segunda-feira, 28 de novembro de 2011

INSTRUÇÕES AOS EMISSÁRIOS – PARTE III



Mat. 10:24-33

24. "Não é o discípulo mais que seu mestre,
nem o servo mais que seu senhor:
25. basta ao discípulo ser  como o seu mestre e
ao servo como o seu senhor. Se chamaram
Beelzebul ao dono da casa, quanto mais (o
farão) aos seus domésticos!
26. Portanto, não os temais: pois nada há de
encoberto que não venha a descobrir-se,
nem de oculto que não venha a saber-se.
27. O que vos digo às escuras, dizei-o na luz; e o
que ouvis aos ouvidos, proclamai-o nos telhados.
28. Não temais os que matam o corpo, mas não
podem matar o alma; temei, antes, o que
pode fazer perder tanto a alma como o corpo no vale das lamentações.
29. Não se vendem dois passarinhos por um
centavo? e nenhum deles cairá no chão sem
vosso Pai.
30. E até os cabelos de vossa cabeça estão todos
contados:
31. Não temais, pois: mais valeis vós que muitos
passarinhos.
32. Portanto todo aquele que me aceitar diante
dos homens, eu também o aceitarei diante
de meu Pai que está nos céus;
33. mas aquele que me rejeitar diante dos homens, eu também o rejeitarei diante de meu
Pai que está nos céus.


Nesta terceira parte, que intitulamos "encorajamentos", encontramos, em forma sentenciosa, três recomendações de coragem, iniciadas com as palavras “não temais".
A fórmula inicial salienta que um discípulo não deve pretender tratamento superior ao que teve seu
mestre, nem o servo ser mais bem tratado que seu senhor. A verdade é evidente. Muito felizes deverão
julgar-se discípulos e servos, se conseguirem tratamento semelhante ao do mestre e ao do senhor.
Lucas apresenta uma particularidade: o discípulo  não é mais que seu mestre, mas todo discípulo diplomado (katÍrtismÈnos, particípio passado passivo de katartÌzÙ, isto é, que foi aparelhado, preparado,
formado, ou seja, diplomado), é como (é igual) a seu mestre.


Depois vem o exemplo: chamaram o Mestre de Beelzebul. Essa palavra desorientou os exegetas durante séculos. Nessa forma aparece nos manuscritos, e significa literalmente "senhor do fumeiro"; não
deve ser confundido com Beelzebub,  “senhor das moscas", a quem Ozonias (2.º Reis 1:6) mandava
consultar em suas dificuldades. Na época de Jesus, Beelzebul tinha o sentido genérico de “ídolo", isto
é, de culto a uma divindade falsa; então, Beelzebul era o falso profeta, o falso sacerdote. Se assim
chamaram o "dono da casa", quanto mais o farão a seus familiares! ...
Até hoje vemos esse epíteto aplicado, mesmo dos  púlpitos, aos que seguem os lídimos preceitos de
Jesus. E o próprio ato de sermos assim denominados, constitui para nós a maior glória, pois vem provar à saciedade que, segundo a predição de Jesus, nós realmente somos seus seguidores, seus discípulos, pois recebemos o mesmo epíteto que Ele.
A argumentação é feita nos moldes rabínicos, da menor para a maior (a minori ad majus, na fórmula
silogística da Escolástica).
Por que temê-los?
Depois aparece uma sentença axiomática, também repetida: tudo o que se esconde, há de aparecer à
luz; e as malevolências dos homens, tenham ele que títulos tiverem e atribuam-se a autoridade que
quiserem, tudo se virá a saber a respeito da verdade. Podem eles intitular-se a si mesmo delegados,
embaixadores e representantes de Deus, mas suas credenciais estão assinadas por eles mesmos, e portanto nenhum valor real apresentam, porque lhes falta a chancela da Divindade. Tudo isso, que é escondido, virá a ser publicado.
A seguir uma advertência baseada no costume da época. O pregador, denominado darshan, não discursava na sinagoga aos sábados em voz alta: falava a meia-voz ao intermediário chamado amor‚ ou turgem‚n, e este é que repetia  em voz alta o que o  darshan lhe comunicava (cfr. Strack e Billerbeck,
Kommentar zum neuen Testament aus Talmud und Midrash: Das Evangelium nach Matth., Munchen,
1922, tomo 1, pág. 579; citado por Pirot, o.c.). Assim diz Jesus, que o que lhes é dito às escuras, deve
ser proclamado na luz; isto é, o que é dito simbolicamente, deve ser explicado com clareza, e tudo o
que for oculto deve ser traduzido à luz; e o que for dito aos ouvidos, deve ser gritado dos telhados.
Prende-se esta última frase também a um hábito da época: o hazzan subia, às sextas-feiras, ao telhado
mais alto da aldeia e tocava a trombeta, para avisar a todos os camponeses que se recolhessem para
respeitar o sábado.
Justamente pela explicação clara desses ensinamentos secretos vem a humanidade esperando há quase
dois mil anos. Com a ajuda do Pai, eles estão sendo trazidos aos poucos, infelizmente ainda de modo
deficiente, por incapacidade dos intérpretes.
Aparece o segundo conselho de coragem. Aqui encontramos a oposição entre sÙma (corpo) e psychÍ
(alma). Não devem temer-se os que só tem o poder de matar o corpo (sôma) , mas não no possuem
para matar a alma (psychê), ou seja, desviá-la do rumo certo, levando-a para o anti-sistema, para o
pólo negativo.
Em numerosos lugares, tanto do Antigo como do Novo Testamento, aparecem como ações opostas as
locuções "matar a alma" e "salvar a alma". A alma (psychê) é o corpo astral que plasma o corpo físico
na reencarnação e aparece, no físico, sob a forma de sangue (Deut. 12:23). A distinção entre "matar o
corpo” (sÙma) e "matar a alma” é bem clara nas Escrituras. Quem mata o corpo apenas destrói o veí-
culo mais denso, mais grosseiro, mas, com isso, não afeta o corpo astral (a alma), já que esta prossegue
sua mesma vida em outro plano de vibrações e, de modo geral, não é prejudicado senão por perturba-
ção momentânea pois de qualquer forma dirimiu um carma que o alivia de dívidas do passado. Por
tudo isso, a alma se vê "salva" da garra dos perseguidores. Já a "morte da alma" se apresenta sob outros aspectos muito mais graves. É atingido o próprio corpo astral, que se perturba profundamente e, ao
chegar ao outro plano de vibrações, permanece desequilibrado de tal forma, que só novo mergulho no
"vale das lamentações" (na reencarnação terráquea) poderá reequilibrá-lo através do esquecimento
temporário. No entanto, a reencarnação desses que se encontram "mortos" nesse estado é terrivelmente
dolorosa, pois que, pelo próprio desequilíbrio, construirão corpos físicos deficientes, defeituosos, ou
pelo menos com os neurônios cerebrais disrítmicos, o que lhes causará sérias perturbações mentais e

até demência. Por tudo isso, compreende-se que a morte do corpo físico não é temível, mas a da alma é
de consequêncías desastrosas, e por isso deve ser temida: "teme: os que podem fazer perder tanto a
alma quanto o corpo no vale das lamentaçães”, perdidos no escuro cárcere da loucura que afeta tanto o
corpo como a alma.
No entanto, a Providência do Pai que em todos e em tudo habita, está sempre atenta a tudo, e nada nos
acontecerá sem Ele. O texto grego ·neo tou patrÛs humÙn, que literalmente significa "sem vosso Pai",
pode ser entendida nesse sentido preciso (que preferimos): nada ocorre sem o Pai que está dentro de
tudo e de todos (cfr. Ef. 4:6 e 1 Cor. 15:28), e que constitui a essência ou substância ultérrima de tudo
o que existe; ou b) “fora de vosso Pai". pois nada existe fora Dele, já que Nele estamos mergulhados
integralmente. Nele nos movimentamos, Nele existimos (cfr. At. 17:28); ou c) interpretando-se o sentido: "Sem o consentimento ou a vontade de vosso Pai”.
Se o Pai está em nós e nós estamos no Pai, que temer? Tudo o que ocorre conosco, ocorre juntamente
com o Pai que nos acompanha a cada segundo, e nada ocorre a nós sem que o Pai nos acompanhe amoravelmente. Até os pardais, que quase nada valem, não caem ao chão sem Ele; até os fios de cabelo de
nossas cabeças; que estão todos contados pelo Pai, não caem sem Ele. E uma criatura humana, que
muito mais vale, como poderia qualquer coisa ocorrer-lhe sem a coparticipação do Pai? É ainda o raciocínio a minori ad majus; se não cai um cabelo nosso, como ocorreria uma enfermidade ou morte sem
que isso ocorresse com o Pai, a Seu lado dentro Dele.
Não adotamos as traduções "sem o consentimento" do Pai nem, menos ainda, "sem a vontade" do Pai,
para não falsear a idéia expressa por Jesus. Essas duas expressões dariam a falsa impressão de que um
Pai externo e pessoal estaria deferindo requerimentos, dando uma permissão exterior para que uma
desgraça atingisse ou não seus filhos, enquanto Ele ficaria "de fora”, a olhar passivamente os extertores de dor das criaturas. E menos ainda a "vontade" do Pai, que faria que o imaginássemos como um
sádico a gozar com o sofrimento das criaturas,  sofrimento planejado e desejado pela vontade Dele.
Essa tradução plasmou erradamente a mentalidade geral durante milênios, e ainda hoje ouvimos: "Fulano ficou aleijado ... foi a vontade de Deus”: ou então: "Fulano foi roubado ... foi a vontade de Deus";
e coisas piores, como se Deus, o Pai Amoroso e Bom, fora um malfeitor criminoso que só quisesse
desgraças. Porque se algo de bom e agradável acontece, ninguém diz que “foi vontade de Deus", ao
contrário: o que é bom é atribuído à sorte da criatura, à sua competência, à justiça, e até ao acaso, mas
jamais à vontade de Deus. Esta só ocorre nos acontecimentos tristes e dolorosos. Para a massa, Deus
ainda é "o vingador" do tempo de Moisés. No entanto, pelo ensino de Jesus, aprendemos o contrário: o
Pai é a Alegria, a Felicidade, a Bondade, e só quer o Bem de seus filhos; se algo de mal ocorre, é provocado por nossos erros, como consequência de nossas investidas contra a Lei. Ora, quem bate com a
cabeça num muro de pedra, quebra a cabeça por vontade própria, não por vontade de Deus. Ele construiu o muro de pedra da Lei para guiar a humanidade, e leva todos a obedecerem à Lei para não se
ferirem nas pedras, sendo até mesmo beneficiados  e defendidos por essa muralha granítica. Mas se
alguém, por ignorância ou maldade, teima em investir contra o muro, Ele não tem culpa, não é por Sua
vontade que isso ocorre. As consequências são colhidas pela criatura que cometeu o erro, e exclusivamente por culpa própria, porque quis.
A conclusão é dada com a "maior" “vós valeis mais que muitos passarinhos".
Lemos depois a sentença que finaliza esta parte do discurso, e que constitui uma ilação de tudo o que
foi dito. O raciocínio caminha com impecável lógica.
a) o discípulo não é mais que o Mestre;
b) se perseguiram o Mestre, perseguirão o discípulo;
c) não obstante, coragem! preguem a doutrina; já que
d) os inimigos só poderão prejudicar o corpo,
e) mas nada acontece fora do Pai, nem a um passarinho;
f) ora, os discípulos valem muito mais,

g) então aceitem esse Mestre, apesar dos sofrimentos.
As traduções correntes transladam o verbo grego homologÈÙ por "confessar". Realmente, pode apresentar-se esse sentido. Mas o significado português atual de confessar pode dar idéia de "contar os pecados a um sacerdote ou seus erros a um juiz". E esse não é o significado desse verbo, que, etimologicamente exprime: "falar" (logÈÙ) "a mesma coisa" (homo), e portanto, "concordar, estar de acordo,
reconhecer, aceitar". Preferimos o último, por  causa da oposição com a segunda parte do dístico:
"aceitarei, quem me aceitar; rejeitarei, quem me rejeitar”.
O princípio ensinado é claro: é o discípulo que escolhe o mestre e se entrega à sua formação. Se ao
professor fosse dado escolher seus discípulos, seria ótimo; mas a ele só cabe ser escolhido pela preferência de quem nele confia e lhe quer ouvir os ensinos. Portanto, a lógica ainda continua precisa: se
alguém O aceitar, será aceito por Ele; mas se O rejeitar, por Ele será rejeitado.
As frases do ensino tornam-se cada vez mais incisivas.
A diferenÁa entre individualidade e personalidade È aqui realÁada com todo o vigor.
Jamais poder· pretender a personalidade transitÛria superar ela mesma o nÌvel da individualidade.
Em relaÁ„o a esta, a personalidade È um discÌpulo diante de um mestre, uma escrava perante seu senhor, e n„o lhe cabe outro recurso sen„o abaixar a cabeÁa, "renunciar a si mesma" e, carregando sua
cruz por ela mesma construÌda, seguir no rumo da espiritualizaÁ„o. Mais tarde vir„o outros conhecimentos em apoio: sÛ quem der preferÍncia absoluta ‡ individualidade poder· dizer-se discÌpulo (Mat.
10:37). Por enquanto, est· firmado o princÌpio da superioridade de uma sobre a outra, sem possibilidade de enganos. Por mais que se esforce, a personalidade poder·, no m·ximo, quando j· "diplomada", igualar a individualidade atravÈs do conhecimento que lhe advÍm exatamente da sabedoria profunda da prÛpria individualidade, sua mestra inequÌvoca.
Quem coloca a personalidade acima de seu "mestre e senhorî o EspÌrito, o Cristo Interno, ainda se
encontra bastante atrasado na estrada da evoluÁ„o no perÌodo da construÁ„o de suas cruzes, ‡s quais
autom·tica e sucessivamente vai ficando preso, tendo que carreg·-las posteriormente atÈ o cimo do
Calv·rio.
Ora, enquanto o Cristo Interno se acha crucificado na matÈria, trilhando a dura, ·rdua, Ìngreme e
pedregosa estrada para o GÛlgota, ter· que passar pelas Forcas Caudinas do sofrimento; e como se
acha entre "espÌritos" muito materializados, que nem sabem o valor do EspÌrito, ter· que suportar a
perseguiÁ„o do meio ambiente que o acolhe. Acha-se assim elucidada a frase: "se o mestre e senhor
(EspÌrito, Cristo Interno) È chamado Beelzebul (senhor do fumeiro, isto È, chefe das trevas, da ignor‚ncia), muito mais o ser„o os seus familiares" (ou domÈsticos), que s„o seus veÌculos, e em primeiro
lugar seu intelecto que governa toda a sua personalidade. Quer isto dizer que a perseguiÁ„o movida
pelo mundo material ao EspÌrito, sÍ-lo-· tambÈm aos veÌculos daqueles que servem ao EspÌrito, como
seus discÌpulos e servos.
No entanto, toda essa perseguiÁ„o movida pela matÈria (diabo, satan·s) ao EspÌrito, no planeta em
que vivemos, ser· tempor·ria: "nada h· encoberto que se n„o descubra". Se nas condiÁıes atuais o
EspÌrito est· oculto sob a matÈria, ele vir· a descobrir-se, manifestando-se radiantemente ao prÛprio
mundo. E a massa humana ir· aos poucos encontrando-o dentro de si mesma. Para isso, requer-se
tempo, n„o contado em dias e meses, mas computado em sÈculos e milÍnios. "Tudo o que est· oculto,
vir· a saber-se", e por isso a ˙nica parte real da vida (o Cristo) ser· conhecido de todos .
Caber·, pois, aos discÌpulos e continuadores da obra de Jesus (da individualidade) ensinar ‡s massas
o Segredo do Reino, falando claramente o que Ele revelou sob o vÈu da simbologia mÌstica, explicando Seus ensinamento, em Època futura mais preparada para recebÍ-Lo. Melhor dito: o que cada criatura evoluÌda ouviu em segredo, silenciosamente,  ensinado por seu Cristo Interno residente em seu
coraÁ„o, ela dever· proclam·-lo a todos os ventos, na hora oportuna.


Recordemos: "Tenho ainda muito que vos dizer, mas n„o podeis suport·-lo agora; quando vier porÈm
o EspÌrito verdadeiro, ele vos guiar· a toda verdade, porque n„o falar· por si mesmo, mas dir· o que
tiver ouvido, e vos anunciar· coisas futuras" (Jo„o, 16:12-13).
Ent„o, nada de mistÈrios nem de "segredos ocultos" sÛ para iniciados: devemos divulgar "por cima
dos telhados" tudo o que formos aprendendo.
Chega, a seguir, a advertÍncia de coragem: nada do que ocorre ‡ personalidade, de bem ou de mal,
atinge a individualidade, o Eu profundo. Se algum mal È feito ‡ personalidade de Fulano, sÛ a personalidade de Fulano sofrer· com isso, pois o Eu profundo È inatingÌvel. Mas aqueles que podem obrigar o "espÌrito" a reencarnar no "vale das lamentaÁıes" (a Terra), esses devem ser temidos. Fugir dos
que chegam a nÛs, obrigando-nos a com eles criar carmas dolorosas para o futuro.
E finalmente a certeza da vitÛria: os passarinhos, os cabelos, tudo est· no Pai, e jamais coisa alguma
poder· ocorrer sem o Pai, que reside dentro de nÛs, que constitui nosso Eu mais profundo. Por que
temer? O Pai est· conosco, em redor de nÛs, dentro de cada um de nÛs, e nÛs estamos mergulhados no
Pai como peixes no oceano: nada nos acontecer· sem o Pai. Ent„o, "n„o temais"!
Todavia, h· importante pormenor a considerar. Toda criatura que "diante dos homens., publicamente,
aceitar seu EspÌrito, seu Cristo Interno, ser· aceita e recebida em uni„o com Ele, "diante do Pai que
est· nos cÈusî, isto È, que babita dentro de nÛs, e portanto ser· feita a uni„o mÌstica. Mas quem, "diante dos homens" rejeitar sua prÛpria individualidade, preferindo viver a vida ilusÛria da personalidade, ser· rejeitado "diante do Pai" e n„o poder· realizar a unificaÁ„o mÌstica.
Est·, pois, neste passo, bem esclarecida a quest„o da graÁa e do livre-arbÌtrio, t„o discutida h· milÍ-
nios, e j· resolvida em duas frases lapidares pelo Mestre Incompar·vel. Se o movimento partir do livre-arbÌtrio do homem (aceitar o Cristo Interno ), o Cristo Interno aceitar· a criatura (graÁa) diante
do Pai (com a uni„o mÌstica). Mas essa graÁa n„o poder· descer atÈ o homem que a rejeitar livre e
espontaneamente. Portanto, a rejeiÁ„o È provocada pela personalidade, que em primeiro lugar rejeita
o Cristo Interno, mergulhada e gozosa que est· com a matÈria em que se rebolca. … a velha exemplificaÁ„o do copo: se o colocarmos debaixo de uma bica aberta, mas emborcado de boca para baixo, ele
n„o poder· ficar cheio; mas se o colocarmos de boca para cima, ele se encher· das bÍnÁ„os da ·gua
que dessedenta.





A REALIDADE DA ALMA


CAP. I: A REALIDADE DA ALMA

O conhecimento que o ser humano pode ter, da realidade da alma, constitui a informação mais importante que venha a adquirir em toda a sua existência, pois inúmeras pessoas desconhecem que, além do corpo físico, cada um tem uma alma imortal que dirige os seus atos. E mesmo os que dizem saber que o ser humano é formado de corpo e alma, desconhecem sua participação na vida humana e que a mesma se manifesta pelo pensamento, pela inteligência, pelo senso de responsabilidade, pelo caráter, pela consciência, pela vontade, pelo livre-arbítrio, pela intuição e pelo anseio, muitas vezes oculto, de ser útil aos seus semelhantes.

A aquisição desse conhecimento pode trazer um enriquecimento do seu ser, advindo-lhe o reconhecimento da unidade da Criação e da responsabilidade pela sua própria existência, e o amor que deve dispensar a todos os seres da Natureza e, especialmente, às criaturas humanas, independentemente de sua idade, raça, condições sociais, econômicas e do seu próprio estado físico. Todo ser humano é uma alma vivente que se identifica pelos seus atributos próprios e não pela sua aparência física ou pelos seus adornos exteriores.
A alma é um ser de constituição energética que apresenta a forma do ser humano, amoldado-se à sua idade, sexo e às características do corpo ao qual imprime sua vitalidade. Tem a individualidade e a grandeza que lhe facultam vida plena, quando se encontra na espiritualidade, ou na condição de estar vivificando um organismo biológico, participando na constituição do ser humano. Nessa situação, a alma comanda todas as atividades da vida humana.

Alma é a denominação dada por Allan Espírito encarnado, como está em O Livro dos Espíritos, página 100, item 134. Essa denominação é simplesmente didática, visto que alma e Espírito designam a mesma entidade, respectivamente, quando está encarnada ou quando se encontra no mundo espiritual . O ser humano, em sua evolução cronológica, tem seu corpo físico vinculado às leis condicionado a uma existência limitada que vai desde o nascimento até a morte. E a alma, que participana formação do seu organismo, pela sua condição de imortalidade, preexiste à formação do corpo, e continua sobrevivendo na espiritualidade depois da desintegração do mesmo.

Na sua evolução antropológica através dos tempos, o organismo humano recebeu a atuação da espiritualidade, ainda na fase pré-anímica de sua formação, preparando o seu corpo para receber a participação da alma como constituinte do ser humano. A conjunção da alma com o organismo já diferenciado do antropóide primitivo constitui o fenômeno mais importante que ocorreu em toda a história da formação do ser humano.

Esse fenômeno tornou possível à alma participar de todos os atos da vida humana e, deste modo, poder atuar positivamente sobre os neurônios encefálicos, desde o momento de sua formação embrionária no interior do útero materno, promovendo o seu aprimoramento a planos progressivamente mais elevados, de modo a possibilitar ao ser humano alcançar cada vez mais, embora lentamente, todo o potencial de energias intelectuais que lhe estão reservadas.

1 - A Alma Segundo a Bíblia

Sua criação e sobrevivência são mencionadas na Bíblia, constando do Gênesis que "o homem foi feito alma vivente" (Gê 2, 7), visto que "criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou". (Gê l, 27) A mensagem segundo a qual "o homem foi feito alma vivente", tem um significado muito importante, evidenciando que o ser humano deve pensar e viver como alma encarnada e não pelos atributos inerentes ao seu corpo físico.

Da alma sabemos, ainda, que desfruta do privilégio da imortalidade, como consta da afirmação contida nos Salmos: "tu, Senhor, livraste a minha alma da morte." (SI 116,8) Do mesmo modo, Jesus lembra que a alma é imortal, afirmando: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma". (Mt 10,28)
Falando sobre a alma, Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, página 25, 2° parágrafo, reúne esses dois conceitos, o da existência e o da imortalidade da alma, dizendo que na formação do ser humano há a participação do corpo físico e da alma ou Espírito, afirmando que "o Espírito é o elemento principal dessa união, pois é o ser pensante e que sobrevive à morte, do que um acessório do Espírito, roupagem que ele abandona depois de usar".
Não obstante esteja aparentemente oculta no organismo, a alma é responsável pelas ações boas ou más praticadas pelo ser humano, devendo responder pelas mesmas na espiritualidade ou em vidas futuras.
2 - RESPONSABILIDADE DA ALMA

No Evangelho de São Marcos sobre a conduta das pessoas que, desviadas do bem, podem ser danosas à própria alma, aconselhando o desapego dos valores transitórios da vida, dizendo: "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder sua alma ?" (Mc 8, 36). Essa mensagem de São Marcos nos faz pensar que o ser humano passa pela vida entretido em preocupações frívolas, sua alma terá que enfrentar as conseqüências de uma vida desperdiçada.

Os diferentes caracteres psicológicos, que qualificam o ser humano, não são determinados por peculiaridades dos seus órgãos físicos, da sua aparência e constituição, mas pelos atributos da alma, que participa em todos os atos da vida. Desse modo, uma pessoa não se torna um cientista porque recebeu hereditariamente circunvoluções cerebrais diferenciadas nesse sentido, mas porque a sua alma é dotada das qualidades de cientista.

Esse conceito está de acordo com o que ensina Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, página 198, item 370: "O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos". Sendo a alma responsável pelo pensamento, pelo livre-arbítrio, pela conduta das criaturas, é natural que possa exercer influência não apenas sobre seu comportamento, mas também sobre as células do organismo, condicionando os seus estados de saúde ou de doença.

Respeitadas as leis de hereditariedade, a alma atua como Modelo Organizador Biológico do organismo, como afirma Hernani Guimarães Andrade no livro Espírito, Perispírito e Alma, página 54, 2° parágrafo, sendo "capaz de atuar sobre a matéria orgânica e provocar-lhe o desenvolvimento biológico". Essa atuação realiza-se desde a fase de formação da célula-ovo e durante toda a vida do ser humano. Desse modo, a alma é um ser atuante que pode agir continuamente sobre o organismo, vivificando-lhe as células, promovendo a saúde e o bem-estar.

A alma exerce, ainda, importante contribuição à vida humana por conter, no perispírito, o arquivo da memória dos fatos ocorridos em vidas passadas e que se somam aos adquiridos na presente existência. Em virtude de sua natureza espiritual, e na condição de estar vivificando um organismo biológico, a alma realiza, em cada criatura, o encontro entre o humano e o divino.
Como espírito encarnado, o ser humano tem sua dignidade e deve ser respeitado, não obstante a situação em que possa encontrar-se e as faltas que tenha praticado. É um ser em fase de evolução, a caminho do seu aprimoramento, ainda que esteja passando por situações menos dignas. Na prática, cada pessoa pode conduzir livremente sua vida, procurando praticar o bem e desfrutar condições progressivamente melhores, ou optar por uma conduta menos edificante para si mesma, em relação aos demais seres humanos.

O importante é que, diante desses acontecimentos, a alma participa, consciente ou inconscientemente, de todos os atos da vida, e as ações boas ou más que tenha praticado são registradas no arquivo perispiritual e se enquadram na lei de reciprocidade ou de causas efeito e suas consequências, respectivamente, boas ou más, retornam para o mesmo ser, nesta vida ou em vidas futuras, porque as existências são solidárias umas com as outras. As boas ações voltam sob a forma de alegria, saúde e bem-estar, e, as más, como diferentes modalidades de sofrimentos.

3 - RECONHECIMENTO DA ALMA

Nos tempos atuais, há um número crescente de pessoas que procuram dedicar-se à vivência interior,por meio de diferentes recursos, como os religiosos, esotéricos, meditação, grupos de estudo, retiro espiritual e práticas orientais, que a par da realização dos seus anseios, podem levar, ao auto-reconhecimento da alma.

Entre os que se dedicam aos estudos orientais, é comum a prática da meditação através de uma auto-análise, que consiste em dar um mergulho no seu eu interior, num trabalho lento e gradativo que leva ao reconhecimento de sua própria individualidade. Podem, assim, ser descortinadas suas diferentes qualidades, suas aspirações mais íntimas, encontrando as raízes que levam ao reconhecimento do seu ser.

A identificação da alma pode ocorrer espontaneamente nas situações que nos colocam diante de pessoas ou de fatos que fazem lembrar imagens ou situações que já teríamos conhecido em existências pregressas. Seriam lembranças vagas, subliminares, de vidas passadas. Do mesmo modo, esse conhecimento pode ser revelado por pessoa dotada de capacidade mediúnica, durante consultas espirituais seriamente conduzidas.

Ainda, entre os recursos que levam ao reconhecimento da própria alma, não se pode deixar de reconhecer a importância da regressão da memória a vivências passadas, capaz de evidenciar a participação da própria pessoa, vivendo em outras condições, com a mesma individualidade, em épocas diferentes.

Essa modalidade de pesquisa, a par de sua finalidade médica, para o diagnóstico e tratamento de doenças decorrentes de distúrbios da alma, permite chegar a duas importantes conclusões: a da imortalidade da alma, constatada pela continuidade da vida através das gerações, e a da veracidade da reencarnação, em que a mesma criatura participa de organismos distintos em épocas diferentes.
O reconhecimento da imortalidade da alma pode dar, a cada um, um incentivo para as diferentes atividades da vida, levando o ser humano a utilizar seu livre-arbítrio para realizar positivamente a vivência do amor, a prática de boas ações.
4 - DESLIZES DA ALMA

Muitas vezes o ser humano é levado a cometer deslizes, quer seja na satisfação de prazeres supérfluos, ou procurando acumular, indevidamente, bens materiais, cometer ações agressivas ao próximo, ou procurando alcançar, sem merecimento, o poder e a supremacia sobre os seus semelhantes.
São ações que decorrem basicamente da pouca evolução espiritual ou por não ter tido a oportunidade de ser educado nos moldes dos valores que enaltecem a vida humana. Analisando o conceito popular segundo o qual as pessoas podem cometer deslizes porque a carne é fraca, Allan Kardec no livro O Céu e o Inferno, 85, 3° parágrafo, diz: "A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos.
A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito que é o ser pensante e de vontade própria".
São inúmeras as faltas que os seres humanos cometem, marcadamente pela agressividade tão generalizada, em suas diferentes formas, e que culmina em agressões coletivas e guerras de extermínio.

São ações próprias de almas que ainda não tiveram a oportunidade de assimilar o conteúdo básico do segundo mandamento da Lei de Deus, de amar ao próximo como a si mesmo. Por falta de aprimoramento espiritual, os seres humanos ainda não compreenderam o significado da vida e a oportunidade que desfrutam de realizar-se como almas viventes, para alcançar planos progressivamente mais elevados na escala da evolução.

5 - Correlação com o Cérebro

O cérebro, apesar das aparências, não é o criador dos pensamentos, mas um recurso para a sua manifestação, sendo igualmente responsável pela manifestação de outros atributos da alma, como a vontade, o querer, a determinação, a intuição e a consciência. Para que o cérebro possa desempenhar plenamente suas atribuições, é necessário que esteja em perfeito estado, tanto em sua estrutura anatômica como em suas condições fisiológicas, sem comprometimentos que possam prejudicar a livre manifestação de suas funções.

Entre os fatores que comprometem a massa encefálica, podem estar presentes os acidentes vasculares cerebrais, os tumores, as infecções como a encefalite e a meningite, os traumatismos cerebrais, o uso de drogas ou substâncias que agridem a célula nervosa, bem como os distúrbios congênitos e hereditários. As diferentes modalidades de conhecimento, que adornam a personalidade humana, são importantes, mas podem ser supervalorizadas, levando à vaidade intelectual e ao orgulho altamente prejudiciais ao entendimento da realidade da alma.

Para o reconhecimento dessa realidade, são dispensáveis conhecimentos de alta sabedoria, pois esse é um campo em que os simples e os sábios se identificam. Esse conhecimento, que no passado era revelado apenas a alguns iniciados, começa a ser devendado por um grande número de pessoas, visto que a humanidade se encontra no limiar da realidade, e nada pode manter-se oculto no alvorecer da nova era que se aproxima, a Era do Espírito.
Esse conceito está de acordo com o que consta no Evangelho, que "nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se". (Mt 10, 26)
6 - INDAGAÇOES SOBRE A ALMA
Quem sou eu ? Como conhecer e identificar este ser que está em mim? São perguntas que inquietam os seres humanos desde remota antiguidade. Para se chegar ao conhecimento desta verdade é necessário despojar-se das vaidades intelectuais e se tornar como criança, que se encontra numa fase da vida mais propícia para as manifestações da alma na vida humana. Essa afirmação se identifica com o ensinamento de Jesus quado afirma: "Se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus". (Mt, 18, 3)
Durante a infância, o ser humano tem o dom de expandir as peculiaridades de sua alma, recentemente chegada do reino espiritual e pode, mais facilmente, relatar fatos ocorridos na vida pregressa. E como ainda não assimilou a influência psicossocial do ambiente em que vive é, frequentemente, mais simples e humilde, qualidades enaltecidas por Jesus ao afirmar que "aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus". (Mt 18, 4)

A vivência da realidade da alma se caracteriza pela valorização dos bens espirituais e pelo desprendimento das preocupações voltadas para os bens transitórios da vida. O amor é o recurso para que o ser humano possa viver a realidade da alma, o requisito essencial para que possa alcançar a vida plena como ser vivente. A senda espiritual de cada um é percorrida individualmente, mesmo que esteja participando de treinamentos, em grupos de estudos, ou frequentando as mesmas instituições religiosas, visto que os seres humanos são almas que apresentam graus diferentes de evolução, e têm experiências próprias, individuais e indivisíveis.
E, à medida que vão alcançando graus mais sensíveis de consciência, cada um vai se capacitando para alcançar estados progressivamente mais elevados de percepção espiritual. Mas a fase primeira, para se alcançar o conhecimento da realidade da alma, consiste em admitir sua existência, como parte integrante do organismo humano, responsável pelos seus atributos psíquicos e espirituais, e pelos atos da vida diária.

7 - A Alma Segundo Sócrates

A exploração do mundo interior teve em Sócrates um dos seus mais brilhantes adeptos, e a humanidade teve nesse homem um dos seus mais insignes pensadores. Sua atenção esteve sempre voltada para os problemas que preocupavam particularmente os jovens, a Política e a Moral. Ele viveu em Atenas, no período de 399 a 470 a.C., sendo considerado um dos maiores filósofos gregos, homem de singular sabedoria, de retidão de caráter e de devotado amor à Justiça e aos seres humanos.

Para ele não havia verdadeira filosofia se o homem não se voltasse, reflexivamente, para si mesmo. Suas idéias levavam a uma moral individual, baseada na essência espiritual de cada ser humano, alicerçando a conduta de cada um na plena consciência responsável. Mas, em sua época, os homens estavam voltados para uma falsa política democrática, e consideravam que suas idéias poderiam ser prejudiciais aos jovens que o seguiam com fervor.

E, esse homem que teve por seguidor um contemporâneo como Platão, foi acusado de corromper a mocidade. A razão de Sócrates é a razão que duvida, que investiga e que leva cada um a ter as suas próprias convicções. A bem da verdade, Sócrates não se marginalizou da sociedade. Quando foi convocado para a Guerra entre Esparta e Atenas, pensou muito e ficou uma noite inteira meditando, porque era humilde, obediente e amava a sua comunidade.

Sendo um homem forte e de elevada estatura, foi para a guerra movido por uma extraordinária força interior, e na luta, que era individual entre soldados, procurou defender-se, e não matou nenhum adversário por considerar todos os homens seus verdadeiros irmãos. Sua filosofia é sintetizada no seu ensinamento fundamental que atravessa os séculos e se mantém atualizado: "Conhece-te a ti mesmo". E essa proposição ainda é lembrada como base para o conhecimento do eu interior, a própria alma.

8 - Pensamentos de Descartes

Mais recentemente, no Século XVII da era atual, o eminente pensador francês, René Descartes (1596-1650), centrava suas reflexões no ser imaterial atuante em seu organismo. Reconheceu que o ser humano é formado de corpo e alma, dois princípios completamente distintos, um material e o outro espiritual, e que o pensamento está relacionado ao seu eu espiritual. Teve, assim, a percepção do seu eu espiritual, independente dos seus atributos físicos, chegando à famosa conclusão, ainda não contestada: "Penso, logo existo".
Segundo ele, o corpo manifesta-se pelos seus atributos físicos e a alma pelo pensamento e pela vontade. Há, todavia, uma perfeita harmonia entre ambos, como pode ser observado nas sensações e nos sentimentos, em que a alma recebe os estímulos das impressões corporais e, por sua vez, a vontade impulsiona a dinâmica do corpo.

Partindo do reconhecimento do seu próprio eu, e plenamente convencido do potencial da inteligência humana, acreditou na possibilidade de substituir a fé cega pela razão e pela ciência. Na verdade, Descartes pode ser considerado um precursor do Espiritismo, pois, há alguma semelhança entre certos conceitos, como a expressão: "penso, logo existo" e a afirmação de Allan Kardec, segundo a qual "a alma é um espírito que pensa", como está em O Livro dos Espíritos, página 238, item 460. Outro ponto de convergência é o de considerar que a fé deve ser baseada na razão e na ciência, conceito que se identifica com a "fé raciocinada" de Allan Kardec, Segundo o Espiritismo, página 256, itens 6 e 7.
Há, ainda, outro conceito segundo o qual para Descartes "a glândula pineal é o centro da alma", como está em Fraga Lima e col. no JBM, vol. 65, página 203, e conceito idêntico de André Luiz no livro Missionários da Luz, página 21,4° parágrafo, ao analisar a epífise, como "glândula da vida espiritual do homem.

Contudo, há uma diferença muito grande entre os ensinamentos desses dois insignes pensadores. René Descartes procurou evidenciar a existência da alma tendo por base sua vida na matéria, e vida do espírito na matéria, tendo como ser cósmico universal.

Esse conceito do mestre lionês tem uma dupla conotação: estuda a alma na erraticidade, como espírito, e na vida biológica como ser encarnado, durante certo período de tempo. A situação do espírito viver na Terra, encarnado num corpo físico, é apenas uma das condições, como ser cósmico, de participar da vida humana, mas conhece a mensagem que "na casa do meu Pai há muitas moradas". (Jo 14, 2)

9 - A Alma Segundo Allan Kardec

Na sequência da evolução dos conhecimentos adquiridos sobre a realidade da alma, em diferentes épocas, destaca-se Allan Kardec, o emérito codificador da Doutrina Espírita, nascido em Lion, na França (1804-1869), que transcreve a mensagem revelada pelo Espírito da Verdade à Luz do Cristianismo, onde o ser espiritual que dá vida à criatura humana é muito bem estudado nas diferentes modalidades de sua existência.

Seus ensinamentos vêm adquirindo progressivamente maior número de adeptos, em todas as camadas sociais, em diferentes partes do mundo. Alguns conceitos, contidos em O Livro dos Espíritos, são aqui transcritos livremente no seu conteúdo, por serem indispensáveis à interpretação que se procura dar, no presente trabalho, sobre a realidade da alma e do espírito:

1) Os espíritos são os seres inteligentes da Criação e se caracterizam pela sua individualidade. Foram criados simples e ignorantes e têm a oportunidade de evoluir e de se tornarem perfeitos, (página 77, item 76; página 92, item 115; página 99, item 133).

2) O pensamento, a inteligência, as qualidades morais e a consciência, são atributos da alma. (página 57, item 24; página 81, item 89a; página 161, 2° parágrafo; página 196, item 364).

3) As almas são os espíritos encarnados. Fazem parte da constituição dos seres humanos temporariamente, para se purificarem e esclarecerem e fora deles, como espíritos, povoam o mundo invisível, (página 100, item 134 e 134 b).
4) A participação dos espíritos na formação dos seres humanos faz-se através do processo de reencarnação, um fenômeno de associação, advindo-lhes a oportunidade de evoluírem, pois todos os espíritos tendem à perfeição. (página 116, itens 166 a 170);

5) O espírito é revístido por um envoltório de natureza eletromagnética, o perispírito, que no organismo humano constitui o liame entre a alma e o corpo físico, e após a separação, que se realiza no desenlace, o perispírito também se desprende do corpo e se mantém unido ao espírito, (página 82, item 93; páginas 100 e 101, item 135a; página 160, 2° parágrafo);

6) Se os espíritos, como seres encarnados, procederem de modo contrário à Lei de Deus, receberão, como retorno, nesta vida ou em vidas futuras, as provas correspondentes às suas faltas, sob a forma de sofrimentos físicos ou psíquicos, ou dificuldades nos diferentes setores da vida. (páginas 99 e 100, itens 133 e 133a; página 117, item 168);

7) Os atributos da individualidade humana são os do espírito encarnado. Assim, um homem de bem é a encarnação de um espírito bom e um homem perverso a encarnação de um espírito impuro, ignorante, (páginas 195 e 196, itens 361 e 361a);

8) Os seres humanos que cometem faltas, que agridem a Lei, não retrogradam espiritualmente. Mantêm-se estacionários e se não tiverem oportunidade de reparar, na mesma existência, as faltas cometidas, terão que retornar, em encarnações futuras, quantas sejam necessárias, e enfrentar diferentes modalidades de sofrimentos, que constituem formas de reparação de suas faltas, e a oportunidade de refazerem a existência não aproveitada, para alcançar algum progresso espiritual, (página 120, itens 178a e 178b);

9) Os espíritos sofrem, quer no mundo corporal, quer no espiritual, as consequências das suas imperfeições, (página 159, item 255; página 164, 2° parágrafo);

10) Para os espíritos a encarnação pode ser um ato de expiação ou de missão que eles aceitam prazerosamente, com o fim de ajudar os seres humanos a alcançarem mais rapidamente o progresso nos diferentes setores da vida. São almas primorosas que podem reencarnar isoladamente, ou em grupos, e mesmo em diferentes países, distinguem-se pelos seus dotes científicos, artísticos, culturais e outros, e se identificam pelos seus ideais de amor aos semelhantes, procurando incentivar o progresso e o bem-estar dos seres humanos nas diferentes áreas de atuação, motivando a evolução da consciência humana nos ideais de paz, fraternidade e progresso, (página 99, item 132; página 120, item 178).

10 - Evolução da Alma

O ser humano é formado de corpo e alma. O corpo tem uma estrutura biológica que envelhece com o decorrer da idade, durante a vida. A alma, de estrutura energética, não envelhece, mas evolui através das reencarnações. A evolução anímica ou espiritual constitui a aquisição mais importante que pode ser almejada tanto pelas criaturas encarnadas como desencarnadas.
A mesma realiza-se paulatinamente, através das gerações, mediante esforços fundamentados na práticado amor fraterno. O grau de evolução espiritual caracteriza a posição alcançada pelas criaturas na sua caminhada através dos tempos.

Na prática, a evolução espiritual manifesta-se por diferentes atributos como a bondade, a sabedoria, a compreensão, o desprendimento dos bens materiais, a lhaneza no trato com os seus semelhantes, a vivência de pensamentos positivos e a anulação dos pensamentos negativos como os de raiva, de ciúme, de traição, de falsidade, de ódio, de agressividade e de outros da mesma natureza, que deverão ser banidos do planeta Terra, que terá alcançado um nível elevado de vibração espiritual no alvorecer da nova era que se aproxima, em que os homens serão bons e se amarão uns aos outros.
Dr. Roberto Brólio

Pelos Inimigos do Espiritismo


V – 

            50 – Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados são, quando vos injuriarem, e vos perseguirem, e disserem todo o mal contra vós, mentindo, por meu respeito. Folgai e exultai, porque o vosso galardão é copioso nos céus; pois assim também perseguiram os profetas, que foram antes de vós. (Mateus, V: 6, 10-12)
            E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma: temei antes, porém, o que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo. (Mateus, X: 28)
            51 – Prefácio – De todas as liberdades, a mais inviolável é a de pensar, que compreende também a liberdade de consciência. Lançar o anátema contra os que não pensam como nós, é reclamar essa liberdade para nós e recusá-la aos outros, e é violar o primeiro mandamento de Jesus: o da caridade e do amor do próximo. Perseguir os outros pela crença que professam, é atentar contra o mais sagrado direito do homem: o de crer no que lhe convém, adorando a Deus como lhe parece melhor. Constrangê-los à prática de atos exteriores semelhantes aos nossos, é mostrar que nos apegamos mais à forma do que à essência, mais às aparências do que à convicção. A abjuração forçada jamais produziu a fé. Só pode fazer hipócritas. É um abuso da força material, que não prova a verdade. Porque a verdade é segura de si mesma; convence e não persegue, porque não tem necessidade de fazê-lo.
            O Espiritismo é uma opinião, uma crença; fosse mesmo uma religião, por que não teriam os seus adeptos a liberdade de se dizerem espíritas, como a tem os católicos, os judeus e os protestantes, os partidários desta ou daquela doutrina filosófica, deste ou daquele sistema econômico? Esta crença é falsa ou verdadeira: se for falsa, cairá por si mesma, porque o erro não pode prevalecer contra a verdade, quando a luz se faz nas inteligências; e se é verdadeira, a perseguição não a tornará falsa.
            A perseguição é o batismo de toda idéia nova, grande e justa,cuja propagação aumenta, na razão da grandeza e da importância da idéia. O furor e a cólera dos seus inimigos são equivalentes ao temor que ela lhes infunde. Foi essa a razão das perseguições ao Cristianismo na antiguidade, e essa a razão das perseguições ao Espiritismo, na atualidade, com a diferença de que o Cristianismo foi perseguido pelos pagãos, e o Espiritismo o é pelos cristãos. O tempo das perseguições sanguinárias já passou, é verdade, mas se hoje não matam o corpo, torturam a alma. Atacam-na até mesmo nos seus sentimentos mais profundos, nas suas mais caras afeições. As famílias são divididas, excitando-se a mãe contra a filha, a mulher contra o marido. E mesmo a agressão física não falta, atacando-se o corpo no tocante às suas necessidades materiais, ao tirarem às pessoas o próprio ganha pão, para reduzi-las à fome. (Cap. XXIII, nº 9 e segs.)
            Espíritas, não vos aflijais com os golpes que vos desferem, pois são eles a prova de que estais com a verdade. Se não o estivésseis, vos deixariam em paz, não vos agrediriam. É uma prova para a vossa fé, pois é pela vossa coragem, pela vossa resignação, pela vossa perseverança, que Deus vos reconhece entre os seus fiéis servidores, os quais já está contando desde hoje, para dar a cada um a parte que lhe cabe, segundo suas obras.
            A exemplo dos primeiros cristãos, orgulhai-vos de carregar a vossa cruz. Crede na palavra do Cristo, que disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. E acrescentou: “Amai aos vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem mal, e orai pelos que vos perseguem”. Mostrai que sois os seus verdadeiros discípulos, e que a vossa doutrina é boa, fazendo, para isso, o que ele ensinou e exemplificou. A perseguição será temporária. Esperai, pois, pacientemente, o romper da aurora, porque a estrela da manhã já se levanta no horizonte. (Cap. XXIV, nº 13 e segs.)
            52 – Prece – Senhor, vós nos mandastes dizer por Jesus, o vosso Messias: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça; perdoai os vossos inimigos; orai pelos que vos perseguem”, e ele mesmo nos mostrou o caminho, orando pelos seus algozes. Por seu exemplo, Senhor, apelamos à vossa misericórdia, em favor dos que desprezam os vossos divinos preceitos, os únicos que realmente podem assegurar a paz, neste e no outro mundo. Como o Cristo, também nós vos pedimos: “Perdoai-lhes, Pai, porque eles não sabem o que fazem!” Dai-nos a força de suportar com paciência e resignação, como provas para a nossa fé e a nossa humildade, as zombarias, as injúrias, as calúnias e as perseguições que nos movem! Afastai-nos de qualquer idéia de represálias, pois a hora da vossa justiça soará para todos, e nós esperamos, submetendo-nos à vossa santa vontade.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A PRUDÊNCIA



Artigo publicado no jornal Unificação - Ano X - Setembro de 1962 - Número 114

“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos, sede, portanto prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. (Mateus, 10:16).

Não foram poucas as passagens evangélicas nas quais Jesus definiu a necessidade de termos prudência no trato das coisas do Alto. Na parábola das dez virgens o Mestre, deixou transparecer, de modo preciso, a necessidade de se ter prudência na solução dos problemas que surgem no decurso da nossa vida terrena, tudo fazendo para acumularmos os dons imperecíveis do Espírito, objetivando sairmos vitoriosos das encarnações que nos são propiciadas pele Justiça Divina.
As virgens prudentes levaram o “combustível” suficiente para a jornada, conseguindo, desta forma, atingir o objetivo primacial da mesma: - serem recebidas pelo esposo.
Nos sublimes ensinamentos contidos nas entrelinhas dessa parábola, o Cristo, procurou demonstrar a necessidade de sermos prudentes e, no desenrolar da nossa vida terrena conseguirmos amealhar as aquisições santificantes imprescindíveis para a conquista da sublimação de nossas almas.
*****
Noutro trecho do Evangelho também o Nazareno assevera que o homem prudente constrói sua casa sobre a rocha, e, a impetuosidade da borrasca nada pode contra ela, que a tudo resiste.
Aqui também o Mestre prescreve a necessidade da prudência no processo de consolidação da vida humana. O objetivo primacial de Jesus ao ensinar essa parábola foi a de fazer evidenciar a importância de constituirmos como base de nossa vida um sistema sólido composto de amor, tolerância, moralidade e conformação com os desígnios de Deus.
Se tivermos a sensatez de edificar nossa vida sobre a rocha da fé, da paciência, da integridade moral e do amor ao próximo, não deveremos temer as tempestades da adversidade e das tribulações inerentes à vida humana.
*****
Nas palavras que encimam esta crônica, o Messias, prescreve a necessidade de sermos mansos como os pombos, porém prudentes como as serpentes. É óbvio que devemos ser tolerantes, mansos, resignados, entretanto, é imperioso que sejamos prudentes como as serpentes.
Não devemos, sob alegação de humildade e desprendimento abdicar da nobreza de nossas almas, resvalando para o desequilíbrio e para a anulação dos princípios que norteiam uma vida íntegra perante Deus.
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“Os filhos do mundo são mais hábeis na sua geração de que os filhos da luz”.
No versículo 8 do capítulo 6 do Evangelho de Lucas, o Mestre nos fala da necessidade de tirarmos o maior proveito possível do nosso aprendizado no mundo. Os filhos do mundo que tratam exclusivamente das coisas da Terra, muitas vezes sabem ser prudentes fazendo com que seus recursos materiais advenham benefícios de ordem espiritual. Os filhos da luz, aqueles que na Terra cuidam das coisas do espírito, nem sempre sabem tirar o devido proveito dos dons preciosos que Deus, em sua Infinita Misericórdia, coloca ao alcance de suas mãos.
*****
A prudência é, pois um atributo relevante em nossa vida.
Devemos usá-la do modo mais eficiente possível, pois sem ela dificilmente poderemos vencer os problemas agudos que se nos deparam no desenvolvimento de nosso aprendizado terreno.
Se formos prudentes não alimentaremos ódio, inveja ou ciúme contra os nossos irmãos, não chafurdaremos nossas almas no lodaçal dos vícios, da intemperança e do descalabro moral.
Agindo de modo prudente nós não nos perderemos no labirinto da avareza, do orgulho e da soberba.
*****
A prudência nos indica que devemos ver nos Evangelhos o manancial de luz e verdade, que contribuirá de modo decisivo para a elevação das nossas almas para Deus.

Você precisa de paciência?



Carlos Alexandre Fett
A vida moderna é repleta de situações que nos perturbam, ou, usando um termo atual, estressam-nos.
É a profissão, onde temos que buscar ser produtivos constantemente, sob pena de perdermos o cargo que ocupamos. É o trânsito, que parece nos modificar, onde se demonstra claramente que é cada um por si. Às vezes são os familiares, que não nos compreendem ou nos cobram atitudes que não conseguimos tomar.
O que fazermos? Simplesmente agimos de forma instintiva, devolvendo aos que nos rodeiam as angústias que passamos?
Não, não é isso que recomenda Jesus. O Mestre nos ensinou que devemos viver na vida sendo "prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas " (Evangelho de Mateus, cap. X, vers. 16). Isso quer dizer que precisamos ser prudentes em nossas atitudes. Ou seja, se estivermos cansados, oprimidos, desgostosos, seria sábio que buscássemos algo que nos aliviasse. E esse algo podemos encontrar na religião.
É nela que conseguimos compreender melhor as situações que nos cercam. É na casa religiosa que temos a oportunidade de nos desligarmos da vida corrida que levamos, e passamos a meditar no que nos é mais importante: nosso progresso moral e espiritual.
E será com a religião que aprenderemos a ser simples como as pombas, conforme orientou Jesus. Pois entenderemos que de nada adianta retribuirmos o mal com o mal, porque isso apenas gerará mais discórdia.
E como conseguirmos a paz que procuramos se nós mesmos estamos gerando confusão?
Pensemos nisso em cada momento estressante da vida. Imaginemos como uma religião poderia modificar nossa existência.
Busque uma casa religiosa, seja um centro espírita, uma igreja católica, protestante, evangélica. O importante é que seja um local cristão, pois é lá que com certeza encontraremos o caminho, a verdade e a vida prometidos pelo Senhor Jesus.

Prudentes como as serpentes...



Carlos Alexandre Fett
"Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos. Portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (Jesus, no Evangelho de Mateus, capítulo 10, versículo 16).
Esta passagem da vida de Jesus ocorreu quando ele explicava aos seus doze discípulos suas missões. Escolhidos pela Espiritualidade superior para o acompanharem em seu trabalho, os apóstolos deveriam buscar ter uma vida moral sadia em meio a um povo contrário à Lei de Deus, dando exemplo por onde estivessem. Bom senso e humildade deveriam ser sentimentos primeiros em seus atos.
Discute-se na sociedade atual os porquês do alto índice de violência entre os jovens. Os motivos poderiam ser desde a liberdade exagerada que é dada às crianças, onde pseudopedagogos incitam a discordância de vontades entre filhos e pais, até a ansiedade gerada pelo materialismo desvairado que tomou conta dos seres.
O que acontece sim é um estímulo aos instintos vingativos e violentos do ser humano. Não só dos jovens, mas de todo aquele que se diz "homem suficiente para não levar desaforo para casa".
Como se vivêssemos para ter apenas nossos desejos satisfeitos, transformamo-nos em verdadeiras feras quando somos contrariados. Isto é, devemos apenas ser servidos, não servir, nem que para isso tenhamos que nos impor, verbal ou fisicamente.
Diariamente somos bombardeados por filmes, novelas, jornais e programas sensacionalistas que têm nas disputas o principal sustento para suas audiências.
Instigados pelos nossos instintos, chegamos a nos deliciar com cenas de pancadaria, discussões irracionais e desafetos prolongados, como se a desgraça alheia fizesse parte de um mundo em que não vivemos.
Aí é que mora o perigo!
Sem que percebamos, estamos como que contaminados pela atmosfera violenta que vai ao nosso redor. E ajudamos a alimentá-la, fazendo da sociedade um ambiente propício à instalação do desequilibro moral.
E o que isso tudo tem a ver com a passagem de Jesus no início do texto? Tem tudo a ver.
O Mestre foi a excelência em exemplo. Conhecia como ninguém a natureza humana. Sabia das limitações dos homens, tanto dos do seu tempo, como dos contemporâneos. Seus discípulos, por estarem abraçando uma vida diferente da que viviam - tanto os que eram simples pescadores, como Pedro, até homens estudados, como Matheus -, poderiam trair seus novos ideais, deixando-se contaminar pelos interesses pessoais.
Jesus, então, alertava-os, dizendo que deveriam ter a prudência da serpente. Ou seja, procurarem ser discretos em seus atos, comedidos em suas palavras e sábios em suas ações. Não se deixarem levar pelas emoções, mas julgar a tudo, retendo para si o que de bom encontrassem.
Porém, ressalta o Mestre, nem só de prudência vive o homem. É necessária a humildade do sensato. Tem na pomba a simbologia, dizendo que o verdadeiro prudente é simples nas coisas que faz, não se vangloriando de seu saber e respeitando os menos afortunados, moral e intelectualmente.
Vivemos exatamente ao contrário do que ensinou o Cristo. Temos como guia a violência e o orgulho. Estamos sempre em sentido de ataque, desenvolvendo em nosso íntimo a desconfiança e o preconceito.
Ficamos satisfeitos quando respondemos uma agressão de qualquer nível, demonstrando nosso poder de reação. Se pudermos prejudicar quem nos prejudicou, melhor ainda. Tramas são armadas com o objetivo de ferir. Passamos a ser os autores de ciladas ardilosas, onde os participantes sofrem os resultados de um egoísmo anticristão. Legislando em causa própria, escondemo-nos através de desculpas esfarrapadas, que não encontram base no bom senso do Evangelho. Evocamos, sim, costumes de três mil anos atrás, onde o olho por olho, dente por dente era a Lei.
Desprezando as orientações cristãs nós só poderemos colher a tristeza que vai à nossa volta. A explicação para a violência dos jovens vem da falta de educação espiritual dos pais, que têm como símbolo a seguir, não Jesus, um ser que para muitos parece perdido lá em cima, no espaço. Os ídolos vêm da TV, travestidos de heróis do povo, que podem se chamar Ratinho, Márcia, Valter (ligue Djá!) Mercado... Os textos a serem conhecidos não são os da religião, mas os da novela das oito, onde quem pode mais, chora menos.
Mas é a realidade, poderíamos dizer. Sim, é a realidade da ignorância espiritual do povo, trazendo dor e desilusão para quem vive nela.
Prudentes como a serpente, mansos como as pombas. Meditemos nas palavras de Jesus. Saibamos viver no mundo, mas não como o mundo. Isso não significa sermos alheios ao que nos cerca, ou ainda sofrermos mansamente maus tratos.
O cristão deve conhecer seus direitos de cidadão, e defender-se do mal, não deixando que ele prospere. Jesus nunca condenou a defesa, mas sim a vingança. Isso é prudência, isso é mansuetude.
Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", capítulo 17, item 10, um bom Espírito deu a seguinte mensagem mediúnica: "Não imaginem que, para viver em permanente comunicação com a Espiritualidade amiga, e sob as vistas de Jesus, seja preciso submeter-se ao sofrimento. Não e não, ainda uma vez! Sede felizes, segundo as necessidades humanas, contanto que nessa felicidade não entre jamais nem ato, nem pensamento ofensivo, ou que faça voltar o rosto dos que vos amam e dirigem. Deus ama e abençoa os que amam santamente".

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

INSTRUÇÕES AOS EMISSÁRIOS – PARTE II

Mat. 10:16-23

16. "Atenção! Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; tornai-vos, pois, prudentes
como as serpentes e simples como as pombas.
17. Cuidado, porém, com os homens, porque vos entregarão aos tribunais e, em suas sinagogas, vos açoitarão,
18. e, por minha causa, sereis levados à presença de governadores e de reis, para servirlhes de testemunho a eles e às nações.
19. Quando vos entregarem, não vos preocupeis como, ou o que, falareis, porque naquela
hora vos será dado o que direis,
20. pois não sois vós os que falais, mas é o espírito de vosso Pai que fala em vós.
21. Irmãos entregarão à morte aos irmãos e pais aos filhos e filhos se levantarão contra
seus pais e os farão morrer
22. E sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas quem suportar até o fim, esse
será salvo.
23. Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade
vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o filho
do homem.

Este trecho, de avisos do que sucederá aos Emissários, não se refere à época desta primeira missão, mas ao futuro.

Inicialmente, um alerta: "Atenção"! (ido˙), depois uma sentença para ser gravada de memória: “eu vos envio como ovelhas no meio de lobos", em que o perigo de ser morto é grande. Daí o conselho: "tornai-vos (gÌnesthe, e não "sede") prudentes (phronÌmoi, que é a prudência hábil e astuta) como as serpentes,    e simples (akÈraioi, sem mistura, ou seja, sem duplicidade) como as pombas”.

Os lobos são os próprios homens, que procurarão devorar os emissário do Espírito; e como talvez não possam estraçalhá-los com suas mãos, os entregarão aos tribunais (sinÈdria, no plural, referindo-se aos pequenos sinédrio, de 23 membros, que era constituído nas aldeias que tivessem mais de 120 homens) e eles os mandarão açoitar.

Mas, além disso, a causa cresceria de âmbito, e os enviados do Espírito também seriam citados diante de governadores e reis, para que  seu exemplo servisse de testemunho de verdade diante das nações pagãs (não-israelitas).

No entanto, quando se achassem diante dos tribunais, não deviam preocupar-se como falar, já que, naqueles momentos de angústia, "o Espírito de vosso Pai" falaria por intermédio deles. A história está cheia desses exemplo, de respostas de sabedoria acima da capacidade humana, nessas situações terrí- veis de perseguição, bastando recordar a profundidade das respostas de Joana d'Arc aos setenta bispos, verdadeiros lobos devoradores a serviço da política eclesiástica de então. Essa assistência parece referir-se até a um, psicofonia total prometida aos perseguidos, quando tiverem que ser julgados.

Trata-se a seguir das desavenças dentro do próprio lar, entre pais e filhos, coisa que sempre se verificou e ainda hoje vemos, quando alguém que vive em ambiente de determinada religião resolve aderir ao espiritualismo e ao Evangelho de Jesus. E o aviso: "sereis odiados por causa de Meu Nome" Realmente.   Aqueles que obedecem à ordem de curar os enfermos em nome de Jesus, por exemplo, são levados ainda hoje à barra dos tribunais por "exercício ilegal da medicina" ... E quem os acusa se diz cristão, discípulo Daquele que deu ordem de curar em Seu Nome! Há verdadeiro ódio contra os Emissários do Mestre, por parte da maioria dos homens.

Mas "quem suportar" (hypomeÌnas, ter paciência e perseverança numa dificuldade sem arredar pé; persistir; suportar) tudo até o fim (eis telÛs), esse será salvo; isto é, libertado das dores. Pode referir-se esse "fim" ao término das perseguições ou ao final dessa existência terrena.

Todavia não deve o Emissário de Jesus arriscar-se a sofrer voluntariamente: se for perseguido numa localidade, transporte-se para outra (sacudindo o pó dos pés), pois o que ele tem para dar servirá a outros, que talvez estejam sequiosos de recebê-lo.

"Não terminar de perlustrar as cidades de Israel, até que venha o filho do homem" é interpretado como o  primeiro trecho escatológico, em que Jesus parece fazer alusão a um regresso próximo. Durante muito tempo foi isso compreendido como uma garantia da parusia.

Expliquemos os termos. "Escatologia" È o estudo do que ocorre depois da morte, depois do fim, que alguns pensam ser o "fim do mundo" (derivado de  eskhatós);e "parusia", que significa "presenÁa", refere-se à segunda vinda do Cristo, que acreditavam fosse pessoal, em corpo fÌsico, embora em aparÍncia gloriosa.

Outros exegetas atribuem a essas palavras o sentido de uma profecia da destruição de Jerusalém por Tito, no ano 70, onde Cristo teria voltado simbolicamente para "vingar" as perseguições, como escreve Lagrange: "Essa vinda não é necessariamente a parusia que termina a história do mundo. O filho do homem vem quando exerce um grande julgamento, sobretudo da espécie da ruína de Jerusalém" (Lagrange, "Évangile selon Saint Matthieu", Paris, 1923, pág. 205).

A interpretação do sentido profundo È muito mais clara e lógica.

O missionário que desce à Terra, chega aqui verdadeiramente como ovelha no meio de lobos. Costumamos, em conversa, comparar as dificuldades vibratÛrias que sentiu, por exemplo, Jesus, ao encarnar entre nós, às dificuldades que sentiríamos se fôssemos obrigados a encarnar numa vara de porcos selvagens. A situação é semelhante sob muitos espectos. A humanidade egoÌsta e cruel parece uma alcatéia de lobos famintos e vorazes, que só buscam seus interesses imediatos. Dai a necessidade de ser prudentes e astutos como serpentes, embora, no próprio Ìntimo, mantendo a simplicidade branca das pombas.

Os homens perseguir„o a personalidade do emiss·rio, levando-a aos tribunais; mas o espÌrito dever· manter-se forte e inabal·vel em suas convicÁıes, servindo-lhes de testemunho de que o EspÌrito È superior ‡ matÈria, e a individualidade maior que a personalidade. Nos embates com as autoridades, a personalidade do emiss·rio ser· assistida pelo EspÌrito do Pai que nele habita (o Cristo Interno, a Centelha Divina) que lhe ditar· as palavras que dever„o ser proferidas. Compreendamos, entretanto, que "governadores" e "reis" n„o s„o apenas os polÌticos profanos, mas tambÈm as autoridades religiosas de outros credos. E ser„o tambÈm aqueles que, n„o compreendendo o alcance de sua atuaÁ„o em certos setores, os acusam levianamente.

No entanto, n„o È sÛ de estranhos, mas dos prÛprios parentes mais chegados que vir„o os ataques. E sabemos que, por esses termos, se entendem os veÌculos inferiores que nos servem de mÈdiuns para nossa manifestaÁ„o no planeta denso. Ent„o, os prÛprios veÌculos do EspÌrito lhe ser„o inimigos, querendo lev·-lo ‡ desistÍncia da tarefa com a qual se comprometeu, para que aproveite os minutos de satisfaÁ„o fÌsica que lhe podem trazer o conforto das riquezas, a glÛria da fama, os prazeres dos sentidos, o domÌnio autorit·rio, a celebridade do intelecto. Tudo e todos se levantar„o contra a boaintenÁ„o do emiss·rio de cumprir sua tarefa, que ser· inÁada de dificuldades sempre crescentes e inamovÌveis, podendo chegar atÈ a causar-lhe a morte.

Só aqueles que suportarem atÈ o fim as lutas, poder„o conseguir vitÛria.

Entretanto, sempre devemos procurar ref˙gio em "outra cidade", quando aquela em que estamos nos tornar impossÌvel a vida. Ou seja, sempre devemos buscar recolher-nos ao EspÌrito, em nosso interior, quando as tempestade crescerem no mundo fÌsico. E  n„o teremos terminado de percorrer todas as cidades de Israel (de completar todo o caminho evolutivo), pois antes disso vir· o filho do homem (encontraremos o Cristo Interno).

A frase "cidades de Israel" È terminologia inici·tica, e exprime simbolicamente o percurso evolutivo do homem. Numa sÌntese, bastante r·pida, podemos assinalar esquematicamente alguns dados apenas:

Fatos históricos:
1. Criação do povo de Israel pelo PAI-LUZ (ABRAM) e sua opressão no Egito.
2. A matança dos cordeiros e o passagem do Mar
Vermelho.
3. A longa conquista de Canaã.
4. A passagem do Jordão.
5. O reinado de Judá e a construção do Templo.
6. O exílio de Babilônia.
7. A reconquista de Jerusalém e a reconstrução
do Templo.

Simbolizando:

A. individualização da  Centelha, ainda no reino
animal, aí permanecendo na prisão
A passagem do animal (que deve terminar) para o
estado hominal.
A demorada conquista do intelecto.
A passagem definitiva para o domínio intelectual.
O domínio do intelecto e o início da religiosidade.
A limitação do intelecto preso na matéria
A libertação do intelecto que passa ao domínio do
Espírito ou individualidade.
Ent„o, antes que o emiss·rio termine o percurso das "cidadesî ou ponto chaves da histÛria de Israel,
o filho do homem vir· a ele, ou seja, verificar-se-· o acesso ‡ individualidade. Enquanto isso, ele ter·
que ir suportando a perseguiÁıes nas sucessivas encarnaÁıes, superando aos poucos o animalismo atÈ
conseguir o domÌnio do EspÌrito.
Conforme vemos, a linguagem simbÛlica È de perfeita clareza; mas a interpretaÁ„o literal n„o nos faz
chegar a uma conclus„o lÛgica.


CAPÍTULO X
OS DOZE E SUA MISSÃO


OS DOZE E SUA MISSÃO

1 - Então convocando os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus poder sobre os espíritos imundos, para os expelirem e para curarem todas as doenças e todas as enfermidades.

2 - Ora os nomes dos doze apóstolos são estes: O primeiro, Simão, que se chama Pedro e André, seu irmão.

3 - Tiago, filho de Zebedeu e João, seu irmão, Filipe e Bartolomeu, Tomé e Mateus, o publicano, Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.

4 - Simão Cananeu e Judas Iscariotes, que foi o que o entregou.

Durante algum tempo, os discípulos se dedicam ao aprendizado junto ao Mestre. Espíritos de alto progresso espiritual, fácil lhes foi assimilar as lições que Jesus lhes ministrava diariamente, não só pelas palavras, como também pelo exemplo. Fortificados pela fé que Jesus lhes acendera nos corações, estavam preparados para continuar a obra evangélica, que Jesus lhes confiaria. São sábias e comovedoras as regras, segundo as quais os discípulos pautariam sua conduta no mundo. Há vinte séculos que os discípulos de boa vontade estudam este código de renúncia; os que não se afastaram dele, triunfaram. Palmilhando os ásperos caminhos da terra, quando a taça de amarguras parecia transbordar, lembravam-se das ternas exortações e dos conselhos do Mestre e adquiriam novo alento para perseverarem até o fim. Estas instruções são para todos os tempos e para todos os discípulos de boa vontade. Os médiuns, especialmente, devem meditá-las, estudá-las e assimilá-las muito bem, antes de iniciarem seu medianato. De acordo com os últimos ensinamentos do Espiritismo, estudemos o código do discípulo fiel.

5 - A estes doze enviou Jesus, dando-lhes estas instruções, dizendo: Não ireis caminho de gentios, nem entreis nas cidades dos samaritanos.

6 - Mas ide antes às ovelhas que pereceram da casa de Israel.

Jesus ordena a seus discípulos que se dirijam antes aos que já estavam em condições de entender os novos ensinamentos. Os israelitas eram, naturalmente, os indicados para primeiro receberem o Evangelho, dado o longo preparo espiritual a que a lei de Moisés os tinha submetido, Dirigindo-se a eles, os discípulos encontrariam um terreno propício à semeadura. Ao passo que se procurassem em primeiro lugar os outros povos, as dificuldades para a difusão do Evangelho seriam maiores, pois, ainda não estavam à altura de suas lições. Com o tempo, todos os povos se preparariam convenientemente e, então, surgiriam novos trabalhadores, que lhes levariam as claridades do Evangelho.

Na difusão do Espiritismo, o discípulo inteligente deve seguir a mesma diretriz: primeiro os que estão em estado de o compreenderem; os outros virão depois.

7 - E pondo-vos a caminho, pregai que está próximo o reino dos céus.

O reino dos céus está dentro de nossos corações. É inútil ir procurá-lo mais longe. Caracteriza-se pela bondade, pelo amor fraterno entre todos, pelo acolhimento, amparo e proteção aos que sofrem. O coração, livre de ódios, de remorsos, de cobiça, de ambições descabidas, da concupiscência; e capaz de amar a todos os homens, sem distinção de cor, de classe social, de raças, de credos políticos ou religiosos, um coração assim traz dentro de si o reino dos céus. Portanto, o reine dos céus está ao nosso alcance. A consciência tranqüila e o coração puro causam uma felicidade tal aos que os possuem, que, já na terra, gozam as alegrias espirituais que os aguardam nos planos da espiritualidade. Não deixemos para amanhã o início de adquirirmos essa graça. Comecemos desde agora a trabalhar por merecê-la, combatendo nossas imperfeições, abandonando nossos vícios, abrandando nosso caráter e esforçando-nos por nos amarmos uns aos outros. E depois de termos realizado o reino dos céus dentro de nós, fácil será concretizar na face de nosso planeta. Jesus alude ao começo dos trabalho de regeneração da humanidade pela observância das leis divinas, quando manda a seus discípulos que preguem estar próximo o reino dos céus.

8 - Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os demônios; dai de graça o que de graça recebestes.

Conquanto Jesus e seus discípulos e, modernamente o Espiritismo, tenham operado curas materiais, é mais no sentido moral que devemos entender esta ordem de Jesus. Porque o Evangelho é a lição divina que ensina a humanidade a se curar de suas imperfeições morais.

Curai os enfermos, isto é, ensinai os homens a evitarem o mal, para que não sofram suas dolorosas conseqüências.

Ressuscitai os mortos, isto é, ensinai que a morte não existe e que do outro lado do túmulo o espírito continua com sua vida eterna.

Limpai os leprosos, isto é, ensinai os pecadores a se regenerarem e esclarecei os ignorantes sobre as coisas divinas.

Expeli os demônios, isto é, encaminhai os espíritos obsessores concitando-os ao perdão e à prática do bem.

E nunca aceiteis a paga do bem que espalhastes, uma vez que o Pai, que está nos céus, não põe preço em sua misericórdia.

9 - Não possuais ouro nem prata, nem tragais dinheiro nas vossas cintas;

10 - Nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento.

Acima de tudo, o discípulo fiel deve confiar na Providência Divina. O Senhor da seara não deixará os seus obreiros sem o necessário para sua manutenção. Se os patrões humanos não deixam seus operários sem a paga do trabalho que executam, quanto mais o Patrão Divino não cuidará de seus servos?

Além disso, o discípulo do Evangelho ensina os povos a se libertarem da matéria. Daria um péssimo exemplo, o discípulo que se afadigasse pela posse transitória dos bens terrenos; porque demonstraria confiar mais na matéria do que na Providência Divina. A evangelização das criaturas deve ser a principal preocupação do discípulo sincero.

11 - E em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, informai-vos de quem há nela digno; e ficai aí até que vos retireis.

12 - E ao entrardes na casa saudai-a, dizendo: Paz seja nesta casa.

13 - E se aquela casa na realidade o merecer, virá sobre ela a vossa paz; e se o não a merecer, tornará para vós a vossa paz.

Os discípulos tinham de ir de aldeia em aldeia e de cidade em cidade pregando o Evangelho. Naqueles tempos não havia a imprensa, nem o rádio nem os modernos meios de propaganda; somente dispunham da palavra oral para tornarem conhecido o Evangelho. Pobres como eram, não podiam pagar pousadas; forçoso lhes era, por conseguinte, procurarem almas caritativas que os hospedassem gratuitamente. Não só era uma oportunidade para essas almas exercerem a caridade para com os viajores sem recursos, como também era um testemunho que os discípulos davam de sua fé em Deus.

Em nossos dias, o Espiritismo é o novo apóstolo que Jesus envia a todas as cidades e a todos os lares para ensinar os preceitos evangélicos. O Espiritismo saúda com a sagrada saudação a casa onde penetra. E a casa passa a gozar a paz, o ambiente doméstico fica livre de espíritos inferiores que o perturbavam, os quais são encaminhados para as escolas de aprendizado e de regeneração no mundo espiritual. Os membros da família extinguem as querelas e doce fraternidade preside as relações familiares. Todavia, para isso é necessário que a casa mereça realmente a paz, o que será conseguido pela observância dos preceitos de Jesus.

Cumpre notar que quando um médium vai ministrar um passe a um doente, prestando assim a caridade espiritual, o doente pode ou não merecer a graça de ser beneficiado. Porque há doentes que só se lembram de implorar o auxílio divino e prometem regenerar-se quando premidos pelo sofrimento. Logo que se livram dos males que os atormentavam, esquecem-se das promessas feitas a Deus e não mais se interessam pelas coisas espirituais. Nesse caso a graça será toda do médium, que será recompensado espiritualmente pelo serviço prestado.

14 - Sucedendo não vos querer alguém em casa, nem ouvir o que dizeis, ao sair para fora da casa, ou da cidade, sacudi o pó dos vossos pés.

Os preceitos de Jesus visam eliminar do seio da grande família humana, todos os motivos que separam os seus membros. O Evangelho, portanto, não poderá ser imposto pela força, mas pelo Amor. Jesus não ordena que seus discípulos forcem a consciência daqueles que os querem ouvir; mas que se afastem deles, sem discutirem.

Mandando que seus discípulos sacudissem o pó dos sapatos ao deixarem os que os repelissem, é como se lhes dissesse: "Mostrai aos vossos irmãos que vos enxotarem ou vos contradizerem que nenhuma das idéias deles conseguiu abalar a vossa fé; e que deles não guardais o menor ressentimento."

Na difusão do Espiritismo, inúmeras vezes terão os discípulos sinceros de sacudirem o pó das sandálias; porque nem todos os encarnados estão em condições de compreendê-los.

15 - Em verdade vos afirmo isto: Menor rigor experimentará no dia do juízo a terra de Sodoma e de Gomorra, do que aquela cidade.

Aqui Jesus nos demonstra que toda aquisição de conhecimentos acarreta aumento de responsabilidade. E cada um experimentará o rigor da Justiça Divina de acôrdo com o grau de conhecimentos que tiver adquirido. Assim sendo, ninguém carregará um fardo mais pesado do que suas forças o permitirem. Todos aqueles que são chamados a participar das alegrias do Evangelho, construindo seus destinos à luz dos ensinamentos de Jesus, é porque já estão em situação de poderem atender ao convite que lhes é feito. Todavia, há os que não atendem ao chamado, furtando-se ao trabalho divino. Se analisarmos muito bem a situação desses irmãos, notaremos que assim agem por não quererem contrariar o comodismo em que vivem, protelando, dessa maneira, o seu progresso espiritual e acumulando sofrimentos para o futuro.

Outra importante advertência que podemos tirar desse versículo, é no que se refere aos que pregam o Evangelho e não o exemplificam. Quem ensina o Evangelho e não vive de conformidade com o que ensina, na verdade experimentará o rigor que Sodoma e Gomorra não experimentaram.

16 - Vede que eu vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sede logo prudentes como as serpentes e simplices como as pombas.

Deus ama os humildes e abate os orgulhosos. Por isso é que Jesus nos recomenda que sejamos simples como as pombas. Na simplicidade das pombas, Jesus simboliza a humildade de que devemos nos revestir no desempenho do labor de nosso aperfeiçoamento espiritual; porque aos humildes nunca faltará o auxílio do AltÍssimo. E nossa humildade será provada diante dos reveses da vida, quando sofremos as provas e as expiações reservadas para o progresso e purificação de nosso espírito. Entretanto, Jesus quer também que tenhamos a prudência das serpentes. Com isso ele nos adverte que exerçamos contínua e enérgica vigilância sobre nós próprios, a fim de que as tentações do mundo, quais lobos vorazes, não inutilizem nossa encarnação.

No que se refere ao trabalho espiritual, essa advertência de Jesus é profunda. É fora de dúvida que o trabalhador do Evangelho viverá continuamente assediado pelas forças das trevas, as quais tentarão freqüentemente desviá-lo da tarefa. Os médiuns, sobretudo, e os pregadores da palavra divina, terão de lutar não só contra os encarnados, mas também contra os espíritos desencarnados que, ou por ignorância ou movidos por sentimentos inferiores, tudo farão para anular-lhes os esforços. E como os trabalhadores do Evangelho somente pooderão revidar com as armas do bem, do amor, do pacifismo, da tolerância e da piedade, jamais recorrendo à violência, deverão ser quais ovelhas, cheias de prudência, convivendo no meio de lobos.

17 - Mas guardai-vos dos homens; porque ele vos farão comparecer nos seus juízos e vos farão açoitar nas suas sinagogas;

18 - E vós sereis levados por meu respeito à presença dos governadores e dos reis, para lhes servirdes a eles e aos gentios de testemunho.

Pregando uma doutrina de paz e de igualdade; de amor de fraternidade e de perdão, entre homens que cultuavam a guerra, o ódio, a vingança e os rígidos preconceitos sociais; os discípulos levantariam contra si a perseguição de todos os espíritos que se compraziam na ignorância ou que usufruíam proveitos dela. A História nos conta que as predições de Jesus se realizaram. Ainda hoje as perseguições não cessaram. Onde quer que se erga uma voz concitando os homens à prática do Evangelho em toda sua pureza e simplicidade é certo aí acorrerem muitos para abafá-la. É o que tem acontecido com o Espiritismo. Essa Doutrina, que é o Consolador prometido pelo Mestre, suscitou desde o seu aparecimento todas as perseguições morais possíveis. Desde as religiões organizadas até a ciência, todos se bateram contra ela, culminando no martírio dos médiuns, submetidos a desalmadas experiências de laboratório. Todavia, se cai um discípulo, levanta-se outro; e os trabalhadores da grande causa prosseguem dando o testemunho.

19 - E quando vos levarem, não cuideis como ou o que haveis de falar; porque naquela hora vos será inspirado o que haveis de dizer:

20 - Porque não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é o que fala em vós.

Os pregadores do Evangelho eram médiuns e, por isso, no momento de responderem a seus algozes, eram assistidos por espíritos de elevada hierarquia espiritual, que lhes sugeriam as palavras a serem proferidas. Eis porque vemos que os sacrificados nos circos romanos, ante a turba ébria de sangue e de violência, nada respondiam que não glorificasse o Cristianismo nascente; e elevavam ao Alto suas preces e seus cânticos de perdão e de amor. E acabado o espetáculo, os espíritos mártires partiam para o mundo espiritual nos braços de seus amigos. E o povo voltava para suas casas pensativo e indagando de si para si: - Que nova religião será essa cujos adeptos são sinceros até diante da morte?

E todos queriam conhecê-la.

21 - E um irmão entregará à morte a outro irmão e o pai ao filho; e os filhos se levantarão contra os pais e lhes darão a morte.

Nas perseguições e nas lutas religiosas a que o mundo tem assistido, o fanatismo religioso quase sempre armou os braços dos membros de uma mesma família, uns contra os outros. Pelo lado moral, houve profundo choque entre os adeptos do Cristianismo nascente e os dos outros credos, gerando-se assim a guerra de religiões dentro de um mesmo lar.

Em nossos dias reacende-se a luta contra as idéias progressistas do Espiritismo, que trabalha por reconduzir o Cristianismo à sua forma e pureza primitivas e explicar o Evangelho racionalmente. Embora sem o caráter sanguinolento do passado, a batalha que se trava não deixa de ser intensa a fim de que a luz brilhe novamente. É natural, pois, que no entrechocar das idéias novas do progresso com as idéias velhas do passado e do comodismo, muitas vezes pais, filhos e irmãos se coloquem em campos opostos.

Jesus aqui nos adverte acerca das lutas que um espírita travará dentro de seu próprio lar para encaminhar a si e aos seus pelo caminho da Verdade. Deverá, em primeiro lugar, vencer a perseguição que lhe desencadearão os espíritos desencarnados ignorantes, os quais incitarão contra ele seus próprios familiares. Assistimos, então, à crítica impiedosa que tem de suportar e à oposição tenaz que lhe é movida no sentido de afastá-lo do caminho da espiritualidade. Em seguida deverá corrigir seus defeitos, livrar-se dos vícios para que possa adquirir a força moral suficiente para guiar sua família e combater as imperfeições, que cada um de seus familiares apresentar. Manter a força moral para que seja respeitado e se fazer respeitar pela família, é outra luta moral em que se empenhará um espírita que quer seguir à risca os ensinamentos do Evangelho.

Um lar não se domina pela violência. Dominar um lar pela violência é tiranizar a família. Um lar se domina pelo Amor. Mas para que o Amor possa dominar é preciso que seja gerado pelo respeito; e o respeito só será conseguido quando o chefe da família for um alto padrão de moralidade. Então terá a autoridade incontestável para impor à sua família a norma de conduta que o Espiritismo lhe ditar. Fazendo respeitar-se pelo Amor, os pais precisam saber usar da severidade para não deixarem que seus filhos se extraviem. Grande é a responsabilidade dos pais neste assunto. Cada filho extraviado é uma dívida que os pais contraem para com Deus, por não terem sabido desempenhar a missão de bons orientadores das almas que o Senhor lhes confiou. Essa dívida lhes acarretará enormes trabalhos no futuro, além de sofrimentos no mundo espiritual. Quando os filhos ameaçam desviar-se e não querem obedecer pelo Amor, os pais devem empregar em tempo oportuno o corretivo enérgico, embora com mágua no coração para evitarem males maiores. É por isso que Jesus aqui nos fala que sua doutrina causaria divisões na família, trazendo para o seio dela muitas lutas. Ele sabia que os membros mais evoluídos, querendo impulsionar a evolução dos retardatários, entrariam em choque com eles e teriam de trabalhar arduamente para obterem êxito.

22 - E vós por causa do meu nome sereis o ódio de todos; aquele porém que perseverar até o fim, esse é o que será salvo.

Jesus aqui precavém os discípulos contra o orgulho e os preconceitos sociais que separam as criaturas. Como eles pregariam a extinção do orgulho e lutariam contra os preconceitos sociais, ensinando aos homens que todos são irmãos, filhos do mesmo Pai, atrairiam sobre si a cólera de grande número daqueles que não estavam preparados para compreendê-los. Um dos pontos básicos do ensino de Jesus é fazer com que os homens aprendam que todos são irmãos, não importa a que nação ou raça pertençam e como irmãos se devem tratar. É justamente isso que a maioria da humanidade não quer compreender; daí resultaria para os discípulos o ódio de muitos.

Conquanto muito se pregue e já se tenha chegado à conclusão de que a humanidade é uma imensa família, cujos membros são irmãos, o orgulho, gerando os preconceitos sociais, tem prejudicado constantemente o cumprimento desta lei da fraternidade. Mas não é só em relação às coisas terrenas que o orgulho tem feito estragos: sua maléfica ação se estende também às coisas espirituais. Na aquisição dos bens espirituais, o orgulho é o principal tropeço. As vezes, pelo simples fato de não querermos ombrear com nossos irmãos mais modestos e mais pequeninos do que nós, desrespeitamos as leis divinas. A fraternidade é uma das grandes leis morais do código divino. E sempre que o orgulho falar mais alto do que a humildade, sufocaremos o sentimento de fraternidade, que deve presidir ao trato com nosso próximo.

Jesus é a personificação da humildade. E sua doutrina prega a humildade de coração. Na terra ainda predomina o orgulho. E os orgulhosos se revoltam contra os que lhes falam da doutrina de Jesus, porque ela lhes relembra a humildade da qual se afastaram. E por isso o nome do Mestre traria o desprezo para os discípulos. É preciso que não nos esqueçamos de que seremos salvos, isto é, ficaremos livres do ciclo das reencarnações dolorosas, somente se nós nos conservarmos fiéis observadores dos preceitos de Jesus até o fim de nossa vida.

23 - Quando porém vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos afirmo que não acabareis de correr as cidades de Israel, sem que venha o Filho do homem.

Assim como cada espírito, individualmente, obedece à lei do progresso, é natural que também o planeta, em seu conjunto, obedeça à mesma lei. À medida que os espíritos aqui encarnados progredirem, progredirão com eles as instituições humanas, as quais melhorarão não só na parte material, como também na moral, e intelectual. Os principais propulsores desse progresso, principalmente na parte espiritual, são os espíritos desencarnados, que por toda parte inspiram aos encarnados o respeito às leis divinas e por meio de médiuns através dos tempos, indicam à humanidade os rumos espirituais a seguir.

Jesus toma Israel como o símbolo do mundo ao qual vinha ser pregado o Evangelho. E recomenda a seus discípulos que não interrompam o labor evangélico por coisa alguma, nem mesmo por causa das perseguições que sofreriam. Conquanto, materialmente falando, não houvesse possibilidade de os discípulos percorrerem todas as cidades do planeta, nem por isso elas ficariam esquecidas. Uma legião de espíritos desencarnados estava incumbida de levar o Evangelho aos mais afastados recantos do globo, suscitando trabalhadores onde fossem necessários. E modernamente, o Espiritismo, manifestando-se desde os lugarejos às grandes capitais, tornou-se o instrumento para a disseminação dos preceitos evangélicos, preparando assim, o advento do Filho do homem, isto é, do reinado espiritual de Jesus, em todos os corações.

24 - Não é o discípulo mais que seu Mestre, nem o servo mais que seu senhor.

25 - Basta ao discípulo ser como o seu mestre e ao servo, como seu senhor. Se eles chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?

Jesus nos recomenda que o tomemos por modelo em nosso labor evangélico. Calmos, pacíficos, mansos e tolerantes, exemplifiquemos com os atos o que pregarmos com as palavras não violentemos a consciência de ninguém. Não nos percamos no emaranhado das discussões inúteis. Estejamos certos de que se nos foi concedido semearmos algumas sementes, ao Pai Celestial pertence o fazê-las germinar. Quanto aos que nos perseguirem, zombarem e escarnecerem de nossa doutrina perdoemo-las de todo o coração, lembrados de que se assim trataram o Senhor, não saberiam tratar melhor os seus servidores.

26 - Pois não os temais; porque nada há encoberto que se nâo venha a descobrir; nem oculto que se não venha a saber.

27 - O que eu vos digo às escuras, dizei-o às claras: que se vos diz ao ouvido, publicai-o dos telhados.

Os discípulos não devem temer aqueles que não lhes aceitam as lições. A lei da desencarnação os levará para o mundo espiritual e lhes provará serem verdadeiros os ensinamentos, que repudiaram, quando encarnados. É o que sucede atualmente com o Espiritismo; ensina a lei da reencarnação, a imortalidade da alma, prega que não existem tormentos eternos, demonstra o progresso ininterrupto do espírito, estabeleceu a comunicação entre os encarnados e os desencarnados; por fim, explica de modo mais racional os preceitos de Jesus. Apesar de encerrar tanta beleza e simplicidade, ainda encontra perseguições, descrentes e detratores. Não os devemos temer. A desencarnação se encarregará de abrir-lhes os olhos para as verdades eternas. Por isso, publiquemos sempre em voz bem alta e por toda a parte, as lições que recebemos por meio do Espiritismo.

28 - E não temais aos que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes porém ao que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo.

Inferno é o símbolo do sofrimento em que incorremos todas as vezes em que incidimos em faltas. Não há castigos eternos e não há inferno onde os espíritos culpados sofram as conseqüências de suas más ações, por toda a eternidade. Conquanto o sofrimento seja efêmero, é causado ao nosso corpo por todo ato, por mais insignificante que seja, que praticarmos em desacordo com as leis divinas. E é freqüente um espírito sofrer, durante sucessivas reencarnações em corpos carnais, as más conseqüências dos péssimos atos do passado.

A reencarnação é um processo regenerador e aperfeiçoador ao mesmo tempo; enquanto de um lado faz com que corrijamos os erros do passado, de outro lado promove nosso aprimoramento espiritual. Como somos espíritos imortais submetidos a um constante progresso, é através das reencarnações, isto é, das vidas sucessivas que vivemos na terra, e algumas delas bastante dolorosas, é através delas que sairemos da materialidade primitiva e alcançaremos a espiritualidade superior. Tal sucede com a jóia que antes de ostentar todo seu fulgor, tem de suportar inúmeros processos de burilamento até perder toda a ganga que a enfeiava e lhe ocultava o magnífico brilho.

O que devemos temer não são as perseguições que apenas atingem o nosso corpo. Devemos temer o que atinge a alma. O corpo é transitório, a alma é imortal. O que atinge a alma e pode lançá-la no inferno, isto é, em muitos séculos de sofrimentos expiatórios repercutindo nas vidas sucessivas, é a hipocrisia, o orgulho, o ódio, os crimes, os vícios, em resumo, o mal sob qualquer forma de que se revista.

29 - Porventura não se vendem dois passarinhos por um asse? e nenhum deles não cairá sobre a terra sem a vontade de vosso Pai.

30 - E até os mesmos cabelos da vossa cabeça todos eles estão contados.

31 - Não temais pois, que mais valeis vós que muitos pássaros.

Aqui Jesus nos mostra a soberana vontade de Deus regendo o Universo, até nas menores coisas. E adverte os trabalhadores do Evangelho de que as horas que despenderem no trabalho espiritual nunca lhes farão falta, no que se refere à parte material de suas existências. Se mesmo um passarinho é objeto dos desvelos de Deus, quanto mais nós não o seremos? Por isso aqueles que dedicarem uma fração de tempo ao serviço divino de cooperarem com o Mestre na difusão do Evangelho; e os que destinarem algumas horas por semana ao estudo dos assuntos espirituais e evangélicos, não deverão temer que estes momentos lhes prejudiquem o andamento de suas ocupações materiais.

Há pessoas que não procuram seguir o Espiritismo, e outras que não querem desenvolver sua mediunidade com receio de perderem na parte material. Aquelas horas que deveriam consagrar ao serviço divino e ao estudo do Evangelho para seu aprimoramento moral e espiritual, passam-nas trabalhando para aumentar seus haveres materiais, receosas de que mais tarde, lhes falte o necessário. É um erro pensar assim.

Até mesmo os cabelos de nossas cabeças estão contados é uma figura de que se serve o Mestre para afirmar que na parte material nada há de faltar aos que consagram algumas horas, por poucas que sejam, ao serviço de Deus.

É verdade que devemos ser previdentes; contudo, não devemos exagerar. Para desempenhar nossa vida na terra temos necessidade de duas coisas: dos bens espirituais e; bens materiais; êstes para nosso corpo, e aqueles para nossa alma. E o Senhor proverá às necessidades do trabalhador, uma vez que este demonstre boa vontade na execução seu pequenino labor evangélico. O Senhor não exige que nos sacrifiquemos às coisas divinas; nós, de nossa parte, não nos devemos sacrificar às coisas materiais.

32 - Todo aquele pois que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus.

33 - E o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.

Confessar Jesus diante dos homens é viver de conformidade com seus ensinamentos. E ter a coragem suficiente de abandonar os preconceitos das religiões dogmáticas, o preconceito das raças e das classes sociais; é ver em cada pessoa um irmão que merece o nosso carinho, respeito e consideração. Enfim, confessar Jesus diante dos homens é submeter-se à lei da fraternidade universal. Os médiuns que sinceramente confessam Jesus diante dos homens, são aqueles que não medem sacrifícios quando se trata de levar sua cooperação mediúnica quer ao leito de um enfermo, quer em auxílio de um obsidiado e a qualquer lugar onde haja dores, aflições e lágrimas. Tais médiuns sabem renunciar aos prazeres do mundo, sempre que estes interfiram no desempenho de seu medianato.

34 - Não julgueis que vim trazer paz à terra; nào vim trazer-lhe paz, mas espada;

35 - Porque vim separar ao homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra.

Uma idéia, por mais nobre que seja, ao aparecer desperta a oposição da maioria. Os hábitos seculares, o comodismo, a indiferença, o interesse, tudo luta contra ela. Semelhante estado de coisas é motivado pelo pequeno adiantamento espiritual, que caracteriza a quase totalidade dos habitantes da terra. Cumpre notar que na terra estão encarnados espíritos em diversos graus de evolução; alguns já alcançaram um grau de adiantamento superior e aceitam facilmente as idéias novas; outros estão em grau inferior de espiritualidade e mostram-se refratários a ensinamentos mais elevados, para cuja compreensão ainda não estão suficientemente preparados. Daí se origina a divergência de opiniões, que divide até os membros de uma mesma família.

Dizendo Jesus que não veio trazer paz, mas espada, quis dar-nos a entender que sua doutrina, enquanto não fosse compreendida pela totalidade dos encarnados, seria causa de atritos entre os que a compreenderiam e os que não a compreenderiam. E nos adverte de que esses atritos começariam dentro dos próprios lares.

O Espiritismo se bate pela unidade religiosa do mundo, porque a lei divina é uma só. Contudo, a unidade religiosa só será possível quando a Terra tiver acabado de sofrer sua transformação para planeta de categoria mais elevada. Então será habitada por espíritos de maior adiantamento espiritual, os quais assimilarão com mais facilidade as idéias progressistas e trabalharão por fazê-las triunfar. Em sua simbologia, a Bíblia prediz que tal transformação será feita pelo fogo e por cataclismas. Não será assim. A transformação que se processará, será apenas de ordem moral e a Terra já está passando por ela. Pouco a pouco se encarnarão espíritos de maior elevação espiritual, uns aqui e outros acolá, até completarem um todo homogêneo, que impulsionará a Terra para uma hierarquia espiritual superior, no concerto dos mundos que compõem o Universo.

Notemos que todas as religiões do planeta são boas, pois, estão graduadas de conformidade com a compreensão de seus adeptos, constituindo cada uma delas uma face da Verdade, que se revela progressivamente à humanidade. Sendo as revelações progressivas, há religiões que melhor explicam as leis divinas. E os espíritos que acompanham o progresso, são aqueles que vão aceitando as revelações à medida que elas surgem. Nesse caso está o Espiritismo com revelações mais adiantadas. Moisés revelou uma parte da Verdade, graduada para a compreensão dos povos de seu tempo. Jesus continuou a obra de Moisés, acrescentando-lhe novas revelações e novo, ensinamentos. O Espiritismo continua a obra de Moisés e de Jesus, enriquecendo-a de novos valores espirituais, mediante o que vem revelar aos homens. Assim vemos que o Espiritismo nada mais é do que a continuação das religiões que o antecederam, explicando-as sob um ponto de vista mais adiantada, mais racional e mais compreensível, porque não usa símbolos, nem tem dogmas. E lança luz sobre o que seus predecessores deixaram subentendido, por não terem podido explicar tudo aos povos das épocas em que viveram. A Moisés e a Jesus cumpria esperarem que a inteligência humana se desenvolvesse, para que pudesse assimilar conhecimentos de ordem superior.

E o Espiritismo veio precisamente na época em que a humanidade, estando com sua inteligência amadurecida, podiam receber ensinamentos novos.

36 - E os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos.

37 - O que ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e o que ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim.

Jesus nos avisa de que os inimigos do homem são os seus próprios domésticos, porque as opiniões contraditórias, que se formam dentro de um lar, poderão desviar do caminho espiritual aqueles que o querem seguir.

É comum alguém querer desenvolver sua mediunidade e encontrar cerrada oposição justamente naqueles que mais deveriam entusiasmá-lo para isso. Outros querem seguir o Espiritismo, freqüentar as sessões, estudar o Evangelho e a mesma má vontade em secundá-las em seus esforços divinos se manifesta no seio de sua família. Às vezes é o marido que serve de obstáculo à mulher e a mulher ao marido; outras vezes são os pais que não se interessam pelo futuro espiritual de seus filhos e nada fazem para guiá-los espiritualmente; e acontece também que pelo falso amor que os pais consagram aos filhos, não usam da energia necessária para conduzi-los pelo reto caminho, deixando que eles se percam nas ilusões do mundo. Os pais espíritas precisam prestar atenção nesse particular: não basta que eles se esforcem por seguir a Jesus; é imprescindível que incutam no coração de seus filhos, desde pequeninos, os hábitos de acordo com os ensinamentos de Jesus; só assim estarão cooperando com o Mestre na evangelização do mundo.

Ser digno de Jesus, portanto, é saber superar todos os obstáculos que se nos apresentarem contra nosso desejo de espiritualização. Esses obstáculos se manifestarão com maior intensidade em nosso ambiente doméstico; é indispensável, então, uma grande dose de boa vontade, muita fé em Deus, muita oração a fim de que esses obstáculos sejam removidos, não pela violência, mas pelo entendimento mútuo e pelo amor que todas as criaturas se devem umas às outras.

38 - E o que não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.

A cruz a que Jesus se refere, pode apresentar-se a nós sob três aspectos: no cumprimento de nosso dever de cada dia, no sofrimento e na mediunidade.

É mister que cumpramos nossos deveres diários com a melhor boa vontade e segundo os preceitos de Jesus, tratando cristãmente de todos os que se aproximarem de nós e dos que vivem sob nossa dependência. Para isso devemos esforçar-nos para sermos um padrão de moralidade, de trabalho, de fé em Deus e de amor ao próximo. É baseando mesmo os nossos mínimos atos no Evangelho de Jesus, que nos tornaremos dignos de Jesus.

O sofrimento pelo qual passaremos também constitui a cruz que devemos carregar durante nossa existência. Não há efeito sem causa. Se sofremos, é porque o merecemos. Se não conseguirmos descobrir a causa de nosso sofrimento na existência atual, ela estará, forçosamente, numa de nossas existências do passado. Nunca nos esqueçamos de que nossa vida presente é a conseqüência dos atos que tivermos praticado em nossas encarnações anteriores, assim como nosso futuro será o resultado de nossas ações da vida presente .. Geralmente, os que sofrem se afastam de Jesus por se lastimarem. E o sofrimento humano pode ser causado pelo desvio das leis divinas, pela ignorância e pelo endurecimento. Qualquer transgressão das leis divinas causa sofrimentos. Podemos escapar da justiça terrena, mas jamais poderemos escapar da Justiça Divina, que dá a cada um unicamente o que cada um merece, como conseqüência de seus atos.

A ignorância é outra grande causa de sofrimentos. A ignorância conduz ao vício e ao crime. Por isso o indivíduo já esclarecido à luz do Evangelho deverá combater acerrimamente a ignorância de seus irmãos, ensinando-os a respeitarem os preceitos de Jesus.

O endurecimento é outra fonte de sofrimento. O indívíduo endurecido é aquele ao qual já foi mostrado o bom caminho, mas por orgulho, por comodismo, por conveniências sociais ou por pouca vontade, persiste no erro. Semeia, assim, sementes de sofrimentos que, mais cedo ou mais tarde, e nesta vida ou na outra, germinarão, resultando numa colheita de frutos amargos.

Os que sofrem, por conseguinte, que tornem a cruz dos seus padecimentos e a carreguem com calma, paciência, resignação e coragem até o fim, para que possam ser dignos de Jesus.

Dado o estado de incompreensão em que está imersa a maioria dos encarnados, a mediunidade se torna, por vezes uma cruz bem pesada. E o médium digno de Jesus é o que toma a cruz de sua mediunidade e a transforma em luz para os que jazem nas trevas, consolo para os aflitos, esperança para os tristes, alívio para os sofredores e guia para os ignorantes.

39 - O que acha a sua alma, perdê-la-á; e o que perder a sua alma por mim, achá-la-á.

Nossa verdadeira vida é a vida espiritual que viveremos quando estivermos libertos da matéria. A vida material é fugaz e por mais que façamos, não a poderemos conservar senão por um curto período .. É um erro, pois, não cuidarmos de nos preparar para a vida espiritual, que constitui nosso futuro. Se desde nossa infância tudo fazemos para que fiquemos aparelhados para triunfarmos materialmente, procurando auferir as maiores vantagens que a terra nos pode oferecer, porque não nos prepararemos também para a vida espiritual na qual ingressaremos infalivelmente?

Acham sua alma na terra os que julgam que é aqui que estão seus únicos interesses e concentram seus esforços apenas na consecução das coisas materiais. Quando despertarem no mundo espiritual, verificarão que correram atrás de ilusões. E como não conquistaram nem um pouquinho de bens espirituais, estarão com suas almas perdidas na maior pobreza espiritual. Os que perdem suas almas na terra são aquêles que tudo fazem para conquistar os bens espirituais, através da vida terrena. Compreendem que a vida terrena é um meio que Deus lhes dá para o progresso de suas almas. E como sabem que a vida terrena é passageira, envidam seus melhores esforços na aquisição de tudo quanto lhes possa ser útil na pátria espiritual.

Perder a alma por Jesus é observar rigorosamente os seus preceitos, única maneira de se conseguir a riqueza espiritual, que fará com que as almas se achem ricas e felizes quando desencarnarem.

40 - O que a vós vos recebe, a mim me recebe; e o que a mim me recebe, recebe aquele que me enviou.

Diariamente estamos recebendo os ensinamentos de Jesus.

Se prestarmos um pouco de atenção, notaremos que continuamente somos advertidos sobre a prática do bem. Não só os evangelizadores, porém, mesmo uma criança serve de mensageira para trazer-nos uma mensagem de Jesus, que nos aponte nossos deveres para com Deus e para com nosso próximo. Os bons espíritos estão incessantemente velando para que os ensinamentos do Mestre sejam relembrados por nós e para isso usam de todos os meios ao alcance deles. Nosso anjo da guarda não cessa de nos dirigir salutares inspirações para que não nos afastemos da observância das leis divinas. Nos conselhos de um amigo, nas leituras úteis, nos bons pensamentos que se formam em nosso cérebro, nas preleções evangélicas que ouvimos, são transmitidas lições de alto interesse para nossas almas. Nossa consciência é a sentinela vigilante, que faz com que jamais deixemos de receber a Jesus no Íntimo de nossos corações. Basta que ouçamos nossa consciência com sinceridade e humildade e sua voz nos recordará sempre nas vicissitudes e na bonança, a fé que Jesus nos recomendou, a esperança que ele nos trouxe, a caridade que nos ensinou a praticar e a resignação ante a vontade do Pai celestial que exemplificou.

41 - O que recebe um profeta na qualidade de profeta receberá a recompensa de profeta; e o que recebe um justo na qualidade de justo receberá a recompensa de justo.

42 - E todo o que der de beber a um daqueles pequeninos um copo de água fría só pela razão de ser meu discípulo, na verdade vos dígo que não perderá a sua recompensa.

Profetas, no tempo de Jesus, eram os inspirados que ensinavam o povo a respeitar os mandamentos divinos. E os justos eram as pessoas que viviam conforme a lei de Deus. Era crença geral que o Pai não deixaria sem recompensa aquele que agasalhassem um profeta ou um justo. Jesus leva mais longe ainda a recompensa divina, afirmando que receberão paga celeste até os que derem um simples copo dágua a um pobrezinho, pela simples razão de quererem obedecer aos preceitos do Evangelho.

Eliseu Rigonatti