segunda-feira, 20 de junho de 2016

A identidade jamais revelada do Espírito de Verdade

A identidade jamais revelada do Espírito de Verdade

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
De Londrina

A primeira manifestação ostensiva do Espírito de Verdade ao professor Hippolyte Léon Deni-zard Rivail ocorreu em sua casa no dia 25/3/1856 através de pancadas. O relato que se segue se baseia nas próprias palavras do Codificador do Espiritismo.
A 25 de março de 1856 estava Allan Kardec em seu escritório, trabalhando no preparo d' O Li-vro dos Espíritos, quando ouviu ressoarem pancadas repetidas na parede. Ele procurou, sem sucesso, a causa dos ruídos e voltou ao trabalho. Sua mulher, Amélie, entrando cerca das 10 horas no escritó-rio, ouviu os mesmos ruídos. De novo, procuraram localizar a causa do barulho, sem nenhum resulta-do, e as coisas foram se repetindo de tal modo que bastava Kardec voltar à tarefa e as pancadas se faziam ouvir em diferentes pontos da sala.
No dia seguinte, na reunião que se realizava na casa do sr. Baudin, Kardec pediu aos Espíritos explicação para o fato.
Eis como ele mesmo transcreveu em "Obras Póstumas" o diálogo que então se verificou:
"– Ouvistes o fato que acabo de narrar. Podereis dizer-me a causa dessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta insistência?
– Era o teu Espírito familiar.
– Com que fim vinha ele bater assim?
– Queria comunicar-se contigo.
– Podereis dizer-me o que queria ele?
– Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.
– Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, agradeço-vos terdes vindo visitar-me. Quereis ter a bondade de dizer-me quem sois?
– Para ti chamar-me-ei Verdade, e todos os meses, durante um quarto de hora, estarei aqui à tua disposição.
– Ontem, quando batestes, enquanto eu trabalhava, tínheis alguma coisa de particular a dizer-me?
– O que eu tinha a dizer-te era sobre o trabalho que fazias. O que escrevias me desagradava e eu queria fazer-te parar.
– A vossa desaprovação versava sobre o capítulo que eu escrevia, ou sobre o conjunto do traba-lho?
– Sobre o capítulo de ontem: faço-te juiz dele. Torna a lê-lo esta noite e reconhecerás os erros e os corrigirás.
– Eu mesmo não estava muito satisfeito com esse capítulo e o refiz hoje. Está melhor?
– Está melhor, mas não muito bom. Lê da 3a à trigésima linha e re¬conhecerás um grave erro.
– Rasguei o que tinha feito ontem.
– Não importa. Essa inutilização não impede que subsista o erro. Relê e verás."

Jobard e Sanson vêem o Espírito de Verdade – Dois anos depois, Kardec anotaria em uma de suas obras: “Tendo eu interrogado esse Espírito, ele se deu a conhecer sob um nome alegórico (eu soube, depois, por outros Espíritos, que fora o de um ilustre filósofo da Antiguidade).”(Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Edicel, pp. 227 e 228.)
A respeito do assunto, vale a pena consultar o volume da Revista Espírita de 1862, pp. 72 e 172,  bem como o livro “Kardec, Irmãs Fox e Outros”, de Jorge Rizzini, pp. 11 e 12, após o que será fácil concluir, com apoio no que o próprio Codificador registrou:
1o. O Espírito de Verdade não é Jesus, mas um Espírito familiar de Allan Kardec. Como sabe-mos, a expressão “Espírito familiar” está definida com clareza na obra da codificação, que nos ensina, na questão 514 d´O Livro dos Espíritos, que o Espírito familiar é alguém da família espiritual, é “o amigo da casa”.
2o. O Espírito de Verdade foi um filósofo na Antiguidade, cujo verdadeiro nome terreno ele não quis declinar, provavelmente porque sua divulgação não traria à obra em curso nenhum proveito. Lembremos também que o Codificador, ao assinar suas obras espíritas, ocultou seu verdadeiro nome, entendendo que usá-lo não traria vantagem ao trabalho e poderia mesmo prejudicá-lo.
3o. O Espírito de Verdade não é uma plêiade, uma falange, uma reunião de Espíritos superiores, mas uma individualidade espiritual, o que pôde ser comprovado quando Jobard e Sanson, então de-sencarnados, afirmaram tê-lo visto no recinto da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Aliás, reportando-se a esse Espírito, Kardec escreveu: “A qualificação de Espírito de Verdade não pertence senão a um só, e pode ser considerada como um nome próprio. Está especificada no Evangelho. Ali-ás, esse Espírito se comunica raramente e apenas em circunstâncias especiais” (Revista Espírita de 1866, pág. 221).
4o. Kardec jamais entendeu ou deu a entender que esse Espírito fosse o próprio Jesus, um equí-voco que tem sido repetido por autores e palestrantes espíritas, sem nenhum fundamento. Para os que duvidam do que ora dizemos convidamos a que leiam o comentário que Kardec fez a propósito da comunicação atribuída a Jesus, inserta no item IX do cap. XXXI d´O Livro dos Médiuns.


O Espírito de Verdade em pessoa na Sociedade
Espírita de Paris

Com respeito à individualidade do Espírito de Verdade, tema que jamais foi motivo de dúvida entre Kardec e seus seguidores, é interessante recordar os depoimentos de dois amigos do Codifica-dor, expressos em reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Depois de sua desencarnação, o Sr. Jobard, confrade e amigo íntimo de Kardec, comunicou-se várias vezes na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, de cujas sessões participava então com freqüência, na condição agora de Espírito liberto das vestes físicas.
Em 11 de novembro de 1861, em resposta a uma pergunta de Kardec: “Vedes os Espíritos que aqui estão conosco?”, Jobard, valendo-se da médium Sra. Costel, respondeu o que segue:
“Vejo, principalmente, Lázaro e Erasto; depois, mais afastado, o Espírito de Verdade, planando no espaço; depois uma multidão de Espíritos amigos que vos cercam, agradecidos e benevolentes”. (Revista Espírita de 1862, pág. 72.)
Praticamente seis meses depois, em 2 de maio de 1862, o Sr. Sanson, amigo e companheiro de Kardec na Sociedade Espírita de Paris, recentemente desencarnado, também descreveria, a pedido do Codificador, o ambiente espiritual da Sociedade no momento das reuniões. Eis parte do diálogo que então se registrou:
Kardec: – Entre os Espíritos que aqui se acham vedes o nosso presidente espiritual São Luís?
Sanson: – “Está sempre ao vosso lado e, quando se ausenta, sabe sempre deixar um Espírito supe-rior, que o substitui.”
Kardec: – Não vedes outros Espíritos?
Sanson: – “Perdão: o Espírito de Verdade, Santo Agostinho, Lamennais, Sonnet, São Paulo, Luís e outros amigos que evocais estão sempre nas vossas sessões.” (Revista Espírita de 1862, pág. 172.) (M.B.O.)

O Espírito de Verdade segundo Jorge Rizzini

A competência e a autoridade intelectual do confrade Jorge Rizzini, autor de inúmeras obras de grande importância para os estudiosos da Doutrina Espírita, não é preciso ser aqui lembrada. Dele é o excepcional livro Kardec, Irmãs Fox e Outros, que a EME Editora publicou em 1994.
Composta de 17 capítulos, a obra dedica parte do capítulo primeiro ao assunto de que ora trata-mos, que é ali desdobrado em três partes: a questão da denominação da Entidade, a discussão da idéia de que o Espírito de Verdade seja uma falange de Espíritos e, por fim, a identidade do Espírito.

Espírito Verdade ou Espírito de Verdade?
1o. – No tocante ao pseudônimo que o Espírito de Verdade preferiu utilizar por ocasião da codi-ficação do Espiritismo, Jorge Rizzini segue a opinião da maioria, que prefere grafá-lo “Espírito de Verdade”, diferentemente de Canuto Abreu, que lhe chamava simplesmente “Espírito Verdade”, omitindo a preposição “de”, assunto de que já tratamos neste jornal em julho último. É bom lembrar que Kardec também usava a forma preferida por Rizzini: L´Esprit de Vérité, como podemos ver na edição francesa de 1866 d´O Evangelho segundo o Espiritismo, tanto no prefácio como no cap. VI.
Escreveu então Jorge Rizzini (obra citada, pág. 11): “Preferimos a tradição evangélica: ´Espírito de Verdade´. Além da tradição histórica, acrescentemos este fato decisivo: em uma das mensagens em língua francesa dirigidas a Allan Kardec o pseudônimo da Entidade crística aparece com a prepo-sição, ou seja, Espírito de Verdade, de conformidade com o Novo Testamento”.

Espírito de Verdade é o nome de uma falange?

2o. – Rizzini não aceita a idéia, que vez por outra ouvimos no meio espírita, de que o Espírito de Verdade seja uma falange, uma plêiade, uma reunião de Espíritos.
Eis o que ele escreveu (obra citada, pág. 12): “O insigne Espírito de Verdade é uma individuali-dade! Lembremo-nos de que em sua primeira mensagem (psicografada em 1856 em Paris pelas irmãs Baudin) a Entidade afirmou, dirigindo-se a Allan Kardec: ´ – Para ti, eu me chamarei A VERDADE...´
“Note-se que a Entidade não escreveu: ´Nós` e, sim, conforme se lê em ´Obras Póstumas`: ´Eu me chamarei A VERDADE`.
“Outra prova da sua individualidade está no fato de que seu pseudônimo aparece nos prolegô-menos de ´O Livro dos Espíritos` entre os nomes de Sócrates, Platão, Fénelon, Santo Agostinho, Erasto etc. Oferecemos, ainda, outra prova que reputamos, também, inquestionável. Abramos o livro ´O Céu e o Inferno`, edição da Edicel, página 167. Em uma sessão mediúnica dirigida por Allan Kar-dec e realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas manifestou-se o Espírito Jobard, o qual fora presidente honorário daquela instituição e amigo particular do próprio Kardec. A certa altura do diálogo com Jobard perguntou Kardec:
– Vedes os Espíritos que aqui se encontram conosco?
– Vejo, sobretudo, Lázaro e Erasto. Depois, mais distanciado, o Espírito de Verdade que paira no espaço.”

Jesus e o Espírito de Verdade são a mesma pessoa?

3o. Com respeito à idéia de que o Espírito de Verdade seja o próprio Cristo, Jorge Rizzini é cate-górico (obra citada, pág. 12):
“Não. Se fosse, jamais teria dito aos apóstolos: ´... eu rogarei ao Pai e Ele vos enviará outro Con-solador, para que fique eternamente convosco: o Espírito de Verdade.”
Os que pensam de forma contrária apóiam-se principalmente na semelhança de linguagem que se nota entre algumas comunicações assinadas pelo Espírito de Verdade e as palavras de Jesus constan-tes do Evangelho.
Esclarece então Jorge Rizzini:
“A semelhança de personalidade, e até de linguagem (uma é reflexo de outra), explica-se pelo fa-to de que a evolução de ambos pode apresentar o mesmo nível ou quase o mesmo. Recordemos que Jesus não disse que enviaria o Espírito de Verdade; o que o Mestre disse, e com ênfase, é que rogaria a Deus e o Pai, então, enviaria o Espírito de Verdade à Terra. O Espírito de Verdade foi um ilustre filósofo da Antiguidade. E, por ser puro, é que o insigne Espírito foi porta-voz do Cristo ao trazer para nosso planeta o Espiritismo...”
Com relação à notícia de que a mencionada Entidade fora um ilustre filósofo da Antiguidade, Rizzini faz a seguinte observação:
“Dissemos que o Espírito de Verdade é um filósofo da Antiguidade. Essa informação encontra-se em uma obra de Kardec publicada em 1858 e que o Codificador jamais reeditou. Refiro-me ao livro ´Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas`. Examine o leitor as páginas 227-228 do volume ´Iniciação Espírita`, das Obras Completas de Allan Kardec (1a edição) lançada pela Edicel Ltda., ou a página 91 da 2a edição de ´Instruções Práticas` publicada pela Livraria O Clarim, então sob a direção de Cairbar Schutel. Eis aí a revelação que Allan Kardec nos deu sobre o Espírito de Verdade: ´Tendo eu interrogado esse Espírito, ele se deu a conhecer sob um nome alegórico (eu sou-be, depois, por outros Espíritos, que fora o de um ilustre filósofo da Antiguidade)´.” (Marcelo Bore-la de Oliveira)

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