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Fábio José Lourenço Bezerra
O Espírito de Verdade é uma entidade de grande superioridade espiritual, que estava no comando da revelação do Espiritismo na Terra, como nos informa Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo VI:
“[...] O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade (grifo nosso).”
O Espírito de Verdade é um único Espírito, e não uma plêiade de Espíritos Superiores. Isso pode ser evidenciado já no início de “O Livro dos Espíritos”, nos Prolegômenos, quando os Espíritos responsáveis pelo texto assinam:
“São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito da Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc., etc.”
Na segunda parte do livro “Obras Póstumas”, Kardec nos informa como ficou sabendo que o Espírito de Verdade era o seu guia espiritual:
“MEU GUIA ESPIRITUAL
25 DE MARÇO DE 1856
(Em casa do sr. Baudin, méd. srta. Baudin).
Eu morava, nessa época, na rua dos Mártyrs, nº 8, no segundo andar, no fundo do corredor. Uma noite, estando em meu gabinete de trabalho, pequenos golpes reiterados se fizeram ouvir contra a divisória que me separava do quarto vizinho. De início, não lhe prestei nenhuma atenção; mas, como esses golpes persistiam com mais força, mudando de lugar, fiz uma exploração minuciosa dos dois lados da divisória, escutei se provinham de um outro andar, e não descobri nada. O que havia de particular é que, cada vez que eu fazia procuras, o ruído cessava, e recomeçava logo que me repunha a trabalhar. Minha mulher entrou pelas dez horas; veio em meu gabinete e, ouvindo esses golpes, me perguntou o que era isso. Deles nada sei, respondi, faz uma hora que isso dura. Procuramos juntos, sem mais sucesso, e o ruído continuou até à meia-noite, hora na qual ia me deitar.
No dia seguinte, sendo um dia de sessão na casa do Sr.Baudin, contei o fato, e pedi a sua explicação.
Perg. . Sem dúvida, ouvistes o fato que acabo de citar; poderíeis dizer-me a causa dessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta persistência?
Resp. Era teu Espírito familiar.
Perg. Com que objetivo vinha bater assim?
Resp. Queria se comunicar contigo.
Perg. Poderíeis dizer-me o que é que ele queria de mim?
Resp. Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.
Nota. Nessa época não se fazia distinção entre as diversas categorias de Espíritos simpáticos; eram confundidos sob a denominação geral de Espíritos familiares.
Perg. . Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, vos agradeço por ter vindo me visitar; quereríeis me dizer quem sois?
Resp. Para ti, me chamarei A Verdade (grifo nosso), e todos os meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição.
Perg. Ontem, quando batestes, enquanto eu trabalhava, tínheis alguma coisa em particular para me dizer?
Resp. O que tinha a dizer-te era sobre o trabalho que fazias, o que escrevias me desagradava, e queria te fazer cessar.
Nota. O que escrevia era precisamente relativo aos estudos que fazia sobre os Espíritos, e suas manifestações.
“[...] Perg. . O nome de Verdade, que tomastes, é uma alusão à verdade que procuro? .
Resp. Talvez; ou, pelo menos, é um guia que te protegerá e te ajudará.”
“[...] Perg. Animastes algum personagem conhecido sobre a Terra?
Resp. Eu te disse que, para ti, era a Verdade; esse para ti queria dizer discrição: disso não saberás mais (grifo nosso).”
“[...] 9 DE ABRIL DE 1856
(Na casa do sr. Baudin, médium srta. Baudin.)
Perg. Dissestes que seríeis para mim um guia, que me ajudaria e me protegeria; concebo essa proteção e o seu objetivo numa certa ordem de coisas, mas gostaríeis de me dizer se essa proteção se estende também às coisas materiais da vida?
Resp. Neste mundo, a vida material importa muito; não te ajudar a viver, seria não te amar.
Nota. A proteção desse Espírito, do qual estava longe de supor a superioridade (grifo nosso), com efeito, jamais me faltou. Sua solicitude, e a dos bons Espíritos sob as suas ordens, se estende sobre todas as circunstâncias de minha vida, seja para me aplainar as dificuldades materiais, seja para me facilitar o cumprimento de meus trabalhos, seja, enfim, para me preservar dos efeitos da malevolência de meus antagonistas, sempre reduzidos à impossibilidade. Se as atribulações inerentes à missão que tinha que cumprir não puderam me ser poupadas, têm sempre sido abrandadas e largamente compensadas pelas bem doces satisfações morais.”
Antes de prosseguir o texto, cabe uma explicação: sempre que constar o título “Imitação do Evangelho”, leia-se “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. O primeiro título dessa obra foi inicialmente proposto por Allan Kardec, mas após reiteradas sugestões do seu editor, o Sr. Didier, ele foi modificado, como o próprio Kardec nos informa na segunda parte do livro “Obras Póstumas”.
Na “Revista Espírita” de Dezembro de 1864, temos a seguinte comunicação:
A PROPÓSITO DA IMITAÇÃO DO EVANGELHO
(Bordeaux, maio de 1864. Grupo de São João – Médium: Sr. Rul.)
Acaba de aparecer um novo livro; é uma luz mais brilhante que vem clarear a vossa marcha. Há dezoito séculos, por ordem de meu Pai, vim trazer a palavra de Deus aos homens de boa vontade. Esta palavra foi esquecida pela maioria dos homens, e a incredulidade, o materialismo vieram abafar o bom grão que eu tinha depositado em vossa Terra. Hoje, por ordem do Eterno, os Espíritos bons, seus mensageiros, vêm a todos os pontos do globo fazer ouvir a trombeta retumbante. Escutai suas vozes; são destinadas a vos mostrar o caminho que conduz aos pés do Pai celestial. Sede dóceis aos seus ensinos; os tempos preditos são chegados; todas as profecias serão cumpridas.
Pelos frutos se conhece a árvore. Vede quais são os frutos do Espiritismo: casais onde a discórdia tinha substituído a harmonia voltaram à paz e à felicidade; homens que sucumbiam ao peso de suas aflições, despertados pelos acordes melodiosos das vozes de além-túmulo, compreenderam que seguiam o caminho errado e, envergonhados de suas fraquezas, arrependeram-se e pediram força ao Senhor para suportarem as suas provações.
Provações e expiações, eis a condição do homem na Terra. Expiação do passado, provações para o fortalecer contra a tentação, para desenvolver o Espírito pela atividade da luta, habituá-lo a dominar a matéria e prepará-lo para as alegrias puras que o esperam no mundo dos Espíritos.
Há muitas moradas na casa de meu Pai, disse-lhes eu há dezoito séculos. O Espiritismo veio tornar compreensíveis estas palavras. E vós, meus bem-amados, trabalhadores que suportais o calor do dia, que credes ter de vos lamentar da injustiça da sorte, abençoai vossos sofrimentos; agradecei a Deus, que vos dá meios de quitar as dívidas do passado. Orai, não com os lábios, mas com o coração melhorado, a fim de que possais ocupar melhor lugar na casa de meu Pai. Como sabeis, os grandes serão humilhados, mas os pequenos e os humildes serão exaltados.
O Espírito de Verdade
Observação de Allan Kardec sobre essa comunicação:
“Sabe-se que não levamos em consideração o nome dos seres que se comunicam, sobretudo os que se apresentam sob nomes venerandos. Não garantimos mais esta assinatura do que muitas outras, limitando-nos a entregar esta comunicação à apreciação de todo espírita esclarecido. Diremos, contudo, que não se pode negar a elevação do pensamento, a nobreza e a simplicidade das expressões, a sobriedade da linguagem e a ausência de toda superfluidade. Se se compara às que são dadas na Imitação do Evangelho (prefácio e capítulo III: O Cristo Consolador), e que levam a mesma assinatura, embora obtidas por médiuns diferentes e em épocas diversas, nota-se entre elas uma analogia impressionante de tom, de estilo e de pensamentos, que acusam uma origem única (grifo nosso). Para nós, dizemos que pode ser do Espírito de Verdade, porque é digna dele, enquanto temos visto massas assinadas por este nome venerado ou o de Jesus, cuja prolixidade, verborragia, vulgaridade, por vezes mesmo a trivialidade das idéias, traem a origem apócrifa aos olhos dos menos clarividentes.”
A seguir, transcrevemos as comunicações a que Kardec se referiu em sua observação acima:
No prefácio de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.
Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.
As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.
Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor! Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus.
O Espírito de Verdade
E no Capítulo intitulado “O Cristo Consolador”, da mesma obra:
Advento do Espírito de Verdade
Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis."
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam (grifo nosso): "Irmãos! Nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade."
O Espírito de Verdade. (Paris, 1860.)
Pelos três textos acima percebe-se, claramente, que o Espírito de Verdade é o próprio Jesus.
Vejamos também outras comunicações espirituais que confirmam isto. Vejamos três exemplos na Revista Espírita:
Na edição outubro de 1861, extraímos um pequeno trecho da Epístola de Erasto aos Espíritas Lioneses, obtida em 19 de setembro de 1861:
“[...] Não podeis imaginar quanto me sinto orgulhoso de distribuir a cada um de vós os elogios e o encorajamento que o Espírito de Verdade, nosso bem-amado mestre (grifo nosso), ordenou-me conferisse às vossas piedosas coortes.”
Na edição de janeiro de 1864, no artigo intitulado Um Caso de Possessão - Senhorita Júlia, consta que o Espírito Hahnemann escreveu:
“[...] Essas obsessões freqüentes terão, também, um lado muito bom, porque, penetrado pela prece e pela força moral, é possível fazê-las cessar e adquirir o direito de expulsar os Espíritos maus e, pelo melhoramento de sua conduta, cada um buscará adquirir o direito que o Espírito de Verdade, que dirige este globo (grifo nosso), conferirá quando for merecido.”
Na edição de fevereiro de 1868, Erasto, em mensagem intitulada Futuro do Espiritismo, obtida em 1863, disse:
“[...] Marchai, pois, imperturbavelmente em vossa estrada, sem vos preocupar com as zombarias de uns e o amor-próprio ferido de outros. Estamos e ficaremos convosco, sob a égide do Espírito de Verdade, meu e vosso mestre (grifo nosso).”
No livro “Missionários da Luz”, ditado pelo Espírito André Luiz, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, o instrutor Alexandre diz:
“– O próprio Jesus nos afirma: “eu sou a porta... se alguém entrar por mim será salvo entrará, sairá e achará pastagens”! Por que audácia incompreensível imaginais a realização sublime sem vos afeiçoardes ao Espírito de Verdade (grifo nosso), que é o próprio Senhor?”
No livro “A Gênese”, no Capítulo XVII – item 37, Kardec escreveu o seguinte:
“As religiões que se fundaram no Evangelho não podem, pois, dizer-se possuidoras de toda a verdade, porquanto ele, Jesus, reservou para si a complementação ulterior de seus ensinamentos”.
O grande pesquisador e escritor espírita Hermínio Correia de Miranda, na sua obra “As Mil Faces da Realidade Espiritual”, conclui:
“[...] Não há, pois, como ignorar a óbvia e indiscutível conclusão de que, sob o nome Espírito de Verdade, o Cristo dirigiu pessoalmente os trabalhos de formulação e implementação da Doutrina dos Espíritos, caracterizando-a como o Consolador que prometera há dezoito séculos.”
Fazemos nossa a conclusão de Herminio C. Miranda, e afirmamos ainda mais a nossa admiração pela grandeza espiritual de Allan Kardec, por ter como guia espiritual o próprio Mestre Jesus.
Concluímos este texto com um vídeo de outro grande pesquisador e palestrante espírita, Haroldo Dutra Dias, também bastante esclarecedor:
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
1 KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos;
2 _______. O Evangelho segundo o Espiritismo;
3 _______. A Gênese;
4 _______. Obras Póstumas;
5 XAVIER, Francisco Cândido; André Luiz (Espírito). Missionários da Luz;
6 MIRANDA, Hermínio Correia de. As mil faces da realidade espiritual.
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS CONSULTADOS:
http://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1861.pdf
http://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1864.pdf
http://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1868.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=3RzdSNk49Tc
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