Comentário
Jesus estava falando, pediu-lhe um fariseu que fosse jantar com ele, e havendo entrado, sentou-se à mesa. E o fariseu começou a discorrer lá consigo mesmo o motivo por que não se tinha lavado antes de comer. E o Senhor lhe disse: Agora, vós outros, os fariseus, limpais o que está por fora do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade. Néscio, quem fez tudo o que está fora, não fez também o que está dentro?” (Lucas, XI: 37-40).
Quem eram os escribas e os fariseus? Os primeiros eram assim chamados por terem o cargo de escrever a lei e explicá-la. Já no tempo de Jesus essa designação referia-se, especialmente, aos doutores da lei, que ensinavam a lei de Moisés e a interpretavam para o povo. Jesus os citou junto com os fariseus, porque eles partilhavam dos seus princípios e tinham aversão aos inovadores.
Fariseus, adeptos da seita judia, fundada por Hilel, nos anos de 180 a 200 antes de Cristo, doutor judeu nascido na Babilônia. Foram perseguidos, recuperaram o poder, conservando-o até a queda de Jerusalém, pelos romanos, no ano 70 após Cristo, quando a seita desapareceu, com a dispersão dos judeus.
Aceitavam que a fé só era dada pelas escrituras, acreditavam na Providência divina, na imortalidade da alma, na eternidade das penas, na ressurreição dos mortos. Eram rigorosos nas práticas exteriores do culto e das cerimônias, inimigos das inovações, afetavam grande severidade de princípios, mas tinham costumes dissolutos às escondidas; exerciam grande influência sobre o povo, pelo rigor na observação das práticas exteriores. A religião, para eles era um meio de possuir o poder.
Nos Evangelhos, vemos dois fariseus que se sensibilizaram com os novos ensinos: Nicodemos e Gamaliel que defenderam os apóstolos que haviam sido presos, os quais foram libertados (Atos, 5:33 e seguintes). De Gamaliel, temos mais notícias no livro Paulo e Estevão, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, tentando amenizar a severidade dos membros do Sinédrio no julgamento de Estevão, visitando a Casa do Caminho, declarando-se amigo de Simão Pedro, advogando a causa dos continuadores de Jesus nos capítulos VI, VII da primeira parte e declarando-se cristão para Saulo no capítulo II da Segunda parte.
Na citação de Jesus, em relação ao mandamento : “Honrai a teu pai e a tua mãe”, fazia parte da lei, o amparo material aos pais. Mas eles burlavam a lei, alegando que o dinheiro que davam ao Senhor, nos templos, já era o cumprimento da lei, uma vez que, então, o Senhor cuidaria deles. Jesus os desmascara com suas palavras(1).
As leis políticas, os usos e costumes do povo judeu eram frutos das interpretações da s leis de Moisés. Todavia, pela própria imperfeição do homem em seguir os dez mandamentos, esses foram sendo negligenciados, no decorrer do tempo, de forma que mais valorizadas eram as práticas exteriores dos mesmos, por serem mais visíveis, mais fáceis de serem percebidas e de serem cumpridas.
Assim, no exercício dos atos exteriores, julgavam estar cumprindo a s leis de Deus. Nisso , até hoje, não houve muita mudança, nos religiosos, de maneira geral.
Lavar as mãos antes das refeições era um preceito mais fácil de ser cumprido do que limpar o coração, escreve Kardec, esclarecendo porque Isaias dissera: “ Este povo me honra com os lábios, ensinando máximas e mandamentos dos homens.”
Por isso, hoje, quem pretende seguir os ensinos de Jesus, precisa estar, continuamente, estudando-os, trazendo-os, para os dias atuais, a fim de não se perder nos hábitos dos que buscam viver somente o presente, sem medir as conseqüências dos mesmos.
Com o espiritismo, os ensinos de Jesus tornaram-se muito mais claros, lógicos e racionais, possíveis de serem aplicados em nossos dias, se não na sua profundidade, mas, no propósito do esforço de sua vivência.
Basta esforço para tudo analisar, segundo a sobrevivência da alma, no seu processo evolutivo constante e determinado por Deus, na lei de causa e efeito, que devolve a cada um apenas o que cada um lhe dá, em sentimentos, em pensamentos e em ações.
Quando Jesus diz: “Toda a planta que meu Pai não plantou, será arrancada”, referia-se a todo uso, costume, hábito, lei, que não estiverem de acordo com a Sua lei: o Bem. Tudo que traz prejuízo a alguém, a si mesmo ou a outrem, que não beneficia, não foi criado por Deus, mas constitui-se em mandamentos dos homens imperfeitos, egoístas e orgulhosos, que se julgam poderosos, e desaparecerão da humanidade terrestre regenerada.
Vale o esforço de estudar os ensinos do Mestre à luz do espiritismo, porque quem o faz, constante e perseverantemente, no silêncio do seu interior, esforçando-se para vivenciá-los, no dia-a-dia, sente crescer o entusiasmo pela vida, porque se reconhece fazendo parte de uma humanidade que tem por destino ser perfeita e feliz.
“ A finalidade da religião é conduzir o homem a Deus. Mas o homem não chega a Deus, se não se fizer perfeito. Toda religião, portanto, que não melhora o homem não atinge a sua finalidade. Aquela em que ele pensa poder apoiar-se para fazer o mal, é falsa ou foi falseada no seu início. Esse é o resultado a que chegam todas aquelas em que a forma supera o fundo. A crença na eficácia dos símbolos exteriores é nula, quando não impede os assassinos, os adultérios, as espoliações, as calúnias, e a prática do mal ao próximo, sejam qual for. Ela faz supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de bem.
Não é suficiente ter as aparências da pureza; é necessário antes de tudo ter a pureza de coração!”
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