quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O Cântico de Maria


http://www.redeamigoespirita.com.br/video/o-c-ntico-de-maria

Maria - Slides


http://pt.slideshare.net/fabiopaiva503092/maria-me-de-jesus-um-olhar-esprita

Notícias de Maria Santíssima

Todas as religiões cristãs reverenciam, com extremo carinho e profunda gratidão, a figura ímpar de Maria de Nazaré, a sublime mãe de Jesus.
No Espiritismo doutrina que se assenta em bases científicas, filosóficas e religiosas, sendo que, nesta última , como Cristianismo redivivo, caracteriza o Consolador prometido por Jesus – também aprendemos a reconhecer em Maria uma Entidade evoluidíssima , que já havia conquistado, há 2000 anos , elevados virtudes , tornando-se apta a desempenhar na crosta
terrestre tão elevada missão , recebendo em seus braços o Emissário de Deus que se fez menino para se transformar “no modelo da perfeição moral que a Humanidade pode pretender sobre a Terra”(1).
Além do que se conhece nas antigas tradições religiosas , especialmente no Novo Testamento, encontramos na literatura espírita outros importantes dados biográficos da Maria, que vieram até nós por via mediúnica, naturalmente extraídos de arquivos fidedignos do Mundo Espiritual, revelando-nos que Ela continua até hoje zelando com muito carinho pela Humanidade terrestre, encarnada e desencarnada.

PREPARATIVO E INÍCIO DA MISSÃO
Conta-nos Emmanuel que, precedendo a vinda de Jesus , entidades angélicas se movimentaram, tomando vastas e importantes providencias no Plano Espiritual.
‘Escolhem-se os instrutores os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade única registra-se, então , nas esferas mais próximas do planeta (..)
Com a chegada do Mestre “a manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora de Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes (..). Debalde os escritores materialista de todos os tempos vulgarizaram o grande acontecimento, ironizando os altos fenômenos mediúnicos que o precederam. As figuras de Simão, Ana, Isabel, João
Batista, José, bem como a personalidade sublimada de Maria , têm sido muitas vezes objeto de observação injustas e maliciosas, mas a realidade é que somente com o concurso daqueles mensageiros da Boa Nova, portadores da contribuição de fervor , crença e vida , poderia Jesus lançar na Terra os fundamentos da verdade inabalável(2)

PRIMEIROS TEMPOS . DRAMA DO CALVÁRIO E MUDANÇAS PARA ÉFESO
O Espírito de Humberto de Campos narra, num de seus livros, a importante visita que Isabel e seu filho João Batista fizeram ao lar de Jesus, em Nazaré, propiciando oportuno encontro entre as duas crianças que revolucionariam o Mundo.
O diálogo entre as duas primas é muito significativo, revelando-se perfeitamente preparadas para a sublime tarefa, como veremos neste pequeno trecho:
“- o que me espanta – dizia Isabel com caricioso sorriso – é o temperamento de João , dado às mais fundas meditações, apesar da sua pouca idade.
(..) – Essas crianças, a meu ver – respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de seus olhos – trazem para a humanidade a luz divina de um caminho novo. Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-ló a sós, junto das águas, e, de outras , em conversação profundas com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes , nas adjacências do lago. Quase sempre, supreendo-lhe a palavra caridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes , aos mendigos sofredores. Fala de sua comunhão com Deus com uma eloquência que nunca encontrei nas observações dos nossos doutores e, constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.”
Nesse mesmo livro, Humberto de Campos dedica o derradeiro capítulo a Maria, descrevendo a suas impressões intimas diante do filho crucificado …a sua curta estadia em Batanéa…a mudança, com João Evangelista, para Éfeso, onde “estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa vontade e, como mãe e filho, iniciaria uma nova era de amor, na comunidade universal”
De fato, “a casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembléias adoráveis (…) Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal
enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso(….) Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de Casa da Santíssima (..) Eram velhos trôpelos e desenganados do mundo, que lhe vinham
ouvir as palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invocavam a sua proteção, mães infortunadas que pediam a benção de seu carinho ( 3 ).

OUTROS TRABALHOS NO MAIS ALÉM
Em belíssima e comovente poesia, intitulada “Retrato de Mãe”, Maria Dolores descreve a assistência maternal e efetiva prestada pelo Espírito de Maria a Judas, que se encontrava em região umbralina, cego e solitário, muito tempo depois da crucificação do Mestre.
No final do dialogo com o discípulo suicida, em grande sofrimento, preso a terrível remorso, a benfeitora convence-o argumentando com profundo amor:
“Amo-te, filho meu, amo-te e quero Ver-te, de novo, a vida Maravilhosamente revestida
De paz e luz, de fé e elevação..
Virás comigo à Terra,
Perderás, pouco a pouco, o ânimo violento,
Terás o coração
Nas águas de bendito esquecimento
Numa nova existência de esperança ,
Levar-te-ei comigo
A remansoso abrigo,
Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!..

E Judas, neste instante,
Como quem olvidasse a própria dor gigante
Ou como quem se desagarra
De pesadelo atroz,
Perguntou: – quem sois vós
Que me falais assim, sabendo-me traidor?
Sois divina mulher, irradiando amor
ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!…
No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente,
Respondeu simplesmente:
– Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus”(6)
No livro mediúnico Memórias de um Suicida inteiramo-nos da notável e completa assistência aos suicidas em profundo sofrimento no Além , pela Legião dos Servos de Maria, “chefiada pelo grande Espírito Maria de Nazaré, ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternais. Aquele que foi o redentor dos homens!”
Um setor muito importante da assistência aos suicidas é a Cidade Universitária, que abriga as entidades com alta do Departamento Hospitalar e, naturalmente, aptas para freqüenta-la. O diretor dessa Cidade, Irmão Sostenes ao receber um novo grupo de aprendizes, assim explicou-lhes a sua origem “Maria, sob o beneplácito de seu Augusto Filho, ordenou sua criação para que vos fosse proporcionada ocasião de preparativos honrosos para a reabilitação indispensável. Encontrareis no seu amor de mãe sustentáculo sublime para venceres o negror dos erros que vos afastaram das pegadas do Grande Mestre a quem deveis antes amor e obediência ! Espero que sabereis compreender com inteligência as vossas próprias necessidades…”
Em outro passo da obra , um Mentor esclarece :”Geralmente, porém, os avisos e as ordens vêm de Mais Alto…. de lá, onde pira a assistência magnânima da piedosa Mãe da Humanidade, a governadora de nossa Legião … Se as entidades em apreço não pertencem à sua tutela direta de Guardiã, poderá o Guardião da falange ou da legião a que pertencerem implementar o seu favor em prol dos transviados, seu amoroso concurso para o alvo a ser colimado, porquanto a existe fraterna solidariedade entre as várias agremiações do
Universo Sideral, infinitamente mais perfeitas que as existentes entre as nações físico-terrenas..(…) No entanto , se a outra eminente Espírito for dirigida súplica, será esta encaminhada a Maria e seguir-se-ão as mesma providências, pois, como vimos afirmando, é Maria a sublime acolhedora dos réprobos que se arrojaram aos temerosos abismo da morte voluntária… Tudo isso, porém não quererá certamente dizer que nossa excelsa Diretora
precisará esperar súplicas s pedidos de quem quer que seja a fim de tomar suas caridosas providências! Ao contrário, essas foram perenemente tomadas, com a manutenção dos postos de observação e socorro especiais para suicidas;”
Ao apresentar o destacado educador Aníbal aos novos alunos, irmão Sóstenes prestou-lhes importante informação nestes termos:”(…)É que Aníbal presto-lhes vinha sendo, para isso, preparado desde eras afastadas!(…)…Até que um dia glorioso para seu espírito de servo fiel e
amoroso, ordem direta desceu das altas esferas de luz, como graça concedida por tantos séculos de abnegação e amor “- Vai, Anibal…e dá dos teus labores à Legião de Minha Mãe com Meus ensinamentos, que tanto prezas os que mais destituídos de luzes e de forças encontrares, confiados aos teus cuidados
… Pensa, de preferência, naqueles cujas mentes hão desfalecido sob as penalidades do suicídio … Entreguei-os, de há muito, à direção de Minha Mãe, porque só a inspiração maternal será bastante caridosa para erguê-los para Deus!…

LUCAS RECEBE INFORMAÇÕES DE MARIA PARA FUNDAMENTAR O SEU EVANGELHO
Segundo narrativa de Emmanuel , o Apostolo Paulo, ao visitar Éfeso, atendendo insistentes chamados de João, para promover a fundação definitiva da igreja cristã naquela cidade “com delicadeza extrema, visitou a Mãe de Jesus na sua casinha singela, que dava para o mar . Impressionou-se fortemente com a humildade daquela criatura simples e amorosa, que mais se assemelhava a um anjo vestido de mulher. Paulo de Tarso interessou-se pelas suas narrativas cariciosas, a respeito da noite do nascimento do Mestre, gravou no íntimo suas divinas impressões e prometeu voltar na primeira oportunidade, a fim de recolher os dados indispensáveis ao Evangelho que pretendia escrever para os cristãos do futuro. Maria colocou-se à sua disposição, com grande alegria”.
Numa próxima viagem , a caminho da Palestina pela última vez, Paulo de Tarso também passou,  rapidamente, por Éfeso e “a própria Maria , avançada em anos, acorrera de longe em companhia de João e outros discípulos, para levar uma palavra de amor ao paladino intimorato do Evangelho de seu Filho”
E mais tarde, quando o Apóstolo dos gentios esteve preso, por dois anos, em Cesaréia, aproveitou esse período para manter relações constantes com as suas igreja. “A esse tempo, o ex-doutor de Jerusalém chamou a atenção de Lucas para o seu velho projeto de escrever uma biografia de Jesus, valendo-se das informações de Maria, lamentou não poder ir a Éfeso,
incumbindo-se desse trabalho, que reputava de capital importância para os adeptos do Cristianismo. O médico amigo satisfez-lhe integralmente o desejo, legando à posteridade o precioso relato da vida do mestre, rico de luzes e esperanças divinas. ( 5)

RETRATO DE MARIA
Algum tempo tomamos conhecimento de um novo quadro de Maria, a Mãe de Jesus, divulgado num programa da TV Record, de São Paulo, com a presença de Francisco Cândido Xavier, procuramos esse médium amigo para colher dele maiores esclarecimentos sobre a origem do mesmo.
Contou-nos, então, Chico Xavier, no final da reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, na noite de 1º de dezembro de 1984, que com vistas às homenagem do Dia das Mães de 1984, o Espírito de Emmanuel ditou, por ele, um retrato falado de Maria de Nazaré ao fotógrafo Vicente Avela, de São Paulo. Esse trabalho artístico foi sendo realizado aos poucos, desde meados de 1983, com retoques sucessivos realizados pela grande habilidade de
Vicente, em mais de vinte contatos com o médium mineiro, na Capital paulista.
Em nossa rápida entrevista, Chico frisou que a fisionomia de Maria assim retratada, revela tal qual Ela é conhecida quando de Suas visitas às esferas espirituais mais próximas e perturbadas da crosta terrestre; como por exemplo, disse-nos ele, na Legião dos Servos de Maria, grande instituição de amparo aos suicidas descrita detalhadamente no livro Memórias
de um Suicida, recebido mediunicamente por Yvonne A. Pereira.

E, ao final do diálogo fraterno, atendendo nosso pedido , Chico forneceu-nos o endereço do fotógrafo-artista, para que pudéssemos entrevistá-lo oportunamente, podendo assim registrar mais algum detalhe do belo trabalho realizado.

De fato, meses após essa entrevista , tivemos o prazer de conhecer o Sr.
Vicente Avela, em seu próprio ateliê , há 30 anos localizado na Rua Conselheiro Crispiniano,  343, 2 º andar, na Capital paulista, onde nos recebeu atenciosamente.
Confirmando as informações do médium de Uberaba ele apenas destacou que, de fato, não houve pintura e sim um trabalho basicamente fotográfico, fruto de retoques sucessivos num retrato falado inicial, tudo sob a orientação mediúnica de Chico Xavier.
Quando o Sr. Vicente Concluiu a tarefa, com a arte final em pequena foto branco-e-preto, ele a ampliou bastante e coloriu-a com tinta a óleo trabalho em que é perito, com experiência adquirida na época em que não havia filmes coloridos e as fotos em preto-e-branco eram coloridas a mão), dando origem à tela que foi divulgada.
Nesse encontro fraterno, também conhecemos o lindo quadro original à vista em parede de seu escritório , e ao despedirmo-nos, reconhecidos pela atenção , o parabenizamos por esse árduo e excelente trabalho, representando mais uma NOTÍCIAS da vida espiritual de Maria de Nazaré, que continua amparando com imenso amor maternal a Humanidade inteira.

BIBLIOGRAFIA
1- Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos 26 ed. trad. Salvador gentile ide , 1985 q 625.
2- Xavier, Francisco Candido, Espírito Emmanuel – A caminho da Luz 13 ed. , FEB, 1985 cap11-12 p.104-106, 3 – Xavier, F.C. Esp. Humberto de Campos – Boa Nova 15 ed. ed. FEB, 1984,  cap. 2 p. 20-21 e cap,30,p201-202
4- Idem cap. 30 , p 208.  5-Xavier,F.C.Esp. Emmanuel -Paulo e Estevão 21 ed. FEB, 1984, p. 433-434,
451e482. 6- Xavier, F.C. Espiritos Diversos – Momentos de Ouro 1 ed. GEEM, 1977, cap. 3
7- Pereira, Ivone A. – Memórias de um Suicida . 12 ed. , FEB, 1985, p 57, 221-222, 416 e 427-428.
8- Xavier , F.C. Espírito André Luiz – Ação e Reação, 10 ed. FEB, 1985, cap. 11 p 158

            Texto extraído do Anuário Espírita de 1986
Nº 23 – Orgão do IDE – Instituto de Difusão Espírita
Autor : Hércio M. C. Arantes

AVE MARIA! SENHORA
DO AMOR QUE AMPARA E REDIME,
AI DO MUNDO SE NAO FORA
A VOSSA MISSAO SUBLINE !

CHEIA DE GRAÇA E BONDADE,
É POR VÓS QUE CONHECEMOS
A ETERNA REVELAÇAO
DA VIDA EM SEUS DONS SUPREMOS.

O SENHOR SEMPRE É CONVOSCO,
MENSAGEIRA DA TERNURA ,
PROVIDENCIA DOS QUE CHORAM
NAS SOMBRAS DA DESVENTURA

BENDITA SOIS VÓS , RAINHA!
ESTRELA DA HUMANIDADE,
ROSA MISTICA DA FÉ,
LÍRIO PURO DA HUMILDADE!

ENTRE AS MULHERES SOIS VÓS
A MAE DAS MAES DESVALIDAS,
NOSSA PORTA DE ESPERANÇA,
E ANJO DE NOSSAS VIDAS!

BENDITO O FRUTO IMORTAL
DA VOSSA MISSAO DE LUZ
DESDE A PAZ DA MANJEDOURA,
AS DORES, ALEM DA CRUZ.

ASSIM SEJA PARA SEMPRE,
OH! DIVINA SOBERANA,
REFUGIO DOS QUE PADECEM
NAS DORES DA LUTA HUMANA.

AVE MARIA! SENHORA
DO AMOR QUE AMPARA E REDIME
AI DO MUNDO SE NAO FORA
A VOSSA MISSAO SUBLINE
EXTRAIDO DO LIVRO PARNASO DE ALEM TUMULO
FRANCISCO CANDIDO XAVIER
POETA AMARAL ORNELLAS

A DESENCARNAÇÃO E SEU PRIMEIRO TRABALHO NO MUNDO MAIOR

Extraído do Livro Boas Novas – Humberto de Campos Elevada nas suas meditações, Maria viu aproximar-se o vulto de um pedinte.
– Minha mãe – exclamou o recém chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho – venho fazer-te companhia e receber a tua benção.
Maternalmente, ela o convidou a entrar, impressionada com aquela voz que
lhe inspirava profunda simpatia . O peregrino lhe falou do céu,
confortando-a delicadamente . Comentou as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os devotados e sinceros filhos de Deus, dando a entender que lhe compreendia as mais ternas saudades do coração. Maria sentiu-se empolgada por tocante supresa. Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores secretas da alma saudosa, com balsamos tão dulçorosos ? Nenhum lhe surgira até então para dar; era sempre para pedir alguma coisa . No entanto, aquela viandante desconhecido lhe derramava no intimo as mais santas consolações. Onde ouvira noutros tempos aquela voz meiga e caridosa?! Que
emoções eram aquelas que lhe faziam pulsar o coração de tanta caricia? Seus
olhos se umedeceram de ventura, sem que conseguisse explicar a razão de sua
terna emotividade.
Foi quando o hospede anônimo lhe estendeu as mãos generosas e lhe falou com profundo acento de amor:
– Minha mãe, vem aos meus braços…………
A alvorada desdobrava o seu formoso leque de luz quando aquela alma eleita se elevou da Terra, onde quantas vezes chorava de júbilo, de saudade e de esperança. Não mais via seu filho bem-amado que certamente a esperaria, com boas-vindas, no seu reino de amor; mas, extensas multidões de entidades angélicas a cercavam cantando hinos de  glorificação.
Experimentando a sensação de se estar afastando do mundo, desejou rever a
Galiléia com os seus sítios preferidos. Bastou a manifestação de sua vontade para que a conduzissem à região do lago de Genesaré, de maravilhosa beleza . Reviu todos os quadros do apostolado de seu filho e, só agora, observava do alto a paisagem , notava que o Tiberiades, em seus contornos suaves , apresentava a forma de uma alaude . Lembrou-se, então, de que naquele instrumento da Natureza Jesus cantara o mais belo poema de vida e amor , em homenagem a Deus e à humanidade . Aquelas águas mansas , filhas do
Jordão maravilhoso e calmo, haviam sido as cordas sonoras do cântico evangélico.
Dulcisimas alegrias lhe invadiam o coração e já a caravana espiritual se dispunha a partir , quando Maria se lembrou dos discípulos perseguidos pela crueldade do mundo e desejou abraçar os que ficariam no vale das sombras, à espera das caridades definitivas do Reino de Deus . Emitindo esse pensamento , imprimiu novo impulso as multidões espirituais que a seguiam de perto. Em poucos instantes , seu olhar divisava uma cidade soberba e maravilhosa , espalhada sobre colinas enfeitadas de carros e monumentos que
lhe provocavam assombro. Os mármores mais ricos esplendiam nas magnificentes
vias públicas, onde as liteiras patrícias passavam sem cessar, exibindo pedrarias e peles,
sustentados por misérrimos escravos. mais alguns momentos seu olhar descobria outra multidão guardada a ferros nos escuros calabouços. Penetrou os sombrios cárceres do Esquilino, onde centenas de rostos amargurados retratavam padecimentos atrozes. Os condenados sentiram no coração um consolo desconhecido.
Maria se aproximou de um a um, participou de suas angustias e orou com as suas preces, cheias de sofrimento e confiança . Sentiu-se mãe daquela assembléia de torturados pela injustiça do mundo. Espalhou a claridade misericordiosa de seu espírito entre aquelas fisionomias pálidas e triste.
Eram anciães que confiava no Cristo, mulheres que por ele haviam desprezado o conforto do lar , jovens depunham no Evangelho do Reino toda a sua esperança. Maria aliviou-lhes o coração e, antes de partir sinceramentes desejou deixar-lhe nos espíritos abatidos uma lembrança perene. Que possuía para lhes dar? Mas Jesus ensinara que com ele todo o jugo é suave e todo o fardo seria leve , parecendo-lhe melhor a escravidão com Deus do que a falsa liberdade nos desvãos do mundo. Recordou que seu filho deixara a força da
oração como um poder incontrastável entre os discípulos amados . Então rogou ao Céu que lhe desse a possibilidade de deixar entre os cristãos oprimidos a força de alegria . Foi quando, aproximando-se de uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e macilento , lhe disse ao ouvido.

-Canta, minha filha ! Tenhamos bom ânimo !….
Convertamos as nossas dores da Terra em alegria para o Céu…..
Ä triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da emotividade que lhe fez vibrar subitamente o coração . De olhos extáticos, contemplado o firmamento luminoso, através das grades poderosas, ignorando a razão de sua alegria, cantou um hino de profundo e enternecido amor a Jesus em que traduzia sua gratidão pelas dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas amarguras em consoladoras rimas de júbilo e esperança. Daí a instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes dos que choravam no cárcere, aguardando o glorioso testemunho.
Logo a caravana majestosa conduziu ao Reino do Mestre a bendita entre as mulheres, desde este dia, nos tormentos mais duros, os discípulos de Jesus têm cantado na terra, exprimindo o seu bom ânimo e a sua alegria, guardando a suave lembrança de nossa Mãe Santíssima…
Por essa razão , irmãos meus, quando ouvirdes o cânticos nos templos das diversas famílias religiosas do Cristianismo, não vos esquecais de fazer no coração um brando silencio, para que a rosa Mística de Nazaré espalhe ai o seu perfume!

Quando da visita de estudos sobre a lei de causa e efeito ao templo da “Mansão Paz” importante instituto de reajuste localizado nas regiões inferiores, os Espíritos André Luiz e Hilário colheram valiosas observações.
Ao analisar o caso de uma veneranda senhora que orava fervorosamente, invocando a proteção de Mãe Santíssima pêlos filhos transviados, receberam do instrutor Silas a seguinte elucidação : “- Isso , contudo , não significa que a prece esteja sendo respondida por ela mesma. Petições semelhantes a esta elevam-se a planos superiores e ai são acolhidos pêlos emissários da Virgem de Nazaré, a fim de serem examinadas e atendidas,   conforme o critério da verdadeira sabedoria (6)

Maria, Mãe de Jesus


http://bibliadocaminho.com/ocaminho/Tematica/EE/Estudos/EadeP1T1M2R2.htm

MARIA

Obs. Esta não é uma biografia da vida de Maria, mas um relato de Humberto de Campos feito sobre os momentos culminantes de sua existência, de que a Bíblia não traz nenhuma informação.


Junto da cruz, o vulto agoniado de Maria produzia dolorosa e indelével impressão.
Com o pensamento ansioso e torturado, olhos fixos no madeiro das perfídias humanas, a ternura materna regredia ao passado em amarguradas recordações.
Ali estava, na hora extrema, o filho bem-amado. Maria deixava-se ir na corrente infinda das lembranças. Eram as circunstâncias maravilhosas em que o nascimento de Jesus lhe fora anunciado, a amizade de Isabel, as profecias do velho Simeão, reconhecendo que a assistência de Deus se tornara incontestável nos menores detalhes de sua vida. Naquele instante supremo, revia a manjedoura, na sua beleza agreste, sentindo que a Natureza parecia desejar redizer aos seus ouvidos o cântico de glória daquela noite inolvidável. Através do véu espesso das lágrimas, repassou, uma por uma, as cenas da infância do filho estremecido, observando o alarma interior das mais doces reminiscências.
Nas menores coisas, reconhecia a intervenção da Providência celestial; entretanto, naquela hora, seu pensamento vagava também pelo vasto mar das mais aflitivas interrogações.
Que fizera Jesus por merecer tão amargas penas? Não o vira crescer de sentimentos imaculados, sob o calor de seu coração? Desde os mais tenros anos, quando o conduzia à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Frequentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!... Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale de Mizhep.
E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. Muitas vezes, comentara a excelência daquela virtude santificada, receando pelo futuro de seu adorável filhinho.
Depois do caricioso ambiente doméstico, era a missão celestial, dilatando-se em colheita de frutos maravilhosos. Eram paralíticos que retomavam os movimentos da vida, cegos que se reintegravam nos sagrados dons da vista, criaturas famintas de luz e de amor que se saciavam na sua lição de infinita bondade.
Que profundos desígnios haviam conduzido seu filho adorado à cruz do suplício?
Uma voz amiga lhe falava ao Espírito, dizendo das determinações insondáveis e justas de Deus, que precisam ser aceitas para a redenção divina das criaturas.
Seu coração rebentava em tempestades de lágrimas irreprimíveis; contudo, no santuário da consciência, repetia a sua afirmação de sincera humildade: “Faça-se na escrava a vontade do Senhor!”
De alma angustiada, notou que Jesus atingira o último limite dos padecimentos inenarráveis. Alguns dos populares mais exaltados multiplicavam as pancadas, enquanto as lanças riscavam o ar, em ameaças audaciosas e sinistras. Ironias mordazes eram proferidas a esmo, dilacerando-lhe a alma sensível e afetuosa.
Em meio de algumas mulheres compadecidas, que lhe acompanhavam o angustioso transe, Maria reparou que alguém lhe pousara as mãos, de leve, sobre os ombros.
Deparou-se-lhe a figura de João que, vencendo a pusilanimidade criminosa em que haviam mergulhado os demais companheiros, estendia-lhe os braços amorosos e reconhecidos. Silenciosamente, o filho de Zebedeu abraçou-se àquele triturado coração maternal. Maria deixou-se enlaçar pelo discípulo querido e ambos, ao pé do madeiro, em gesto súplice, buscaram ansiosamente a luz daqueles olhos misericordiosos, no cúmulo dos tormentos. Foi aí que a fronte do divino supliciado se moveu vagarosamente, revelando perceber a ansiedade daquelas duas almas em extremo desalento.
“Meu filho! Meu amado filho!“, exclamou a mártir, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível.
O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes:
“Mãe, eis aí teu filho!“ E dirigindo-se, de modo especial, com um leve aceno, ao apóstolo, disse:
“Filho, eis aí tua mãe!”
Maria envolveu-se no véu de seu pranto doloroso, mas o grande evangelista compreendeu que o Mestre, na sua derradeira lição, ensinava que o amor universal era o sublime coroamento de sua obra. Entendeu que, no futuro, a claridade do Reino de Deus revelaria aos homens a necessidade da cessação de todo egoísmo e que, no santuário de cada coração, deveria existir a mais abundante cota de amor, não só para o círculo familiar, senão também para todos os necessitados do mundo, e que no templo de cada habitação permaneceria a fraternidade real, para que a assistência recíproca se praticasse na Terra, sem serem precisos os edifícios exteriores, consagrados a uma solidariedade claudicante.
Por muito tempo, conservaram-se ainda ali, em preces silenciosas, até que o Mestre, exânime, fosse arrancado à cruz, antes que a tempestade mergulhasse a paisagem castigada de Jerusalém num dilúvio de sombras.
Após a separação dos discípulos, que se dispersaram por lugares diferentes, para a difusão da Boa Nova, Maria retirou-se para a Bataneia, onde alguns parentes mais próximos a esperavam com especial carinho.
Os anos começaram a rolar, silenciosos e tristes, para a angustiada saudade de seu coração.
Tocada por grandes dissabores, observou que, em tempo rápido, as lembranças do filho amado se convertiam em elementos de ásperas discussões, entre os seus seguidores. Na Bataneia, pretendia-se manter uma certa aristocracia espiritual, por efeito dos laços consanguíneos que ali a prendiam, em virtude dos elos que a ligavam a José. Em Jerusalém, digladiavam-se os cristãos e os judeus, com veemência e acrimônia. Na Galileia, os antigos cenáculos simples e amoráveis da Natureza estavam tristes e desertos.
Para aquela mãe amorosa, cuja alma digna observava que o vinho generoso de Caná se transformara no vinagre do martírio, o tempo assinalava sempre uma saudade maior no mundo e uma esperança cada vez mais elevada no céu.
Sua vida era uma devoção incessante ao rosário imenso da saudade, às lembranças mais queridas. Tudo que o passado feliz edificara em seu mundo interior revivia na tela de suas lembranças, com minúcias somente conhecidas do amor, e lhe alimentavam a seiva da vida.
Relembrava o seu Jesus pequenino, como naquela noite de beleza prodigiosa, em que o recebera nos braços maternais, iluminado pelo mais doce mistério.
Figurava-se-lhe escutar ainda o balido das ovelhas que vinham, apressadas acercar-se do berço que se formara de improviso.
E aquele primeiro beijo, feito de carinho e de luz? As reminiscências envolviam a realidade longínqua de singulares belezas para o seu coração sensível e generoso. Em seguida, era o rio das recordações desaguando, sem cessar, na sua alma rica de sentimentalidade e ternura. Nazaré lhe voltava à imaginação, com as suas paisagens de felicidade e de luz. A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia de suas recordações.
A esse tempo, o filho de Zebedeu, tendo presentes as observações que o Mestre lhe fizera da cruz, surgiu na Bataneia, oferecendo àquele espírito saudoso de mãe o refúgio amoroso de sua proteção. Maria aceitou o oferecimento, com satisfação imensa.
E João lhe contou a sua nova vida. Instalara-se definitivamente em Éfeso, onde as ideias cristãs ganhavam terreno entre almas devotadas e sinceras. Nunca olvidara as recomendações do Senhor e, no íntimo, guardava aquele título de filiação como das mais altas expressões de amor universal para com aquela que recebera o Mestre nos braços veneráveis e carinhosos. Maria escutava-lhe as confidências, num misto de reconhecimento e de ventura.
João continuava a expor-lhe os seus planos mais insignificantes. Levá-la-ia consigo, andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho. Demorara-se a vir, explicava o filho de Zebedeu, porque lhe faltava uma choupana, onde se pudessem abrigar; entretanto, um dos membros da família real de Adiabene, convertido ao amor do Cristo, doara-lhe uma casinha pobre, ao sul de Éfeso, distando três léguas aproximadamente da cidade. A habitação simples e pobre demorava num promontório, de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, reunir-se-iam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os Espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.
Maria aceitou alegremente.
Dentro de breve tempo, instalaram-se no seio amigo da Natureza, em frente do oceano. Éfeso ficava pouco distante; porém, todas as adjacências se povoavam de novos núcleos de habitações alegres e modestas. A casa de João, ao cabo de algumas semanas, transformou-se num ponto de assembleias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros.
Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Vezes inúmeras, a reunião somente terminava noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso. A notícia de que Maria descansava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança por todos os sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas úlceras e necessidades.
Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”.
O fato tivera origem em certa ocasião, quando um miserável leproso, depois de aliviado em suas chagas, osculou-lhe as mãos, reconhecidamente murmurando:
“Senhora, sois a mãe de nosso Mestre e nossa Mãe Santíssima!”
A tradição criou raízes em todos os espíritos. Quem não lhe devia o favor de uma palavra maternal nos momentos mais duros? E João consolidava o conceito, acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato, pois fora pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura. Na sua humildade sincera, Maria se esquivava às homenagens afetuosas dos discípulos de Jesus, mas aquela confiança filial com que lhe reclamavam a presença era para sua alma um brando e delicioso tesouro do coração. O título de maternidade fazia vibrar em seu espírito os cânticos mais doces. Diariamente, acorriam os desamparados, suplicando a sua assistência espiritual. Eram velhos trôpegos e desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir as palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invocavam a sua proteção, mães infortunadas que pediam a bênção de seu carinho.
“Minha mãe, dizia um dos mais aflitos, como poderei vencer as minhas dificuldades? Sinto-me abandonado na estrada escura da vida".
Maria lhe enviava o olhar amoroso da sua bondade, deixando nele transparecer toda a dedicação enternecida de seu espírito maternal.
“Isso também passa!", dizia ela carinhosamente, "só o Reino de Deus é bastante forte para nunca passar de nossas almas, como eterna realização do amor celestial.”
Seus conceitos abrandavam a dor dos mais desesperados, desanuviavam o pensamento obscuro dos mais acabrunhados.
A igreja de Éfeso exigia de João a mais alta expressão de sacrifício pessoal, pelo que, com o decorrer do tempo, quase sempre Maria estava só, quando a legião humilde dos necessitados descia o promontório desataviado, rumo aos lares mais confortados e felizes. Os dias e as semanas, os meses e os anos passaram incessantes, trazendo-lhe as lembranças mais ternas. Quando sereno e azulado, o mar lhe fazia voltar à memória o Tiberíades distante. Surpreendia no ar aqueles perfumes vagos que enchiam a alma da tarde, quando seu filho, de quem nem um instante se esquecia, reunindo os discípulos amados, transmitia ao coração do povo as louçanias da Boa Nova. A velhice não lhe acarretara nem cansaços nem amarguras. A certeza da proteção divina lhe proporcionava ininterrupto consolo.
Como quem transpõe o dia em labores honestos e proveitosos, seu coração experimentava grato repouso, iluminado pelo luar da esperança e pelas estrelas fulgurantes da crença imorredoura. Suas meditações eram suaves colóquios com as reminiscências do filho muito amado.
Súbito, recebeu notícias de que um período de dolorosas perseguições se havia aberto para todos os que fossem fiéis à doutrina do seu Jesus divino. Alguns cristãos banidos de Roma traziam a Éfeso as tristes informações. Em obediência aos éditos mais injustos, escravizavam-se os seguidores do Cristo, destruíam-se-lhes os lares, metiam-nos a ferros nas prisões. Falava-se de festas públicas, em que seus corpos eram dados como alimento a feras insaciáveis, em horrendos espetáculos.
Então, num crepúsculo estrelado, Maria entregou-se às orações, como de costume, pedindo a Deus por todos aqueles que se encontrassem em angústias do coração, por amor de seu filho.
Embora a soledade do ambiente, não se sentia só: uma como força singular lhe banhava a alma toda. Aragens suaves sopravam do oceano, espalhando os aromas da noite que se povoava de astros amigos e afetuosos e, em poucos minutos, a lua plena participava, igualmente, desse concerto de harmonia e de luz.
Enlevada nas suas meditações, Maria viu aproximar-se o vulto de um pedinte. "Minha mãe", exclamou o recém-chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho —, "venho fazer-te companhia e receber a tua bênção".
Maternalmente, ela o convidou a entrar, impressionada com aquela voz que lhe inspirava profunda simpatia. O peregrino lhe falou do céu, confortando-a delicadamente. Comentou as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os devotados e sinceros filhos de Deus, dando a entender que lhe compreendia as mais ternas saudades do coração. Maria sentiu-se empolgada por tocante surpresa. Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores secretas da alma saudosa, com bálsamos tão dulçorosos? Nenhum lhe surgira até então para dar; era sempre para pedir alguma coisa. No entanto, aquele viandante desconhecido lhe derramava no íntimo as mais santas consolações. Onde ouvira noutros tempos aquela voz meiga e carinhosa?! Que emoções eram aquelas que lhe faziam pulsar o coração de tanta carícia? Seus olhos se umedeceram de ventura, sem que conseguisse explicar a razão de sua terna emotividade. Foi quando o hóspede anônimo lhe estendeu as mãos generosas e lhe falou com profundo acento de amor:
“Minha mãe, vem aos meus braços!”
Nesse instante, fitou as mãos nobres que se lhe ofereciam, num gesto da mais bela ternura. Tomada de comoção profunda, viu nelas duas chagas, como as que seu filho revelava na cruz e, instintivamente, dirigindo o olhar ansioso para os pés do peregrino amigo, divisou também aí as úlceras causadas pelos cravos do suplício. Não pôde mais. Compreendendo a visita amorosa que Deus lhe enviava ao coração, bradou com infinita alegria:
“Meu filho! meu filho! as úlceras que te fizeram!. . .“
E precipitando-se para ele, como mãe carinhosa e desvelada, quis certificar-se, tocando a ferida que lhe fora produzida pelo último lançaço, perto do coração.
Suas mãos ternas e solícitas o abraçaram na sombra visitada pelo luar, procurando sofregamente a úlcera que tantas lágrimas lhe provocara ao carinho maternal. A chaga lateral também lá estava, sob a carícia de suas mãos. Não conseguiu dominar o seu intenso júbilo. Num ímpeto de amor, fez um movimento para se ajoelhar. Queria abraçar-se aos pés do seu Jesus e osculá-los com ternura. Ele, porém, levantando-a, cercado de um halo de luz celestial, ajoelhou-se-lhe aos pés e, beijando-lhe as mãos, disse em carinhoso transporte:
“Sim, minha mãe, sou eu!... Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos. . ."
Maria cambaleou, tomada de inexprimível ventura. Queria dizer da sua felicidade, manifestar seu agradecimento a Deus; mas o corpo como que se lhe paralisara, enquanto aos seus ouvidos chegavam os ecos suaves da saudação do Anjo, qual se a entoassem mil vozes cariciosas, por entre as harmonias do céu.
No outro dia, dois portadores humildes desciam a Éfeso, de onde regressaram com João, para assistir aos últimos instantes daquela que lhes era a devotada Mãe Santíssima.
Maria já não falava. Numa inolvidável expressão de serenidade, por longas horas ainda esperou a ruptura dos derradeiros laços que a prendiam à vida material.
A alvorada desdobrava o seu formoso leque de luz quando aquela alma eleita se elevou da Terra, onde tantas vezes chorara de júbilo, de saudade e de esperança.
Não mais via seu filho bem-amado, que, certamente, a esperaria com as boas vindas no seu reino de amor; mas, extensas multidões de entidades angélicas a cercavam cantando hinos de glorificação.
Experimentando a sensação de se estar afastando do mundo, desejou rever a Galileia com os seus sítios preferidos. Bastou a manifestação de sua vontade para que a conduzissem à região do lago de Genesaré, de maravilhosa beleza. Reviu todos os quadros do apostolado de seu filho e, só agora, observando do alto a paisagem, notava que o Tiberíades, em seus contornos suaves, apresentava a forma quase perfeita de um alaúde. Lembrou-se, então, de que naquele instrumento da Natureza Jesus cantara o mais belo poema de vida e amor, em homenagem a Deus e à humanidade. Aquelas águas mansas, filhas do Jordão marulhoso e calmo, haviam sido as cordas sonoras do cântico evangélico.
Dulcíssimas alegrias lhe invadiam o coração e já a caravana espiritual se dispunha a partir, quando Maria se lembrou dos discípulos perseguidos pela crueldade do mundo e desejou abraçar os que ficariam no vale das sombras, à espera das claridades definitivas do Reino de Deus. Emitindo esse pensamento, imprimiu novo impulso às multidões espirituais que a seguiam de perto. Em poucos instantes, seu olhar divisava uma cidade soberba e maravilhosa, espalhada sobre colinas enfeitadas de carros e monumentos que lhe provocavam assombro. Os mármores mais ricos esplendiam nas magnificentes vias públicas, onde as liteiras patrícias passavam sem cessar, exibindo pedrarias e peles, sustentadas por misérrimos escravos.
Mais alguns momentos e seu olhar descobria outra multidão guardada a ferros em escuros calabouços. Penetrou os sombrios cárceres do Esquilino, onde centenas de rostos amargurados retratavam padecimentos atrozes. Os condenados experimentaram no coração um consolo desconhecido.
Maria se aproximou de um a um, participou de suas angústias e orou com as suas preces, cheias de sofrimento e confiança. Sentiu-se mãe daquela assembleia de torturados pela injustiça do mundo. Espalhou a claridade misericordiosa de seu Espírito entre aquelas fisionomias pálidas e tristes. Eram anciães que confiavam no Cristo, mulheres que por ele haviam desprezado o conforto do lar, jovens que depunham no Evangelho do Reino toda a sua esperança. Maria aliviou-lhes o coração e, antes de partir, sinceramente desejou deixar-lhes nos Espíritos abatidos uma lembrança perene. Que possuía para lhes dar? Deveria suplicar a Deus para eles a liberdade?! Mas, Jesus ensinara que com ele todo jugo é suave e todo fardo seria leve, parecendo-lhe melhor a escravidão com Deus do que a falsa liberdade nos desvãos do mundo. Recordou que seu filho deixara a força da oração como um poder incontrastável entre os discípulos amados. Então, rogou ao Céu que lhe desse a possibilidade de deixar entre os cristãos oprimidos a força da alegria. Foi quando, aproximando-se de uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e macilento, disse-lhe ao ouvido:
“Canta, minha filha! Tenhamos bom ânimo!... Convertamos as nossas dores da Terra em alegrias para o Céu!"
A triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da emotividade que lhe fez vibrar subitamente o coração. De olhos extáticos, contemplando o firmamento luminoso, através das grades poderosas, ignorando a razão de sua alegria, cantou um hino de profundo e enternecido amor a Jesus, em que traduzia sua gratidão pelas dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas amarguras em consoladoras rimas de júbilo e esperança. Daí a instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes dos que choravam no cárcere, aguardando o glorioso testemunho.
Logo, a caravana majestosa conduziu ao Reino do Mestre a bendita entre as mulheres e, desde esse dia, nos tormentos mais duros, os discípulos de Jesus têm cantado na Terra, exprimindo o seu bom ânimo e a sua alegria, guardando a suave herança de nossa Mãe Santíssima.
Por essa razão, irmãos meus, quando ouvirdes o cântico nos templos das diversas famílias religiosas do Cristianismo, não vos esqueçais de fazer no coração um brando silêncio, para que a Rosa Mística de Nazaré espalhe aí o seu perfume!

Anunciação do anjo a Maria

Anunciação do anjo a Maria


“Eu te saúdo, ó cheia de graça; o Senhor está contigo; és bendita entre as mulheres” (Lucas, 1:28).

 

Essas foram às palavras de saudação do anjo Gabriel àquela que fora escolhida para simbolizar aos olhos do mundo, a missão de mãe de Jesus, o Cristo de Deus. Maria era uma jovem judia virgem e, segundo os costumes da época, entre os judeus, prometida a um homem de nome José e da descendência de Davi.

Maria, como todas as moças de sua idade, devia ser ignorante das coisas relacionadas com a fé ou a religião de seu povo, uma vez que às mulheres muito pouco era permitido saber, sendo obrigadas a seguir caprichosamente as vontades dos pais e sob os ditames da lei.

Assim, os fatos relacionados com a anunciação por uma entidade espiritual a Maria devem ter sido guardados em segredo até ao dia em que ela os revelou, em confiança, aos discípulos de Jesus, possivelmente depois do terrível sacrifício a que foi submetido o Mestre. Deve ela, no entanto, tê-los revelado a José, seu esposo, após o sonho em que foi avisado pelo espírito que não devia abandonar a esposa, uma vez que ela era pura e o que se gerava em seu ventre era do Espírito Santo.

Convinha e era necessário que Jesus fosse realmente reconhecido como nascido de alguém, pertencente a uma família conhecida de todos. Todos deviam de fato testemunhar-lhe o crescimento natural, embora ninguém se desse conta da origem ou procedência espiritual do menino.

Os fatos tinham que ser conservados assim, em segredo. E continuaram secretos até que a humanidade amadurecesse para um entendimento satisfatório de toda a verdade. Numa palavra, até que fosse alcançada, no tempo, a era do espírito, pela manifestação do Consolador prometido por ele, Jesus.

Com o advento do Espiritismo, tudo se esclareceria a par das revelações que se fizessem necessárias. Não obstante, e como sempre ocorreu existirem entre os homens espíritos sempre mais argutos, muitas opiniões surgiram e se fizeram ouvir em torno da natureza de Jesus ao longo da história do cristianismo.

Ao lado daqueles que aceitam cegamente as coisas que lhes são ditas, que não as discutem nem duvidam, simplesmente acolhem as informações mais esdrúxulas como verdadeiras, há, também, aqueles que refletem em profundidade, que analisam os fatos, obtendo ilações inteligentes e sérias.

Ainda hoje é assim. Tudo que se publica é prontamente aceito por aqueles, simplesmente pelo fato de estar escrito num jornal ou numa revista, quando há neles interesse ou tendência para isso.

Os escribas, por exemplo, que eram encarregados da interpretação dos textos sagrados, gozavam do poder de impingir mentiras ou falsidades nas mentes predispostas ou desprevenidas, incautas, como fazem os políticos em nossos dias.

Ao longo dos séculos, desde o ano 312, quando Constantino obteve a adesão política dos cristãos, ao tornar público um sonho de sua imaginação, os pais da Igreja de Roma, mais e mais assumiram, como novos ditadores da fé, o papel dos escribas e fariseus, impondo aos religiosos as coisas em que acreditavam como verdadeiras ou convenientes, utilizando para isso o nome do Senhor.

Foi desse modo que estabeleceram, através de concílios que se multiplicaram no perpassar dos séculos, os dogmas do inferno, da ressurreição da carne, da santíssima trindade, da divindade de Jesus, da ascensão de Maria e centenas de outros, culminando com a aprovação do direito de torturar e matar pelo fogo os que fossem considerados hereges...Mas, de todas as infâmias cometidas a que nos parece mais ignominiosa e solerte é a de fanatizar as mentes desprevenidas ou despreparadas!

Foi assim que pouco a pouco conseguiram afastar dos adeptos da religião, cauterizando-lhes as mentes, o espírito do Cristianismo do Cristo, para que melhor se lhes sedimentasse o espírito do cristianismo que mais conviesse aos interesses da poderosíssima organização romana da fé.

A anunciação do anjo a Maria, em si, é muito simples e apropriada ao entendimento de uma virgem inocente e pura, cuja explicação, também simples, só viria mais tarde, quando mais amadurecido racionalmente estivesse o inquilino desta pequena morada da Casa do Pai, que é a Terra. Atentemos para as palavras do mensageiro espiritual:

“Nada temas Maria; porquanto caíste em graça perante DEUS. É assim que conceberás em teu seio e que de ti nascerá um filho ao qual darás o nome de Jesus.Ele será grande e será chamado filho do altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó. Seu reino não terá fim” (Lucas, 1:30-33).

Maria apenas indagou segundo lhe parecera sensato: “Como sucederá isso, se não conheço varão? E o anjo aquietou-lhe a alma, explicando:

“O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra, e por isto o santo que nascerá de ti será chamado Filho de Deus. E eis que a tua parenta Isabel concebeu na velhice um filho e está no sexto mês de gravidez, ela que é chamada estéril. É que nada é impossível a DEUS” (Lucas 1: 34-37).

Maria nada mais tinha a retrucar. Humildemente exclamou: “Aqui está à serva do Senhor, faça-se em mim conforme as tuas palavras.” E o assunto foi encerrado para só retornar o anjo, em sonho a José, diante da perplexidade dele ao perceber que a esposa estava grávida, e guardar no coração certo propósito de afastar-se dela, secretamente. Tudo muito simples. Facílimo: Maria estava convencida pela voz do anjo e os homens, mais tarde, utilizar-se-iam por sua vez da técnica simplória do milagre que tudo explica e justifica. Uma virgem dá à luz um filho sem a participação indispensável do elemento masculino. Era a vontade de Deus. A lei afinal de contas era dele. Podia, pois, derroga-la, quando e como o quisesse. Para isso ele era Deus. Deus, consoante os homens imaginam: um deus antropomorfo?

É assim que têm raciocinado os teólogos, humanizando Deus, isto é, tornando-o caprichoso, estúrdio, indeciso, irascível, estulto, irresponsável como o próprio homem, que só apresenta tão lamentáveis atributos por força de sua imperfeição.

É chegado, porém, o momento de tudo ser esclarecido através de instrumentos próprios e precisos de que o Pai dispõe sem ter que dar satisfações de suas decisões, mas utilizando-se da participação daqueles que para isso nasceram, e contando com a boa vontade dos que, amadurecidos e sensatos, já em condições de muito compreender das verdades eternas, integram, resolutos, mesmo na carne, as sublimes falanges do Consolador Prometido.

Deus se utilizou dos recursos da mediunidade, ainda que desconhecida dos homens da época, para tornar possível a presença na Terra, de seu Governador, um ser puríssimo, e cuja encarnação como homem comum denunciaria imperícia divina ou atentaria contra o seu atributo de plenipotência e onisciência. Ele não quis que o seu plenipotenciário divino fosse um mágico, um ilusionista, mas o ser espiritual que efetivamente é o detentor de todos os poderes de sua hierarquia, dado que somente assim cumpriria com pleno êxito a sua missão.

Convinha que assim ocorresse e ocorreu não nos competindo pedir contas a Deus de seus atos.

Era necessário que o Cristo viesse pessoalmente trazer à humanidade o Evangelho, o código de sabedoria perfeita e lei de paraíso sem que nada pudesse obstar o cumprimento de tão magno mister. Nenhum risco, nenhuma possibilidade de falha. Por isto a tarefa não podia ser confiada senão a ele próprio, o Cristo, mas em condições especialíssimas e infalibilíssimas.

Antes da anunciação do anjo Gabriel, houve duas outras anunciações proféticas que descrevem em minúcias os fatos que teriam de ocorrer: as previsões de Isaías e de Malaquias. Tudo fora previsto por eles e seriamente programado nos planos espirituais superiores. E como tal ocorreram.

A anunciação do anjo a Maria, o nascimento de Jesus tal como descrito pelos evangelistas e a necessidade de uma explicação racional dos fatos foram razões suficientes para acordarem da atonia algumas mentes amadurecidas do passado, entre docetas e apolinaristas. Mas o poder do fanatismo e o sentimento político que já então dominava no seio do Cristianismo fizeram abafar as vozes dessas mentes, anatematizando-as nos concílios de Alexandria, em 360; de Roma, em 374; e de Constantinopla, em 381.

Por isso veio a Revelação da Revelação (Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing), explicando, versículo a versículo, os quatro livros fundamentais do novo testamento. Aí tudo se esclarece à luz da razão. Todas as dúvidas são dirimidas nas mentes que estudam, trabalham e esforçam-se na busca da perfeição. Dela tomou conhecimento o Codificador, sugerindo fosse lida com proveito pelos espíritas. Mas deixando a teoria do corpo fluídico de Jesus ao cuidado dos espíritos.



                                                                         Inaldo Lacerda Lima





Texto extraído da revista “Reformador” mensário religioso de espiritismo cristão, ano 109, mês de maio de 1991 nº. 1946, editado pela FEB – Federação Espírita Brasileira.

Equipe Espiritual da Missão de Jesus

Idéias Principais:

A superioridade espiritual de Maria de Nazaré pode ser avaliada em diversas ocasiões de sua passagem na Terra. O apóstolo e evangelista João, através das palavras de Humberto de Campos, Espírito, afirma que “(...) fora pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura”.

Na realização da sua missão, Jesus contou, também, com a colaboração de diversos Espíritos; entre eles merecem ser destacados:

- João Batista, filho de Isabel e Zacarias, também o chamado O Precursor, foi, segundo palavras de Jesus, “(...) entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior do que João Batista, e, no entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”.

- José foi um Espírito que recebeu a honrosa tarefa de exercer o papel de pai de Jesus e amparar Maria em sua excelsa missão.



Síntese do Assunto:

Equipe Espiritual da Missão de Jesus

“Os historiadores do Império Romano sempre observaram com espanto os profundos contrastes na gloriosa época de Augusto”.

“Caio Júlio César Otávio chegara ao poder (...) por uma serie de acontecimentos felizes. (...)”.

“Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas”.

“(...) A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências. É nessa época que surgem Vergílio, Horácio, Ovídio, Salústio, Tito Livio e Mecenas (...)”.

“É que os historiadores ainda não perceberam, na chamada época de Augusto, o seculo do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da Terra, numa vibração profunda de amor e de beleza. Acercavam-se de Roma e do mundo não mais Espíritos belicosos, como Alexandre ou Aníbal, porém outros que se vestiram dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro.Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos”. (Humberto de Campos, Espírito, “Boa Nova”).

Entre esses Espíritos, destaca-se a figura de Maria de Nazaré.

“Atendendo a solicitação de Jesus, durante a crucificação, Maria foi morar em companhia de João, “ao sul de Éfeso, distando três léguas aproximadamente da cidade. A habitação simples e pobre demorava num promontório de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os Espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciaram uma nova era de amor, na comunidade universal”.

“A casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembléias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultivadas por Espíritos humildes e sinceros”.

Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sitio singelo e generoso. Ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas ulceras e necessidades”.

“Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de Casa da Santíssima”.

“O fato tivera origem em certa ocasião, quando um miserável leproso, depois de aliviado em suas chagas, lhe osculou as mãos, reconhecidamente murmurando: - Senhora, sois a mãe de nosso Mestre e a nossa Mãe Santíssima”.

“E João consolidava o conceito, acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato, pois fora pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura”. (Humberto de Campos, Espírito, “Boa-Nova”).
*
A elevação espiritual de Maria é vista, também, ao longo da permanência de Jesus entre nós, através de manifestações de humildade, dedicação e amor.

Vale destacar, ainda, o valor espiritual de Maria quando da anunciação da vinda de Jesus, feita pelo Anjo Gabriel:

“(...) o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, disse-lhe: - Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo! O anjo acrescentou: - Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim. Maria, po0rém, disse ao anjo: - Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum? O anjo respondeu: - O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. Disse, então, Maria: -Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra! E o anjo retirou-se”.

“Sempre com esta submissão aos desígnios de Deus, Maria mostrou-se humilde até os seus derradeiros momentos na Terra, quando, ainda naquela pequenina casa em Éfeso, Jesus aparece-lhe e a leva para as regiões elevadas da espiritualidade, dizendo-lhe: - Sim, minha mãe, sou eu!... Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos”.

*

Ao lado de Maria esteve um Espírito sobre o qual temos poucas informações: é José. Muito pouco se diz de José. Foi com Maria a Belém e estava com ela quando Jesus nasceu, Lc. 2:4, 16. Com ela estava quando Jesus foi apresentado no Templo, Lc 2:33. Guiou-os na fuga para o Egito e na volta para Nazaré, Mt 2:13, 19 a 23. Levou Jesus a Jerusalém quando este tinha 12 anos, Lc 2:43, 51. Tudo indica que José não presenciou a crucificação de Jesus porque já houvera partido para o mundo espiritual.
Maria tinha que figurar com mãe, e José como pai de Jesus.

*

Médiuns Preparadores – Para recepcionar o influxo mental de Jesus, o Evangelho nos dá notícias de uma pequena congregação de médiuns, à feição de transformadores elétricos conjugados, para acolher-lhe a força e armazená-la, de princípio, antes que se lhe pudessem canalizar os recursos.

E longe de anotarmos aí a presença de qualquer instrumento psíquico menos seguro do ponto de vista moral, encontramos importante núcleo de medianeiros, desassombrados na confiança e corretos na diretriz.

Informamo-nos, assim, nos apontamentos da Boa Nova, de que Zacarias e Isabel, os pais de João Batista, precursor do Médium Divino, “eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão, em todos os mandamentos e preceitos do Senhor”, que Maria, a jovem simples de Nazaré, que acolheria o Embaixador Celeste nos braços maternais, se achava “em posição de louvor diante do Eterno Pai”, que José da Galiléia, o varão que o tomaria sob paternal tutela, “era justo”, que Simeão, o amigo abnegado que o aguardou em prece, durante longo tempo, “era justo e obediente a Deus”, e que Ana, a viúva que o esperou em oração, no Templo de Jerusalém, por vários lustros, vivia “servindo a Deus”.

Nesse grupo de médiuns admiráveis, não apenas pelas percepções avançadas que os situavam em contacto com os Emissários Celestes, mas também pela conduta irrepreensível de que forneciam testemunho, surpreendemos o circuito de forças a que se ajustou a onda mental do Cristo, para daí expandir-se na renovação do mundo.

Uma outra referencia a José, e que dá para compreender o seu valor espiritual, está em Mateus, 1:18 a 25. Nessa passagem um Anjo aparece em sonho a José, dissuadindo-o de abandonar Maria por estar ela grávida, explicando como e quem Maria gerou. Ao acordar, José aceita as exortações do Anjo e ampara Maria durante o tempo em que a acompanhou na Terra.

É preciso que destaquemos também a figura espiritual de João Batista, filho de Isabel e Zacarias, também chamado O Precursor, porque foi ele quem preparou os passos de Jesus.

A predição do nascimento de João Batista pode ser lida em Lucas, 1:5 a 25. É uma passagem evangélica de muita beleza.

(...) Quanto ao nascimento de João, como era preciso que este impressionasse o espírito público desde o seu aparecimento na Terra, deu-se em circunstâncias particularíssimas, quais as de já serem velhos os seus genitores e a mudez temporária de seu pai. Importa, porém, se atenda a que, se bem já Isabel estivesse avançada em anos, sua idade não era tal que a impossibilitasse de conceber, de conformidade com as leis naturais.

João fora Elias, o grande profeta de que fala o livro Reis (3º. Vol., XVII), e como tal era tido pelos judeus. Precisamente porque o povo via em João a reaparição de Elias (...).

Após o nascimento de João, “transcorridos alguns anos, vamos encontrar o Batista na sua gloriosa tarefa de preparação do caminho à verdade, precedendo o trabalho divino do amor, que o mundo conheceria em Jesus-Cristo”.

João, de fato, partiu primeiro, a fim de executar as operações iniciais para a grandiosa conquista.

Vestido de peles e alimentando-se de mel selvagem, esclarecendo com energia e deixando-se degolar em testemunho à Verdade, ele precedeu a lição da misericórdia e da bondade.

Ele se sentia, não há como duvidar, “a voz que clama no deserto”, e preparava “os caminhos do Senhor”. Fora assim mesmo que respondera aos judeus enviados pelos sacerdotes e levitas de Jerusalém, ao lhe indagarem se ele era o Cristo ou o Elias esperado.

A personalidade de João Batista, classificado por Jesus como “o maior dos nascidos de mulher”, destaca-se solenemente pela sua austeridade no modo de anunciar o Grande Enviado, chegando a atrair multidões a si, que, convictas da sua superioridade moral e espiritual, e convertida para uma vida superior, entravam no Jordão limpando-se das máculas e gafeiras do homem velho e de lá saiam limpos de corpo para simbolizar a limpeza da alma a que aspiravam, por uma vida de progresso e perfeição...

Outros Espíritos fizeram parte da missão de Jesus e não nos será possível falar de todos, mas, a partir deste roteiro, tentaremos destacar o trabalho e missão de alguns.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PREDIÇÕES REFERENTES AO NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA

PREDIÇÕES REFERENTES AO NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA

Partindo do pressuposto de que o povo hebreu sabia e esperava o advento do Messias e que Elias haveria de precedê-lo, e se o próprio Jesus esclareceu que João era Elias reencarnado, é fácil compreender que da reencarnação até a desencarnação de João Batista, a vida deste valoroso precursor foi marcada por acontecimentos de grande importância para nós cristãos. O primeiro a ser destacado é o anúncio do seu nascimento, feito por um Anjo do Senhor a Zacarias, durante o ato sagrado da queima do incenso, no santuário, quando este exercia diante de Deus, o sacerdócio na ordem de seu turno. Este costume era acompanhado por uma multidão de pessoas que permanecia do lado de fora, orando. Durante este procedimento, o Anjo apareceu-lhe, em pé, à direita do altar, e revelou-lhe que, em atendimento às suas preces, a sua esposa Isabel, daria à luz uma criança a quem chamariam João. Ele seria grande diante do Senhor; não beberia vinho nem bebida forte e seria cheio do Espírito Santo, desde o ventre materno. Este espírito seria para o casal motivo de prazer e alegria e de regozijo para muitos filhos de Israel, que se converteriam ao Senhor Deus.Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado. Diante da divina revelação, Zacarias pondera sobre o advento, uma vez que ele já estava avançado em idade e sua esposa estéril. O Anjo, então, mediante a incerteza de Zacarias, quanto às suas palavras, ordenou a sua mudez até o dia em que todas essas coisas se cumprissem.


Antes de prosseguirmos com outros acontecimentos, julgamos oportuno salientar alguns aspectos dessa passagem.

Inicialmente, o aspecto a ser contemplado é o acontecido no santuário. O evangelista Lucas relata em sua narrativa a presença do Anjo, em pé, à direita do altar. Nesta assertiva, chamou-nos à atenção, o porquê do “em pé” e “à direita do altar”. A referência ao “em pé”, o que não aconteceu quando do aviso do mesmo anjo à Maria, mãe de Jesus, acreditamos ser a representação da regidez de caráter, da solidez das atitudes frente aos desafios que iria enfrentar. Um Espírito que, embora ainda estando preso a terra, iria falar das coisas do céu – dos nascidos de mulher nenhum é maior do que João Batista, porém é o menor no Reino dos Céus - aquele que vem preparar o caminho, tanto material , como espiritual para a chegada do Messias.

O outro detalhe à “direita do altar”. O altar, na concepção de muitos, é tido como um lugar sagrado, onde, normalmente, encontram-se objetos que lembrem purificação e pode ser lido que quem está dando a Boa Nova é um espírito que assiste à direita do Pai, com todo conhecimento, sabedoria e autoridade para dar a notícia, pois tem todos os atributos de um espírito puro.

“Não beberia vinho nem bebida forte”. Para esta assertiva, podemos levantar duas hipóteses: a primeira é que o Anjo não teria nenhum motivo para a proibição do uso do vinho, uma vez que o próprio Jesus transformou água em vinho, nas Bodas de Canã e em nenhuma passagem dos Evangelhos encontramos uma proibição explícita do Mestre para o uso, sem excesso, dessa bebida, mesmo porque na última ceia todos os discípulos tomaram vinho e comeram o pão repartido pelo próprio Salvador.

Portanto, para essa afirmativa, cabe uma outra leitura. Nós preferimos ler essa assertiva como sendo um processo de depuração da alma, de desapego às coisas terrenas e demonstrar a diferença evolutiva desse Espírito. Expliquemos: na época de Jesus o vinho, principalmente, era complemento da alimentação do povo, pois o cultivo da uva era comum naquela região – basta analisarmos as referências às videiras feitas por Jesus em suas parábolas. Outro aspecto é que a água era o símbolo da pureza para os judeus, tanto é que João batizava com água e Jesus também faz referência a essa mesma água no diálogo com Nicodemos, na limpeza das mãos para o alimento e para a Mulher samaritana. A água é alimento natural, já vem pronto, enquanto que o vinho é fruto de transformação pelo trabalho. Da uva, natural, faz-se o vinho. Sendo, porém, o vinho algo transformado pelo trabalho, cabe, assim, lermos a assertiva de que somente os que não estão pronto são os que precisam do trabalho de transformação, sendo que João Batista já estava pronto, portanto, não haveria necessidade do processo de transformação, não precisava beber vinho, como foi solicitado aos apóstolos durante a santa ceia, bebendo o vinho da aliança, ou seja, daquele momento em diante, eles deveriam transforma-se de pescadores de peixes para pescadores de alma, estariam isento das coisas do mundo, estariam se preparando para as coisas do céu. A outra hipótese, a mais comum entre os estudiosos do Precursor, é colocá-lo como Nazireu, uma vez que seu pai Zacarias, sendo um sacerdote do templo tinha pleno conhecimento de que o povo judeu encarava um nazarita vitalício como uma personalidade santificada e sagrada e tinha por eles quase o mesmo respeito e a veneração que a dedicada ao sumo sacerdote, pois eram os únicos, além dos altos sacerdotes, a quem eram permitidos entrar no local santo de um templo. E para que João ganhasse a fama de profeta como ganhou, era necessário que tivesse essa identificação para o povo.

Para a expressão “seria cheio do espírito santo, desde o ventre materno”, devemos compreender que por espírito santo são designados os Espíritos superiores a quem o Livro dos Espíritos os caracterizam como aqueles que “reúnem em si a ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam se exala sempre a benevolência; é uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem noções exatas sobre as coisas do mundo corpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se complacentemente com os que procuram de boa fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosidade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.”


Portanto são aqueles que trazem as faculdades mediúnicas desenvolvidas e tem contato quase que contínuo com as esferas superiores, a fim de receber orientações e esclarecimentos na execução das atividades que deveriam desenvolver. Por isso, para um espírito que tinha como missão a difícil tarefa de abrir as veredas daqueles caminhos secos e tortuosos da Palestina e dos corações endurecidos pelo egoísmo e vaidade daquele povo, deveria estar sempre sintonizado com os espíritos puros, no intuito de manter-se equilibrado moral e intelectualmente para a tarefa, como é o caso de João Batista.

A profecia de que João seria “regozijo para muitos filhos de Israel que se converteriam ao Senhor Deus. Adiante dele irá no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, dos desobedientes à prudência dos justos e habilitaria para o Senhor um povo preparado”, remete-nos ordinariamente à profecia de Malaquias 3.22-24 “Lembrem-se da lei do meu servo Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total.”

Obs.: em algumas traduções bíblicas essa passagem é citada como Ml 4.4-6;

Esta profecia ratifica o antes exposto de que o povo judeu tinha pleno conhecimento do advento do Messias e de que Elias o antecederia. Se compararmos as duas profecias, fatalmente concluiremos que as informações são as mesmas, o que muda, portanto, é a variante lingüística com que as duas foram elaboradas. Ambas falam do advento do precursor para abrir as veredas para o Messias. Malaquias, em sua profecia, explicita claramente que esse precursor, que abriria os caminhos para o Mestre, seria Elias. Na profecia do anjo Gabriel, ele diz que adiante dele irá no espírito e poder de Elias. Para esta variante cabem algumas considerações: a primeira é que João Batista não era Elias, embora o espírito fosse o mesmo, pois o espírito encarnado como Elias estava em um patamar evolutivo, já o espírito que anima João Batista, a centenas de anos depois, já havia evoluindo, pois um espírito dessa envergadura nunca ficaria estacionado. Isto é prova inequívoca da reencarnação “A alma passa, então, por muitas existências corporais? – Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse é o desejo deles. Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado o corpo, toma outro, ou então, que reencarna em um novo corpo. É assim que se deve entender? – Evidentemente.” Estes desdobramentos da pergunta 166 de “O Livro dos Espíritos” ratificam nosso ponto de vista.
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A Visão de Zacarias

A Visão de Zacarias

O trabalho da vida de Jesus,
Que na Terra foi realizado,
Pelo profeta João Batista
O mesmo foi iniciado.O pai de João Batista,
Que tinha o nome de Zacarias,
Era um sacerdote judeu
E no templo de Jerusalém ele servia
Enquanto a sua mãe, Isabel,
Ao ramo mais importante pertencia
Do grande grupo familiar
Do qual também procedia Maria.
Zacarias e sua mulher, Isabel,
Embora há muitos anos casados,
Permaneciam ainda sozinhos
Pois nenhum filho haviam gerado.

Certo dia, pela manhã,
Estando sozinho no santuário,
Zacarias oferecia o sacrifício
Obedecendo aos ritos e ao horário,

Eis que, de repente,
Aparece, à direita do altar,
Um vulto totalmente estranho
Aos freqüentadores do lugar…

Zacarias então estremece,
Tomado de grande comoção,
Ficando completamente imóvel
Mediante a inesperada aparição.

- Não temas Zacarias -
Disse-lhe naquele instante
O desconhecido que ali estava
Com a voz calma e confiante:

- Foi atendida a tua prece;
Eis que a tua esposa, então,
Virá a conceber um filho,
A quem porás o nome de João.

Será grande aos olhos de Deus
E repleto dum espírito santo
Desde o seio de sua mãe;
Converterá e fará voltar a Deus, portanto

Terminado o serviço litúrgico,
Zacarias retornou à sua residência
Em completo mutismo
E à sua esposa deu ciência,

A muitos dos filhos de Israel.
Refletindo naquela ocasião
Sobre tão singular notícia,
Surge na mente do ancião,Mesmo que rapidamente,
Uma ligeira desconfiança
Sobre a real possibilidade
De vir a nascer essa criança.Por que sinal conhecerei
Se o que dizes é verdade? -
Perguntou à aparição
Expressando a sua perplexidade -Pois que sou velho,
E minha mulher, também,
É avançada em anos.
Respondeu-lhe o misterioso alguém:
- Eu sou Gabriel,
Que assisto ante o trono do Senhor
E fui enviado para comunicar-te
Esta mensagem – declarou.

E proferindo uma sentença,
Concluiu na oportunidade:
-  Como não deste fé às minhas palavras,
Serás mudo e terás a incapacidade

De proferir uma palavra
E até o dia em que esta predição
Vir a se tornar realidade
Viverás nesta situação.

Os que esperavam a benção do ancião
Da parte de fora do santuário
Estranhavam por sua vez
A demora além do horário.

Quando finalmente Zacarias
No topo da escada apareceu
E não pôde formular palavras
Ao povo que ali compareceu,

Todos, nesse caso, compreenderam
Que alguma coisa acontecera:
Zacarias havia ficado mudo
Foi o que realmente ocorrera.

Por intermédio de sinais,
Do que houvera acontecido
Enquanto se encontrava no templo
Durante o sacrifício oferecido,

Bem como da jubilosa esperança
Que tinham de um sucessor.
E ambos naquele instante
Louvaram e agradeceram ao Senhor

O Anúncio dos nascimentos de João Batista e de Jesus

O Anúncio dos nascimentos de João Batista e de Jesus

Vejamos a grandeza da Mãe de nosso Senhor e a segurança com que agia analisando seu comportamento num momento que seria de tensão para qualquer um, o anúncio de que seria a mãe do Filho do Altíssimo.
Um anjo fez esta revelação para Maria, ela seria mãe do Messias. Só isto já bastaria para deixar qualquer um apreensivo.
O povo hebreu esperava um Messias há muitos séculos, ele seria o libertador dos seguidores de Moisés, reunificaria as doze tribos e faria de Israel a maior entre todas as nações.
Vivia-se um período de conflitos, o império romano dominava a nação judaica, e o povo de Israel desejava ardentemente alguém que revertesse esta situação. Muitos àquele tempo diziam ser o Messias, ele era aguardado ansiosamente…
Por que ser ele filho de uma mulher tão simples? Deve ter pensado, Ele poderia ser filho de um sumo sacerdote, de um rei, de alguém realmente preparado para lhe dar melhores condições. Ela deve ter tido vários conflitos a respeito. Deve ter perdido várias noites de sono se perguntando como educar o menino, um verdadeiro Filho de Deus. E se ela falhasse, atrapalharia os planos do Todo Poderoso? Deus tem seus mistérios e Maria tudo refletia em seu coração.
Nós gostaríamos de analisar dois aspectos na passagem do anúncio do anjo a Maria, comparando–a a um anúncio semelhante feito pela mesma entidade espiritual a Zacarias, aquele que seria o pai de João Batista. Quem narra é Lucas:
Anúncio a Zacarias
Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. 6 E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade. 8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, 9 Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso. 10 E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso. 11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. 12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. 13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. 14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, 15 Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. 16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao SENHOR seu Deus, 17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. 18 Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade. 19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.1
O Anúncio a Maria
No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. 28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, cheia de graça! O Senhor é contigo. 29 Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. 30 Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. 32 Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. 34 Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, se eu não conheço homem algum?2
É nas reações que percebemos o estágio evolutivo de um Espírito, assim vamos analisar apenas as reações de nossos personagens:
Ao ser abordado pelo anjo, narra o evangelista que Zacarias turbou-se, e caiu temor sobre ele. E após Gabriel, o anjo, lhe falar sobre a gravidez de Isabel, sua esposa, e sobre a evolução do Espírito que viria ao mundo como enviado de Deus, através deles, Zacarias inquiriu: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade.
Com Maria se deu um pouco diferente.
O mesmo Espírito, Gabriel, lhe apareceu e saudou-a. Conta-nos Lucas que ela ao ouvir a saudação, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Do mesmo modo que com Zacarias, ele explicou que ela iria dar à luz um filho e que ele seria chamado Filho do Altíssimo e ainda comentou sobre os prodígios que ele faria. Ela reagiu dizendo: Como será isto, se eu não conheço homem algum?
Antes de entrar propriamente na análise do comportamento dos dois, é importante saber um pouco sobre quem eram e em qual ambiente receberam a mensagem da Espiritualidade Superior.
Zacarias era um sacerdote, ou seja, trabalhava no templo, era pessoa que cultivava as questões espirituais e estudava a Torah. E não só isso, segundo o texto evangélico era considerado um justo, e além de estudar, seguia de modo irrepreensível os mandamentos e estatutos de Deus. Informa-nos ainda Lucas, que era de idade avançada, o que significa que tinha amadurecimento.
Em que ambiente estava quando recebeu a mensagem? No templo, no Santuário do Senhor; realizava o ofício de queimar o incenso. Podemos dizer em linguagem moderna e espírita, que estava num serviço espiritual em comunhão com os Espíritos e diz o texto evangélico que as pessoas que o aguardavam do lado de fora estavam em oração. É como se ele estivesse numa mesa mediúnica, e os que estavam na assistência orassem mantendo a vibração e auxiliando-o em seus trabalhos.
Neste ambiente de vibrações elevadas, e sendo ele já experiente no serviço e de moral elevada, seria muito natural uma manifestação espiritual como a que aconteceu, mesmo assim, apesar de todo o seu preparo e também do ambiente, quando a manifestação aconteceu ele teve medo: caiu temor sobre ele. E teve mais, ele ficou cético, não acreditou no que o anjo lhe falava e pediu um sinal, uma prova: Como saberei isto?
Maria por sua vez era uma adolescente. Não sabemos bem a sua idade, mas muito provavelmente tinha entre doze e quatorze anos. Ou seja, pelo menos em matéria de idade não tinha grande amadurecimento e preparo. O evangelista não diz onde ela estava, mas provavelmente estava em casa, onde habitualmente não é comum a manifestação de Espíritos. Mesmo assim o anjo se manifesta, era natural que ela também se perturbasse, e foi o que aconteceu. Entretanto, o redator bíblico nos informa que ela pôs-se a pensar no que significaria esta saudação, o que podemos depreender que apesar da perturbação ter sido grande, diz o texto que perturbou-se muito, ela equilibrou-se rápido pois exerceu uma ação que só quem está senhor de si assim faz, pôs-se a pensar. No momento do susto, quem está sob o impacto do medo não pensa, reage simplesmente. Ela teve tranquilidade, oxigenou o cérebro, e buscou compreender o porquê daquela saudação. Como era natural, o anjo a orientou que não temesse, o mesmo já havia acontecido com o marido de sua prima, todavia ela surpreendeu até mesmo o Mensageiro do Senhor, pois o texto não fala que ela temeu, e após a exposição de Gabriel sobre a gravidez maravilhosa por que ela passaria, o que seria mais um motivo de apreensão, ela ao contrário de Zacarias, creu imediatamente, e se inquiriu o anjo a respeito não foi pedindo-lhe provas, mas buscando entender como se daria o processo já que não tivera relações com nenhum homem.
O texto é claro: Como será isto, se eu não conheço homem algum? A partir do momento em que ela pergunta como será isto…? É porque já admitia o fato, sua fé já lhe abastecera, porém ela quis saber mais já que não tivera contato sexual com seu noivo. Podemos com segurança dizer que o que Maria teve foi muita lucidez e naquele momento ela praticou o que Kardec dezenove séculos depois chamaria de fé raciocinada, ela não creu de forma cega, mas tendo a confiança superior, raciocinou, inquiriu e aprofundou seu estado intuitivo. Mostrou que já tinha vindo preparada para sua missão e que era um Espírito superior, acima da média, até mesmo de Zacarias que também fora preparado no plano espiritual, que também era de boa condição moral, mas em quem o nível de esquecimento era maior devido sua menor condição em relação a Maria.
E consumando sua atitude de fé, pois como falaria mais tarde Tiago, a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma3., pôs-se a serviço em nome de Deus dando para todos nós significativo exemplo: Eu sou a serva do Senhor; faça em mim segundo a tua palavra.4
1 Lucas, 1: 5 a 19
2 Lucas, 1: 26 a 34
3 Tiago, 2: 17
4 Lucas, 1: 38
Autor: Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG)
e-mail: fajardo1960@gmail.com

Zacarias e Isabel - O consolador

1. Como se chamavam os pais de João Batista?

Zacarias, que era sacerdote, da ordem de Abias, e Isabel, descendente das filhas de Arão. O casal não tinha filhos, porque Isabel era considerada estéril e ambos estavam avançados na idade. Um dia, exercendo Zacarias o sacerdócio, ele adentrou o templo do Senhor para oferecer o incenso, quando um anjo do Senhor lhe apareceu, em pé, à direita do altar do incenso. Vendo-o, Zacarias turbou-se e teve medo. Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. (Lucas, 1:5 a 1:17.)

2. Que anjo avisou Maria sobre a vinda de Jesus?

Foi Gabriel, o anjo enviado por Deus a Nazaré, na Galileia. Maria havia desposado um homem de nome José, da casa de Davi. Havendo o anjo entrado no lugar onde Maria estava, ele lhe disse:  Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. Vendo-o, ela turbou-se com aquelas palavras, pois não entendia que saudação seria essa. Gabriel, então, lhe disse: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Maria perguntou-lhe: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? Respondendo-lhe, Gabriel lhe disse: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. (Lucas, 1:26 a 1:35.)

3. Por que motivo José teve de ir a Belém da Judeia, numa época em que a gravidez de Maria estava bem adiantada?

A viagem se deu por uma obrigação legal, visto que naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, obrigando a que todos se alistassem. Todos foram, por causa disso, alistar-se, cada qual em sua própria cidade. José, que morava em Nazaré, na Galileia, foi então, com esse propósito, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, porque ele pertencia à casa e família de Davi. (Lucas, 2:1 a 2:7.)

4. Como os pastores que velavam por seu rebanho souberam que ali perto, numa estalagem, nascera o Cristo?

Os pastores foram avisados disso por um anjo do Senhor que veio sobre eles, cercando-os de resplendor, e lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. Os pastores foram, então, até Belém e acharam Maria, José e o menino deitado na manjedoura. (Lucas, 2:8 a 2:16.)

5. Cumpridos os oito dias da purificação, o menino Jesus foi levado aonde? e por quê?

O menino foi levado a Jerusalém, para que, segundo a lei de Moisés, fosse apresentado ao Senhor, pois, segundo o que estava escrito na lei, todo o macho primogênito deveria ser consagrado ao Senhor. (Lucas, 2:21 a 2:24.)

Zacarias e o anjo

Zacarias e o anjo

Richard Simonetti

Conta o evangelista Lucas (capítulo I) que sob o reinado de Herodes, rei da Judéia, há perto de dois mil anos, morava na região serrana, nas proximidades de Jerusalém, o velho Zacarias.

Era um dedicado sacerdote, homem piedoso e nobre, pertencente à turma de Abias, uma das vinte e quatro que, segundo a tradição judaica, serviam no templo, obedecendo a um sistema de rodízio.

Zacarias carregava uma tristeza. Não tinha filhos.

Durante anos implorava a Deus lhe concedesse a graça de acolher um rebento querido em seus braços.

Com a madureza desistira da idéia. Difícil antes, impossível agora. Certamente Isabel, sua esposa, era estéril.

Para os judeus, não ter filhos era uma desgraça, verdadeiro castigo divino. A desonra pesava sobre a mulher que nunca concebera. Podia até ser repudiada pelo marido.

Mas ambos suportavam com paciência a situação e cumpriam seus deveres com retidão, sempre submissos ao Senhor.

Nos Espíritos evoluídos a confiança em Deus não está subordinada ao atendimento de seus desejos. Confiam porque têm plena consciência de que Deus sabe o que faz.

Certa feita, quando chegou a vez de sua turma, Zacarias partiu para Jerusalém. No templo, tirada a sorte, foi escolhido para entrar no santuário.

A multidão aguardava do lado de fora o soar das trombetas que marcava o início das orações.

Para espanto de Zacarias, sozinho no sagrado recinto, surgiu diante dele uma entidade angelical.

Tratava-se de Gabriel, o mais famoso anjo das escrituras bíblicas, chamado pela tradição religiosa de alta categoria.

Além de Zacarias, ele esteve com o profeta Daniel e também com Maria. Provavelmente apareceu em outros episódios bíblicos sem se identificar.

Em linguagem espírita diríamos que Gabriel é um Espírito superior, um dos mais importantes prepostos de Jesus.

Zacarias teve medo, o que revela sua pouca familiaridade com manifestações dessa natureza. Os judeus não estavam acostumados a lidar com os Espíritos.

Diga-se de passagem, caro leitor, raras pessoas não se assustariam. São sempre temidas as "assombrações".

O anjo buscou tranqüilizá-lo:

- Não tenhas medo, Zacarias, porquanto a tua súplica foi ouvida e Isabel, tua mulher, te dará um filho a quem chamarás João. Ficarás feliz e muitos se rejubilarão com seu nascimento, pois será grande aos olhos do Senhor. Não beberá vinho nem bebida inebriante; será cheio de Espírito Santo, desde o seio materno. Converterá muitos dos filhos de Israel ao senhor deles e irá à frente do Senhor no Espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, a fim de preparar para o senhor um povo dedicado.

Gabriel reporta-se à grandeza moral daquele que nasceria como filho de Zacarias e Isabel. Tratava-se de um Espírito experiente, que já vivera muitas encarnações na Terra.

Impossível negar essa evidência.

Equivaleria a admitir que Deus beneficia filhos seus com virtudes que a outros nega, uma flagrante e inaceitável injustiça.

Naqueles tempos recuados homens consagrados ao serviço de Deus se obrigavam a uma existência especial.

Dentre os compromissos que assumiam, estava a abstenção de álcool. Daí a observação do anjo.

Sempre que se volta para a religião o homem é inspirado a preservar a pureza, evitando a taça dos prazeres inebriantes que anestesiam a consciência e afetam os sentidos, simbolizados pelo álcool.

As forças do Bem pedem instrumentos dóceis, equilibrados e puros para que possam se manifestar em plenitude na Terra, derramando bênçãos de esperança e paz para os homens. Zacarias admirou-se.

- Como pode isso acontecer se eu e minha mulher somos velhos e ela, além do mais, sempre foi estéril?

O visitante parece não ter apreciado sua pergunta.

- Sou Gabriel, sempre presente diante de Deus, e fui enviado para anunciar esta boa nova. E porque duvidaste, doravante vais ficar mudo. Não poderás falar, até o dia em que teu filho nascer, visto não haveres acreditado em minhas palavras, que a seu turno se cumprirão.

O povo aguardava Zacarias, estranhando sua demora.

Quando ele saiu sem poder falar, causou estupefação.

Compreendeu-se que algo de muito grave acontecera no santuário.

Zacarias explicou, por meio de sinais, e continuou mudo.

Decorridos os dias de seu ministério sacerdotal, regressou para casa.

Imensa foi sua surpresa quando, tempos depois, confirmando as palavras do anjo, Isabel ficou grávida.

Após nove meses dava à luz um menino forte que, conforme a recomendação, recebeu o nome de João.

Seria conhecido mais tarde como o Batista.

Com o nascimento de seu filho, Zacarias recuperou a voz e pôde relatar melhor sua experiência, rendendo graças a Deus pela dádiva recebida.

Ressalta da narrativa evangélica algo interessante:

Gabriel parece um anjo de pavio curto, que não gosta de ser contestado. Pior, atropelou a justiça ao condenar Zacarias a tão longo mutismo, apenas por manifestar razoável dúvida.

Inadmissível os Espíritos Superiores nos castigarem por pedirmos esclarecimentos a respeito de suas afirmações. Eles orientam, explicam, ajudam, amparam, mas jamais se exasperam e muito menos impõem sanções, ainda que revelemos ceticismo.

Mas é fácil entender o que aconteceu.

As circunstâncias que envolveram o nascimento de João tinham por objetivo chamar a atenção do povo.

Em linguagem atual, com o devido respeito, diríamos que houve uma ação de marketing.

Um sacerdote que ficou mudo após conversar com um anjo, e uma mulher estéril que concebeu em avançada idade, eram acontecimentos marcantes. Fatalmente despertariam interesse, particularmente numa aldeia humilde como aquela onde o casal residia.

Importante que João fosse recebido desde o início como alguém consagrado a Deus.

Importante que o povo se habituasse a ver nele um novo profeta da raça, pois lhe seria confiada a tarefa de preparar o caminho para o Messias, o enviado celeste há séculos aguardado pelo povo judeu. João era Elias de retorno para anunciar o Salvador, cumprindo as profecias.

A experiência de Zacarias lembra algo importante:

Todos temos um anjo de guarda, um mentor espiritual que nos ajuda e ampara na jornada humana.

Um amigo dizia:

- Se é assim, creio que os anjos de guarda lá em casa andam de férias. Meu filho foi reprovado nos exames; minha filha adolescente envolveu-se com um rapaz e ficou grávida; minha mulher bateu o carro; nosso cão foi atropelado por um automóvel e eu, num momento de exasperação, dei um tapa na mesa e fraturei a mão.

Há aqui um equívoco em relação à atuação dos protetores espirituais.

Não é sua obrigação evitar transtornos como:

A reprovação do aluno que não estudou para exames.

A gravidez da jovem que se decide a experimentar o sexo.

O acidente do motorista que dirige com imprudência.

O atropelamento do cão que deixaram na rua.

A fratura da mão de quem dá murros na mesa.

Sua função é inspirar-nos ao bem, ao cumprimento de nossos deveres.

O protetor espiritual é a nossa consciência mais profunda, aquela voz inarticulada que fala no imo de nosso ser alertando-nos:

- Cuidado, aja com prudência. Seja comedido. Olhe por onde anda.

Ele tem poderes para evitar que nos atinjam certos males e o faz freqüentemente, sobretudo em relação à nossa estabilidade física e psíquica. Não fosse por ele e bem maiores seriam nossos problemas.

Mas deixa que colhamos as conseqüências de nossas ações, a fim de que aprendamos com os próprios erros, habilitando-nos ao exercício do discernimento e da prudência.

Assim como a mudez de Zacarias marcava acontecimento auspicioso, muitos males que nos afligem situam-se posteriormente como gloriosos marcos de renovação, que nos estimulam a repensar a existência inspirando-nos a procurar os valores espirituais.

É assim que muitos descobrem as bênçãos do Espiritismo.

É assim que muita gente se aproxima de Deus.

Zacarias

Zacarias

Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - setembro/2004



O evangelista Lucas narra que durante o reinado de Herodes (nomeado pelo Senado em 40 a.C., que tomou Jerusalém em 37 a.C. e morreu no ano 4 antes da era cristã), houve um sacerdote chamado Zacarias, da família de Abias.



A família Abias era a 8ª entre as 24 sacerdotais que funcionavam no Templo de Jerusalém. A cada família cabia uma semana de ministério sacerdotal e por sorteio, o trabalho que diariamente deveria executar cada um dos sacerdotes.



Todos os dias, ao nascer e ao pôr do sol se repetia a cerimônia em que o sacerdote sorteado oferecia o sacrifício do incenso. Era tarefa de tal forma honrosa que era concedida uma vez por semana, somente, a cada sacerdote.


Quando a coluna de fumaça subia, soavam as trombetas festivamente e o povo, do lado de fora, nos átrios do Templo, se prostrava com o rosto em terra, em reverência.



Zacarias, cujo nome significa "lembrança ou recordação de Yaveh", vivia nas montanhas da Judéia. Tinha por esposa Isabel (em hebraico Elisheba, a adoradora de Deus ou obra de Yaveh) que o evangelista informa ser descendente de Arão.



Naturalmente, trata-se de uma alegoria, pois que se na atualidade, com todos os registros, raramente se conhece os ascendentes além da terceira geração (pais, avós, bisavós), imagine-se àquela época, ter-se a informação de 1.500 anos antes, tempo em que viveu Arão, "o iluminado".



Em idade avançada, continua Lucas, Zacarias não tinha descendentes e a esterilidade era atribuída à sua mulher. Homem justo, obediente aos mandamentos e preceitos do Senhor, entristecia-o a falta de filhos, mesmo porque, aos olhos daquele povo, o fato era tido como sinal de que a união não fora abençoada pela divindade.



Certo dia, coube a Zacarias o sacrifício da manhã, no Templo. Estava sozinho, ao pé do altar. Deitava sobre o braseiro o incenso e, enquanto subia a fumaça, orava.



Tudo era silêncio e sua alma parecia alçar-se, exatamente como a fumaça do braseiro. De repente, do lado nobre do altar, o direito, "que ficava na direção sul, onde estava o candelabro de sete velas, símbolo místico da luz", apareceu um vulto aureolado de vivos fulgores.



Se Zacarias o viu pela vidência mediúnica ou se o mensageiro espiritual se materializou, fazendo-se desta forma, visível, não se sabe.



Estremece o sacerdote, mas o espírito o tranqüiliza, transmitindo-lhe o recado de que será por sinais que lhe indagarão qual deverá ser o nome do menino.



O povo se inquieta do lado de fora. Zacarias se demora em demasia no cerimonial. Finalmente, quando sai, não profere as palavras ritualísticas habituais. Interpretam as pessoas por seus gestos, que ele tivera uma visão.



Ao terminar as suas funções sacerdotais, Zacarias se recolhe à sua residência, dando-se a concepção de Isabel, na seqüência.



Chegado o tempo de dar à luz, narra o evangelista Lucas que Isabel teve um filho e, ao oitavo dia, quando o vieram circuncidar, como ela afirmasse que se deveria chamar João, perguntaram ao pai, que escreveu em uma tabuinha: "João é seu nome".



Naquele momento, ele recomeçou a falar. Cheio de um espírito santo, ele agradece ao Altíssimo pela misericórdia e, depois, de forma resumida, repete as palavras dos profetas Malaquias e Isaías, que se referem àquele que aplanaria os caminhos de Yaveh.



A partir de então, enquanto o menino cresce e se torna adulto, nada mais se fala do sacerdote Zacarias.



Bibliografia:
01. PASTORINO, C. Torres. Zacarias e Isabel. In:___. Sabedoria do evangelho. Rio de Janeiro: SABEDORIA, 1964. v. 1.
02. ______. Predição do nascimento de João. Op. cit.
03. ______. Nascimento de João. Op. cit.
04. ______. O cântico de Zacarias. Op. cit.
05. ROHDEN, Huberto. Estrela d'Alva. In:___. Jesus nazareno. 6.ed. São Paulo: União Cultural. v. 1, cap. 1.
06. SALGADO, Plínio. Zacarias e Isabel. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: VOZ DO OESTE, 1978. pt. 1, cap. 4.
07. VAN DER OSTEN, A . José. In:___. Dicionário enciclopédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985, verbete Zacarias.