trata, ao aprender que deve vigiar para não cometer outros erros, afastando-se do Espírito, pois coisas piores lhe poderiam ocorrer, em encarnações de sofrimento e dor; não mais trilhar os caminhos da materialidade, no Anti-Sistema, mas sair do pólo negativo para o positivo, para o Sistema (P. Ubaldi).

Emocionado com as novidades do ensino, ofuscado com as luzes que lhe chegaram - embora já se sentisse perseguido por haver saído da trilha normal comum a todos os religiosos de mentalidade estreita - resolve divulgar a verdade, revelando de onde recebeu esses ensinamentos: o Cristo. Vai a seus antigos companheiros de religião, com o intuito de ensinar-lhes os segredos que tanto bem lhe haviam feito. Mas isso desencadeia novas perseguições, desta vez diretamente voltadas contra o Cristo, contra o Espírito que nele se manifestara.

Estava dada a aula prático-experimental, só faltando o desenvolvimento teórico, para que os  discípulos compreendessem a profundidade do exemplo apresentado, da experiência vivida.

E é o que o Mestre faz, a seguir, numa lição cheia de beleza e elevação, numa aula magistral.











segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A PARÁBOLA DAS BODAS


A PARÁBOLA DAS BODAS

Artigo extraído do livro "Em Busca do Mestre" - Edições FEESP - 4ª Edição - Março de 1995.

“De novo começou Jesus a falar em parábolas, dizendo-lhes: O reino dos céus é semelhante a um rei, que celebrou as bodas de seu filho. E enviou os seus servos a chamar os convidados para a festa, e estes não quiseram vir. Enviou ainda outros servos com este recado: Dizei aos convidados: Tenho já preparado o meu banquete; as minhas rezes e os meus cevados estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Mas eles não fizeram caso e foram, um para seu campo, outro para o seu negócio; e outros, agarrando os servos, os ultrajaram e mataram. Mas, irou-se o rei, e mandou as suas tropas exterminarem aqueles assassinos e incendiarem a sua cidade. Então disse aos servos: As bodas estão preparadas, mas os convidados não eram dignos; ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e chamai para as bodas a quantos encontrardes. Indo aqueles servos pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala nupcial ficou cheia de convivas. Mas, entrando o rei para ver os convivas, notou ali um homem que não trajava veste nupcial, e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? Ele, porém, emudeceu. – Então, o rei disse aos servos: Atai-o de pés e mãos, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.
Trata-se de um Soberano que promove um banquete de bodas, para o qual convida as pessoas gradas do seu reino.
Este acontecimento deve ser tomado em acepção espiritual, visto como Jesus o relaciona e compara com o reino dos céus, conforme reza o verso 2 da alegoria em apreço. Assim, pois, o Soberano Senhor do Universo tem preparado um festim celeste, um banquete original, por isso que se não destina à gratificação dos sentidos nem visa proporcionar deleites ao corpo, mas para regozijo e conforto das almas. Essa festividade de cunho eminentemente religioso, consiste na comunhão entre os dois planos de vida – o terreno e o celestial, ou seja, na comunhão do Céu com a Terra. Notemos que o banquete é de bodas – portanto, é festa de núpcias entre Cristo e sua igreja, participando a militante aqui na Terra e a triunfante do Além. “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles”, tal é a solene promessa do Senhor, e em tal importa a constituição de sua igreja viva, estruturada de corações fiéis à sua palavra e aos seus exemplos, onde quer que se congreguem. Decorre, outrossim, desta circunstância o caráter de universalidade que distingue e assimila a igreja cristã.
Assim, pois, o banquete divino a que se alude na alegoria ora comentada, consiste na eucaristia de amor que se opera toda vez que os cristãos encarnados, ainda prisioneiros da carne, entram em contacto com os cristãos libertos, recebendo o influxo bendito de sua solidariedade, e o conforto incomparável do seu afeto e simpatia. A coragem que daí resulta, o bem que desse ósculo trocado entre os imortais e os mortais decorre transmitindo-lhes a coragem necessária para darem o testemunho da fé na imortalidade, na vida eterna anunciada pelo Cristo de Deus. Assim, e só assim, eles puderam manter-se firmes e intrépidos enfrentando o suplício, fosse esse suplício de que natureza fosse.
Uma coisa é ter idéia da vida futura, aceitar e mesmo crer na imortalidade como doutrina e como postulado da crença que adotamos, e outra coisa é sentir a realidade, a evidência da outra vida palpitar em nosso íntimo mediante o contacto dos Espíritos libertos, dos Espíritos que compõem a falange do Consolador, cuja assistência Jesus no-la promete solenemente em seu Evangelho.
Sabeis, por certo, o que é euforia. É o estado do indivíduo que se sente bem, é a sensação de abundância, de força e coragem, de valor e bom ânimo. Os seres superiores transmitem aos homens essa sensação que deles irradia naturalmente. Francisco de Assis, o grande místico, cuja vida foi um exemplo de humanidade, desfrutava a incomparável ventura de experimentar em seu íntimo a plenitude das graças celestiais, recebidas dessa fonte. Daí o seu desprezo pelas grandezas, pelos faustos e por todas as temporalidades do século. Joana D’Arc, a donzela de Orleans, aquela moça de guerra, liberta a sua pátria da invasão inimiga, mediante a influência de entidades espirituais que dela se serviam como instrumento, provando e demonstrando ao mundo o quanto pode e de que é capaz a ação dos Espíritos sobre os mortais. Ainda nos seus últimos momentos, supliciada na fogueira acesa na praça de Ruão, Joana dizia-se amparada pelas vozes do Céu de quem recebia energia, valor e inspiração.
A humanidade terrena não está isolada do todo. As entidades do Além penetram o plano terráqueo influindo positivamente nos atos e na conduta humana. As duas sociedades se encontram nos mútuos e recíprocos fenômenos de ação e reação.
João, em seu transcendente evangelho, diz que a lei veio por Moisés, porém a verdade e a graça nos são dadas mediante Jesus Cristo. Isto importa no fato de Moisés ter sido o intérprete da Lei, o escolhido para transmitir aos homens o teor do código divino expresso no Decálogo. A Jesus, porém, foi cometida a missão de completar o espírito da Lei, a obra de Justiça que deve culminar na Misericórdia. Por isso, a Ele compete presidir ao banquete celeste de entrelaçamento das almas – de um e de outro hemisfério, como lídima expressão da suprema graça concedida aos homens. Nós, míseros pecadores, podemos participar, por esse meio, da felicidade que fruem os Espíritos Superiores, os veros discípulos e apóstolos do Mestre Excelso, que já conquistaram a imortalidade integrando-se na vida eterna.
E não é só a graça que Jesus nos traz: Ele é também o portador da Verdade, dessa Verdade que é mais do que a ciência porque é sabedoria. Queremos nos reportar às revelações. Os maiores conhecimentos, as mais extraordinárias descobertas e as mais estupendas conquistas que o homem tem alcançado na terra, procedem da revelação. O homem é sempre, creia ou não creia, dirigido, orientado e conduzido pelos Seres Superiores, que carinhosamente acompanham seus passos no caminho de todas as tentativas nobres e elevadas a que o homem dedica os seus esforços e a sua inteligência.
A inspiração, porém, como a graça, apressamo-nos em assinalar, não vem para os indolentes, para os comodistas, gozadores e abúlicos, mas para os operosos e diligentes, adotem eles esta ou aquela crença, pouco importa. É o prêmio destinado aos que se esforçam e perseveram, aos que porfiam e lutam sem esmorecimento. É da fonte inexaurível da inspiração que emana a linfa cristalina e pura que mitiga a sede de saber, a sede de arte, a sede de Justiça, do bem, do belo e do verdadeiro que padecem as almas nobres, os Espíritos varonis. Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça porque serão saciados – eis a promessa que se cumpre no manancial das várias formas de revelações, sempre renovadas, frescas e progressivas.
Prossigamos, agora, nossos comentários sobre a passagem em questão. Preparado o festim, o Senhor e Soberano despachou emissários convidando as pessoas gradas para assistir a ele. Estas, porém, desdenharam o convite real, entregando-se às suas ocupações habituais. Fizeram ainda mais: ultrajaram os régios mandatários, perseguiram-nos e até assassinaram alguns deles.
Este passo da parábola refere-se claramente às revelações e advertências transmitidas pelos profetas, que era como se denominavam os médiuns, na antiguidade. Essas mensagens celestes, que deviam interessar aos mais avançados e mais responsáveis, por isso que dirigentes, foram sistematicamente desprezadas e ridicularizadas. Aqueles, portanto, cuja posição social justificava a primazia do convite, não se mostraram dignos dessa distinção.
Generalizando o caso, vemos que, realmente, é o que tem sucedido em toda parte, com relação à atitude dos membros da elite social diante das manifestações do plano espiritual. Tanto os ditos intelectuais, como aqueles que por outros motivos e razões ocupam posição de destaque na sociedade, receberam aqueles testemunhos de outra vida, com sarcasmos, levando-os ao ridículo. Os encarregados ou escolhidos do Senhor para funcionar como instrumentos do Alto, foram perseguidos, encarcerados e cobertos de opróbrios. Tal tem sido, através dos séculos, salvo raras e honrosas exceções, o procedimento dos homens de maior responsabilidade pelos destinos das gentes por isso que exercem autoridade sobre as massas populares. Portanto, como diz o texto, os primeiros convidados mostraram-se indignos da prerrogativa que lhes fora conferida.
Chegamos à parte mais interessante deste apólogo, visto como nos diz respeito muito de perto. Este tópico reporta-se evidentemente ao advento do Espiritismo. O surto invulgar que esta doutrina tomou em pouco mais de meio século, tempo este que muito pouco representa para a evolução de uma idéia, é realmente espantoso. Por toda parte fala-se no Espiritismo. Não há recanto da terra onde não se comentem os postulados da nova fé; não há família em cujo seio não se tenha dado algum fenômeno espírita. Em todos os meios sociais o Espiritismo constitui tema e assunto de discussões. Da choupana do pobre ao palácio dos abastados; dos insipientes aos eruditos; dos grandes aos parias – vão-se veiculando as idéias espíritas em marcha insopitável, num surto incoercível, que nenhuma força ou poder adverso pode sustar. Todas as formas de mediunidade estão em franca eclosão. As de natureza mais empolgantes, tais como a de materialização e voz direta, outrora raras, vão-se vulgarizando. A mediunidade de incorporação, mediante a qual é possível a cirurgiões do espaço realizarem intervenções de baixa e alta cirurgia; a tiptológica, a de transportes, de vidência e audição pululam aqui e acolá. A mediunidade mecânica que, através de Francisco Cândido Xavier, tem assombrado os pensadores honestos desta Pátria do Evangelho, pela sua fertilidade invulgar e pelas provas incontestáveis de autenticidade de que se reveste, desafiando a crítica mais exigente dos mais pirrônicos negativistas. Tudo isso é o que, se não a generalização do convite, ora extensivo a todos, sem distinção de classe e, mesmo, de méritos? A figura parabólica torna-se patente com o sol a pino. Só não a verá os cegos que obstinadamente fecharam os olhos para permanecerem nas trevas. As portas do salão nupcial estão abertas de par em par. O acesso é franqueado aos que o quiserem. Por isso, o augusto recinto está repleto de convivas bons e maus. Notemos bem este pormenor: bons e maus, não há escolha, não há seleção, não há preferência – os que quiserem, podem entrar, sem nenhum impedimento.
Esta figura parabólica também se acha plenamente concretizada na história do Espiritismo. Os charlatões e impostores de alto e baixo coturno apresentam-se rotulados de espíritas, pontificando em nome da Terceira Revelação. Os mercantilizadores, os exploradores da ingenuidade, da crendice e da ignorância exercem seu ignominioso comércio, a sua indecorosa e execrável simonia. Macumbeiros e feiticeiros são classificados e tidos como expressão do que se convencionou denominar – baixo espiritismo. Adeptos de todos os matizes engrossam as fieiras do novo credo: leais e dissimuladores; crentes verazes cujas convicções são baseadas no raciocínio e na observação; crentes que comprovam a justeza de sua fé pelas transformações que imprimem em si próprios; crédulos que tudo aceitam sem exame nem estudo e cujos caracteres não se modificam, permanecendo tais quais eram antes de se dizerem espíritas; estudiosos e diligentes que pedem, batem e procuram, agindo como quem sabe que o Espiritismo nada promete aos preguiçosos; curiosos, amantes de sensação, que só querem ver fenômenos, maravilhas e prodígios; almas sensitivas que desejam aprimorar seus sentimentos educando os próprios corações; homens honestos que vêm no Espiritismo à força única capaz de tirar o mundo do caos onde se debate; almas possuídas de fé que aguardam serenas e calmas o cumprimento da palavra evangélica; indivíduos atrabiliários, demagogistas, inovadores, irrequietos e insofridos – em suma – toda essa amálgama, todos esses elementos heterogêneos, com aspirações dispares e objetivos antagônicos entram no salão de bodas, confirmando o que reza o texto evangélico: Convidai indistintamente a quantos encontrardes pelas encruzilhadas dos caminhos: bons e maus. Gravemos indelevelmente em nossa mente essa particularidade, para que não nos escandalizemos a cada momento nem tenhamos decepções que nos possam arrefecer o entusiasmo e entibiar o ardor com que devemos pugnar pela vitória da verdade. Lembremo-nos de que a árvore se conhece pelos frutos, e mais ainda – que a cada um será dado segundo as suas obras. No decorrer animado e tumultuoso do festim nupcial, o Soberano Senhor entra no salão e, observando os convivas, nota que ali se acha alguém com indumentária comum, isto é, sem o traje próprio e adequado àquela cerimônia. Interroga-o então: Amigo, como entraste aqui sem veste ou túnica nupcial? O interpelado, porém, emudece. Continuando, disse o rei aos servos: Atai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são os chamados, mas poucos escolhidos – versos 11 a 14.
A exegese deste tópico com que o Divino Mestre fecha a parábola, é de tal evidência, que por si mesma se impõe. A veste nupcial prefigura o escrúpulo, o respeito e a santidade de que se devem revestir aqueles que tomam parte em sessões espíritas.
Quando Moisés percebeu os primeiros sinais da manifestação celestial que o procurava para transmitir-lhe o Decálogo, ouviu uma voz que dizia: Descalça as tuas sandálias porque é santa a terra que pisas. Santa, por que? Porque naquele local ia verificar-se o consórcio do céu com a terra, dos seres imortais, mensageiros e delegados de Deus com o homem. Da mesma sorte, hoje sucede. A comunhão com os Espíritos do Senhor é a eucaristia viva, eucaristia da graça com que Deus favorece o pecador através do seu Ungido, Cristo Jesus. O sentimento do bem, o desejo de alcançar mais um pouco de luz, como processo e meio de melhorar suas condições morais e intelectuais – tais são os objetivos que justificam a sagrada eucaristia. O espírito de religiosidade, a máxima sinceridade, o anseio de vencer os defeitos próprios, à vontade de contribuir para minorar as alheias aflições, de mitigar as dores do próximo, quer físicas quer psíquicas, eis os fios com que se tece e urde a túnica nupcial para o divino banquete. Comparecer ali, com as vestes da curiosidade, da presunção e do orgulho, de interesses inconfessáveis, de objetivos e malsãos – é expor-se a conseqüências funestas que variam da obsessão e possessão ao confucionismo, ao estado caótico em que o indivíduo, como Pilatos, começa a indagar: o que é a verdade? Stainton Moses, autor da obra – Ensinos Espiritualistas – cuja leitura recomendamos, narra, naquele livro, o que lhe sucedeu em uma sessão espírita onde compareceu despreocupadamente, assim como quem vai assistir a um espetáculo. Após os acontecimentos que então se deram com ele, dos quais quase resultou a sua morte, Stainton Moses – médico culto e experimentado – aconselha que jamais se promovam reuniões e trabalhos espíritas desacompanhados do espírito religioso, que deve presidi-las. E, por falar nesse espírito religioso, lembrado pelo autor em apreço, ocorre-nos à mente que certos espíritas pretendem que o Espiritismo seja ciência, tão somente ciência, nada tendo que ver com religião, por isso que é doutrina isenta de ritos e cerimônias. A nosso ver, esse juízo é destituído de fundamento, procede de uma falsa visão. Em que ramo da ciência estará o Espiritismo? Estará acaso na Química, na Astronomia, na Fisiologia, na Botânica ou na Sociologia? Ou se fará mister criar um vocábulo novo, com pronúncia arrevesada, de raiz grega, para substituir o nome plebeu com que o batizaram? O Espiritismo está em todos os ramos da ciência, sendo ainda a ciência do coração, a ciência da moral, do Destino, numa palavra – a ciência da vida, por isso que veio comprovar a imortalidade. Cumpre também considerar que uma das suas grandes realizações consiste precisamente na conjugação que veio estabelecer entre a ciência e a religião, a fé e a razão, apagando as causas de dissídio entre aquelas expressões. Com o seu advento a “fé encara a razão face a face em todas as épocas da humanidade”, e a religião caminha de mãos dadas com a ciência, visto como se a pequena ciência nega a Divindade, a grande ciência a confirma e atesta em todas as suas mais transcendentes conquistas, em todas as suas mais empolgantes pesquisas e indagações, promovendo assim a religião do homem com Deus, o que importa no verdadeiro espírito da religião. Assim o compreendeu o grande sábio Flammarion, astrônomo e matemático, conforme vemos em sua belíssima obra intitulada: DEUS NA NATUREZA, livro primoroso através de cujas páginas aprendemos a admirar a Divindade no altar santíssimo da sua infinita criação. Acaso, Flammarion consideraria o Espiritismo apenas como ciência, quando escreveu a citada produção? Se o Espiritismo não contivesse em sua estrutura o ideal religioso, não sabemos por que Kardec, o compilador dos seus postulados, se referiu à fé, à moral cristã, aos ensinamentos e aos exemplos do humilde filho do carpinteiro, intitulando um dos seus livros: O Evangelho segundo o Espiritismo. Não compreendemos igualmente por que denominam o Espiritismo de Terceira Revelação. Ora, revelação é mensagem dos Espíritos Superiores, contendo advertência, conselhos e exortações de natureza moral, relativa ao procedimento e à conduta dos homens. Reportam-se geralmente à lei que rege o nosso destino, às conseqüências dos nossos atos repercutindo no outro plano da vida; não tratam precisamente de assuntos científicos na acepção em que os homens tomam essas expressões. Revelação é termo de significado puramente religioso, sendo neste conceito que está aplicado ao Espiritismo. Tirai do Espiritismo o cunho religioso, e tereis, com isso, abolido a sua missão de consolar, de suavizar e lenir as dores humanas, destituindo-o dessa maneira do seu mais belo e glorioso apanágio.
Tirai do Espiritismo o seu caráter religioso e tereis destruído nele aquele poder miraculoso de enxugar o pranto dos aflitos, convertendo em gozo os mais acerbados sofrimentos, conforme tem feito e continua fazendo.
Tirai do Espiritismo a feição religiosa e tereis secado a sua fonte de bênçãos e de conforto moral, onde tantas almas sedentas de amor se têm saciado.
Tirai, finalmente, do Espiritismo a sua qualidade de religião e tê-lo-eis reduzido à fria condição de objeto de curiosidades e de especulações meramente diletantes, inócuas e estéreis, quando não fossem prejudiciais, por isso que sem finalidade moral.
O Espiritismo encerra um programa educacional completo: dirige-se ao cérebro e ao coração, promove o culto da inteligência ao lado do culto do sentimento.
Mas, não nos admiremos de que nem todos ainda o vejam por esse prisma; o salão está cheio de convivas de toda a espécie. Soa, no entanto, a hora da seleção. O mundo atravessa uma crise de reajustamento sob todos os aspectos e em todos os setores de atividade humana. Aproxima-se, pois, o momento em que se cumprirá a profecia contida na derradeira sentença desta parábola: MUITOS SÃO OS CHAMADOS, MAS POUCOS OS ESCOLHIDOS.
Quanto aos que não envergam a túnica nupcial, colherão os efeitos de sua atitude irreverente, caindo no confucionismo, deblaterando no caos, sem rumo, impossibilitados de prosseguir em seus intentos criminosos, conforme prefigura a sentença do promotor do festim: A marrai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de dentes.

Muitos os chamados, poucos os escolhidos



Publicado por C.E. Seareiros de Jesus / Nenhum comentário
POR KESI ADRIA
Jesus conversava com os homens através de parábolas, uma forma de ensinar contando histórias, respeitando o tempo de cada um para o entendimento dos ensinamentos sobre nós – humanos – e a vida. A parábola “Trabalhadores da Última Hora” nos é um convite a perceber como devemos aproveitar a vida atual para nosso desenvolvimento moral e espiritual.
Nesta história contada por Jesus, havia um homem rico, dono de uma vinha, que pela manhã saiu às ruas em busca de trabalhadores. Para cada contratado, prometia pagar um tostão. Assim foi o dia inteiro, correndo aqui e ali em busca de homens que quisessem trabalhar na vinha. Ao final do período, começando pelos últimos que chegaram, pagou tostão a tostão, conforme o combinado.
Aqueles que iniciaram a labuta pela manhã e fizeram o trabalho incansável o dia todo foram os últimos a receber e ganharam a mesma quantia dos demais. O fato incomodou e causou revolta a esses trabalhadores, que acharam a atitude do dono da vinha como injusta, mesmo ele tendo acertado o valor que tinha sido combinado.
Vamos trazer esta parábola para a nossa realidade, fazer com que os trabalhadores sejamos nós, habitantes do planeta Terra, pessoas encarnadas. E o reino dos céus seria o senhor das vinhas.  Nós apenas imaginamos como ele seja, não o compreendemos e pouco entendemos como se procede ao código de justiça divina.
Viemos para esta vida porque fomos chamados a vencer novas etapas das nossas limitações, dos nossos defeitos e falhas. Nós viemos para vencer nossas tendências ruins, para cultuar virtudes sublimes adormecidas e que podem nos aproximar do chamado “reino dos céus”. Por mais que este reino seja um enigma, o buscamos o tempo todo, porque entendemos – ainda que de forma inconsciente – que nele seremos felizes, puros, teremos paz e felicidade plena.
Os “trabalhadores da última hora” podem ser cada um de nós. Na vida trabalhamos, lutamos, vivemos, reclamamos, sonhamos e assim vai num ciclo interminável. Muitas vezes somos bonificados rapidamente pelos nossos esforços, em outros momentos, nem tanto. Tudo depende do nosso merecimento e de estarmos preparados para o “pagamento”, porém nem sempre temos consciência para reconhecer isso.
Ao recordar a história da Humanidade, podemos constatar que muitos trabalhadores surgiram para trazer a Boa Nova, as mensagens e exemplos que enobrecem o ser humano. Entre eles, desde lá trás, estão Moisés, João Batista, Jesus e seus apóstolos, Allan Kardec, Bezerra de Menezes, Chico Xavier e outros tantos que vieram para criar ações que promoveram contribuições à Humanidade.
Mania de reclamar
A parábola fala dos trabalhadores que reclamam do salário justo e esse tipo de situação muito tem a ver com nossa vida. Salário é recompensa. A pergunta é: que recompensa nós queremos para esta vida? Há quem diga que é saúde, outro não vacila em afirmar que é dinheiro, na lista ainda aparecem bom emprego, amigos de verdade, reconhecimento profissional, filhos e assim vai, a lista é grande.
Se a cada um é dado conforme as suas obras, o que teremos de fazer para que as coisas melhorem para nós? Trazendo esta reflexão para os ensinamentos espíritas, o salário espiritual que receberemos será de acordo com o mérito do nosso trabalho. Mais que labutar pelas necessidades físicas inerentes à condição atual, precisamos trabalhar e muito para atender as necessidades espirituais que nos acompanham dia a dia. Ser solidário, fraterno, tolerante, desprendido, paciente, ficar um pouco consigo mesmo, dedicar um tempo para estudar a doutrina espírita, doar outro tempo para uma causa justa…; enfim, fazer coisas edificantes é um alimento espiritual nutritivo, que nos faz sentir a presença de Deus.
“Há muitos os chamados e poucos os escolhidos”, disse Jesus. Realmente, Cristo nos fez um alerta e um convite ao mesmo tempo. Pediu para que fizéssemos da vida encarnada uma oportunidade ímpar.  Veja a condição do nosso planeta. A Terra é habitada por milhares de pessoas, porém quantos de nós teremos caminhado uns passinhos à frente rumo à perfeição ao desencarnar?
Não tem como ser promovido no trabalho sem fazer a diferença, sem inovar e trazer resultados, sem fazer bem para aquilo que foi contratado. Não tem como passar de ano na escola da vida sem se tornar um especialista e provar que aprendeu. Não saberemos como é o reino dos céus sem sermos melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo. Precisamos cultivar o otimismo, a crença no melhor, cultivar bons pensamentos e virtudes edificantes. Queira ser melhor e comece a se preparar hoje.

Muitos são chamados, pouco os escolhidos - palestra

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Muitos são chamados, poucos são escolhidos - Eduardo Medeiros


Muitos são chamados, poucos são escolhidos - 29/01/2011 - Eduardo Medeiros

No Novo Testamento – Mateus 22, versículo 14: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, Jesus Cristo, através de parábola que comparava o Reino dos Céus a uma comemoração de uma boda nupcial, citou a necessidade de estarmos preparados porque são poucos o que conseguem passar pela "porta da salvação" que evidentemente é "estreita". Muitos são os que rejeitam passar pela porta estreita e preferem a porta larga, mas esta última conduz à perdição e não à salvação.
Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as más paixões e porque grande parte dos humanos prefere o caminho “mais fácil”. A “porta estreita” recebe este nome porque, quando transpassada, promove grandes esforços sobre si mesmo, onde a pessoa é obrigada a vencer suas más tendências, coisa que poucos realmente conseguem.
O chamamento de Deus é universal. Não é cristão (espírita, evangélico ou católico romano), muçulmano ou judaico. É divino.
Dentro de nós todos (os muitos) nasce o sentimento e a necessidade de Deus, de compreendê-lo e de saber o caminho para Ele.
Parte daqueles que entenderem o que é necessitar de Deus se perde no caminho. Solicitações morais, emocionais, culturais, econômicas e infelizmente religiosas contribuem para que pessoas se percam na busca do Caminho.
Por outro lado o Caminho não é fácil. Há que lutar pela fé, caso contrário vamos saindo da retidão e desprezando a nossa convicção, fazendo-nos querer desistir.
Aos poucos vamos desistindo. Muitos ficam no meio do Caminho. Só os escolhidos chegam ao fim.
Sendo a Terra mundo de expiação (provas), nela predomina o mal. Quando a Terra se achar regenerada (transformada), a estrada do bem será a mais frequentada. Se houvesse de ser esse o estado normal da Humanidade, teria Deus condenado à perdição a imensa maioria das suas criaturas, suposição inadmissível, desde que se reconheça que o Criador é um conjunto de justiça e de bondade, afinal de contas "Deus é amor".
Mas, de que delitos esta Humanidade se houvera feito culpada para merecer tão triste sorte, ou seja, conviver com o mal, no presente e no futuro, se a alma não tivesse tido outras existências? Por que tantos entraves postos diante de seus passos? Por que essa porta tão estreita que poucos conseguem transpor? Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga; faz-se luz sobre os pontos mais obscuros da fé; o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado, e só então se pode compreender toda a profundidade da necessidade de se buscar Deus, o Criador.
Possuo o costume de falar que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”, na tentativa de enfatizar que cada coisa tem sua forma de ser analisada e, por exemplo, não basta somente que de hoje em diante cada um de nós saia “pregando” a palavra de Cristo dentro dos Centros Espíritas, Igrejas Evangélicas ou outras formas religiosas, pois, conforme escrito em Novo testamento – Mateus, cap. VII, vv. 21 a 23: “Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. - Muitos, nesse dia, me dirão: Senhor! Senhor! não profetizamos em teu nome? Não expulsamos em teu nome o demônio? Não fizemos muitos milagres em teu nome? - Eu então lhes direi em altas vozes: Afastai-vos de mim, vós que fazeis obras de iniquidade.”. “Pregar” a palavra de Cristo converte-se em uma grande ferramenta que contribuirá para a gente transpor a porta estreita, porém o caminho mais agradável aos “olhos de Deus” está aberto e consiste na prática sincera da lei de amor e de caridade.
São eternas as palavras de Jesus, porque são fundamentos da Verdade Universal de Deus. Constituem não só a salvaguarda da vida celeste, mas também o penhor da paz, da tranquilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre. Eis por que todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas, que se apoiarem nessas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a rocha, diferentemente da casa construída sobre a areia.
Eduardo Medeiros, 29/01/2010.
Artigo publicado no Jornal JC Regional de Pirassununga/SP - Edição de 29/01/2011.

Palestra Muitos Chamados


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Muitos os chamados, poucos os escolhidos - ESE capítulo 18

Muitos os chamados, poucos os escolhidos

Parábola do festim de bodas - A porta estreita - Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus - Muito se pedirá àquele que muito recebeu - Instruções dos espíritos - Dar-se-á àquele que tem. - Pelas suas obras é que se reconhece o cristão

Parábola do festim de bodas

1. Falando ainda por parábolas, disse-lhes Jesus: O reino dos céus se assemelha a um rei que, querendo festejar as bodas de seu filho, - despachou seus servos a chamar para as bodas os que tinham sido convidados; estes, porém, recusaram ir. - O rei despachou outros servos com ordem de dizer da sua parte aos convidados: Preparei o meu jantar; mandei matar os meus bois e todos os meus cevados; tudo está pronto; vinde às bodas. - Eles, porém, sem se incomodarem com isso, lá se foram, um para a sua casa de campo, outro para o seu negócio. - Os outros pegaram dos servos e os mataram, depois de lhes haverem feito muitos ultrajes. - Sabendo disso, o rei se tomou de cólera e, mandando contra eles seus exércitos, exterminou os assassinos e lhes queimou a cidade.

Então, disse a seus servos: O festim das bodas está inteiramente preparado; mas, os que para ele foram chamados não eram dignos dele. Ide, pois, às encruzilhadas e chamai para as bodas todos quantos encontrardes. - Os servos então saíram pelas ruas e trouxeram todos os que iam encontrando, bons e maus; a sala das bodas se encheu de pessoas que se puseram à mesa.

Entrou, em seguida, o rei para ver os que estavam à mesa, e, dando com um homem que não vestia a túnica nupcial, - disse-lhe: Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio. - Então, disse o rei à sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores: aí é que haverá prantos e ranger de dentes; - porquanto, muitos há chamados, mas poucos escolhidos. (S. MATEUS, cap. XXII, vv. 1 a 14.)

2. O incrédulo sorri a esta parábola, que lhe parece de pueril ingenuidade, por não compreender que se possa opor tanta dificuldade para assistir a um festim e, ainda menos, que convidados levem a resistência a ponto de massacrarem os enviados do dono da casa. "As parábolas", diz ele, o incrédulo, "são, sem dúvida, imagens; mas, ainda assim, mister se torna que não ultrapassem os limites do verossímil".

Outro tanto pode ser dito de todas as alegorias, das mais engenhosas fábulas, se não lhes forem tirados os respectivos envoltórios, para ser achado o sentido oculto. Jesus compunha as suas com os hábitos mais vulgares da vida e as adaptava aos costumes e ao caráter do povo a quem falava. A maioria delas tinha por objeto fazer penetrar nas massas populares a idéia da vida espiritual, parecendo muitas ininteligíveis, quanto ao sentido, apenas por não se colocarem neste ponto de vista os que as interpretam.

Na de que tratamos, Jesus compara o reino dos Céus, onde tudo e alegria e ventura, a um festim. Falando dos primeiros convidados, alude aos hebreus, que foram os primeiros chamados por Deus ao conhecimento da sua Lei. Os enviados do rei são os profetas que os vinham exortar a seguir a trilha da verdadeira felicidade; suas palavras, porém, quase não eram escutadas; suas advertências eram desprezadas; muitos foram mesmo massacrados, como os servos da parábola. Os convidados que se escusam, pretextando terem de ir cuidar de seus campos e de seus negócios, simbolizam as pessoas mundanas que, absorvidas pelas coisas terrenas, se conservam indiferentes às coisas celestes.

Era crença comum aos judeus de então que a nação deles tinha de alcançar supremacia sobre todas as outras. Deus, com efeito, não prometera a Abraão que a sua posteridade cobriria toda a Terra? Mas, como sempre, atendo-se à forma, sem atentarem ao fundo, eles acreditavam tratar-se de uma dominação efetiva e material.

Antes da vinda do Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram idólatras e politeístas. Se alguns homens superiores ao vulgo conceberam a idéia da unidade de Deus, essa idéia permaneceu no estado de sistema pessoal, em parte nenhuma foi aceita como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados que ocultavam seus conhecimentos sob um véu de mistério, impenetrável para as massas populares. Os hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; é a eles que Deus transmite a sua lei, primeiramente por via de Moisés, depois por intermédio de Jesus. Foi daquele pequenino foco que partiu a luz destinada a espargir-se pelo mundo inteiro, a triunfar do paganismo e a dar a Abraão uma posteridade espiritual "tão numerosa quanto as estrelas do firmamento. Entretanto, abandonando de todo a idolatria, os judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo; a nação, além de escravizada, era esfacelada pelas facções e dividida pelas seitas; a incredulidade atingira mesmo o santuário. Foi então que apareceu Jesus, enviado para os chamar à observância da Lei e para lhes rasgar os horizontes novos da vida futura. Dos primeiros a ser convidados para o grande banquete da fé universal, eles repeliram a palavra do Messias celeste e o imolaram. Perderam assim o fruto que teriam colhido da iniciativa que lhes coubera.

Fora, contudo, injusto acusar-se o povo inteiro de tal estado de coisas. A responsabilidade tocava principalmente aos fariseus e saduceus, que sacrificaram a nação por efeito do orgulho e do fanatismo de uns e pela incredulidade dos outros. São, pois, eles, sobretudo, que Jesus identifica nos convidados que recusam comparecer ao festim das bodas. Depois, acrescenta: "Vendo isso. o Senhor mandou convidar a todos os que fossem encontrados nas encruzilhadas, bons e maus." Queria dizer desse modo que a palavra ia ser pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e estes, acolhendo-a, seriam admitidos ao festim, em lugar dos primeiros convidados.

Mas não basta a ninguém ser convidado; não basta dizer-se cristão, nem sentar-se à mesa para tomar parte no banquete celestial. É preciso, antes de tudo e sob condição expressa, estar revestido da túnica nupcial, isto é, ter puro o coração e cumprir a lei segundo o espírito. Ora, a lei toda se contém nestas palavras: Fora da caridade não há salvação. Entre todos, porém, que ouvem a palavra divina, quão poucos são os que a guardam e a aplicam proveitosarnente! Quão poucos se tornam dignos de entrar no reino dos céus! Eis por que disse Jesus: Chamados haverá muitos; poucos, no entanto, serão os escolhidos.

A porta estreita

3. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. - Quão pequena é a porta da vida! quão apertado o caminho que a ela conduz! e quão poucos a encontram! (S. MATEUS, cap. VII, vv. 13 e 14.)

4. Tendo-lhe alguém feito esta pergunta: Senhor, serão poucos os que se salvam? Respondeu-lhes ele: - Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois vos asseguro que muitos procurarão transpô-la e não o poderão. - E quando o pai de família houver entrado e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos; ele vos responderá: não sei donde sois: - Pôr-vos-eis a dizer: Comemos e bebemos na tua presença e nos instruíste nas nossas praças públicas. - Ele vos responderá: Não sei donde sois; afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade.

Então, haverá prantos e ranger de dentes, quando virdes que Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas estão no reino de Deus e que vós outros sois dele expelidos. -Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia, que participarão do festim no reino de Deus. - Então, os que forem últimos serão os primeiros e os que forem primeiros serão os últimos. - (S. LUCAS, cap. XIII, vv. 23 a 30.)

5. Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal. E estreita a da salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se resignam. E o complemento da máxima: "Muitos são os chamados e poucos os escolhidos."

Tal o estado da Humanidade terrena, porque, sendo a Terra mundo de expiação, nela predomina o mal. Quando se achar transformada, a estrada do bem será a mais freqüentada. Aquelas palavras devem, pois, entender-se em sentido relativo e não em sentido absoluto. Se houvesse de ser esse o estado normal da Humanidade, teria Deus condenado à perdição a imensa maioria das suas criaturas, suposição inadmissível, desde que se reconheça que Deus é todo justiça e bondade.

Mas, de que delitos esta Humanidade se houvera feito culpada para merecer tão triste sorte, no presente e no futuro, se toda ela se achasse degredada na Terra e se a alma não tivesse tido outras existências? Por que tantos entraves postos diante de seus passos? Por que essa porta tão estreita que só a muito poucos é dado transpor, se a sorte da alma é determinada para sempre, logo após a morte? Assim é que, com a unicidade da existência, o homem está sempre em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga; faz-se luz sobre os pontos mais obscuros da fé; o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado, e só então se pode compreender toda a profundeza. toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo.

Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus

6. Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. - Muitos, nesse dia, me dirão: Senhor! Senhor! não profetizamos em teu nome? Não expulsamos em teu nome o demônio? Não fizemos muitos milagres em teu nome? - Eu então lhes direi em altas vozes: Afastai-vos de mim, vós que fazeis obras de iniqüidade. (S. MATEUS, cap. VII, vv. 21 a 23.)

7. Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que construiu sobre a rocha a sua casa. - Quando caiu a chuva, os rios transbordaram, sopraram os ventos sobre a casa; ela não ruiu, por estar edificada na rocha. - Mas, aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica, se assemelha a um homem insensato que construiu sua casa na areia. Quando a chuva caiu, os rios transbordaram, os ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derrubada; grande foi a sua ruína. (S. MATEUS, cap. VII, vv. 24 a 27. - S. LUCAS, cap. VI, vv. 46 a 49.)

8. Aquele que violar um destes menores mandamentos e que ensinar os homens a violá-los, será considerado como último no reino dos céus; mas, será grande no reino dos céus aquele que os cumprir e ensinar. - (S. MATEUS, cap. V, v.19.)

9. Todos os que reconhecem a missão de Jesus dizem: Senhor! Senhor! - Mas, de que serve lhe chamarem Mestre ou Senhor, se não lhe seguem os preceitos? Serão cristãos os que o honram com exteriores atos de devoção e, ao mesmo tempo, sacrificam ao orgulho, ao egoísmo, à cupidez e a todas as suas paixões? Serão seus discípulos os que passam os dias em oração e não se mostram nem melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com seus semelhantes? Não, porquanto, do mesmo modo que os fariseus, eles têm a prece nos lábios e não no coração. Pela forma poderão impor-se aos homens; não, porém, a Deus. Em vão dirão eles a Jesus: "Senhor! não profetizamos, isto é, não ensinamos em teu nome; não expulsamos em teu nome os demônios; não comemos e bebemos contigo?" Ele lhes responderá: "Não sei quem sois; afastai-vos de mim, vós que cometeis iniqüidades, vós que desmentis com os atos o que dizeis com os lábios, que caluniais o vosso próximo, que expoliais as viúvas e cometeis adultério. Afastai-vos de mim, vós cujo coração destila ódio e fel, que derramais o sangue dos vossos irmãos em meu nome, que fazeis corram lágrimas, em vez de secá-las. Para vós, haverá prantos e ranger de dentes, porquanto o reino de Deus é para os que são brandos, humildes e caridosos. Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade das vossas palavras e das vossas genuflexões. O caminho único que vos está aberto, para achardes graça perante ele, é o da prática sincera da lei de amor e de caridade."

São eternas as palavras de Jesus, porque são a verdade. Constituem não só a salvaguarda da vida celeste, mas também o penhor da paz, da tranqüilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre. Eis por que todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas, que se apoiarem nessas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a rocha. Os homens as conservarão, porque se sentirão felizes nelas. As que, porém, forem uma violação daquelas palavras, serão como a casa edificada na areia. o vento das renovações e o rio do progresso as arrastarão.

Muito se pedirá àquele que multo recebeu

10. O servo que souber da vontade do seu amo e que, entretanto, não estiver pronto e não fizer o que dele queira o amo, será rudemente castigado. - Mas, aquele que não tenha sabido da sua vontade e fizer coisas dignas de castigo menos punido será. Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais coisas se haja confiado. (S. LUCAS, cap. XII, vv. 47 e 48.)

11. Vim a este mundo para exercer um juízo, a fim de que os que não vêem vejam e os que vêem se tornem cegos. - Alguns fariseus que estavam, com ele, ouvindo essas palavras, lhe perguntaram: Também nós, então, somos cegos? - Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecados; mas, agora, dizeis que vedes e é por isso que em vós permanece o vosso pecado. (S. JOÃO, cap. IX, vv. 39 a 41.)

12. Principalmente ao ensino dos Espíritos é que estas máximas se aplicam. Quem quer que conheça os preceitos do Cristo e não os pratique, é certamente culpado; contudo, além de o Evangelho, que os contém, achar-se espalhado somente no seio das seitas cristãs, mesmo dentro destas quantos há que não o lêem, e, entre os que o lêem, quantos os que o não compreendem! Resulta daí que as próprias palavras de Jesus são perdidas para a maioria dos homens.

O ensino dos Espíritos, reproduzindo essas máximas sob diferentes formas, desenvolvendo-as e comentando-as, para pô-las ao alcance de todos, tem isto de particular: não é circunscrito: todos, letrados ou iletrados, crentes ou incrédulos, cristãos ou não, o podem receber, pois que os Espíritos se comunicam por toda parte. Nenhum dos que o recebam, diretamente ou por intermédio de outrem, pode pretextar ignorância; não se pode desculpar nem com a falta de instrução, nem com a obscuridade do sentido alegórico. Aquele, portanto, que não aproveita essas máximas para melhorar-se, que as admira como coisas interessantes c curiosas, sem que lhe toquem o coração, que não se torna nem menos vão, nem menos orgulhoso, nem menos egoísta, nem menos apegado aos bens materiais, nem melhor para seu próximo, mais culpado é, porque mais meios tem de conhecer a verdade.

Os médiuns que obtêm boas comunicações ainda mais censuráveis são, se persistem no mal, porque muitas vezes escrevem sua própria condenação e porque, se não os cegasse o orgulho, reconheceriam que a eles é que se dirigem os Espíritos. Mas, em vez de tomarem para si as lições que escrevem, ou que lêem escritas por outros, têm por única preocupação aplicá-las aos demais, confirmando assim estas palavras de Jesus: "Vedes um argueiro no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso." (Cap. X, nº 9.)

Por esta sentença: "Se fôsseis cegos, não teríeis pecados", quis Jesus significar que a culpabilidade está na razão das luzes que a criatura possua. Ora, os fariseus, que tinham a pretensão de ser, e eram, com efeito, os mais esclarecidos da sua nação, mais culposos se mostravam aos olhos de Deus, do que o povo ignorante. O mesmo se dá hoje.

Aos espíritas, pois, muito será pedido, porque muito hão recebido; mas, também, aos que houverem aproveitado, muito será dado.

O primeiro cuidado de todo espírita sincero deve ser o de procurar saber se, nos conselhos que os Espíritos dão, alguma coisa não há que lhe diga respeito.

O Espiritismo vem multiplicar o número dos chamados. Pela fé que faculta, multiplicará também o número dos escolhidos.

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

Dar-se-á àquele que tem

13. Aproximando-se dele, seus discípulos lhe disseram: Por que lhes falas por parábolas? Respondendo, disse-lhes ele: É porque, a vós outros, vos foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus, ao passo que a eles isso não foi dado. - Porque, àquele que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará. - Por isso é que lhes falo por parábolas: porque, vendo, nada vêem e, ouvindo, nada entendem, nem compreendem. - Neles se cumpre a profecia de Isaías, quando diz: Ouvireis com os vossos ouvidos e nada entendereis, olhareis com os vossos olhos e nada vereis. (S. MATEUS, cap. XIII, vv. 10 a 14.)

14. Tende muito cuidado com o que ouvis, porquanto usarão para convosco da mesma medida de que vos houverdes servido para medir os outros, e ainda se vos acrescentará; - pois, ao que já tem, dar-se-á, e, ao que não tem, até o que tem se lhe tirará. (S. MARCOS, cap. IV. vv. 24 e 25.)

15. "Dá-se ao que já tem e tira-se ao que não tem." Meditai esses grandes ensinamentos que se vos hão por vezes afigurado paradoxais. Aquele que recebeu é o que possui o sentido da palavra divina; recebeu unicamente porque tentou tornar-se digno dela e porque o Senhor, em seu amor misericordioso, anima os esforços que tendem para o bem. Aturados, perseverantes, esses esforços atraem as graças do Senhor; são um ímã que chama a si o que é progressivamente melhor, as graças copiosas que vos fazem fortes para galgar a montanha santa, em cujo cume está o repouso após o labor.

"Tira-se ao que não tem, ou tem pouco." Tomai isso como uma antítese figurada. Deus não retira das suas criaturas o bem que se haja dignado de fazer-lhes. Homens cegos e surdos! abri as vossas inteligências e os vossos corações; vede pelo vosso espírito; ouvi pela vossa alma e não interpreteis de modo tão grosseiramente injusto as palavras daquele que fez resplandecesse aos vossos olhos a justiça do Senhor. Não é Deus quem retira daquele que pouco recebera: é o próprio Espírito que, por pródigo e descuidado, não sabe conservar o que tem e aumentar, fecundando-o, o óbolo que lhe caiu no coração.

Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai lhe granjeou, e que lhe coube em herança, o vê cobrir-se de ervas parasitas. E seu pai quem lhe tira as colheitas que ele não quis preparar? Se, â falta de cuidado, deixou fenecessem as sementes destinadas a produzir nesse campo, é a seu pai que lhe cabe acusar por nada produzirem elas? Não e não. Em vez de acusar aquele que tudo lhe preparara, de criticar as doações que recebera, queixe-se do verdadeiro autor de suas misérias e, arrependido e operoso, meta, corajoso, mãos à obra; arroteie o solo ingrato com o esforço de sua vontade; lavre-o fundo com auxílio do arrependimento e da esperança; lance nele, confiante, a semente que haja separado, por boa, dentre as más; regue-o com o seu amor e a sua caridade, e Deus, o Deus de amor e de caridade, dará àquele que já recebera. Verá ele, então, coroados de êxito os seus esforços e um grão produzir cem e outro mil. Animo, trabalhadores! Tomai dos vossos arados e das vossas charruas; lavrai os vossos corações; arrancai deles a cizânia; semeai a boa semente que o Senhor vos confia e o orvalho do amor lhe fará produzir frutos de caridade. - Um Espírito amigo. (Bordéus, 1862.)

Pelas suas obras é que se reconhece o cristão

16. "Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus, mas somente aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus."

Escutai essa palavra do Mestre, todos vós que repelis a Doutrina Espírita como obra do demônio. Abri os ouvidos, que é chegado o momento de ouvir.

Será bastante trazer a libré do Senhor, para ser-se fiel servidor seu? Bastará dizer: "Sou cristão", para que alguém seja um seguidor do Cristo? Procurai os verdadeiros cristãos e os reconhecereis pelas suas obras. "Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má pode dar frutos bons." - "Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo." São do Mestre essas palavras. Discípulos do Cristo, compreendei-as bem! Que frutos deve dar a árvore do Cristianismo, árvore possante, cujos ramos frondosos cobrem com sua sombra uma parte do mundo, mas que ainda não abrigam todos os que se hão de grupar em torno dela? Os da árvore da vida são frutos de vida, de esperança e de fé. O Cristianismo, qual o fizeram há muitos séculos, continua a pregar essas virtudes divinas; esforça-se por espalhar seus frutos, mas quão poucos os colhem! A árvore é boa sempre, porém maus são os jardineiros. Entenderam de moldá-la pelas suas idéias; de talhá-la de acordo com as suas necessidades; cortaram-na, diminuíram-na, mutilaram-na; tomados estéreis, seus ramos não dão maus frutos, porque nenhuns mais produzem. O viajor sedento, que se detém sob seus galhos à procura do fruto da esperança, capaz de lhe restabelecer a força e a coragem, somente vê uma ramaria árida, prenunciando tempestade. Em vão pede ele o fruto de vida à árvore da vida; caem-lhe secas as folhas; tanto as remexeu a mão do homem, que as crestou.

Abri, pois, os ouvidos e os corações, meus bem-amados! Cultivai essa árvore da vida, cujos frutos dão a vida eterna. Aquele que a plantou vos concita a tratá-la com amor, que ainda a vereis dar com abundância seus frutos divinos. Conservai-a tal como o Cristo vo-la entregou: não a mutileis; ela quer estender a sua sombra imensa sobre o Universo: não lhe corteis os galhos. Seus frutos benfazejos caem abundantes para alimentar o viajor faminto que deseja chegar ao termo da jornada; não amontoeis esses frutos, para os armazenar e deixar apodrecer, a fim de que a ninguém sirvam. "Muitos são os chamados e poucos os escolhidos." É que há açambarcadores do pão da vida, como os há do pão material. Não sejais do número deles; a árvore que dá bons frutos tem que os dar para todos. Ide, pois, procurar os que estão famintos; levai-os para debaixo da fronde da árvore e partilhai com eles do abrigo que ela oferece. - "Não se colhem uvas nos espinheiros." Meus irmãos, afastai-vos dos que vos chamam para vos apresentar as sarças do caminho, segui os que vos conduzem à sombra da árvore da vida.

O divino Salvador, o justo por excelência, disse, e suas palavras não passarão: "Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus; entrarão somente os que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus."

Que o Senhor de bênçãos vos abençoe; que o Deus de luz vos ilumine; que a árvore da vida vos ofereça abundantemente seus frutos! Crede e orai. - Simeão. (Bordéus, 1863.)