sábado, 1 de fevereiro de 2014

A segunda volta do Cristo

A propósito do segundo advento do Cristo, Allan Kardec, em “A Gênese”, destaca inicialmente dois trechos do Evangelho:

►  Em Mateus, capítulo 16, versículos 24 a 28:


“Disse então Jesus a seus discípulos:

▬  Se algum quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; ▬ porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo. ▬  Pois o Filho do homem deve vir na glória de seu Pai, com seus anjos, e então dará a cada um segundo suas obras. Digo-vos, em verdade, que alguns daqueles que aqui se encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o Filho do homem no seu reino”.

► Em Marcos, capítulo 14, versículos 61 e 62:


“O sumo sacerdote ainda o interrompeu e lhe disse:

▬  Sois vós o Cristo, o filho de Deus abençoado para sempre? Jesus lhe respondeu:

▬  Eu sou, e vereis um dia o Filho do homem sentado à direita da majestade de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.”


Desses dois trechos kardec considera:

Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que voltará à Terra com corpo carnal, nem que personificará o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos forem chegados.

Considerando que nos albores do terceiro milênio muitos são os cristãos que estabelecem interpretação equivocada de alguns trechos evangélicos, e em particular dos acima transcritos, com humildade e prudência apresento reflexões encontradas no Espiritismo, que talvez venham a dissipar quaisquer névoas sobre o seu entendimento.

►  Os trechos citados formam um grande painel, cuja síntese espírita, sempre concorde com Kardec, pode ser a seguinte:


A) A vida eterna é a do Espírito - a física, efêmera. Convém, pois que cuidemos da primeira, com desprendimento da segunda (a material);


B) Jesus vir com anjos para dar reconhecimento (méritos) subentende a aplicação, pelo Plano Espiritual, da Lei Divina de Justiça, que terá repercussão na Terra, onde atualmente vivem os bons junto com os maus; tal aplicação terá por objetivo separá-los, de forma que:

♣  Os bons (por seus créditos de virtudes) receberão passaporte para permanecerem na Terra, então regenerada (planeta de regeneração é aquele onde o bem supera ao mal);


♣  Os maus terão emigrado compulsoriamente para mundos mais atrasados do que este, onde levarão progresso, ao tempo que se redimirão;

C) Uma segunda vinda de Jesus nos remete inicialmente a três reflexões:


1ª - Um segundo advento do Cristo pode perfeitamente ocorrer. Ele o afirmou categoricamente. Assim, o que impediria tal ocorrência?


2ª - Mas, para os não-cristãos, Jesus não seria o “Cristo” (Ungido de Deus, o Messias) o qual, nem sequer teria vindo uma primeira vez. Assim, no atual patamar religioso terreno, uma eventual volta de Jesus, como da primeira vez, pelo menos para muitos, provavelmente não o fará ser considerado o Messias. Como vemos, aqui há um embate de credos.

3ª - Para a maioria dos cristãos (espíritas, em particular), Jesus não retornará porque… jamais nos deixou, ou deixaria. Apóiam-se na afirmação do próprio Cristo: “Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28:20).

De nossa parte, excluindo a 2ª reflexão, as 1ª e 3ª conciliam-se e tanto uma quanto a outra são viáveis. Ademais, essa questão da “volta de Jesus” deve ser encarada com muita prudência. Para começar, três dias após a crucificação Ele esteve com os Apóstolos, a partir da Estrada de Emaús (Lucas, capítulo 24).

Além das considerações de Kardec, que sintetizamos acima, colhemos as de outros quatro espíritas, todas bem econômicas, demonstrando que o tema não se presta a grandes dissertações… Ei-las:


1ª ▬  Em “Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo”, de Aurélio A. Valente, 9° capítulo, p. 204 e 205, Ed. 1937, FEB, RJ/RJ: “Jesus descerá em toda a sua glória, dirigindo a falange dos Espíritos eleitos do Senhor. De acordo com as escrituras, Ele veio entre os hebreus restabelecer o reino de Deus, mas não foi reconhecido porque eles esperavam o reinado dos homens”;


2ª ▬  Em “Allan Kardec”, de Z. Wantuil e F. Thiesen, Vol. III, p. 85, 2ª Ed., 1982, FEB, RJ/RJ: “A vinda de Jesus, anunciada no Evangelho, processar-se-á, no porvir, quando necessária, no tempo certo, que não sabemos avaliar”;


3ª ▬  Em “Jesus – nem Deus, nem homem”, de Guillon Ribeiro, p. 14, 3ª Ed., 1990, FEB, RJ/RJ: “Esse segundo advento (de Jesus) se dará quando o mesmo Jesus, como Espírito da Verdade, vier em todo o seu fulgor espírita ao planeta terreno purificado e transformado, na qualidade de seu soberano, visível para as criaturas também purificadas e transformadas, mostrar a verdade sem véu”;

4ª ▬  Em “Quando voltar a primavera”, de Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo P. Franco, p. 13, 6ª Ed., 1997, LEAL, Salvador/BA: “Jesus prossegue sendo a eterna Primavera por que todos anelamos. Esperar a Sua volta é a ambição que devemos, no momento, acalentar, preparando a Terra desde então para esse momento de vida, beleza e abundância”.


Dentro do tema, Kardec, ainda em “A Gênese”, registra:

“Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes. (Mateus, capítulo 25, vers. de 31 a 33)”.

Inúmeras são as reflexões de incontáveis autores espíritas sobre o Juízo Final, máxime sobre essa afirmação evangélica que preconiza a separação de bodes para um lado e ovelhas para outro. Em análise objetiva, tais palavras expressam o reconhecimento dos méritos de cada Espírito terreno, encarnado ou desencarnado - aos bons, a Terra regenerada, e aos maus, expurgo daqui, com passaporte e emigração compulsória para mundos primitivos ou mesmo de “provas e expiações”, que os há aos milhões, no Universo.


Destarte, para nós, espíritas, o “Juízo Final” simboliza a regeneração planetária, pelo que nem “Final”, nem coletivo, mas sim, individual, nem tal julgamento acontecerá num exato momento para todos: Na opinião de vários Espíritos, Kardec inclusive, ele (Juízo Final) já começou há tempos e nisso, como aliás desde sempre, quem define com infalível acerto as coisas é a consciência de cada um, ditando-lhe seu destino.

Àqueles que tenham anestesiada a consciência, a infalibilidade das Leis Divinas, em particular a de Justiça, aplica-se automaticamente, no dizer magnânimo de Jesus, que repetimos: a cada um, segundo suas obras. Mas, ainda refletindo sobre eventual volta de Jesus há uma penosa realidade (pelo menos nos tempos de hoje) para os cristãos: Ele não é nem nunca foi unanimidade terrena.

Senão, vejamos:

♣  A época de Jesus na Terra, a população mundial, segundo estimativa de alguns demógrafos, oscilava de 170 a 250 milhões de habitantes: fiquemos na média;


♣  Mem todos O aceitaram como o Mestre dos mestres;


♣  Até hoje, não aceitar o Cristo como o Messias, de forma alguma exclui alguém de proceder fraternalmente, de “ser do bem”. Não! Ser bom jamais foi apanágio apenas dos seguidores de qualquer credo ou religião, ou mesmo de eventuais ateus;


♣  Em 1952, no livro “Roteiro”, Ed. de 1952, da FEB, RJ/RJ, pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito Emmanuel informava que para os dois bilhões de Espíritos encarnados havia vinte bilhões desencarnados (2:20);


♣  Em 1964, no “Anuário Espírita de 1964”, Ed. do I.D.E., Araras/SP, pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito André Luiz informava que para os três bilhões de Espíritos encarnados havia vinte e um bilhões desencarnados (3:21);


♣  Assim, na primeira citação (de Emmanuel), temos que para um encarnado havia dez desencarnados (1:10), e na segunda (de A.Luiz), a proporção era de um para sete (1:7);


▬  Atualmente, seis bilhões e meio de pessoas habitam a Terra.

▬  Quantos desencarnados?
Se ficarmos com o último dado, de A. Luiz: 21 + 3 – 6,5 = 17,5 bilhões;


♣  Todos esses números (citação feita apenas como conjetura, que como tal, não passa de opinião pessoal) parecem sinalizar que o planeta Terra, do tempo de Jesus entre nós aos dias atuais, vem sendo destino de grande número de Espíritos alienígenas.

♣  Se volvermos ao tempo de Jesus (210 milhões de encarnados) imaginar qual o número de desencarnados de então é número que fica difícil de ajuizar, mas pela proporção, talvez seja de dez vezes mais do que dos encarnados, isto é, algo em torno de três bilhões;

♣  Dessas reflexões temos que para mais de vinte bilhões de Espíritos, encarnados e desencarnados, sequer estariam na Terra, quando da primeira vinda de Jesus, logo, para eles, não haveria retorno, senão sim, um primeiro contato;

♣  Segundo o “Almanaque ABRIL - Mundo” de 2002, Editora Abril, SP/SP, p. 83, em 2000 havia cerca de dois bilhões de cristãos no mundo. Ora, dedutivamente (6,5 – 2 = 4,5) quatro e meio bilhões não O têm como referencial de “Salvador”.

Triste. Mas essa é a realidade, hoje!


▬  Contudo, quem poderá negar que com os fantásticos meios de divulgação hoje existentes, um novo estágio de Jesus entre nós agirá como sublime catalisador de uma expressiva melhoria moral da Humanidade, catalisando a regeneração deste planeta?

Fonte: Jornal dos Espíritos.

▬  Sim, temos a confirmação de que Jesus voltará em breve, e precisamente, na próxima noite do dia 24 de dezembro, que, embora historicamente não coincida com os fatos - mas é esta a data em que comemoramos, cristãos de todo o planeta - o nascimento daquele que foi e é o nosso maior exemplo a ser seguido.

Também poderíamos dizer, mas desta vez um pouco mais à frente:

▬  Sim, Jesus voltará no coração de cada homem e de cada mulher que se fizer seu(sua) seguidor(a), pois assim “está escrito” que seja, não por predestinação, não porque uma ou outra religião humana ou crença esotérica ou exotérica tenha assim predito, conforme o mito ou arquétipo (universal) do Messias em que se baseia, mas porque nós, seres humanos em trânsito da fase moral de provas e expiações terrenas e de outras dimensões de vida, estaremos nos encaminhando natural e espontaneamente para Ele, que tão clara, explícita e objetivamente explicou e exemplificou que assim fôssemos e fizéssemos. Dizia ele:

▬  "Eu sou o caminho, a verdade, a vida; ou ainda: Ninguém vai ao Pai, senão por Mim"

É tão clara e explícita foi a sua lição, que nós, em nossa pobre humanidade, até agora, questionamos a sua efetiva validade, pois não conseguimos assimilar, porque rebuscados e complexos são os caminhos que a raça humana escolheu e escolhe.

Uma mensagem divina, para nós, não poderia vir de uma simples manjedoura, sem atavios ou enfeites, cercada de animais domésticos e de gente empobrecida e sacrificada, pois um Ser Divino deve possuir o selo da excelência, nascer em berço de ouro, e, se nos tempos atuais, em apartamento de cobertura ou em condomínio fechado, de pais cujo status social lhe assegurasse o futuro, fácil de ser previsto, pois cercado de facilidades, pompa e circunstância.

Uma mensagem divina, para ser “verdadeira”, jamais se cercaria de sacrifícios ao bem-estar próprio, à posição social, aos bens, à juventude, ao vigor da inteligência.

O flagício da cruz, em nosso entendimento, jamais seria o caminho para a implantação de uma nova idéia, ou de uma verdade. Pois os caminhos que traçamos para o estabelecimento de um novo paradigma perpassam pelos organismos internacionais, pelos conluios com as autoridades representativas do Estado e dos governos; pelas políticas, pelos cargos necessários, em nosso entendimento, mas profundamente falhos em essência, pois não constituem verdades de razão - para que ela, a idéia, ou paradigma, se firme.

De nenhuma forma, jamais passaria pelo nosso pensamento, que o sacrifício implicasse em abandono de amigos e família, de despojamento de posição ou status social, de torturas morais e físicas inauditas, pois se Jesus era e é divino, grandiosos foram os seus sofrimentos (porém, não em nossa forma de pensar).

☻  E como seria um Justo, um Messias, um Ser Divino?
☻  E como Ele viria até nós?
☻  E o que diria?

Em parte já o dissemos, mas ainda assim nos sentaríamos em assembléia de doutos conselheiros para discutir se a sua Divindade é real ou fictícia, e talvez ficássemos anos e anos nessa discussão. E concluiríamos, finalmente, de que não há, absolutamente, provas que atestem a veracidade de sua identidade. Chamaríamos doutores de todas as especialidades para a discussão científico-filosófica ou filosófico-científica acrescidas das ponderações teológicas de tal ou qual religião através de seus magnos representantes.

E sairíamos a apontar os detalhes de sua aparência, idade, status social e performance intelectual, analisaríamos as Suas palavras pela semântica, morfologia e sintaxe empregados, as suas expressões faciais e postura física, a qualidade das grifes com as quais, evidentemente, estaria trajado, as colocações mais acertadas e objetivas, a qualidade do vocabulário.

Certamente, Ele teria que ser um doutor em várias especialidades, mormente em psicologia avançada, pois seria autor de um evangelho que, necessariamente traria receituários terapêuticos para a felicidade imediata, para o bem-estar moral e físico...

A Sua vinda teria que trazer toda a tecnologia avançada que se preze, e talvez, quem sabe, viria até nós, à semelhança dos antigos deuses da mitologia, que se exibiam aos olhos espantados da humanidade-infante, em carruagens de fogo, por entre relâmpagos e trovões. Mas talvez bastasse um veículo interplanetário com toda a tecnologia de ponta (desconhecida na Terra), esta sim, importante, para atestar a veracidade de sua Divina Identidade.

Certamente é de se esperar que Ele nos livrasse da violência de todas as formas hoje expressas, do ódio, da corrupção, da leviandade, do sofrimento, da fome ou dos excessos, das doenças crônicas e agudas, das epidemias e pandemias, das síndromes psicológicas, dos transtornos de comportamento, dos sentimentos torpes, da carência moral, espiritual e afetiva, da falta de assistência, de amizade, de amor, do vazio existencial imenso e terrível, pois este é o papel do mito.

Contudo, Ele, o Ser Divino por excelência veio até nós, há 2010 anos, numa noite fria, em uma pobre manjedoura cercada do calor físico de animais domésticos, do amor de seus pais, do respeito dos pastores. Foi saudado por Reis, amado pelos bons, odiado pelos maus.

Personificando o Refúgio da Dor, ensinou-nos como combatê-la, ou melhor, compreendê-la. Amante da verdade, ensinou-nos como procurá-la, e encontrá-la; Caminho por entre as trevas, mantém ainda acesas as luzes da verdade divina para que possamos nos conduzir sem grandes tropeços. Revelou-nos o Pai de amor e misericórdia que nos criou e continua a velar por nós, filhos ingratos, rebeldes e malvados.

E porque desejasse que fossemos felizes, legou-nos uma herança, aliás, duas.

Uma delas é o seu Evangelho, a outra é a promessa contida nele, de que estaria em espírito e verdade através do paracleto, em dias futuros, quando deixássemos a brutalidade dos instintos vigentes por sobre a inteligência e a afetividade, e quiséssemos alcançar o reino, por livre e expontânea vontade.

E em abril de 1857, um simples professor - pois os grandes mestres e grandes missionários não trazem atrativos transitórios , um pedagogo da alma e do espírito, burilado ele mesmo nas reencarnações de labor, renúncia e aflições, trabalha intensamente com os representantes do reino para implantar, em definitivo, o caminho, a verdade e a vida acrescidos de elementos conducentes ao entendimento do porquê devemos ser bons. E retira o seu nome, substituindo-o por um pseudônimo, para que não entendêssemos que ele detinha os direitos de autoria de um ensino eterno e sublime, mas do qual era apenas portador, organizador e trabalhador.

E porque é simples a sua mensagem, e a do paracleto, o Espiritismo, e porque é através da humildade de princípios e da coragem de se superar; e porque o Seu fardo é leve, fácil de passar pela porta estreita, é que não aceitamos o jugo, suave por excelência, de Jesus.

E porque não aceitamos a humildade, a simplicidade; e porque teimamos em carregar o fardo da intolerância, da cupidez, do personalismo doentio, da agressividade contra tudo e contra todos, como um permanente estado íntimo de guerra, nos demoramos hoje no sofrimento profundo, violento, destruidor e destrutivo.

Quem sabe, um dia, festejaremos o verdadeiro Jesus desataviado das crenças mitológicas que teimam em permanecer vigentes em nossa forma de ser e estar na existência, e comemoraremos, subindo aos telhados, literal e abstratamente, e ergueremos as mãos para o alto, e assim, surpresa!, alçaremos vôo para encontrarmos a nossa própria divindade, transcendente e imanente, e nesse vôo sublime, nos encontraremos com Ele, Jesus, que, estará, apenas e tão somente, simples e amorosamente, feliz pelo reencontro pois, então, poderemos ser todos um só com o Pai.

Por Sonia Theodoro da Silva - São Paulo – SP

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
O Evangelho Segundo o Espiritismo:
Allan Kardec.
Boa Nova:
Humberto de Campos,
Chico Xavier.


FINAL DOS TEMPOS - JUÍZO FINAL

FINAL DOS TEMPOS - JUÍZO FINAL

- Também ouvireis falar de guerra e de rumores de guerra; tratai de não vos perturbardes, porquanto é preciso que essas coisas se dêem; mas, ainda não será o fim - pois ver-se-á povo levantar-se contra povo e reino contra reino; e haverá pestes, fomes e tremores de terra em diversos lugares - todas essas coisas serão apenas o começo das dores. (S. Mateus, cap. XXIV, vv. 6 a 8.)
- Então, o irmão entregará o irmão para ser morto; os filhos se levantarão contra seus pais e suas mães e os farão morrer. - Sereis odiados de toda a gente por causa do meu nome; mas, aquele que perseverar até ao fim será salvo. (S. Marcos, cap. XIII, vv. 12 e 13.)
- Quando virdes que a abominação da desolação, que foi predita pelo profeta Daniel, está no lugar santo (que aquele que lê entenda bem o que lê); - fujam então para as montanhas os que estiverem na Judéia (1); - não desça aquele que estiver no telhado, para levar de sua casa qualquer coisa; - e não volte para apanhar suas roupas aquele que estiver no campo. - Mas, ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentando nesses dias. - Pedi a Deus que a vossa fuga não se dê durante o inverno, nem em dia de sábado - porquanto a aflição desse tempo será tão grande, como ainda não houve igual desde o começo do mundo até o presente e como nunca mais haverá. - E se esses dias não fossem abreviados, nenhum homem se salvaria; mas esses dias serão abreviados em favor dos eleitos. (São Mateus, cap. XXIV, vv. 15 a 22.)
- Logo depois desses dias de aflição, o Sol se obscurecerá e a Lua deixará de dar sua luz; as estrelas cairão do céu e as potestades dos céus serão abaladas. Então, o sinal do Filho do homem aparecerá no céu e todos os povos da Terra estarão em prantos e em gemidos e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com grande majestade. Ele enviará seus anjos, que farão ouvir a voz retumbante de suas trombetas e que reunirão seus eleitos dos quatro cantos do mundo, de uma extremidade a outra do céu.
Aprendei uma comparação tirada da figueira. Quando seus ramos já estão tenros e dão folhas, sabeis que está próximo o estio. - Do mesmo modo quando virdes todas essas coisas, sabei que vem próximo o Filho do homem, que ele se acha como que à porta.
Digo-vos, em verdade, que esta raça não passará, sem que todas essas coisas se tenham cumprido. (S. Mateus, cap. XXIV, vv. 29 a 34.)
E acontecerá no advento do Filho do homem o que aconteceu ao tempo de Noé - pois, como nos últimos tempos antes do dilúvio, os homens comiam e bebiam, se casavam e casavam seus filhos, até ao dia em que Noé entrou na arca; - e assim como eles não conheceram o momento do dilúvio, senão quando este sobreveio e arrebatou toda a gente, assim também será no advento do Filho do homem. (São Mateus, cap. XXIV, vv. 37 a 39.)
- Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém o sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, mas somente o Pai. (S. Marcos, cap. XIII, v. 32.)
- Em verdade, em verdade vos digo: chorareis e gemereis, e o mundo se rejubilará; estareis em tristeza, mas a vossa tristeza se mudará em alegria. - Uma mulher, quando dá à luz, está em dor, porque é vinda a sua hora; mas depois que ela dá à luz um filho, não mais se lembra de todos os males que sofreu, pela alegria que experimenta de haver posto no mundo um homem. - É assim que agora estais em tristeza; mas, eu vos verei de novo e o vosso coração rejubilará e ninguém vos arrebatará a vossa alegria. (S. João, cap. XVI, vv. 20 a 22.)
- Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão a muitas pessoas; - e, porque abundará a iniqüidade, a caridade de muitos esfriará; - mas, aquele que perseverar até o fim será salvo. - E este Evangelho do reino será pregado em toda a Terra, para servir de testemunho a todas as nações. É então que o fim chegará. (S. Mateus, cap. XXIV, vv. 11 a 14.)

 ALLAN KARDEC - É evidentemente alegórico este quadro do fim dos tempos, como a maioria dos que Jesus compunha. Pelo seu vigor, as imagens que ele encerra são de natureza a impressionar inteligências ainda rudes. Para tocar fortemente aquelas imaginações pouco sutis, eram necessárias pinturas vigorosas, de cores bem acentuadas. Ele se dirigia principalmente ao povo, aos homens menos esclarecidos, incapazes de compreender as abstrações metafísicas e de apanhar a delicadeza das formas. A fim de atingir o coração, fazia-se-lhe mister falar aos olhos, com o auxílio de sinais materiais, e aos ouvidos, por meio da força da linguagem.
Como conseqüência natural daquela disposição de espírito, à suprema potestade, segundo a crença de então, não era possível manifestar-se, a não ser por meio de fatos extraordinários, sobrenaturais. Quanto mais impossíveis fossem esses fatos, tanto mais facilmente aceita era a probabilidade deles.
O Filho do homem, a vir sobre nuvens, com grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas, lhes parecia de muito maior imponência, do que a simples vinda de uma entidade investida apenas de poder moral. Por isso mesmo, os judeus, que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de David e de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade material. No entanto, aquele pobre proletário da Judéia se tornou o maior entre os grandes; conquistou para a sua soberania maior número de reinos, do que os mais poderosos potentados; exclusivamente com a sua palavra e o concurso de alguns miseráveis pescadores, revolucionou o mundo e a ele é que os judeus virão a dever sua reabilitação. Disse, pois, uma verdade, quando, respondendo a esta pergunta de Pilatos: «És rei?» respondeu: «Tu o dizes.»
- É de notar-se que, entre os antigos, os tremores de terra e o obscurecimento do Sol eram acessórios forçados de todos os acontecimentos e de todos os presságios sinistros. Com eles deparamos, por ocasião da morte de Jesus, da de César e num sem-número de outras circunstâncias da história do paganismo. Se tais fenômenos se houvessem produzido tão amiudadas vezes quantas são relatados, fora de ter-se por impossível que os homens não houvessem guardado deles lembrança pela tradição. Aqui, acrescenta-se a queda de estrelas do céu, como que a mostrar às gerações futuras, mais esclarecidas, que não há nisso senão uma ficção, pois que agora se sabe que as estrelas não podem cair.
- Entretanto, sob essas alegorias, grandes verdades se ocultam. Há, primeiramente, a predição das calamidades de todo gênero que assolarão e dizimarão a Humanidade, calamidades decorrentes da luta suprema entre o bem e o mal, entre a fé e a incredulidade, entre as idéias progressistas e as idéias retrógradas. Há, em segundo lugar, a da difusão, por toda a Terra, do Evangelho restaurado na sua pureza primitiva; depois, a do reinado do bem, que será o da paz e da fraternidade universais, a derivar do código de moral evangélica, posto em prática por todos os povos.
Será, verdadeiramente, o reino de Jesus, pois que ele presidirá à sua implantação, passando os homens a viver sob a égide da sua lei. Será o reinado da felicidade, porquanto diz ele que - «depois dos dias de aflição, virão os de alegria».
- Quando sucederão tais coisas? «Ninguém o sabe, diz Jesus, nem mesmo o Filho.» Mas, quando chegar o momento, os homens serão advertidos por meio de sinais precursores. Esses indícios, porém, não estarão nem no Sol, nem nas estrelas; mostrar-se-ão no estado social e nos fenômenos mais de ordem moral do que físicos e que, em parte, se podem deduzir das suas alusões.
É indubitável que aquela mutação não poderia operar-se em vida dos apóstolos, pois, do contrário, Jesus não lhe desconheceria o momento. Aliás, semelhante transformação não era possível se desse dentro de apenas alguns anos. Contudo, dela lhes fala como se eles a houvessem de presenciar; é que, com efeito, eles poderão estar reencarnados quando a transformação se der e, até, colaborar na sua efetivação. Ele ora fala da sorte próxima de Jerusalém, ora toma esse fato por ponto de referência ao que ocorreria no futuro.
- Será que, predizendo a sua segunda vinda, era o fim do mundo o que Jesus anunciava, dizendo: «Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim?» Não é racional se suponha que Deus destrua o mundo precisamente quando ele entre no caminho do progresso moral, pela prática dos ensinos evangélicos. Nada, aliás, nas palavras do Cristo, indica uma destruição universal que, em tais condições, não se justificaria.
Devendo a prática geral do Evangelho determinar grande melhora no estado moral dos homens, ela, por isso mesmo, trará o reinado do bem e acarretará a queda do mal. É, pois, o fim do mundo velho, do mundo governado pelos preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, pela incredulidade, pela cupidez, por todas as paixões pecaminosas, que o Cristo aludia, ao dizer: «Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim.» Esse fim, porém, para chegar, ocasionaria uma luta e é dessa luta que advirão os males por ele previstos.

O JUÍZO FINAL

- Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; - e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes. - Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, etc. (São Mateus, cap. XXV, vv. 31 a 46. - O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV.)
ALLAN KARDEC - Tendo que reinar na Terra o bem, necessário é sejam dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam acarretar-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo de que precisavam para se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, interdito será ele, como morada, a encarnados e desencarnados que não hajam aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí receber. Serão exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. Essa separação, a que Jesus presidirá, é que se acha figurada por estas palavras sobre o juízo final: «Os bons passarão à minha direita e os maus à minha esquerda.» (Cap. XI, nos 31 e seguintes.)
- A doutrina de um juízo final, único e universal, pondo fim para sempre à Humanidade, repugna à razão, por implicar a inatividade de Deus, durante a eternidade que precedeu à criação da Terra e durante a eternidade que se seguirá à sua destruição. Que utilidade teriam então o Sol, a Lua e as estrelas que, segundo a Gênese, foram feitos para iluminar o mundo? Causa espanto que tão imensa obra se haja produzido para tão pouco tempo e a beneficio de seres votados de antemão, em sua maioria, aos suplícios eternos.
- Materialmente, a idéia de um julgamento único seria, até certo ponto, admissível para os que não procuram a razão das coisas, quando se cria que a Humanidade toda se achava concentrada na Terra e que para seus habitantes fora feito tudo o que o Universo contém. É, porém, inadmissível, desde que se sabe que há milhares de milhares de mundos semelhantes, que perpetuam as Humanidades pela eternidade em fora e entre os quais a Terra é dos menos consideráveis, simples ponto imperceptível.
Vê-se, só por este fato, que Jesus tinha razão de declarar a seus discípulos: «Há muitas coisas que não vos posso dizer, porque não as compreenderíeis», dado que o progresso das ciências era indispensável para uma interpretação legítima de algumas de suas palavras. Certamente, os apóstolos, S. Paulo e os primeiros discípulos teriam estabelecido de modo muito diverso alguns dogmas se tivessem os conhecimentos astronômicos, geológicos, físicos, químicos, fisiológicos e psicológicos que hoje possuímos. Daí vem o ter Jesus adiado a finalização de seus ensinos e anunciado que todas as coisas haviam de ser restabelecidas.
- Moralmente, um juízo definitivo e sem apelação não se concilia com a bondade infinita do Criador, que Jesus nos apresenta de contínuo como um bom Pai, que deixa sempre aberta uma senda para o arrependimento e que está pronto sempre a estender os braços ao filho pródigo. Se Jesus entendesse o juízo naquele sentido, desmentiria suas próprias palavras. Ao demais, se o juízo final houvesse de apanhar de improviso os homens, em meio de seus trabalhos ordinários, e grávidas as mulheres, caberia perguntar-se com que fim Deus, que não faz coisa alguma inútil ou injusta, faria nascessem crianças e criaria almas novas naquele momento supremo, no termo fatal da Humanidade. Seria para submetê-las a julgamento logo ao saírem do ventre materno, antes de terem consciência de si mesmas, quando, a outros, milhares de anos foram concedidos para se inteirarem do que respeita à própria individualidade? Para que lado, direito ou esquerdo, iriam essas almas, que ainda não são nem boas nem más e para as quais, no entanto, todos os caminhos de ulterior progresso se encontrariam desde então fechados, visto que a Humanidade não mais existiria? (Cap. II, nº 19.) Conservem-nas os que se contentam com semelhantes crenças; estão no seu direito e ninguém nada tem que dizer a isso; mas, não achem mau que nem toda gente partilhe delas.
- O juízo, pelo processo da emigração, conforme ficou explicado acima (nº 63), é racional; funda-se na mais rigorosa justiça, visto que conserva para o Espírito, eternamente, o seu livre-arbítrio; não constitui privilégio para ninguém; a todas as suas criaturas, sem exceção alguma, concede Deus igual liberdade de ação para progredirem; o próprio aniquilamento de um mundo, acarretando a destruição do corpo, nenhuma interrupção ocasionará à marcha progressiva do Espírito. Tais as conseqüências da pluralidade dos mundos e da pluralidade das existências.
Segundo essa interpretação, não é exata a qualificação de juízo final, pois que os Espíritos passam por análogas fieiras a cada renovação dos mundos por eles habitados, até que atinjam certo grau de perfeição. Não há, portanto, juízo final propriamente dito, mas juízos gerais em todas as épocas de renovação parcial ou total da população dos mundos, por efeito das quais se operam as grandes emigrações e imigrações de Espíritos.

SÃO CHEGADOS OS TEMPOS

ALLAN KARDEC - São chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da Humanidade. Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, nenhuma importância têm; aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença pueril, sem fundamento. Para a maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da Natureza. São igualmente errôneas ambas essas interpretações; a primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da Natureza, mas o cumprimento dessas leis.
- Tudo na criação é harmonia; tudo revela uma previdência que não se desmente, nem nas menores, nem nas maiores coisas. Temos, pois, que afastar, desde logo, toda idéia de capricho, por inconciliável com a sabedoria divina. Em segundo lugar, se a nossa época esta designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto. Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, esta submetido à lei do progresso. Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Ambos esses progressos se realizam paralelamente, porquanto o melhoramento da habitação guarda relação com o do habitante. Fisicamente, o globo terráqueo há experimentado transformações que a Ciência tem comprovado e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que o melhoramento do globo se opera sob a ação das forças materiais, os homens para isso concorrem pelos esforços de sua inteligência. Saneiam as regiões insalubres, tornam mais fáceis as comunicações e mais produtiva a terra.
De duas maneiras se executa esse duplo progresso: uma, lenta, gradual e insensível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido, que assinala, mediante impressões bem acentuadas, os períodos progressivos da Humanidade. Esses movimentos, subordinados, quanto às particularidades, ao livre-arbítrio dos homens, são, de certo modo, fatais em seu conjunto, porque estão sujeitos a leis, como os que se verificam na germinação, no crescimento e na maturidade das plantas. Por isso é que o movimento progressivo se efetua, às vezes, de modo parcial, isto é, limitado a uma raça ou a uma nação, doutras vezes, de modo geral.
O progresso da Humanidade se cumpre, pois, em virtude de uma lei. Ora, como todas as leis da Natureza são obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis resulta da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Quando, por conseguinte, a Humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os tempos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita.
- Do fato de ser inevitável, porque é da natureza o movimento progressivo da Humanidade, não se segue que Deus lhe seja indiferente e que, depois de ter estabelecido leis, se haja recolhido à inação, deixando que as coisas caminhem por si sós. Sem dúvida, suas leis são eternas e imutáveis, mas porque a sua própria vontade é eterna e constante e porque o seu pensamento anima sem interrupção todas as coisas. Esse pensamento, que em tudo penetra, é a força inteligente e permanente que mantém a harmonia em tudo. Cessasse ele um só instante de atuar e o Universo seria como um relógio sem pêndulo regulador. Deus, pois, vela incessantemente pela execução de suas leis e os Espíritos que povoam o espaço são seus ministros, encarregados de atender aos pormenores, dentro de atribuições que correspondem ao grau de adiantamento que tenham alcançado.
- O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo incomensurável, acionado por um número incontável de inteligências, e um imenso governo em o qual cada ser inteligente tem a sua parte de ação sob as vistas do soberano Senhor, cuja vontade única mantém por toda parte a unidade. Sob o império dessa vasta potência reguladora, tudo se move, tudo funciona em perfeita ordem. Onde nos parece haver perturbações, o que há são movimentos parciais e isolados, que se nos afiguram irregulares apenas porque circunscrita é a nossa visão. Se lhes pudéssemos abarcar o conjunto, veríamos que tais irregularidades são apenas aparentes e que se harmonizam com o todo.
- A Humanidade tem realizado, até ao presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho.
Tal o período em que doravante vão entrar e que marcará uma das fases principais da vida da Humanidade. Essa fase, que neste momento se elabora, é o complemento indispensável do estado precedente, como a idade viril o é da juventude. Ela podia, pois, ser prevista e predita de antemão e é por isso que se diz que são chegados os tempos determinados por Deus.
- Nestes tempos, porém, não se trata de uma mudança parcial, de uma renovação limitada a certa região, ou a um povo, a uma raça. Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que mais opostos lhe são, para ela trabalham a seu mau grado. A geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, se achará possuída de idéias e de sentimentos muito diversos dos da geração presente, que se vai a passo de gigante. O velho mundo estará morto e apenas viverá na História, como o estão hoje os tempos da Idade Média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.
Aliás, todos sabem quanto ainda deixa a desejar a atual ordem de coisas. Depois de se haver, de certo modo, considerado todo o bem-estar material, produto da inteligência, logra-se compreender que o complemento desse bem estar somente pode achar-se no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, tanto mais se sente o que falta, sem que, entretanto, se possa ainda definir claramente o que seja: é isso efeito do trabalho íntimo que se opera em prol da regeneração. Surgem desejos, aspirações, que são como que o pressentimento de um estado melhor.
- Mas, uma mudança tão radical como a que se está elaborando não pode realizar-se sem comoções. Há, inevitavelmente, luta de idéias. Desse conflito forçosamente se originarão passageiras perturbações, até que o terreno se ache aplanado e restabelecido o equilíbrio. É, pois, da luta das idéias que surgirão os graves acontecimentos preditos e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais foram conseqüência do estado de formação da Terra. Hoje, não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da Humanidade.
- Se a Terra já não tem que temer os cataclismos gerais, nem por isso deixa de estar sujeita a periódicas revoluções, cujas causas, do ponto de vista científico, se encontram explicadas nas instruções seguintes, promanantes de dois Espíritos eminentes: (1) «Cada corpo celeste, além das leis simples que presidem à divisão dos dias e das noites, das estações, etc., experimenta revoluções que demandam milhares de séculos para sua realização completa, porém que, como as revoluções mais breves, passam por todos os períodos, desde o de nascimento até o de um máximo de efeito, após o qual há decrescimento, até o limite extremo, para recomeçar em seguida o percurso das mesmas fases. «O homem apenas apreende as fases de duração relativamente curta e cuja periodicidade ele pode comprovar. Algumas, no entanto, há que abrangem longas gerações de seres e, até, sucessões de raças, revoluções essas cujos efeitos, conseguintemente, se lhe apresentam com caráter de novidade e de espontaneidade, ao passo que, se seu olhar pudesse projetar-se para trás alguns milhares de séculos, veria, entre aqueles mesmos efeitos e suas causas, uma correlação de que nem sequer suspeita. Esses períodos que, pela sua extensão relativa, confundem a imaginação dos humanos, não são, contudo, mais do que instantes na duração eterna.
«Num mesmo sistema planetário, todos os corpos que o constituem reagem uns sobre os outros; todas as influências físicas são nele solidárias e nem um só há, dos efeitos que designais pelo nome de grandes perturbações, que não seja conseqüência da componente das influências de todo o sistema. «Vou mais longe: digo que os sistemas planetários reagem uns sobre os outros, na razão da proximidade ou do afastamento resultantes do movimento de translação deles, através das miríades de sistemas que compõem a nossa nebulosa. Ainda vou mais longe: digo que a nossa nebulosa, que é um como arquipélago na imensidade, tendo também seu movimento de translação através das miríades de nebulosas, sofre a influência das de que ela se aproxima. «De sorte que as nebulosas reagem sobre as nebulosas, os sistemas reagem sobre os sistemas, como os planetas reagem sobre os planetas, como os elementos de cada planeta reagem uns sobre os outros e assim sucessivamente até ao átomo. Daí, em cada mundo, revoluções locais ou gerais, que não parecem perturbações porque a brevidade da vida não permite se lhes percebam mais do que os efeitos parciais. «A matéria orgânica não poderia escapar a essas influências; as perturbações que ela sofre podem, pois, alterar o estado físico dos seres vivos e determinar algumas dessas enfermidades que atacam de modo geral as plantas, os animais e os homens, enfermidades que, como todos os flagelos, são, para a inteligência humana, um estimulante que a impele, por forca da necessidade, a procurar meios de os combater e a descobrir leis da Natureza.
«Mas a matéria orgânica, a seu turno, reage sobre o Espírito. Este, pelo seu contacto e sua ligação íntima com os elementos materiais, também sofre influências que lhe modificam as disposições, sem, no entanto, privá-lo do livre arbítrio, que lhe sobreexcitam ou atenuam a atividade e que, pois, contribuem para o seu desenvolvimento. A efervescência que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem sua causa nas leis da Natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia. Se não tivésseis a visão espiritual limitada pelo véu da matéria, veríeis as correntes fluídicas que, como milhares de fios condutores, ligam as coisas do mundo espiritual às do mundo material.
«Quando se vos diz que a Humanidade chegou a um período de transformação e que a Terra tem que se elevar na hierarquia dos mundos, nada de místico vejais nessas palavras; vede, ao contrário, a execução da uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais se quebra toda a má-vontade humana. ARAGO.»
- Sim, decerto, a Humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação se assinala por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento. Aquelas se tornam, muitas vezes, penosas, dolorosas, e arrebatam consigo as gerações e as instituições, mas, são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral.
«A Humanidade terrestre, tendo chegado a um desses períodos de crescimento, está em cheio, há quase um século, no trabalho da sua transformação, pelo que a vemos agitar-se de todos os lados, presa de uma espécie de febre e como que impelida por invisível força. Assim continuará, até que se haja outra vez estabilizado em novas bases. quem a observar, então, achá-la-á muito mudada em seus costumes, em seu caráter, nas suas leis, em suas crenças, numa palavra: em todo o seu estado social.
«Uma coisa que vos parecerá estranhável, mas que por isso não deixa de ser rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos, mundo que vos rodeia, experimenta o contrachoque de todas as comoções que abalam o mundo dos encarnados. Digo mesmo que aquele toma parte ativa nessas comoções. Nada tem isto de surpreendente, para quem sabe que os Espíritos fazem corpo com a Humanidade; que eles saem dela e a ela têm de voltar, sendo, pois, natural se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Ficai, portanto, certos de que, quando uma revolução social se produz na Terra, abala igualmente o mundo invisível, onde todas as paixões, boas e más, se exacerbam, como entre vós. Indizível efervescência entra a reinar na coletividade dos Espíritos que ainda pertencem ao vosso mundo e que aguardam o momento de a ele volver.
«À agitação dos encarnados e desencarnados se juntam às vezes, e freqüentemente mesmo, já que tudo se conjuga em a Natureza, as perturbações dos elementos físicos. Dá-se então, durante algum tempo, verdadeira confusão geral, mas que passa como furacão, após o qual o céu volta a estar sereno, e a Humanidade, reconstituída sobre novas bases, imbuída de novas idéias, começa a percorrer nova etapa de progresso.
«É no período que ora se inicia que o Espiritismo florescerá e dará frutos. Trabalhais, portanto, mais para o futuro, do que para o presente. Era, porém, necessário que esses trabalhos se preparassem antecipadamente, porque eles traçam as sendas da regeneração, pela unificação e racionalidade das crenças.
Ditosos os que deles aproveitam desde já. Tantas penas se pouparão esses, quantos forem os proveitos que deles aufiram. Doutor BARRY.»
- Do que precede resulta que, em conseqüência do movimento de translação que executam no espaço, os corpos celestes exercem, uns sobre os outros, maior ou menor influência, conforme a proximidade em que se achem entre si e as suas respectivas posições; que essa influência pode acarretar uma perturbação momentânea aos seus elementos constitutivos e modificar as condições de vitalidade dos seus habitantes; que a regularidade dos
movimentos determina a volta periódica das mesmas causas e dos mesmos efeitos; que, se demasiado curta é a duração de certos períodos para que os homens os apreciem, outros vêem passar gerações e raças que deles não se apercebem e às quais se afigura normal o estado de coisas que observam. Ao contrário, as gerações contemporâneas da transição lhe sofrem o contrachoque e tudo lhes parece fora das leis ordinárias. Essas gerações vêem uma causa sobrenatural, maravilhosa, miraculosa no que, em realidade, mais não é do que a execução das leis da Natureza.
Se, pelo encadeamento e a solidariedade das causas e dos efeitos, os períodos de renovação moral da Humanidade coincidem, como tudo leva a crer, com as revoluções físicas do globo, podem os referidos períodos ser acompanhados ou precedidos de fenômenos naturais, insólitos para os que com eles não se acham familiarizados, de meteoros que parecem estranhos, de recrudescência e intensificação desusadas dos flagelos destruidores, que não são nem causa, nem presságios sobrenaturais, mas uma consequência do movimento geral que se opera no mundo físico e no mundo moral.
Anunciando a época de renovação que se havia de abrir para a Humanidade e determinar o fim do velho mundo, a Jesus, pois, foi lícito dizer que ela se assinalaria por fenômenos extraordinários, tremores de terra, flagelos diversos, sinais no céu, que mais não são do que meteoros, sem ab-rogação das leis naturais. O vulgo, porém, ignorante, viu nessas palavras a predição de fatos miraculosos. (1)
- A previsão dos movimentos progressivos da Humanidade nada apresenta de surpreendente, quando feita por seres desmaterializados, que vêem o fim a que tendem todas as coisas, tendo alguns deles conhecimento direto do pensamento de Deus. Pelos movimentos parciais, esses seres vêem em que época poderá operar-se um movimento geral, do mesmo modo que o homem pode calcular de antemão o tempo que uma árvore levará para dar frutos, do mesmo modo que os astrônomos calculam a época de um fenômeno astronômico, pelo tempo que um astro gasta para efetuar a sua revolução.
- A Humanidade é um ser coletivo em quem se operam as mesmas revoluções morais por que passa todo ser individual, com a diferença de que umas se realizam de ano em ano e as outras de século em século. Acompanhe-se a Humanidade em suas evoluções através dos tempos e ver-se-á a vida das diversas raças marcada por períodos que dão a cada época uma fisionomia especial.
- De duas maneiras se opera, como já o dissemos, a marcha progressiva da Humanidade: uma, gradual, lenta, imperceptível, se se considerarem as épocas consecutivas, a traduzir-se por sucessivas melhoras nos costumes, nas leis, nos usos, melhoras que só com a continuação se podem perceber, como as mudanças que as correntes dágua ocasionam na superfície do globo; a outra, por movimentos relativamente bruscos, semelhantes aos de uma torrente que, rompendo os diques que a continham, transpõe nalguns anos o espaço que levaria séculos a percorrer. É, então, um cataclismo moral que traga em breves instantes as instituições do passado e ao qual sobrevém uma nova ordem de coisas que pouco a pouco se estabiliza, à medida que se restabelece a calma, e que acaba por se tornar definitiva.
Àquele que viva bastante para abranger com a vista as duas vertentes da nova fase, parecerá que um mundo novo surgiu das ruínas do antigo. O caráter, os costumes, os usos, tudo está mudado. É que, com efeito, surgiram homens novos, ou, melhor, regenerados. As idéias, que a geração que se extinguiu levou consigo, cederam lugar a idéias novas que desabrocham com a geração que se ergue.
- Tornada adulta, a Humanidade tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas; compreende o vazio com que foi embalada, a insuficiência de suas instituições para lhe dar felicidade; já não encontra, no estado das coisas, as satisfações legítimas a que se sente com direito. Despoja-se, em consequência, das faixas infantis e se lança, impelida por irresistível força, para as margens desconhecidas, em busca de novos horizontes menos limitados,
É a um desses períodos de transformação, ou, se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a Humanidade. Da adolescência chega ao estado viril. O passado já não pode bastar às suas novas aspirações, às suas novas necessidades; ela já não pode ser conduzida pelos mesmos métodos; não mais se deixa levar por ilusões, nem fantasmagorias; sua razão amadurecida reclama alimentos mais substanciosos. É demasiado efêmero o presente; ela sente que mais amplo é o seu destino e que a vida corpórea é excessivamente restrita para encerrá-lo inteiramente. Por isso, mergulha o olhar no passado e no futuro, a fim de descobrir num ou noutro o mistério da sua existência e de adquirir uma consoladora certeza.
E é no momento em que ela se encontra muito apertada na esfera material, em que transbordante se encontra de vida intelectual, em que o sentimento da espiritualidade lhe desabrocha no seio, que homens que se dizem filósofos pretendem encher o vazio com as doutrinas da nadismo e do materialismo! Singular aberração! Esses mesmos homens, que intentam impelir para a frente a Humanidade, se esforçam por circunscrevê-la no acanhado círculo da matéria, donde ela anseia por escapar-se. Velam-lhe o aspecto da vida infinita e lhe dizem, apontando para o túmulo: Nec plus ultra!
- Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e suas conseqüências e não o circunscreva à produção de alguns fenômenos terá compreendido que ele abre à Humanidade uma estrada nova e lhe desvenda os horizontes do infinito. Iniciando-a nos mistérios do mundo invisível, mostra-lhe o seu verdadeiro papel na criação, papel perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual, como no estado corporal. O homem já não caminha às cegas: sabe donde vem, para onde vai e por que está na Terra. O futuro se lhe revela em sua realidade, despojado dos prejuízos da ignorância e da superstição. Já na se trata de uma vaga esperança, mas de uma verdade palpável, tão certa como a sucessão do dia e da noite. Ele sabe que o seu ser não se acha limitado a alguns instantes de uma existência transitória; que a vida espiritual não se interrompe por efeito da morte; que já viveu e tornará a viver e que nada se perde do que haja ganho em perfeição; em suas existências anteriores depara com a razão do que é hoje e reconhece que: do que ele é hoje, qual se fez a si mesmo, poderá deduzir o que virá a ser um dia.
- Com a idéia de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da civilização se limitam à vida presente, que, antes, a criatura nada foi e nada será depois, em que interessa ao homem o progresso ulterior da Humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam mais bem governados, mais ditosos, mais esclarecidos, melhores uns para com os outros? Não fica perdido para ele todo o progresso, pois que deste nenhum proveito tirará? De que lhe serve trabalhar para os que hão de vir depois, se nunca lhe será dado conhecê-los, se os seus pósteros serão criaturas novas, que pouco depois voltarão por sua vez ao nada?
Sob o domínio da negação do futuro individual, tudo forçosamente se amesquinha às insignificantes proporções do momento e da personalidade. Entretanto, que amplitude, ao contrário, dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade do seu ser espiritual! Que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador do que a lei segundo a qual a vida espiritual e a vida corpórea são apenas dois modos de existência, que se alternam para a realização do progresso! Que de mais justo há e de mais consolador do que a idéia de estarem os mesmos seres a progredir incessantemente, primeiro, através das gerações de um mesmo mundo, de mundo em mundo depois, até à perfeição, sem solução de continuidade! Todas as ações têm, então, uma finalidade, porquanto, trabalhando para todos, cada um trabalha para si e reciprocamente, de sorte que nunca se podem considerar infecundos nem o progresso individual, nem o progresso coletivo. De ambos esses progressos aproveitarão as gerações e as individualidades porvindouras, que outras não virão a ser senão as gerações e as individualidades passadas, em mais alto grau de adiantamento.
- A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros.
Essa a fé que o Espiritismo faculta e que doravante será o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam os cultos e as crenças particulares.
- O progresso intelectual realizado até ao presente, nas mais largas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da Humanidade; impotente, porém, ele é para regenerá-la. Enquanto o orgulho e o egoísmo o dominarem, o homem se servirá da sua inteligência e dos seus conhecimentos para satisfazer às suas paixões e aos seus interesses pessoais, razão por que os aplica em aperfeiçoar os meios de prejudicar os seus semelhantes e de os destruir.
- Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más; somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinem a concórdia, a paz, a fraternidade. Será ele que deitará por terra as barreiras que separam os povos, que fará caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos que têm por dever auxiliarem-se mutuamente e não destinados a viver à custa uns dos outros.
Será ainda o progresso moral que, secundado então pelo da inteligência, confundirá os homens numa mesma crença fundada nas verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, em consequência, aceitáveis por todos.
A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, obstada, desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem sejam uns, os dissidentes, vistos, pelos outros, como inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados.
- Semelhante estado de coisas pressupõe uma mudança radical no sentimento das massas, um progresso geral que não se podia realizar senão fora do círculo das idéias acanhadas e corriqueiras que fomentam o egoísmo.
Em diversas épocas, homens de escol procuraram impelir a Humanidade por esse caminho; mas, ainda muito jovem, ela se conservou surda e os ensinamentos que eles ministraram foram como a boa semente caída no pedregulho.
Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutrir-se de idéias mais amplas e compreender o que antes não compreendia.
A geração que desaparece levará consigo seus erros e prejuízos; a geração que surge, retemperada em fonte mais pura, imbuída de idéias mais sãs, imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido do progresso moral que assinalará a nova fase da evolução humana.
- Essa fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis e que começam a encontrar eco. Assim é que vemos fundar-se uma imensidade de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o influxo e por iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se vão apresentando dia a dia impregnadas de sentimentos mais humanos. Enfraquecem-se os preconceitos de raça, os povos entram a considerar-se membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de realizarem suas transações, eles suprimem as barreiras que os separavam e de todos os pontos do mundo reúnem-se em comícios universais, para as justas pacificas da inteligência.
Falta, porém, a essas reformas uma base que permita se desenvolvam, completem e consolidem; falta uma predisposição moral mais generalizada, para fazer que elas frutifiquem e que as massas as acolham. Ainda aí há um sinal característico da época, porque há o prelúdio do que se efetuará em mais larga escala, à proporção que o terreno se for tornando mais favorável.
- Outro sinal não menos característico do período em que entramos encontra-se na reação que se opera no sentido das idéias espiritualistas; na repulsão instintiva que se manifesta contra as idéias materialistas. O espírito de incredulidade, que se apoderara das massas, ignorantes ou esclarecidas, e as levava a rejeitar com a forma a substância mesma de toda crença, parece ter sido um sono, a cujo despertar se sente a necessidade de respirar um ar mais vivificante. Involuntariamente, lá onde o vácuo se fizera, procura-se alguma coisa, um ponto de apoio.
- Se supusermos possuída desses sentimentos a maioria dos homens, poderemos facilmente imaginar as modificações que dai decorrerão para as relações sociais; todos terão por divisa: caridade, fraternidade, benevolência para com todos, tolerância para todas as crenças. É a meta para que tende evidentemente a Humanidade; esse o objeto de suas aspirações, de seus desejos, sem que, entretanto, ela perceba claramente por que meio as há de realizar. Ensaia, tateia, mas é detida por muitas resistências ativas, ou pela força de inércia dos preconceitos, das crenças estacionárias e refratárias ao progresso. Faz-se-lhe mister vencer tais resistências e essa será a obra da nova geração. Quem acompanhar o curso atual das coisas reconhecerá que tudo parece predestinado a lhe abrir caminho. Ela terá por si a dupla força do número e das idéias e, de acréscimo, a experiência do passado.
- A nova geração marchará, pois, para a realização de todas as idéias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado. Avançando para o mesmo alvo e realizando seus objetivos, o Espiritismo se encontrará com ela no mesmo terreno. Aos homens progressistas se deparará nas idéias espíritas poderosa alavanca e o Espiritismo achará, nos novos homens, espíritos inteiramente dispostos a acolhê-lo. Dado esse estado de coisas, que poderão fazer os que entendam de opor-se-lhe? (A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO, Allan Kardec, Cap. XVII, Juízo Final, Cap. XVIII, São chegados os tempos. - Sinais dos tempos)

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(1) Esta expressão: a abominação da desolação não só carece de sentido, como se presta ao ridículo. A tradução de Ostervald diz: "A abominação que causa a desolação", o que é muito diferente. O sentido então se torna perfeitamente claro, porquanto se compreende que as abominações hajam de acarretar a desolação, como castigo. Quando a abominação, diz Jesus, se instalar no lugar santo, também a desolação para aí virá e isso constituirá um sinal de que estão próximos os tempos.

(1) Extrato de duas comunicações dadas na Sociedade de Paris e publicadas na Revue Spirite de outubro de 1868, pág. 313. São corolários das de Galileu, reproduzidas no capítulo VI, e complementares do capítulo IX, sobre as revoluções do globo.

(1) A terrível epidemia que, de 1866 a 1868, dizimou a população da Ilha Maurícia, teve a precedê-la tão extraordinária e tão abundante chuva de estrelas cadentes, em novembro de 1866, que aterrorizou os habitantes daquela ilha. A partir desse momento, a doença, que reinava desde alguns meses de forma muito benigna, se transformou em verdadeiro flagelo devastador. Aquele fora bem um sinal no céu e talvez nesse sentido é que se deva entender a frase - estrelas caindo do céu, de que fala o Evangelho, como sendo um dos sinais dos tempos. (Pormenores sobre a epidemia da ilha Maurícia: Revue Spirite, de julho de 1867, pág. 208, e novembro de 1868, pág. 321.)

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Espiritismo é Cristão?

Espiritismo é Cristão?

Paulo da Silva Neto Sobrinho

No Jornal Espírita, nº 317, de janeiro de 2002, especificamente na coluna “Qual é a Dúvida”, de responsabilidade de Carlos de Brito Imbassay, foi transcrita para os leitores a seguinte mensagem:

Espiritismo Cristão?

Como? O Espiritismo é cristão? Mas os senhores então acreditam em criação do Mundo em seis dias há seis mil anos? Crêem em três Deuses fazendo o papel de Um? Crêem na infalibilidade da Bíblia? Crêem que estão salvos pelo sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo derramado na cruz, para remir nossos pecados?

Não? Então como pode o Espiritismo ser cristão? Todo cristão tem por obrigação crer naquelas coisas, pois senão, não podem fazer uso do qualificativo de cristão.

Marcos.

Responderemos às questões propostas pelo articulista, sem a necessidade de demonstrar que se ele realmente pensa desta maneira nada entende de Espiritismo, talvez seja mais um dos que ouviram dizer que o Espiritismo é isso ou aquilo, da boca de outro que ouviu dizer, que por sua vez, também ouviu de outro, e assim sucessivamente.

Como? O Espiritismo é cristão?

Ao que nós sabemos ainda não existe nenhuma instituição (nacional ou internacional?) encarregada de distribuir “carteirinha de cristão” a quem quer que seja. O que afirmamos é que: é cristão todo aquele que se diz ser. Nada mais que isso. Mas, isso não implica necessariamente termos que pensar de maneira igual, pois cada um de nós é uma individualidade distinta que possui grau de evolução diferente dos demais.

Entretanto, iremos recorrer ao Evangelho para tirarmos a prova. Primeiramente citaremos o próprio Jesus que diz: Porque, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles (Mateus 18, 20). Veja que a única condição para Ele estar junto com alguém é que esteja reunido em Seu nome. Fora disso, só se alguém estiver querendo ser maior que Jesus. Agora podemos citar Paulo que em sua carta aos coríntios fala: julgais as coisas só pelas aparências. Se alguém tem a certeza de pertencer a Cristo, considere que nós somos de Cristo como ele (2 Coríntios 10, 7).

Também fazemos uma diferença entre ser cristão e seguir ao Cristo. Os que atualmente se dizem cristãos nada mais são que pessoas que poderíamos dizer judeu-cristãos, já que para eles a fonte de suas verdades se apóia na Bíblia. Seguir ao Cristo para nós seria esforçarmos para colocar seus ensinamentos, contidos no Novo Testamento, em prática no nosso dia-a-dia. Não O vemos em momento algum criticando a religião de ninguém, nem O vemos tentando, a qualquer custo, converter alguém a seguí-Lo ou mesmo insistindo que somente quem o segue irá para os céus. A única coisa que disse foi: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim (João 14, 6), entretanto isto significa que sem praticar seus ensinamentos não há como chegar ao Pai. Mas, a bem da verdade não podemos dizer que os ensinamentos são propriamente de Jesus, já que disse: portanto, o que falo é justamente aquilo que o Pai me mandou anunciar (João 12, 50), ou seja, estava transmitindo-nos as orientações de Deus.

E para os menos avisados, Kardec estudando a moral do Cristo publicou o Livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo – E.S.E”, onde analisa sob a ótica da Doutrina Espírita os ensinamentos de Jesus, entre os quais citamos o Sermão da Montanha. E para ressaltar a importância dele, vejamos os dados abaixo: 1 – No E.S.E. existem 28 capítulos, dos quais 18 contêm passagens dele, corresponde, portanto, a 64% dos capítulos; 2 – Em Mateus ele está inserido nos capítulos 5, 6 e 7, num total de 111 versículos, destes 92 foram estudados por Kardec, ou seja, 83% dos versículos; 3 – Em Mateus existem 28 capítulos, esse episódio está narrado em 3, o que equivale a 11% dos capítulos.

Assim, no aspecto religioso o Espiritismo abraça, sem dúvida alguma, os ensinamentos de Cristo, não os daqueles que se julgam donos da verdade. A nossa máxima é “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO”, que cumprida significa: amar ao próximo como a nós mesmos, mandamento básico da mensagem de Deus vinda aos homens por intermédio de Jesus.

Mas os senhores então acreditam em criação do Mundo em seis dias há seis mil anos?

E nem poderíamos acreditar num absurdo desse. Vejamos o que a ciência afirma sobre a idade do Planeta Terra:A datação radiométrica permitiu aos cientistas calcular a idade da Terra em 4 bilhões 650 milhões de anos.[1] Assim, não há como contrariar a Ciência por causa da Bíblia. Uma coisa que normalmente os bibliólatras não conseguem enxergar é que tudo o que a ciência vier a descobrir ou desvendar estará certamente descobrindo ou desvendando Leis Naturais, cuja origem é Deus, assim, via de conseqüência, são inegavelmente Leis Divinas.

É bom lembrar que, não muito tempo atrás, os que se apegavam à Bíblia quiseram contestar a tese de Galileu, que afirmava não ser a Terra o centro do Universo, quase o queimaram por isso mas, hoje em dia, nem se discute mais que ele estava coberto de razão.

Mas, para os que acreditam que a criação do Mundo se deu em seis dias, perguntamos: considerando que somente após criar o Sol é que podemos racionalmente dizer em dia (e noite) como estabelecer esse período de tempo para as coisas que foram criadas anteriores à criação dele? Alguém poderá dizer que Deus ao criar a luz no primeiro dia fez uma separação entre a luz e as trevas, e que à luz chamou de dia, e às trevas de noite. Ótimo! Mas, então como explicar que se fale em dia e noite sem que se tenha ainda criado o Sol, uma vez que somente este astro é que nos dá o ciclo dia e noite?

Crêem em três Deuses fazendo o papel de Um?

Se fosse ensino de Jesus creríamos. Entretanto, não O vemos em momento algum dizer que Ele era o próprio Deus. Ao contrário, inúmeras vezes se dizia filho do homem (Mateus 30 vezes, Marcos 13, Lucas 26 e João 11) e, pouquíssimas vezes filho de Deus (João 3 vezes). Ser filho de Deus, não quer dizer que era Deus, existe uma diferença inconfundível nisso. Desculpe-nos, falamos inconfundível somente para pessoas de mente aberta, não para alguns fanáticos.

Mas, para que não paire dúvida alguma, faremos uma pesquisa no Novo Testamento, para resolvermos esta questão. Vejamos estas passagens:

Marcos 12, 29 e 32: ...o SENHOR nosso Deus é o único Senhor. E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; Romanos 3, 30: Visto que Deus é um só...; 1 Coríntios 8, 4 e 6: ...o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só. Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo ...; Gálatas 3, 20: Ora, o medianeiro não o é de um só, mas Deus é um; Efésios 4, 5-6: Um só SENHOR, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós; e, 1 Timóteo 2, 5: Porque há um só Deus, e um só Mediador...

Por outro lado, os discípulos nunca O tiveram como a um Deus, sempre diziam que era apenas um homem, vejamos: Atos 2, 22: Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais... Romanos 5, 15: ...muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos; e, 1 Timóteo 2, 5: ...e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.

Ele sempre Se colocou como enviado de Deus, nunca como o próprio Deus. Além de que, as profecias sobre Ele sempre diziam da vinda de um Messias (Mensageiro) não que o próprio Deus iria vir.

Se aceitarmos Jesus como sendo Deus ficaremos diante de algo inexplicável, vejamos: Deus (Jesus) encarna na Terra, se imola na cruz em oferta a Deus (Ele mesmo) para tirar os nossos pecados, pode uma coisa dessa? Também, quando ele morre na cruz, ele diz: Pai (=Deus, ou seja, ele mesmo), em tuas mãos entrego meu espírito, como explicar Ele entregando Seu espírito a Ele mesmo?

Mas se alguém quiser saber o porquê do dogma da Trindade, imposta aos Católicos e aceita pelos Protestantes, é só pesquisar a cultura de todos os povos que dominaram o povo hebreu e encontrará a explicação. Não fizeram nada mais que copiar o que destes povos tinham a respeito de suas divindades, que eram sempre compostas de três pessoas. E o Catolicismo em meio de várias religiões não possuía mais que um Deus, assim, para se igualar às correntes religiosas, diga-se de passagem todas ditas pagãs, resolveram juntar aos seus dogmas mais este.

Crêem na infalibilidade da Bíblia?

Os católicos acreditam na infalibilidade do Papa, os protestantes na infalibilidade da Bíblia e nós, os Espíritas, preferimos aceitar e acreditar somente na INFALIBILIDADE DE DEUS. E é por isso que não podemos, por razões de lógica, aceitar que Deus sendo infalível possa produzir algo assim: Em Êxodo 20, 5: ... Castigo a culpa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração... enquanto que em Deuteronômio 24, 16: Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais: cada um será morto por seu próprio pecado, afinal castiga os filhos pelo erro dos pais ou não? Em Êxodo 21, 12: Quem ferir mortalmente um homem, será punido de morte, em Êxodo 21, 15: Quem ferir o pai ou a mãe, será punido de morte, isso entre outras tantas cujo desfecho é a morte, ao passo que em Êxodo 20, 13: Não matarás, ficamos na dúvida é para matar ou não?

Teríamos muito mais coisas para colocar, mas para que este texto não se alongue demais, fiquemos por aqui. E sobre esse assunto estaremos publicando, em breve, o livro “A Bíblia à Moda da Casa”, onde mostraremos verdades sobre a Bíblia para os que possuem capacidade de ver e ouvidos de ouvir.

Crêem que estão salvos pelo sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo derramado na cruz, para remir nossos pecados?

Não podemos crer nisso, pois preferimos ficar com Jesus, quando Ele diz: Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e retribuirá a cada um conforme suas obras (Mateus 16, 27). Se a retribuição é conforme as nossas obras e Ele nunca falou em sangue, ficamos com as obras, quem quiser que fique com o sangue.

Ao estudarmos o Novo Testamento, percebemos que no princípio essa idéia de sangue resgatar os pecados foi introduzida somente para que o cristianismo nascente se propagasse sem grandes dificuldades de aceitação. É o que os apóstolos fizeram, talvez também fruto das Leis Mosaicas, já que é nelas que o sangue dos touros resgata os pecados, pelo sacrifício de expiação.

Por outro lado, se o sangue de Cristo derramado na cruz, remiu nossos pecados, comamos e bebamos, como diz Paulo, já que estamos todos remidos. Só que os sacrifícios de expiação daquela época eram para resgatar os pecados já cometidos, e assim sendo, necessitaremos de um outro Cristo para pagar os pecados da humanidade após sua morte na cruz, não há outra alternativa se nos baseamos na lógica e no bom senso.

Não? Então como pode o Espiritismo ser cristão?

Se tivéssemos outro nome para nos designar talvez fosse bem melhor, pois se ser cristão e ter que aceitar os maiores absurdos só porque constam da Bíblia, é melhor não o sermos. Se ser cristão é não acreditar nos avanços da ciência, preferimos não ser. Se ser cristão é ficar preocupados com os que os outros pensam para os atacar, é preferível não o ser. Enfim, para não sermos confundidos com os que se dizem cristão e não seguem a Cristo, até mesmo suplicamos por outro nome para identificar a nós que nos esforçamos para seguir plenamente Seus ensinamentos. E diante de tantos absurdos que fizeram e ainda fazem os que se dizem cristãos, preferimos somente ser chamados de Espíritas.

Todo cristão tem por obrigação crer naquelas coisas, pois senão, não podem fazer uso do qualificativo de cristão.

Agora sim é que não quero ser designado cristão mesmo, pois jamais abrirei mão do direito de pensar por mim mesmo. Não podemos ficar sujeitos às interpretações e dogmas impostos por qualquer pessoa. E nisso o Espiritismo é ímpar entre as religiões, pois, muito ao contrário, diz justamente que devemos criticar tudo, não aceitar nada sem uma análise feita utilizando a razão e a lógica, e que podemos questionar tudo, mas tudo mesmo, porque INFALÍVEL SÓ DEUS.

Conclusão

Para evitar que este texto ficasse longo demais, não colocamos todos os nossos argumentos, mas se alguém quiser saber mais sobre o assunto, Espiritismo x Cristianismo, faça uma visita a este endereço na Internet: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/paulosns/index.html.

Mas, com razão está Huberto Rohden, quando diz:

“Há quem afirme que o cristianismo possa salvar o mundo – enganam-se! Há quase dois mil anos o cristianismo tem cometido os maiores crimes de que há memória nos anais do gênero humano, incluindo cruzadas, inquisições, guerras de extermínio, infernos de ódio, rios de sangue e de lágrimas – e ninguém dirá que isso seja salvação”.

“É tempo, senhores teólogos dogmáticos, de enterrarmos os nossos ídolos, tidos e havidos por sagrados, e voltarmos a um conceito mais puro e mais espiritual do cristianismo. Cristão genuíno é todo aquele homem que possui o espírito de Cristo e vive segundo esse espírito. O espírito de Cristo, porém, é o de um amor ao próximo universal, nascido dum profundíssimo amor a Deus”.

E, para finalizar, fazemos nossas as seguintes palavras aos que pensam assim:

Eles não compreendem nem o que dizem, nem as questões que defendem, apesar de se apresentarem como doutores da lei (1 Timóteo 1, 7).

Porque, onde há ciúme e espírito de discórdia, aí reina desordem e toda espécie de maldade (Tiago 3, 16).

Esta é a vontade de Deus: fazer calar, pela prática do bem, a ignorância dos homens insensatos (1 Pedro 2, 15).

Será que me tornei vosso inimigo por dizer-vos a verdade? (Gálatas 4, 16).

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Jan/2002.

Bibliografia:

Bíblia Anotada = The Ryrie Study Bible/Texto bíblico: Versão Almeida, Revista e Atualizada, com introdução, esboço, referências laterais e notas por Charles Caldwell Ryrie; Trad. Carlos Oswaldo C. Pinto. São Paulo, Mundo Cristão, 1994.
Bíblia Sagrada, Edição Barsa, 1965.
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 14ª Impressão 1995.
Bíblia – Mensagem de Deus , Novo Testamento - LEB - Edições Loyola, São Paulo, 1984.
Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, São Paulo, 1989, 68ª Edição.
Bíblia Sagrada, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1989, 8ª Edição
Lampejos Evangélicos, Huberto Rohden, Editora Martin Claret, São Paulo, SP, 1995.
[1]"Terra (planeta)," Enciclopédia® Microsoft® Encarta. © 1993-1999 Microsoft Corporation.

Jesus voltará?

Jesus voltará?

"Digo-vos, em verdade, que alguns daqueles que aqui se encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o Filho do homem no seu reino." (S. Mateus, cap. XVI, vv. 24 a 28.)

É crescente o número de doutrinas ditas cristãs que divulgam o retorno de Jesus no plano físico terreno. A maioria delas, para não dizer todas, se apoia nas escrituras sagradas para sustentar tal afirmação. Segundo essas doutrinas, Jesus voltará para separar o joio do trigo e assim presidir o juízo final, onde os bons terão seu lugar assegurado no paraíso e os maus, condenados ao sofrimento eterno.
Analisemos alguns aspectos que nos ajudarão a esclarecer o ponto chave do assunto proposto:
1) Deus, inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas, em sua infinita sabedoria e misericórdia não imporia a nenhum de nós o sofrimento eterno. Ao contrário, Ele nos concede a oportunidade de regeneração através de uma nova existência (reencarnação). Mas, então, alguém questionaria: Aquele que se arrepende sinceramente não é perdoado de imediato?  De fato, o arrependimento é um passo importante para a evolução moral do Espírito. É o início da reparação, entretanto não nos exime da culpa de um mal causado a outrem ou a nós mesmos. É necessário corrigir o erro para seguirmos adiante. Nossa própria consciência nos cobrará, portanto, não há necessidade de um "juízo final" e, por consequência, a volta de Jesus para este fim. Aqueles que insistirem em permanecer estacionados na jornada evolutiva serão destinados a mundos compatíveis com seu adiantamento, mas jamais serão excluídos da misericórdia divina.
2) Algumas doutrinas religiosas "levam ao pé da letra" o que está contido na bíblia. É importante ressaltar que Jesus não deixou nada escrito e que sua pedagogia era permeada de alegorias e metáforas, o que pode gerar erro de interpretação. O Mestre de Nazaré julgou não ser oportuna a abordagem aprofundada de diversos temas (incluindo a reencarnação, que ajuda a compreender várias questões), pois o homem naquela época era incapaz de entender certos assuntos. Ele apenas plantou a semente pra que ela germinasse no tempo devido. Sabe-se ainda que as escrituras existentes começaram a ser produzidas após o retorno de Jesus à pátria espiritual, pelas pessoas que foram próximas a ele e que também tinham dificuldade em compreendê-lo. Posteriormente, a bíblia para chegar ao formato que conhecemos hoje teve que passar pelo crivo de homens imperfeitos que adequaram os textos para que se atingisse o interesse desejado na época. Não há como garantir que as mensagens que temos acesso hoje são fiéis ao que o Cristo propagou em sua época.
E para os espíritas, Jesus voltará?
O Espiritismo é alvo de duras críticas por parte das doutrinas que acreditam na volta de Jesus, justamente por analisar o assunto sob outro prisma. Para responder a essa indagação, vamos considerar um dos livros que compõem a Codificação Espírita, intitulado "A Gênese". Nele, Allan Kardec faz uma breve reflexão sobre o assunto, no item 45:
"Segundo Advento do Cristo
43. Disse então Jesus a seus discípulos: Se alguém quiser vir a mim, que tome sua cruz e siga-me; pois aquele que quiser salvar sua vida perdê-la-á, e aquele que perder sua vida por amor de mim a reencontrará.
E de que valeria ao homem ganhar todo o mundo, e perder sua alma? Ou por que preço poderá o homem resgatar sua alma, depois de havê-la perdido? Pois o Filho do homem deve vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então dará a cada um segundo suas obras.
Digo-vos, em verdade, há alguns dos que estão aqui que não experimentarão a morte senão depois de haverem visto o Filho do homem vir em seu reino. (S. Mateus, cap. XVI, vers. de 24 a 28.)
44. Então o sumo sacerdote, levantando-se no meio da assembleia, interrogou a Jesus e lhe disse: Vós não respondeis nada aos que depõem contra vós? Mas Jesus permaneceu em silêncio e nada respondeu. O sumo sacerdote ainda o interrogou e lhe disse: Sois vós o Cristo, o Filho de Deus abençoado para sempre? Jesus lhe respondeu: Eu o sou, e vereis um dia o Filho do homem sentado à direita da majestade de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.
Logo o sumo sacerdote, rasgando suas vestes, lhes disse: Que necessidade temos de mais testemunhas? (S. Marcos, cap. XIV, vers. 60 a 63.)
45 - Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que voltará à Terra com um corpo carnal, nem que personificará o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos forem chegados".
Analisando esta afirmativa de Kardec, entendemos que a questão permanece em aberto. Jesus pode em algum momento retornar ao plano terreno, entretanto, não deixou claro como e quando este fato ocorrerá. O Espírito Amélia Rodrigues também retrata o assunto no livro "Quando a primavera voltar", através da psicografia de Divaldo Franco:
“Jesus prossegue sendo a eterna Primavera por que todos anelamos. Esperar a Sua volta é a ambição que devemos, no momento, acalentar, preparando a Terra desde então para esse momento de vida, beleza e abundância...”.
O fato é que Ele não retornará para mediar o "Juízo Final". Para nós espíritas, o fim dos tempos não significa que o mundo acabará, tão pouco que seremos julgados de alguma forma por Jesus. O Cristo é exemplo de amor e quem ama não julga.
Através do desenvolvimento moral e intelectual da humanidade, a Terra também passará pelo inevitável progresso e aqueles que já estiverem em condições de participar dos tempos ditosos deste planeta permanecerão neste mundo para desfrutar daquilo que cultivou no pretérito. Quem ainda não atingiu este patamar será convidado a habitar outros mundos conforme seu adiantamento.
Jesus esteve e permanece entre nós, nos mostrando o caminho para a felicidade eterna, seja através de suas ideias, ou de seus prepostos enviados à Terra de tempos em tempos.
“Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo.” (Mateus 28:20.)
Então, como entender os sinais dos tempos? - Para muitos, os acontecimentos catastróficos que acometem o planeta são sinais apocalípticos, indicando a volta de Jesus e o fim dos tempos. Esses sinais, para algumas religiões, são caracterizados pelos desastres naturais; as guerras; as crises econômicas.
Os primeiros, desde a origem do planeta, ocorrem de forma sincronizada e são interpretados pelos espíritas como consequência da Lei do Progresso, pela qual todos nós estamos submetidos, inclusive o orbe planetário. Terremotos; tsunâmis; fenômenos climáticos de todas as ordens sempre aconteceram e nunca deixarão de existir. Aqueles que são vitimados nessas intempéries, que, por vezes, são comunidades inteiras ou até mesmo civilizações, estão sujeitos ao aperfeiçoamento moral, a fim de acelerar a evolução desses povos e, por consequência, o progresso do próprio globo. Todas as grandes civilizações da história da humanidade saíram de cena para dar lugar a povos mais adiantados (Civilização Egípcia, Civilização Romana etc.). Se analisarmos desde o surgimento dos primeiros homens até os dias atuais, concluiremos que a humanidade experimentou um progresso incalculável, o que se tornou mais acentuado nos últimos séculos.
"O progresso da Humanidade se cumpre, pois, em virtude de uma lei. Ora, como todas as leis da Natureza são obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis resulta da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável."
As guerras e as crises econômicas nada mais são do que fruto da ignorância do homem, que acaba por abusar de seu livre-arbítrio. Certamente, todos os atos bárbaros trazem consequências à humanidade. Talvez, se não tivéssemos atravessado duas grandes guerras, já estaríamos vivendo em um mundo mais ditoso.
"Sim, decerto, a Humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação se assinala por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento. Aquelas se tornam, muitas vezes, penosas, dolorosas, e arrebatam consigo as gerações e as instituições, mas são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral."
A Gênese - Allan Kardec
Estamos vivendo o fim dos tempos? - De certa forma sim. Deixaremos este tempo em que vivemos em um mundo de provas e expiações para viver no tempo de um mundo regenerado. Isso significa um mundo melhor, com menos sofrimento, menos egoísmo e mais solidariedade entre os povos. As provas e expiações dolorosas, que são características de mundos pouco evoluídos como a Terra, não mais existirão.
[...] "Quando, por conseguinte, a Humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os tempos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita."
A Gênese - Allan Kardec
Quando se completará a transição? - Não há uma data definida para o planeta se tornar um mundo de regeneração. Sabe-se apenas que as transformações já se iniciaram. A cada dia, somos convidados a mudar nossos hábitos e corrigir nossas tendências viciosas para progredir ao máximo. A maioria de nós está vivendo a última oportunidade na Terra. É preciso evoluir para permanecer no novo mundo regenerado.

Referências:
A Gênese - Allan Kardec.
Quando a Primavera Voltar - Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco.

A volta do CRISTO

A volta do CRISTO

Os bons permanecerão na Terra de regeneração

EURÍPEDES KÜHL

A propósito do segundo advento do Cristo, Allan Kardec, em “A Gênese" (1), destaca inicialmente dois trechos do Evangelho:
Em Mateus, capítulo 16, versículos 24 a 28:
Disse então Jesus a seus discípulos: Se algum quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; - porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo. (...) – Pois o Filho do homem deve vir na glória de seu Pai, com seus anjos, e então dará a cada um segundo suas obras. Digo-vos, em verdade, que alguns daqueles que aqui se encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o Filho do homem no seu reino”.
Em Marcos, capítulo 14, versículos 61 e 62:
(...) O sumo sacerdote ainda o interrompeu e lhe disse: Sois vós o Cristo, o filho de Deus abençoado para sempre?
Jesus lhe respondeu: Eu sou, e vereis um dia o Filho do homem sentado à direita da majestade de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.
Desses dois trechos Kardec considera:
Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que voltará à Terra com corpo carnal, nem que personificará o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos forem chegados.
Considerando que nos albores do terceiro milênio muitos são os cristãos que estabelecem interpretação equivocada de alguns trechos evangélicos, e em particular dos acima transcritos, com humildade e prudência apresento reflexões encontradas no Espiritismo, que talvez venham a dissipar quaisquer névoas sobre o seu entendimento.
Os trechos citados formam um grande painel, cuja síntese espírita, sempre concorde com Kardec, pode ser a seguinte:
a. A vida eterna é a do Espírito — a física, efêmera. Convém, pois que cuidemos da primeira, com desprendimento da segunda (a material);
b. Jesus vir com anjos para dar reconhecimento (méritos) subentende a aplicação, pelo Plano Espiritual, da Lei Divina de Justiça, que terá repercussão na Terra, onde atualmente vivem os bons junto com os maus; tal aplicação terá por objetivo separá-los, de forma que:
- os bons (por seus créditos de virtudes) receberão passaporte para permanecerem na Terra, então regenerada (planeta de regeneração é aquele onde o bem supera ao mal);
- os maus terão emigrado compulsoriamente para mundos mais atrasados do que este, onde levarão progresso, ao tempo que se redimirão;
c. Uma segunda vinda de Jesus nos remete inicialmente a três reflexões:
1ª - um segundo advento do Cristo pode perfeitamente ocorrer. Ele o afirmou categoricamente. Assim, o que impediria tal ocorrência?
2ª - Mas, para os não-cristãos, Jesus não seria o “Cristo” (Ungido de Deus, o Messias) o qual, nem sequer teria vindo uma primeira vez. Assim, no atual patamar religioso terreno, uma eventual volta de Jesus, como da primeira vez, pelo menos para muitos, provavelmente não o fará ser considerado o Messias. Como vemos, aqui há um embate de credos...
3ª - Para a maioria dos cristãos (espíritas, em particular), Jesus não retornará porque... jamais nos deixou, ou deixaria. Apóiam-se na afirmação do próprio Cristo: “Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28:20).
De nossa parte, excluindo a 2ª reflexão, as 1ª e 3ª conciliam-se e tanto uma quanto a outra são viáveis. Ademais, essa questão da “volta de Jesus” deve ser encarada com muita prudência. Para começar, três dias após a crucificação Ele esteve com os Apóstolos, a partir da Estrada de Emaús (Lucas, capítulo 24).
Além das considerações de Kardec, que sintetizamos acima, colhemos as de outros quatro espíritas, todas bem econômicas, demonstrando que o tema não se presta a grandes dissertações...
Ei-las:
1ª - Em “Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo”, de Aurélio A. Valente, 9° capítulo, p. 204 e 205, Ed. 1937, FEB, RJ/RJ:
“Jesus descerá em toda a sua glória, dirigindo a falange dos Espíritos eleitos do Senhor. De acordo com as escrituras, Ele veio entre os hebreus restabelecer o reino de Deus, mas não foi reconhecido porque eles esperavam o reinado dos homens”;
2ª - Em “Allan Kardec”, de Z. Wantuil e F. Thiesen, Vol. III, p. 85, 2ª Ed., 1982, FEB, RJ/RJ:
“(...) a vinda de Jesus, anunciada no Evangelho, processar-se-á, no porvir, quando necessária, no tempo certo, que não sabemos avaliar”;
3ª - Em “Jesus – nem Deus, nem homem”, de Guillon Ribeiro, p. 14, 3ª Ed., 1990, FEB, RJ/RJ:
“Esse segundo advento (de Jesus) se dará quando o mesmo Jesus, como Espírito da Verdade, vier em todo o seu fulgor espírita ao planeta terreno purificado e transformado, na qualidade de seu soberano, visível para as criaturas também purificadas e transformadas, mostrar a verdade sem véu”;
4ª - Em “Quando voltar a primavera”, de Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo P. Franco, p. 13, 6ª Ed., 1997, LEAL, Salvador/BA:
“Jesus prossegue sendo a eterna Primavera por que todos anelamos. Esperar a Sua volta é a ambição que devemos, no momento, acalentar, preparando a Terra desde então para esse momento de vida, beleza e abundância...”.
Dentro do tema, Kardec, ainda em “A Gênese”, registra (2):
Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes. (Mateus, capítulo 25, vers. de 31 a 33).
Inúmeras são as reflexões de incontáveis autores espíritas sobre o Juízo Final, máxime sobre essa afirmação evangélica que preconiza a separação de bodes para um lado e ovelhas para outro: em análise objetiva, tais palavras expressam o reconhecimento dos méritos de cada Espírito terreno, encarnado ou desencarnado — aos bons, a Terra regenerada, e aos maus, expurgo daqui, com passaporte e emigração compulsória para mundos primitivos ou mesmo de “provas e expiações”, que os há aos milhões, no Universo.
Destarte, para nós, espíritas, o “Juízo Final” simboliza a regeneração planetária, pelo que nem “Final”, nem coletivo, mas sim, individual, nem tal julgamento acontecerá num exato momento para todos: na opinião de vários Espíritos, Kardec inclusive, ele (Juízo Final) já começou há tempos e nisso, como aliás desde sempre, quem define com infalível acerto as coisas é a consciência de cada um, ditando-lhe seu destino. Àqueles que tenham anestesiada a consciência, a infalibilidade das Leis Divinas, em particular a de Justiça, aplica-se automaticamente, no dizer magnânimo de Jesus, que repetimos: a cada um, segundo suas obras.
Mas, ainda refletindo sobre eventual volta de Jesus há uma penosa realidade (pelo menos nos tempos de hoje) para os cristãos: Ele não é nem nunca foi unanimidade terrena.
Senão, vejamos:
- à época de Jesus na Terra, a população mundial, segundo estimativa de alguns demógrafos, oscilava de 170 a 250 milhões de habitantes: fiquemos na média;
- nem todos O aceitaram como o Mestre dos mestres;
- até hoje, não aceitar o Cristo como o Messias, de forma alguma exclui alguém de proceder fraternalmente, de “ser do bem”. Não! Ser bom jamais foi apanágio apenas dos seguidores de qualquer credo ou religião, ou mesmo de eventuais ateus;
- em 1952, no livro “Roteiro”, Ed. de 1952, da FEB, RJ/RJ, pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito Emmanuel informava que para os dois bilhões de Espíritos encarnados havia vinte bilhões desencarnados (2:20);
- em 1964, no “Anuário Espírita de 1964”, Ed. do I.D.E., Araras/SP, pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito André Luiz informava que para os três bilhões de Espíritos encarnados havia vinte e um bilhões desencarnados (3:21);
- assim, na primeira citação (de Emmanuel), temos que para um encarnado havia dez desencarnados (1:10), e na segunda (de A.Luiz), a proporção era de um para sete (1:7);
- atualmente, seis bilhões e meio de pessoas habitam a Terra. Quantos desencarnados? Se ficarmos com o último dado, de A.Luiz: 21 + 3 – 6,5 = 17,5 bilhões;
- todos esses números (citação feita apenas como conjetura, que como tal, não passa de opinião pessoal) parecem sinalizar que o planeta Terra, do tempo de Jesus entre nós aos dias atuais, vem sendo destino de grande número de Espíritos alienígenas...
- se volvermos ao tempo de Jesus (± 210 milhões de encarnados) imaginar qual o número de desencarnados de então é número que fica difícil de ajuizar, mas pela proporção, talvez seja de dez vezes mais do que dos encarnados, isto é, algo em torno de três  bilhões;
- dessas reflexões temos que para mais de vinte bilhões de Espíritos, encarnados e desencarnados, sequer estariam na Terra, quando da primeira vinda de Jesus, logo, para eles, não haveria retorno, senão sim, um primeiro contato;
- segundo o “Almanaque ABRIL - Mundo” de 2002, Editora Abril, SP/SP, p. 83, em 2000 havia cerca de dois bilhões de cristãos no mundo. Ora, dedutivamente (6,5 – 2 = 4,5) quatro e meio bilhões não O têm como referencial de “Salvador”.
Triste. Mas essa é a realidade, hoje!
Contudo, quem poderá negar que com os fantásticos meios de divulgação hoje existentes, um novo estágio de Jesus entre nós agirá como sublime catalisador de uma expressiva melhoria moral da Humanidade, catalisando a regeneração deste planeta?
Ribeirão Preto/SP – Inverno de 2008  

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REFERÊNCIAS:
(1) "A Gênese”, de Allan Kardec, Cap XVII,  nº 43 e 44, p. 389 da 35ª Ed., 1992, FEB, Rio/RJ;
(2) "A Gênese”, de Allan Kardec, Cap XVII, “Juízo final”, nº 62, p. 397 da 35ª Ed., 1992, FEB, Rio/RJ

EURÍPEDES KÜHL é escritor espírita e colaborador de diversos veículos espíritas.

Salvar a vida

O trem estava por partir. Deixaria aquele lugar sórdido, levando os judeus jovens e sadios para a liberdade.

A notícia era a de preservação dos mais fortes, e naquele trem não havia lugar para velhos.

As portas seguiriam abertas, pois não sobrava espaço para fechá-las. Estava abarrotado de judeus.

Um ancião polonês, de cabelos alvos, segurou com as mãos encarquilhadas o paletó do jovem que estava por partir e suplicou-lhe com veemência, que desse a sua pela vida dele.

Estava velho e doente e desejava rever os familiares que deixara na distante Polônia. Seria sua última chance, implorou ao rapaz.

O velho apelou para o coração do jovem que lhe permitisse embarcar no seu lugar, em nome do Cristo.

O rapaz não era cristão, e pouco ouvira falar do Homem de Nazaré. Apenas uma frase atribuída a Ele pairava em sua memória: Aquele que quiser ganhar a vida, perdê-la-á, e aquele que a perder por amor de Mim, ganhá-la-a.

Olhou longamente para aquele velho desesperado e, embora a promessa de liberdade próxima o tentasse, resolveu descer e ceder seu lugar ao ancião.

O trem partiu e ele pôde contemplar pela janela o aceno de agradecimento daquele a quem salvara a vida com a sua própria, pensava.

Deteve-se ali por alguns instantes, como adorno vivo de uma paisagem de horror e desolação, observando o trem que se afastava lentamente.

Após alguns dias chegou a notícia do engodo. O trem que partira em direção à liberdade, aportara no Campo de Concentração de Auschwitz, na Áustria, e todos os passageiros pereceram sob os chuveiros de gás letal.

Os meses rolaram e levaram com eles o horror da guerra. O jovem sobreviveu para escrever sua história e conhecer melhor Aquele Homem que um dia dissera que aquele que quisesse ganhar a vida perdê-la-ía, e aquele que a perdesse por amor a Ele, ganhá-la-ía.

*   *   *

Nós, cristãos, que ainda caminhamos pelas estradas do hemisfério físico, saberemos precisar quando sairá o próximo trem?

Será que nosso nome não consta da lista de passageiros com destino ao hemisfério espiritual?

Preocupados em ganhar a vida, em amontoar recursos materiais, esquecemos de cultivar a vida do Espírito, a vida verdadeira e imperecível que nos aguarda no além-túmulo.

Temos empregado a maior parte da vida perdendo-a nos gozos efêmeros e ilusórios, e não temos tempo para dedicá-la, ainda que por alguns instantes, em benefício dos necessitados de toda ordem.

Os dias passam, os anos se somam e pouco, ou quase nada, temos buscado aprender sobre o futuro espiritual que nos aguarda.

Agindo assim, dizemo-nos imortais, mas não vivemos como tal, uma vez que só nos ocupamos com as coisas da matéria, como se daqui jamais fossemos partir.

*   *   *

Muitas pessoas entram na vida espiritual como suicidas.

Pelas Leis Divinas não são tidos como suicidas somente os que põem fim à vida num ato de desespero ou insanidade, mas também os que acabam com ela aos poucos, através dos excessos de toda ordem.

Assim, os fumantes inveterados, os alcoólatras, os gulosos, os sexólatras, os adeptos da violência, entre outros, são suicidas, por queimarem a existência física por mero egoísmo e desconsideração com a própria vida.

Redação do Momento Espírita, com citação de Mateus, 16:25.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. Fep.
Em 22.04.2009.