Ao vermos honestos e honrados seguidores da Doutrina Espírita afirmarem que o Espírito da Verdade é Jesus, procuramos trazer algum esclarecimento sobre o assunto.
Felizmente, pela mediunidade destes companheiros, tenho a oportunidade de corrigir a confusão que, por vaidade, provoquei.
Sim, por vaidade, pois sempre ela nos leva à manifestação de uma falsa humildade.
Tinha eu forte rejeição a mensagens assinadas por nosso querido Mestre, Jesus de Nazaré[1]. É claro que não sem motivos. Porém sempre fui muito severo em afirmar a necessidade de análise do conteúdo das mensagens recebidas.
Mas cometi séria falha ao trocar o nome de uma mensagem enviada por Jesus a um médium da Sociedade Espírita de Paris, quando a publiquei no capítulo 6 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, na primeira mensagem do item “Advento do Espírito da Verdade”.
Ali eu troquei a assinatura de Jesus por Espírito da Verdade.
Observem, caros companheiros, que antes eu havia publicado a mesma mensagem, aí sim, completa, em “O Livro dos Médiuns”[1], com a assinatura de Jesus de Nazaré.
Na observação que fiz ao fim da mensagem, faço comentários sobre os cuidados que devemos ter ao receber Espíritos tão veneráveis.
Porém, mostro o grau de distorção de minhas reservas quando digo: “(…) só nos permitiria reproduzir com absoluta reserva, tão grande seria a insigne graça de sua autenticidade”.
Nossa existência é uma perpétua “insigne graça”, pois que todos vivemos imersos no oceano de amor de Deus. E ainda o fato de ter Jesus dito que onde houvesse dois ou mais reunidos em seu nome, lá ele estaria.
Ainda devemos lembrar a enorme importância do aval do próprio Jesus para com a Doutrina iniciante, quando diz: “Eu vos digo em verdade, crede na diversidade, na multiplicidade dos Espíritos. Estou bastante tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza, para não estender a mão protetora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem no abismo do erro. Crede, amai, compreendei as verdades que vos são reveladas. Não mistureis o joio com o bom trigo, os sistemas com as verdades”.
A minha vaidade, disfarçada de falsa humildade, me fazia crer que devemos merecer “a graça” de tal presença. Quando, na realidade, quanto maior nossa imperfeição, maior nossa necessidade dessa proteção.
Se o mérito fosse condição para recebermos a presença espiritual de Jesus, com certeza a humanidade já teria deixado de existir.
Na mensagem Jesus diz: “Só raramente me comunico”.
Eis uma afirmação de sua presença, e um alerta do cuidado que devemos ter com o uso de seu nome.
Afirmo a todos que, apesar da total falta de méritos não só minha, mas de todos os que nos encontrávamos na Sociedade, naquele momento, a mensagem é de Jesus de Nazaré, e não do Espírito da Verdade, como está no capítulo 6 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Também a segunda mensagem deste capítulo, recebida em Paris em 1861, é de Jesus de Nazaré, e não do Espírito da Verdade. As outras são do Espírito da Verdade.
Minhas afirmações publicadas em 1868 em “A Gênese” ajudam a desfazer a confusão. No capítulo 27 (Predições do Evangelho), item “Anunciação do Consolador”, cito o Evangelho de João no item 35: “Se me amais, guardai os meus mandamentos —e eu pedirei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco”. Em seguida, no item 39, comento: “Jesus claramente indica que esse Consolador não seria ele, pois, do contrário, dissera: ‘Voltarei a completar o que vos tenho ensinado’.”
Analisando Mateus (27:10-13), quando Jesus diz: “É certo que Elias há de vir, e que ele restabelecerá todas as coisas”, no item 34, capítulo 27 de “A Gênese”, digo: ” Elias já voltara na pessoa de João Batista. Seu novo advento é anunciado de modo explícito. Ora, como ele não pode voltar, senão tomando um novo corpo, …”
Entendi naquele momento que quem deveria vir e restabelecer todas as coisas seria o Consolador prometido. Mas Jesus afirma taxativamente, dando inclusive o nome de Elias, que Jesus também afirmou ter sido João batista, que ele seria o Consolador, pois seria quem restabeleceria todas as coisas.
Não pude, portanto, ter qualquer dúvida, como afirmo no item 39: o Espírito da Verdade não é Jesus.
Sobre o segundo advento do Cristo, fazendo a análise de Marcos (14:60-63), no item 45 digo: “Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que voltará à Terra com um corpo carnal, nem que personificará o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai”.
Ainda em João (10:16), diz Jesus: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; é preciso que também a essas eu conduza; elas escutarão minha voz e não haverá senão um só rebanho e um só pastor”.
É o próprio Espírito da Verdade (que não é Jesus) quem me explica essa passagem. Diz ele:
“Seria impossível tentarmos levar o Evangelho a todos os povos dos encarnados. Por isso o estamos fazendo no plano espiritual, onde tais ensinos são muito mais acessíveis.”
Falar do Consolador é algo desconhecido até dos próprios Cristãos. Por isso falar de Jesus.
Como todo o processo do Apocalipse fará desencarnar a grande maioria da humanidade, isso provocará um choque muito intenso em todos, ao mesmo tempo que mostrará, de maneira muito aguda, a fragilidade das coisas materiais.
Isso criará a sensibilidade necessária para o também necessário esclarecimento.
Criar-se-á, então, a condição ideal para a atuação direta de Jesus, em espírito, em toda sua grandeza.
Com sua atuação, Jesus trará para seu redil a grande maioria dos Espíritos habitantes da Terra.”
Como podemos ver, o próprio Jesus deixa muito claro quem é ele e quem é o Espírito da Verdade.
Além, é claro, de meu atual testemunho: com o convívio que tenho com o Espírito da Verdade, posso afirmar que ele não é Jesus.
Allan Kardec
Mensagem psicografada pelo médium Rosino Caporice em São Paulo no dia 28/10/2011.
[1] Vide “O Livro dos Médiuns”, capítulo 31 item 19. Allan Kardec recusa-se a admitir a assinatura de uma mensagem como sendo de Jesus de Nazaré, sob o seguinte argumento, posto em nota: “Esta comunicação, obtida por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita de Paris, foi assinada com um nome que o respeito nos não permite reproduzir, senão sob todas as reservas, tão grande seria o insigne favor da sua autenticidade e porque dele se há muitas vezes abusado demais, em comunicações evidentemente apócrifas. Esse nome é o de Jesus de Nazaré. De modo algum duvidamos de que ele possa manifestar-se; mas, se os Espíritos verdadeiramente superiores não o fazem, senão em circunstâncias excepcionais, a razão nos inibe de acreditar que o Espírito por excelência puro responda ao chamado do primeiro que apareça. Em todo caso, haveria profanação, no se lhe atribuir uma linguagem indigna dele. Por estas considerações, é que nos temos abstido sempre de publicar o que traga esse nome. E julgamos que ninguém será circunspecto em excesso no tocante a publicações deste gênero, que apenas para o amor-próprio têm autenticidade e cujo menor inconveniente é fornecer armas aos adversários do Espiritismo. Como já dissemos, quanto mais elevados são os Espíritos na hierarquia, com tanto mais desconfiança devem os seus nomes ser acolhidos nos ditados. Fora mister ser dotado de bem grande dose de orgulho, para poder alguém vangloriar-se de ter o privilégio das comunicações por eles dadas e considerar-se digno de com eles confabular, como com os que lhe são iguais (grifo nosso). Na comunicação acima apenas uma coisa reconhecemos: é a superioridade incontestável da linguagem e das ideias, deixando que cada um julgue por si mesmo se aquele de quem ela traz o nome não a renegaria.” No trecho destacado, Allan Kardec revela como estava imbuído das mesmas ideias que há séculos transformam Deus e Jesus em mitos, distanciando-os de nós. Jesus Cristo dedicou sua vida a auxiliar aqueles que precisavam de médico. Também poderia ter enviado ao plano físico qualquer um de seus auxiliares —mas decidiu vir ele próprio à Terra para dar seu exemplo de Amor e Caridade. O que nos impediria de “confabular como um igual” com aquele que lavou os pés aos seus discípulos se não exatamente este sentimento de falsa humildade a que Kardec se refere em sua nova comunicação?
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