terça-feira, 31 de julho de 2012

JESUS CAMINHA SOBRE AS ÁGUAS


(Mt 14:22-33; Mc 6:45-52; Jo 6:15-21)

"Logo depois ordenou Jesus aos discípulos que embarcassem e o precedessem na outra margem, enquanto despedia o povo. Tendo-o despedido, subiu ao monte, para rezar num lugar retirado. Ao cair da noite, estava lá, sozinho. Entretanto, a barca já ia a longa distância da terra, estava açoitada pelas ondas, porque o vento era contrário. Lá pelas três horas da madrugada foi ter com eles, caminhando sobre o lago. Ao vê-lo andar sobre as águas, ficam os discípulos assustados. "É um fantasma!, diziam: soltando gritos de pavor. Mas logo Jesus lhes disse estas palavras: 'CORAGEM! sou EU; NÃO TENHAIS MEDO. Então Pedro respondeu: "Senhor; se és tu mesmo, dá-me ordem de ir ao teu encontro sobre as águas". Jesus lhe disse: "VEM!". E Pedro descendo da barca, foi ao encontro de Jesus. Percebendo porém, a fúria do vento, ficou atemorizado; e, começava afundar, gritou: "Salva-me, Senhor!". No mesmo instante, Jesus estendeu a mão e o segurou, dizendo: 'HOMENS DE POUCA FÉ, POR QUE DUVIDASTE? . E ao subirem eles à barca parou o vento. Então os que estavam na barca prostraram-se diante dele, dizendo: "Tu és verdadeiramente o Filho de Deus!" (Mt 14:22 a 33).

Kardec dá duas alternativas para uma melhor análise do fenômeno, tendo por base as leis da Natureza; em ambas hipóteses é possível a ocorrência de tal fato:

1 - Jesus, embora vivo, pôde aparecer por sobre as águas, de forma tangível, estando seu corpo em outro local (aparições tangíveis). Foi um fenômeno de emancipação da alma, que em seguida, se tornou tangível.

2 - A outra hipótese supõe que seu corpo fosse sustentado pela neutralização da gravidade pela mesma força fluídica que mantém no espaço um objeto, sem qualquer ponto de apoio.

O processo é envolver-se o Espírito com "atmosfera fluidica" que dá leveza especifica, como o ar nos balões (por analogia), permitindo a levitação. Hoje, sabe-se, também da força magnética que faz barcos andarem sobre um "colchão de ar".

Obs.: Ler GE, cap. XV; itens 41 e 42.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Jesus Caminha Sobre as Águas


"A Gênese"
Cap XV - Jesus Caminha Sobre as Águas

41. Logo, Jesus fez com que seus discípulos embarcassem e atravessassem antes dele, enquanto ficava a despedir o povo. Depois de haver mandado o povo embora, subiu sozinho ao alto de uma montanha, para orar; e tendo chegado a tarde, encontrou-se sozinho naquele lugar.

Enquanto isso, a barca era fortemente açoitada pelas ondas no meio do mar, pois o vento lhe era contrário. Porém, na quarta vigília da noite, Jesus veio andando sobre o mar. (1) Quando eles o viram assim andar por sobre as águas, turbaram-se, e diziam: É um fantasma; e gritavam atemorizados. Logo Jesus lhes falou e lhes disse: Tranqüilizai-vos, sou eu, não temais.

Pedro lhe respondeu:
- Senhor, se és tu, ordena que eu vá contigo andando sobre as águas.
Jesus lhe disse:
- Vem.

E Pedro, descendo da barca, andou sobre a água para ir a Jesus. Mas vendo soprar um grande vento, teve medo; e começou a afundar, e gritou:

Senhor, salva-me. Logo, Jesus, dando-lhe a mão, o tomou e disse:
Homem de pouca fé, por que duvidaste?
E subindo à barca, o vento cessou.

Então, aqueles que estavam nessa barca, aproximando-se dele, o adoraram dizendo:
Sois verdadeiramente filho de Deus. (S. Mateus, cap. XIV, vers. de 22 a 33).
42. Este fenômeno encontra sua explicação natural nos princípios acima expostos, cap. XIV, nº 43.

Exemplos análogos provam que isso nem é impossível, nem milagroso, pois que está nas leis da Natureza. Pode ser produzido por duas maneiras.

Jesus, mesmo vivo, pôde aparecer sobre a água sob uma forma tangível, enquanto seu corpo carnal se encontrava alhures; é a hipótese mais provável. Neste relato, pode-se mesmo reconhecer certos sinais característicos das aparições tangíveis. (Cap. XIV, ns. 35 a 37).

Por outro lado, seu corpo poderia ser sustentado, e a gravidade ser neutralizada pela mesma força fluídica que mantém uma mesa no espaço sem ponto de apoio. O mesmo efeito tem se produzido muitas vezes sobre corpos humanos.

(1) O Lago de Genesaré ou Tiberíades.


Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/a-genese/cap-xv-jesus-caminha-sobre-as-aguas/#ixzz20Ezrp7S9

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Evangelho e Doutrina Espírita


Evangelho e Doutrina Espírita

Constâncio Alves
No décimo quinto ano do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, veio João Batista, filho de Zacarias, pregando pelo deserto. Interpelado pelos sacerdotes e levitas, respondeu-lhes que ele não era o Cristo, não era Elias e nem profeta; que batizava com água, até que eles conhecessem aquele que lhe foi preferido, aquele de cujas sandálias, ele, João, não era digno sequer de desatar as correias, aquele que batizava com o Espírito-Santo. E, então, lhes repetiu o que pregava às multidões: — “Convertei-vos, pois que o reino dos céus está próximo”, porquanto a ele se refere o profeta Isaías, dizendo: — Voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor; aplainai as suas veredas; todo vale será aterrado, abater-se-ão todos os montes e colinas; tornar-se-ão retos os caminhos tortuosos; planos, os acidentados; e todo homem verá a salvação de Deus.”
João trazia uma veste de pêlos de camelo e um cinto de couro em volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Os habitantes de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região circunvizinha do Jordão vinham ter com ele; e, confessando os seus pecados, eram por ele batizados no Jordão.
Vendo muitos fariseus e saduceus que vinham para o batismo, disse-lhes João: — Raça de víboras, quem vos preveniu que fugísseis da cólera vindoura? — Tratai de produzir frutos de sincero arrependimento, e não procureis dizer intimamente: “Te­mos Abraão por pai”; porque eu vos declaro que destas pedras pode Deus fazer que nasçam filhos a Abraão. O machado está posto à raiz das árvores: toda árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Eu, na verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que há-de vir, depois de mim, é mais poderoso do que eu, e não sou digno de levar-lhe as sandálias; ele vos batizará com o Espírito e com fogo. Traz na mão a pá e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro e queimará a palha em fogo inextinguível” (Lucas, III:1-17.)
O Evangelho reporta-se a três categorias de batismo: o da água, o do fogo e o do Espírito-Santo, O primeiro, isto é, o da água foi aplicado por João Batista; os dois últimos, segundo o testemunho do mesmo Profeta, são de Jesus.
João Batista fora, consoante a inconteste e positiva afirmativa de Jesus, Elias reencarnado, embora ele, tal como comumente acontece a todos nós, que não temos recordação de nossas existências anteriores, ignorasse, necessariamente, aquela sua encarnação pretérita.
O papel de João Batista, como ele próprio afirmara, consistia em preparar a ambiência para receber Jesus.
O ponto principal das suas dissertações era o de aconselhar a confissão íntima da culpa, seguindo-se-lhe o arrependimento e a regeneração a fim de receberem o Enviado Celeste. Nesse propósito, João ia batizando, no rio Jordão, aqueles que lhe acudiam ao apelo, os quais, através daquele símbolo, assumiam publicamente o compromisso de mudar de vida, de se transformarem, deixando hábitos pecaminosos e costumes corrompidos. Como tal, e Batista só aplicava o seu batismo em adultos. Notemos bem esta particularidade: em pessoas no uso completo da razão, que podiam prometer, por isso que sabiam perfeitamente do que se tratava e da responsabilidade que contraíam. E’ claro que ele fez sentir aos fariseus que o batismo da água não isentava ninguém das culpas cometidas, nem constituía, por si só, elemento de redenção; mas, apenas, importava na promessa solene, feita em público, de corrigir-se, dando novo rumo e nova orientação ao modus vivendi até ali adotado.
Os símbolos — estes ou aqueles — nada podem e nada valem por si próprios, isto é, em sua forma ou apresentação material. O seu valor está na idéia que encerram e no sentimento que despertam. Por isso mesmo, é necessário, antes de tudo, saber interpretar o símbolo, o que equivale a dizer, conhecer a idéia que ele encobre. As letras do alfabeto são símbolos, os quais têm grande significação e importância para os que sabem ler; para o analfabeto, porém, nada representam, nenhuma importância podem ter. O mesmo se dá, evidentemente, com o simbolismo em geral, sob todos os aspectos. Esta circunstância é que o Batista fez sentir aos fariseus, homens hipócritas e desleais que procuravam batizar-se formalisticamente, apenas para aparentar bons propósitos.
Como vãs serão as diligências e inúteis os ensaios procurando solucionar os graves problemas da vida, através de sofisticarias, ritualismos, artimanhas e sortilégios!
Em tal importam, em espírito e verdade, as advertências do Batista, dirigidas aos homens desleais e dolosos de todos os tempos, representados, naquela época, pelos fariseus e saduceus.
Ocupemo-nos, agora, das duas modalidades de batismo: a do fogo e a do Espírito-Santo. Vejamos em que consistem.
O que é da Terra é da Terra; tem o seu cunho próprio e inconfundível. Por sua vez, o que é do Céu é do Céu; traz o característico, a identidade que o torna distinto, inimitável.
O batismo da água é da Terra. João empregou-o alegoricamente, com o fim que já expusemos. Como criação humana, pode ser mistificado, adulterado em sua finalidade, pois tudo que é do homem está sujeito a essa contingência. Mas o que vem de Deus escapa às influências mundanas, impõe-se por si mesmo, é inalterável; não se confunde nem se expõe ao perigo dos desvirtuamentos e das deturpações.
Com as outras duas espécies de batismo — o do fogo e o do Espírito-Santo, tal coisa não se verifica, justamente porque são de origem divina. Aquele, o da Terra, pode ser manobrado pelos homens, a seu talante. O seu emprego pode ser usado e abusivo, por isso que é da Terra. Outro tanto, porém, não sucede com o batismo do fogo e do Espírito. Na sua aplicação, os homens não podem intervir. Trata-se de fenômenos regulados pelas leis divinas, leis naturais que tudo regem no Universo. Nesse setor, é defeso ao homem penetrar e intervir. Nem mesmo como intermediário lhe é permitido funcionar na aplicação daqueles batismos, cuja ação e cujo poder realmente purificam e redimem as criaturas.
Entremos, agora, na apreciação do batismo do fogo.
Chama-se de fogo ao batismo decorrente de uma situação séria e decisiva de que participemos, pela primeira vez, na vida prática. Dir-se-ia uma prova eliminatória em que tivéssemos de fazer valer toda a. nossa capacidade, todo o nosso valor, todos os nossos recursos de habilitação. O soldado, por exemplo, que estrela na. peleja, combatendo e sendo combatido, recebe o batismo de fogo. Assim, pois, este se configura nas lutas incruentas, nas provas e nas expiações que resultam da encarnação. A alma. que enverga a libré da carne é lançada na liça. Ela tem que porfiar para se afazer ao meio; tem que prever todas as necessidades reclamadas pela matéria e a elas prover; tem que suportar a bagagem que traz do passado, a qual forma o seu ambiente interior; tem que se pôr em choque com as suas companheiras de exílio cujas imperfeições e defeitos entram em conflito com as suas próprias imperfeições e defeitos tem que arcar com as contingências e vicissitudes próprias deste mundo, tais como a ilusão dos sentidos, a enfermidade, as ingratidões, a injustiça, a inveja, o ciúme, as perseguições, as rivalidades, os padecimentos físicos e morais, a separação dos entes queridos; e, finalmente, tem que enfrentar a própria morte.
A Sra. Anne Dooley também adianta que 90% dos pacientes tratados no Hospital de Porto Alegre são católicos romanos.
Explica, em linhas gerais, como funciona o hospital e, em seguida, sai com esta: “Ferrari faz a surpreendente (“astoníshing») declaração de que, em muitos casos, essas entidades (obsessoras) se revelam “inimigos em vidas anteriores que se vingam dos adversários que os prejudicaram em passadas existências”.
Cautelosamente, a articulista passa rapidamente sobre o assunto, dizendo que “Tenha ou não substância a sua teoria (a de Ferrari), sem dúvida que muito trabalho de alta categoria está sendo realizado no Brasil”. Acha que deveria ser designado um comitê de alto gabarito para estudar o assunto aqui, em nosso país. Termina o seu artigo de maneira muito curiosa, dizendo que o Dr. Wickland abriu a picada, na primeira metade deste século. “Quem, na segunda metade do chamado século científico, dará provas de igual coragem e lucidez?
Podemos responder com outra pergunta: Onde estão os que não acham surpreendente a afirmativa de Conrado Ferrari? Esses, dizemos nós, estão perfeitamente em condições de demonstrar coragem e lucidez. Há outra pergunta complementar a fazer: Como é que poderemos começar a entender o mecanismo do Espírito e da lei cármica sem a ajuda racional, evidente, lógica, da reencarnação?
Nem que fosse a propósito, para dar continuidade à questão palingenésica, aqui está neste mesmo número de “Two Worlds” a primeira parte (de duas) de um artigo de Alan Howgrave-Graham. Chama-se “Reencarnation: a rational view” (Reencarnação - uma opinião racional). O autor costuma colaborar com certa regularidade nessa revista. Tem 88 anos de idade. A redação já procura cercar o trabalho de certas cautelas, classificando a reencarnação de “vexed questíon”, a “vexatória questão”, ou ainda: “the highly controversial problem”, isto é, “problema altamente controvertido”.
Embora o trabalho conste de duas partes, a primeira dá para a gente ajuizar das idéias do Sr. Howgrave-Graham. Por exemplo: está convencido de que a reencarnação ocorre mesmo e que aconteceu pelo menos no seu caso particular. Adiante informa que, “apesar de numericamente bem frequente, é provavelmente, em base percentual, não a regra, mas, antes, a exceção” (!)
Acha-a uma “idéia interessante” e pouco mais que isso. Os que morrem quando ainda crianças só necessitavam daquele curto lapso de tempo “para algumas lições ou experiências suplementares”. E’ a sua opinião.
Menciona um caso - que apenas informa não ser o de Bridey Murphy - em que se verificou “uma aparente ressuscitação de memórias de uma vida anterior pela hipnose”. Num ponto podemos concordar plenamente com o autor, quando ele diz que os que rejeitam a idéia da reencarnação o fazem porque têm dela uma concepção deformada. Acham estes, por exemplo, que a cada vida assumem uma personalidade inteiramente distinta, além das “mudanças de parentes, ambiente, criação, ocupação e até de língua e talvez de pais, e que cada vez é uma entidade inteiramente nova como se acabada de nascer pela primeira vez. (Os grifos são metia.) Que o “eu” de hoje, 1963, pode desaparecer completamente como os anteriores e poderá ser seguido por outro inteiramente diferente, daqui a cem anos. Qual seria, então, o “eu real”? - perguntaria o anti-reencarnacionista. O de 1963? Porquê? E porque não o de 1760? Poderia, então, ser um arcebispo e agora um empregado de banco...”
O autor recusa todas essas noções (e corretamente, a nosso ver), esclarecendo que o ser é uno: “sou o que sou e nada mais. Meu corpo é meu, minha mente é minha, minha alma é minha.”
Em seguida passa a analisar um poema de Wordsworth, intitulado “Intimations of Immortality”, e que representa, em linhas gerais, suas próprias idéias. “Our birth - diz o poeta - is but a sleep and a forgething ...” “Nosso nascimento não é senão um sono e um esquecimento...; a alma que se levanta conosco, estrela da nossa vida, já teve seu pouso alhures e veio da distância infinda; não em total esquecimento, nem em sua nudez total; trilhando nuvens de glória, viemos de Deus, que é nosso lar!”
Sublime intuição dos poetas, leitor. Na paz dos seus gabinetes de trabalho, mensageiros do Senhor lhes sopram versos como estes.
Aguardamos a segunda parte do artigo do Sr. Howgrave-Graham, a fim de podermos discutir-lhe melhor as idéias.
W. M. Blewett, um leitor que se revela multo erudito, contesta uma parte do trabalho da Sra. Emma H. Britten, que “Two Worlds” vem publicando regularmente. O leitor deve lembrar-se de que não me sinto atraído pelos escritos da Sra. Britten, mas, na minha ignorância, não sei julgá-la e atribuo o defeito de apreciação a mim e não a ela. Já este não, que conhece o assunto e diz que o trecho publicado em Setembro “contém muitas estranhas afirmações”. Mesmo o principiante no estudo de religiões comparadas, diz o missivista, sabe que o Budismo emergiu do Hinduísmo, muito mais antigo, ao passo que a Sra. Britten declara que o “Budismo é a mais antiga mitologia das nações no dizer de São Paulo, é o derradeiro inimigo a vencer. A dor, portanto, sob suas múltiplas modalidades, constitui o batismo de fogo, de cuja ação ninguém escapa e cuja aplicação independe do concurso humano.
Importa dizer que ele vem de cima, atua como lei ou, de má vontade, com submissão cai revolta. Do da água, que é terreno, podemos fugir, mas, do de fogo, que é divino, não nos é dado fugir ou recalcitrar.
Isto corresponde exatamente ao aforismo jurídico que diz: Dura Lex sed Lex. A Lei é dura, mas é Lei, e a ela temos que nos submeter.
A influência do batismo da água é precária duvidosa; pode ser ou não ser eficiente, dependendo da sinceridade, do estado moral de quem o recebe. O poder do batismo de fogo é positivo; mais dia menos dia, nesta ou em subseqüentes reencarnações, a alma acaba sendo lapidada pela dor. A sua eficiência é infalível. Não há mal que não vença, não há vício que não debele, não há paixão que não dome, por mais furiosa que seja, por mais inveterada e radicada que se encontre. A dor vence e triunfa sempre, conseguindo o seu objetivo — que é o aperfeiçoamento e a espiritualização do Homem. Seu poder de transformação é incalculável. Sua força regeneradora é irresistível. A água lava, do fogo purifica. E purificar é mais do que lavar; evidentemente. Há sujidades e nódoas que a água é impotente para tirar. Ao poder do fogo, porém, não há imundície que resista. As escórias integradas no ouro puro da alma humana durante séculos e milênios, escórias que pareciam irredutíveis, por isso que inseparáveis da divina gema, acabam derretendo-se, revelando sua inferioridade e separando-se da centelha celeste, cuja natureza, então, se ostenta em todo o seu esplendor.
Eis ai, portanto, como se explicam as palavras de Jesus: “Eu vim a este mundo para atear fogo; e o que mais quero se esse fogo já está aceso.”
Dor, fogo bendito! batismo do Céu, potência purificadora das almas em expiação — bendita e bem-vinda sejas entre os homens!
Fogo original trouxe Jesus à Terra! Sim, fogo que se não apaga mais, uma vez aceso; fogo que abrasa os corações transformados em cadinhos ondeo egoísmo se transmuda em altruísmo, as rivalidades em cooperação, o ódio em amor; onde, um dia, se fundirão as raças e os credos, as escolas e os partidos, os pavilhões e os idiomas, formando uma só pátria uma só família: a Humanidade. Eis o milagre que o batismo de fogo produz!
Quem ousará negar semelhante prodígio, diante dos fatos consumados em todas as épocas da História, nos casos pessoais de conversão e santificação de pecadores?
Meditando acerca das considerações tecidas em torno do batismo de fogo, ficamos como que entre confusos e perplexos, quando ponderamos o fato de o Batista haver dito ser esse o batismo trazido por Jesus e levamos em conta que a dor sempre foi patrimônio da Humanidade em todos os tempos.
Tentaremos esclarecer esse ponto, procurando desvencilhar-nos desse cipoal dm que muitas vezes nos deixamos embaraçar devido à nossa teimosia em olhar para baixo, e não para Cima, isto é, para a Luz da Verdade. Apegamo-nos quase sempre à dureza das palavras, sem nelas procurarmos o espírito que as vivifica.
O sofrimento e o Homem são da mesma idade. Este jamais existiu sem aquele. Este mundo é a grande escola, onde as almas obstinadas aprendem e se educam através da dor. Jesus, notemos bem, é o Guia, é o Redentor, é o Mestre, é o Cristo escolhido e ungido por Deus para dirigir, ensinar e conduzir o Homem na conquista da, imortalidade, emancipando-se das encarnações e reencarnações. Por isso ele afirma com a autoridade que lhe é própria: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Demais, resta ainda considerar que Jesus veio dar à dor o seu devido sentido, mostrando-a como elemento de redenção. Emmanuel, em certo trecho do seu romance “Renúncia”, diz mesmo que a dor é o preço sagrado de nossa redenção. Sabemos muito bem que o amor equilibra, a dor restaura. E’ por isso que, seguidamente, ouvimos frases como esta: nunca teria acreditado em Deus, nem mudado de vida, se não houvesse ,sofrido”.
Por aí vemos de quanta valia é a dor no processo de nossa Evolução Espiritual.
No Sermão do Monte, o Mestre a incluiu entre as beatitudes, apresentando-a, portanto, como expressão da misericórdia divina e não como castigo. Bom é que esclareçamos o seguinte: — Deus não salva ninguém, como não condena a quem quer que seja, por preferências ou exclusões; antes, ensina a todos o caminho da salvação, e deixa a cada um a liberdade de segui-Lo ou não. A redenção não foi, em última análise, senão a transmissão da mais intensa luz, que torna bem visível aquele caminho.
O batismo é como o sinal de que nos foi mostrada a estrela que nos guiou os magos. E’ o mesmo que a circuncisão; o sinal de que nascemos no meio salvador, mas não de que nos venham dele forças ou virtudes que nos salvem, quer usamos bem, quer usemos mal do livre arbítrio que nos foi dado para aproveitarmos ou não aquele meio.
Jesus, pois, é verdadeiro Redentor, porque remiu o Homem da ignorância das verdades divinas, que são a condição essencial da salvação. Ele abriu as portas do Céu à Humanidade, e isto porque lhe ensinou o caminho seguro de subir ao Pai; não acabou com a culpa, seu papel foi o de ensinar, pelo exemplo, a amar a Deus e ao próximo, e a morrer pelo Bem, para ressuscitar na Felicidade. Assim, o batismo, repetimos, é um sinal de que o Espírito recebeu a Luz, por Ele trazida à Terra.
Reformador – Fevereiro de 1965

O Evangelho na Doutrina Espírita


O Evangelho na Doutrina Espírita

Marcus Alberto de Mario
do Rio de Janeiro, RJ
Alguns segmentos religiosos mantém em seu discurso uma acusação grave contra a Doutrina Espírita, a de que nossa doutrina não é baseada nos ensinos de Jesus. É comum ouvirmos padres e pastores afirmarem que o Espiritismo é doutrina do demônio, e que os espíritas desconhecem o Evangelho.
Primeiro, há necessidade de se esclarecer o entendimento sobre o demônio, palavra de origem grega, daimon, que significa gênio ou protetor familiar. Sócrates, famoso filósofo grego, dizia conversar constantemente com seu daimon, de quem recebia orientações de ordem moral. Portanto, a palavra demônio só muito mais tarde veio receber a acepção de um ser criado para fazer o mal, concepção essa contrária ao bom senso e à lógica, pois se Deus, o Criador, é todo bondade, amor e justiça, não pode criar um ser destinado, por toda a eternidade, a fazer o mal, sem condição alguma de progresso. O reconhecimento da existência do daimon sanciona a crença na imortalidade da alma, na continuidade da vida após a morte e na comunicabilidade dos espíritos com os homens, e nada tem a ver com a maldade absoluta, pois a crença espírita é a da existência de espíritos imperfeitos, ainda se comprazendo no mal, mas que, pela lei do progresso, irão caminhar paulatinamente para o bem.
Quanto à argumentação de que o Evangelho não faz parte do Espiritismo, façamos um pequeno estudo de "O Livro dos Espíritos", a obra básica da doutrina. Logo no frontispício, a página de abertura da obra, lemos: "O Livro dos Espíritos, contendo os princípios da Doutrina Espírita sobre (...) as leis morais (...) segundo o ensinamento dos Espíritos Superiores (...)". Perguntamos: que leis morais? São aquelas inscritas nos Dez Mandamentos e que servem de fundamento aos ensinos e exemplos de Jesus.
No item seis da Introdução, quando resume os pontos principais da Doutrina, baseado nos ensinos do Espíritos, Allan Kardec expressa a crença em Deus como condição básica da fé espírita. Depois informa: "A moral dos Espíritos Superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: "fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam", ou seja, fazer o bem e não o mal. O homem encontra nesse princípio a regra universal de conduta, mesmo para as menores ações." Como podemos perceber, é um ensino de Jesus recomendado como princípio universal de conduta para o homem.
Na mensagem dos Espíritos Superiores que antecede os estudos na forma de perguntas e respostas, lemos: "A vaidade de certos homens, que crêem saber tudo e tudo querem explicar à sua maneira, dará origem a opiniões dissidentes; mas todos os que tiverem em vista o grande princípio de Jesus (acima referido) se confundirão no mesmo sentimento de amor ao bem e se unirão por um laço fraterno que envolverá o mundo inteiro; deixarão do lado as mesquinhas disputas de palavras para somente se ocuparem das coisas essenciais." Novamente a alusão a Jesus e seus ensinos, desta vez como roteiro para união das doutrinas religiosas.
A primeira parte de "O Livro dos Espíritos", tratando das Causas Primárias, faz um amplo estudo sobre Deus e a criação divina, e se o Espiritismo nenhuma relação tivesse com o Evangelho, não poderia construir seu edifício doutrinário na crença em Deus, pois toda a cristandade, seja ela católica ou protestante, baseia-se na crença divina.
Na segunda parte, estudando o Mundo Espírita ou dos Espíritos, compreendemos que os Espíritos são os próprios homens desencarnados, e que tudo no universo é regido pela lei de Deus, e que temos o progresso intelectual e também o progresso moral, e que é este último o que distingue as diferentes ordens de Espíritos. Mais uma vez a questão moral como base do pensamento espírita.
Quando Allan Kardec chega à terceira parte, As Leis Morais, nenhuma dúvida temos quanto a estar o Espiritismo intimamente ligado ao Evangelho. Basta lermos a questão 625: Pergunta: "Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo?" Resposta: "Vede Jesus." A seguir o Codificador faz este comentário: "Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra."
Jesus como guia e modelo da Humanidade e mais, a sua doutrina, ou seja, os seus ensinos, como expressão perfeita da lei divina fazem parte dos princípios básicos do Espiritismo, não havendo possibilidade, portanto, do espírita estar desligado do Evangelho ou não poder ser considerado cristão.
O que acontece é que o Espiritismo não considera o Evangelho ao pé da letra. Temos que o Evangelho é o conjunto de escritos dos discípulos e apóstolos sobre Jesus, recorrendo os mesmos para essa tarefa, da sua memória e de anotações diversas. Não transcreveram fielmente a vida e obra de Jesus, e cada um escreveu de acordo com seu ponto de vista, sofrendo maior ou menor influência da cultura judaica. Também o Evangelho sofreu mudanças nas traduções para outras línguas e recebeu acréscimos e decréscimos por parte da Igreja Católica, o que é fato histórico. Assim, o Espiritismo considera unicamente os ensinos morais de Jesus, tomando todo o resto da obra como subsídio histórico, o mesmo acontecendo com os escritos que compõem o Velho Testamento, ou Bíblia.
O espírita não se preocupa em decorar capítulos e versículos para recitá-los mecanicamente, pois sua meta é a vivência dos ensinos morais do Mestre Jesus, e essa vivência deve ser exercida através do amor ao próximo.
Evangelho e Espiritismo são indissociáveis, e quem afirma o contrário o faz por desconhecimento ou má fé. Não encontrando na prática espírita os fundamentos das cerimônias e dos rituais litúrgicos e nem das recitativas evangélicas de missas e sermões, condenam o Espiritismo julgando-o pela superfície, quando, se o estudassem, encontrariam a caridade recomendada por Jesus em ação, no silêncio de quem dá com a mão direita sem estender a mão esquerda para receber, como recomendou o guia e modelo da Humanidade.
(Jornal Verdade e Luz Nº 182 de Março de 2001)

Evangelho: Teoria e Prática


Evangelho: Teoria e Prática

Rogério Coelho
"Embora o coração humano seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras mais ocultas, o gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual" Dufêtre (1)
Classificando os Espíritas que se convenceram por um estudo direto da Codificação, Allan Kardec chamou de Espíritas imperfeitos aqueles que apenas admiram a moral do Espiritismo mas não a praticam. Em nada alteram os seus hábitos e não se privam de um gozo que fosse. (2)
Existe uma grande defasagem entre a teoria do Evangelho e a sua prática pela Humanidade.
Narra-nos Neio Lúcio (3) que Tadeu e André, certa noite, em casa de Simão, ao ouvirem Jesus falar da glória reservada aos bons, cientes das grandes limitações morais que ainda detinham, amarguraram-se enormemente deixando transparecer isso através de pranto discreto. Não podendo conter-se, Tadeu exclamou aflito:
- Senhor, aspiro sinceramente a servir à Boa-Nova; contudo, sou portador de um coração indisciplinado e ingrato. Ouço, contrito, as explanações do Evangelho; lá fora, porém, no trato com o mundo, não passo de um Espírito renitente no mal. Lamento... Lamento... mas como trabalhar em favor da Humanidade nestas condições?
Com a vos embargada, adiantou-se André, alegando, choroso:
- Mestre, que será de mim? Ao seu lado, sou a ovelha obediente; entretanto, ao distanciar-me... basta uma palavra insignificante de incompreensão para desarmar-me.
Reconheço-me incapaz de tolerar o insulto ou a pedrada. Será justo prosseguir, ensinando aos outros a prática do bem, imperfeito e mau qual me vejo?!...
Calando-se André, interferiu Pedro, considerando:
- Por minha vez, observo que não passo de mísero endividado e inferior.
Sou o pior de todos. Cada noite, ao me retirar para as orações habituais, espanto-me diante da coragem louca dentro da qual venho abraçando os atuais compromissos. Minha fragilidade é grande, meus débitos são enormes. Como servir aos princípios sublimes do Novo Reino, se me encontro assim insuficiente e incompleto?
- À palavra de Pedro, juntou-se a de Tiago, filho de Alfeu, que asseverou, abatido:
- Na intimidade de minha própria consciência, reparo quão longe me encontro da Boa-Nova, verdadeiramente aplicada. Muita vez, depois de reconfortar-me ante as dissertações do Mestre, recolho-me ao quarto solitário, para sondar o abismo de minhas faltas. Há momentos em que pavorosas desilusões me tomam de improviso. Serei na realidade um discípulo sincero? Não estarei enganando ao próximo?
Outras vozes se fizeram ouvir no cenáculo, desalentadas e cheias de amargura.
Jesus, porém, após assinalar as opiniões ali enunciadas, entre o desânimo e o desapontamento, sorriu, tocado de bom humor, e esclareceu:
- "Em verdade, o paraíso que sonhamos ainda vem muito longe e não vejo aqui nenhum companheiro alado. A meu parecer, na indumentária celeste, ainda não encontram domicílio no chão áspero e escuro em que pisamos. Somos aprendizes do bem, a caminho do Pai, e não devemos menoscabar a bendita oportunidade de crescer para Ele, no mesmo impulso da videira que se eleva para o céu, depois de nascer no obscuro seio da terra, alastrando-se compassiva, para transformar-se em vinho reconfortante, destinado à alegria de todos. Mas, se vocês se declaram fracos, devedores, endurecidos e maus e não são os primeiros a trabalhar para se fazerem fortes, redimidos, dedicados e bons em favor da obra geral de salvação, não me parece que os anjos devam descer da glória dos Cimos para substituir-nos no campo das lições da Terra. O remédio, antes de tudo, se dirige ao doente, o ensino ao ignorante... De outro modo, penso, a Boa-Nova de salvação se perderia por inadequada e inútil..."
Difícil é o rompimento das peias do "homem-velho" com seus atavismos, mas não é impossível!...
O Espírita verdadeiro, isto é, o Espírita-Cristão, não se limita apenas a admirar a moral cristã mas, esforça-se por praticá-la em espírito e verdade.
Afirma Allan Kardec que (4)
"(...) reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más".
Jesus foi muito claro e enfático quando afirmou que "de médicos não precisam os sãos, mas sim, os doentes", que somos todos nós, que ainda reencarnamos em Orbes de Provas e Expiações.
(1) Kardec, A in "O Evangelho Segundo o Espiritismo" - Capítulo X, item 18
(2) "O Livro dos Médiuns" - 1ª parte, Capítulo III, item 28/2
(3) Neio Lúcio/Xavier, F.C. in "Jesus no Lar" - cap. 38
(4) Kardec, A in "O Evangelho Segundo o Espiritismo" - cap. XVII/4
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 1997)

Palestra Evangelho e Espiritismo - Haroldo

http://www.youtube.com/watch?v=GPEVzvtfYqM

Evangelho e Espiritismo


Evangelho e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO:1-Introdução. 2-Conceito. 3-Conotações do Termo Evangelho. 4- Contexto Histórico do Evangelho: 4.1-Ambiente Político-Religioso; 4.2-O Judaísmo Palestinense no Tempo de Cristo; 4.3-De Cristo a Kardec. 5- Kardec e o Evangelho Segundo o Espiritismo. 6-Evangelho e Educação. 7-Conclusão. 8-Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO

O objetivo central deste estudo é enaltecer os esforços constantes de evangelização das criaturas. Para que possamos atingir tal desideratum, preparamos o seguinte roteiro: conceito, conotações do termo "Evangelho", Evangelho no contexto histórico, o Evangelho Segundo o Espiritismo e Evangelho e Educação.

2. CONCEITO

O uso freqüente de uma palavra pode provocar, com o tempo, a perda do seu significado original. Isto aconteceu com muitos de nós que dizemos e ouvimos pronunciar tantas vezes o termo "Evangelho".

De acordo com Battaglia em Introdução aos Evangelhos, o primeiro significado lembrado pelo som desta palavra é o de um livro, um dos quatro que foram legados pela era apostólica e que contém a vida e a doutrina de Jesus. A palavra "Evangelho" suscita em muitos cristãos uma vaga idéia de respeito e solenidade ligada à liturgia da Missa dominical, quando o som deste termo faz-nos ficar todos de pé para ouvi-lo devota e respeitosamente. Mas normalmente, tudo pára aí.

Evangelho é a tradução portuguesa da palavra grega Euangelion que foi notavelmente enriquecida de significados. Para os gregos mais antigos ela indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma "boa-nova", segundo a exata etimologia do termo.

Falava-se de "evangelho", nas cidades gregas, quando ecoava a notícia de uma vitória militar, quando os arautos noticiavam o nascimento de um rei ou de um imperador. Ao termo estava unida a idéia de festa com cânticos, luzes e cerimônias festivas. Era, em suma, o anúncio da alegria, porque continha uma certeza de bem-estar, de paz e salvação. (1984, p. 19 e 20)

3. CONOTAÇÕES DO TERMO "EVANGELHO"

O Evangelho de Jesus - Deus, no Velho Testamento, havia comunicado os seus anúncios de alegria aos patriarcas, a Moisés e aos profetas do seu povo; no Novo Testamento, dá o maior dos "anúncios", o anúncio de Jesus. Jesus não é só conteúdo do anúncio, mas é também o primeiro portador e arauto. Ele apresenta a si mesmo e a sua obra como o "Evangelho de Deus", isto é, a "boa-nova" que Deus envia ao mundo que espera. (Battaglia, 1984, p. 21 e 22)

O Evangelho dos Apóstolos - Desde o momento da ascensão de Jesus, a palavra "Evangelho" designou a pregação oral dos apóstolos, pregação que tinha como argumento a pessoa e atividade de seu Mestre divino. (Battaglia, 1984, p. 23)

Os Quatro Evangelhos - Desde os primeiros anos do cristianismo preferiu-se falar de "Evangelho", no singular, também quando se referia aos livros. isto porque os escritos dos apóstolos traziam todos o mesmo e idêntico "alegre anúncio" proclamado por Jesus e difundido oralmente. Quando se desejou, porém, indicar de maneira específica cada um dos quatro livros, encontrou-se uma fórmula particularmente eficaz e significativa: "Evangelho Segundo Lucas", "Evangelho Segundo Mateus", "Evangelho Segundo Marcos" e "Evangelho Segundo João". Desse momento em diante, o singular e o plural se alternam para indicar, um a identidade do anúncio, o outro a diversidade de forma e redação. Ficará, porém, sempre viva a convicção de que o Evangelho é um só: o alegre anúncio de Jesus. (Battaglia, 1984, p. 25 e 26)

O Quinto Evangelho - Os Atos dos Apóstolos e as Cartas Apostólicas dispostos cronologicamente formariam um quinto evangelho. O Nascimento de Jesus, por exemplo, poderia ser encontrado em Gl 4,4; Rm 1,4; At 3, 18-24; At 1,14. Sua atividade missionária em At 10,36; At 2,22; At 1,13; At 1, 21-22; 2 Pd 1, 16-18; 1 Jo 1, 1-3. Este mesmo exercício poderia ser feito com relação às condições de sua vida, o início da vida pública, a última ceia, a traição de Judas etc. (Battaglia, 1984, p. 32 a 36)

Evangelhos Apócrifos - Muitas informações acerca de Jesus estão arroladas nos evangelhos apócrifos (escondidos) e nas ágrafas (ensino oral).

4. CONTEXTO HISTÓRICO DO EVANGELHO

4.1. AMBIENTE POLÍTICO-RELIGIOSO

O povo judeu, ao qual Jesus e os apóstolos pertenciam Império fazia parte do grande império romano que estendia as asas das suas águias do Atlântico ao Índico. O jugo romano, porém, pesava de modo especial sobre a Palestina ao contrário dos outros povos. O poder político-religioso na Palestina, naquela época, era exercido pelo procurador romano, pelo sumo sacerdote e pelo senado judeu.

procurador romano era sobretudo um chefe militar, encarregado de vigiar, com 3.000 homens à sua disposição. Competia-lhe cobrar os tributos a serem enviados ao erário imperial. Administrava a justiça só nos casos em que era prevista a pena de morte, pena que o tribunal ordinário do sinédrio, ou os tribunais locais das várias regiões e cidades não podiam executar. Por esse motivo Jesus, embora tivesse sido condenado à morte pelo sinédrio, teve de comparecer diante de Pilatos para responder por delito capital.

sumo sacerdote era assistido, no governo político e religioso da nação, por uma espécie de senado judeu, o sinédrio.

Pertenciam ao sinédrio três categorias de pessoas:
- "príncipes dos sacerdotes" (chefes das famílias e das classes sacerdotais e os sumos sacerdotes depostos do cargo)
- "anciãos" (membros das famílias nobres e ricas de Jerusalém).
- "escribas" ou "doutores da lei" (mestres judeus peritos na Lei e na tradição). Todos esses membros pertenciam às duas seitas principais do judaísmo: a dos saduceus e a dos fariseus. (Battaglia, 1984, p. 105 a 107)

4.2. O JUDAÍSMO PALESTINENSE NO TEMPO DE CRISTO

O ambiente histórico-religioso em que o Evangelho nasceu é o do judaísmo formado e alimentado pelos livros sacros do Antigo Testamento, condicionado pelos acontecimentos históricos, pelas instituições nas quais se encontrou inserido e pelas correntes religiosas que o especificaram.

Embora o cristianismo seja uma religião revelada, diferente da judaica, apareceu historicamente como continuação e aperfeiçoamento da revelação dada por Deus ao povo de Israel. Jesus era um judeu, que nasceu e viveu na Palestina. Os apóstolos eram todos da sua gente e da sua religião.

Por isso, nos Evangelhos encontramos descrições, alusões e referências a pessoas, instituições, idéias e práticas religiosas do ambiente judaico, frente às quais Jesus e os apóstolos tomaram posição, aceitando-as ou rejeitando-as. (Battaglia, 1984, p. 118)

4.3. DE CRISTO A KARDEC 

A divulgação do Evangelho, desde as suas primeiras manifestações, não foi tarefa fácil. A começar pela construção desses conhecimentos - realizada sob um clima de opressão -, pois o jugo romano, como vimos anteriormente, pesava de maneira especial sobre a Palestina. As mortes dos primeiros cristãos, nos circos romanos, ainda ecoa de maneira indelével em nossos ouvidos. Além disso, tivemos que assistir à ingerência política em muitas questões de conteúdo estritamente religioso. Fomos desfigurando o Cristianismo do Cristo para aceitarmos o Cristianismo dos vigários, como disse o Padre Alta. A fé, o principal alimento da alma, torna-se dogmática nas mãos de políticos e religiosos inescrupulosos. Para ganhar os céus, tínhamos que confessar as nossas culpas, pagar as indulgências e obedecermos aos inúmeros dogmas criados pela Igreja. É dentro desse quadro de fé dogmática que surge o Espiritismo, dando à fé uma direção racional, no sentido de iluminar a vida espiritual de toda a humanidade.

5. KARDEC E O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

O Evangelho Segundo o Espiritismo é o 3.º Livro da Codificação. O Livro dos Espíritos surgiu em 18/04/1857, seguido pelo O Livro dos Médiuns, em 1861. Somente em 1864 Kardec publicou O Evangelho Segundo o Espiritismo. Isso para não chocar a crença católica da penas eternas.

Allan Kardec na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo diz que as matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em cinco partes: os atos comuns da vida de Cristo, os milagres, as profecias, as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja e o ensinamento moral. Se as quatro primeiras partes foram objeto de controvérsia, a última manteve-se inatacável. Este é o terreno onde todas as crenças podem se reencontrar, porque não é motivo de disputas, mas sim regras de conduta abrangendo todas as circunstâncias da vida, pública e privada.

Kardec, para evitar os inconvenientes da interpretação, reuniu nesta obra os artigos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de culto. Nas citações conservou tudo o que era útil ao desenvolvimento do pensamento, não eliminando senão as coisas estranhas ao assunto. Como complemento de cada preceito, ajuntou algumas instruções escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos em diversos países, e por intermédio de diferentes médiuns.

Cabe lembrar que o Espiritismo não tem nacionalidade, está fora de todos os cultos particulares e não foi imposto por nenhuma classe social, uma vez que cada um pode receber instruções de seus parentes e de seus amigos de além-túmulo. Ele veio dar uma nova luz à moral do Cristo. (1984, p. 8 a 12)

6. EVANGELHO E EDUCAÇÃO

No âmbito do Espiritismo, o Evangelho deixou de ser apenas a fonte de meditação e oração para a ligação do homem com um Deus antropomórfico, no insulamento, para transformar-se num instrumento de aperfeiçoamento do indivíduo, de renovação íntima constante e continuada; de adequação, adaptação à vida, no torvelinho de suas modalidades, na incessante variação de suas manifestações. Em síntese, o objetivo do Espiritismo é transformar o Evangelho de crença em conhecimento - conhecimento das leis que governam o Espírito.

Com o Evangelho, a idéia de Educação se transforma. Ela continua sendo a transmissão de cultura de uma geração a outra, mas com a finalidade de estimular a criatividade, de adaptar o indivíduo à vida, de conduzi-lo à integração na sociedade, através do trabalho produtivo, das realizações conjuntas, de forma ordenada e pacífica. (Curti, 1983, p. 85 a 87)
A vinda do Mestre modificou o cenário do mundo. Emmanuel em Roteiro diz-nos que antes de Cristo, a educação demorava-se em lamentável pobreza, o cativeiro era consagrado por lei, a mulher aviltada qual alimária, os pais podiam vender os filhos etc. Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento. Iluminados pela Divina influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes; Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados; instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização para o espírito popular etc. (Xavier, 1980, cap. 21)

Emmanuel diz ainda em Emmanuel que "O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a resistência das trevas. A má-fé, a ignorância, a simonia, o império da força conspirarão contra ele, mas tempo virá em que a sua ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações coletivas, é para a sua luz eterna que a Humanidade se voltará, tomada de esperança". (Xavier, 1981, p. 28)

7. CONCLUSÃO

O Evangelho (segundo o Espiritismo) deixa de ser fonte de meditação e oração e passa a ser um instrumento de aperfeiçoamento do indivíduo. É um guia insubstituível para a adaptação do homem às crescentes formas de vida. Refletindo sobre os seus conteúdos morais, o homem começa a evangelizar-se, ou seja, começa a criar novos hábitos e atitudes, a tornar operante a sua fé, a exercitar mais e mais vezes a paciência.
Adquire, assim, uma nova postura com relação à vida e ao seu próximo, porque aprendeu que o único evangelho vivo é aquele em que os outros o observam.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BATTAGLIA, 0. Introdução aos Evangelhos - Um Estudo Histórico-crítico. Rio de Janeiro, Vozes, 1984.
CURTI, R. Espiritismo e Questão Social (Problemas da Atualidade I). São Paulo, FEESP, 1983.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
XAVIER, F. C. Emmanuel (Dissertações Mediúnicas), pelo Espírito Emmanuel. 9 ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.
XAVIER, F. C. Roteiro, pelo Espírito Emmanuel. 5. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980.
São Paulo, 11/06/1995