sexta-feira, 17 de junho de 2016

A cólera - Calligaris

A Cólera – O orgulho leva a vos crer mais do que sois; a não poder sofrer uma comparação que possa vos rebaixar; a vos considerar, ao contrário, de tal modo acima dos vossos irmãos, seja como espírito, seja como posição social, seja mesmo como superioridade pessoal, que o menor paralelo vos irrita e vos fere; e o que ocorre então? Entregai-vos à cólera.

Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos animais, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai e encontrareis, quase sempre, por base, o orgulho ferido. Não é orgulho ferido, por uma contradição, que vos faz rejeitar as observações justas, que vos faz repelir com cólera os mais sábios conselhos? As próprias impaciências que causam as contrariedades, frequentemente pueris, prendem-se à importância que se atribui à própria personalidade diante da qual se crê que tudo deve se dobrar.

Em seu frenesi, o homem colérico ataca a tudo; a natureza bruta, os objetos inanimados, que quebra, porque não lhe obedecem. Ah! Se nesses momentos pudesse se ver com sangue-frio, teria medo de si, ou se acharia ridículo! Que julgue por aí a impressão que deve produzir sobre os outros. Quando não fosse senão por respeito a si mesmo, deveria esforçar-se por vencer uma tendência que faz dele objeto de piedade.

Se imaginasse que a cólera não resolve nada, altera sua saúde, compromete-lhe a vida, veria que é sua primeira vitima; mas uma outra consideração deveria, sobretudo, detê-lo: o pensamento de que torna infeliz todos aqueles que o cercam; se tem coração, não terá remorso em fazer sofrer os seres que mais ama? E que desgosto mortal se, num acesso desatinado, cometesse um ato de que tivesse que se censurar por toda a sua vida!

Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede de fazer muito bem, e pode levar a fazer muito mal; isso deve bastar para motivar esforços por dominá-la. O espírita, por outro lado, é solicitado por um outro motivo: ela é contrária à caridade e à humildade cristãs. (Um Espírito Protetor, Bordéus, 1863).
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IX, item 9.



A Cólera

A cólera é, sem dúvida, filha do orgulho.

Com efeito, basta que se faça uma alusão a certo defeito nosso; uma comparação que nos rebaixe ou simplesmente nos seja desfavorável; uma crítica, ainda que sincera e construtiva, a qualquer realização de que tenhamos sido responsáveis; ou que alguém desatenda a uma ordem, esqueça uma recomendação ou contrarie uma opinião nossa, para que a irritação se instale em nosso espírito, nos faça perder a razão e nos impila à violência verbal ou física.

Nesses momentos de fúria, é comum, então, dizermos coisas que não sentimos, tomarmos atitudes que não condizem com as normas da civilidade, e até infligirmos sevicias em quem quer que nos caia ao alcance das mãos (ou dos pés).

Quase sempre, muito nos arrependemos depois desses acessos de loucura, lamentando amargamente termos magoado e ofendido aqueles que estimamos, mas já o mal terá produzido seus efeitos: rancores em uns, traumas psíquicos em outros, etc.

Muitas dessas criaturas que, diante das mínimas contrariedades, se descontrolam e se deixam empolgar pela cólera, atribuem-na ao temperamento com que a natureza os dotou, e, dando-se por justificadas, não diligenciam para extirpá-la. Como poderei agir de outro modo – dizem – se Deus me fez assim, bilioso e explosivo?

A verdade, porém, é que a cólera, como de resto todos os vícios, é uma imperfeição de nosso espírito, respondendo cada um por todos os desatinos que venha a praticar nesse estado.

Eis algumas advertências do Evangelho a respeito, que nenhum cristão deve desconhecer:

“Todo homem que se irar contra seu irmão será réu no juízo”. (Mateus, 5:22.)

“Se vos irardes, seja sem pecar; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. (Efésios, 4: 26.)

“Seja todo homem pronto para ouvir, ponderado no falar e moroso em se irar; porque na ira o homem não faz o que é justo aos olhos de Deus”. (Tiago, 1: 19-20.)

Pois bem, o melhor meio de corrigir-nos de um defeito é cultivarmos a virtude que lhe seja oposta.

Assim, para deixarmos de ser coléricos, o que temos a fazer é exercitar-nos na mansidão, tomando por modelo o Mestre dos mestres, que, mesmo nas circunstâncias mais constrangedoras, jamais perdeu a calma, nunca teve um gesto de violência, nem se permitiu qualquer revide às ofensas e maus tratos de que foi alvo, e, por isso, tinha plena autoridade para aconselhar:

“Não resistais ao que vos fizer mal, e se alguém vos ferir na face direita, oferecei-lhe também a esquerda”. (Ma\teus, 5:39.)

“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas”. (Mateus, 11:29.)

Estas máximas, que a alguns poderiam parecer a consagração da pusilanimidade e da covardia, e, pois, inaceitáveis para um homem de brio, constituem, ao contrário, regras de conduta, que só os realmente fortes são capazes de exemplificar.

Sim, porque reagir à valentona, como os irracionais, denota fraqueza espiritual, ao passo que a brandura é apanágio das almas que, havendo conquistado a si mesmas, adquiriram tão grande fortaleza moral que ninguém as pode atingir, nem perturbar-lhes a doce tranqüilidade interior, muito menos a golpes de ignorância e brutalidade.

A Doutrina Espírita esclarece-nos que devemos refrear o nosso mau gênio, esforçando-nos por ser mansos e pacíficos, não apenas por meras razões místicas, mas como medida de higiene mental, pois, sempre que nos encolerizamos, lançamos em nosso organismo forte dose de adrenalina, e isso, fazendo aumentar a pressão sanguínea, pode provocar uma apoplexia, arruinar-nos a saúde, senão mesmo causar-nos a morte.

E o traspasse nessas condições ser-nos-ia sobremaneira penoso, tais as perturbações que viríamos a sofrer no mundo espiritual.

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