sábado, 28 de maio de 2016
Use a paciência e o perdão infatigavelmente. - Chico Xavier
O capítulo do Evangelho “Bem Aventurados os Aflitos”abrange amplamente nossas dúvidas sobre o sofrimento seja físico, moral, intelectual ou social, e, nos fala também da felicidade e da plenitude mesmo em um mundo de expiação e provas do aprimoramento da coragem e sobretudo da resignação e fé.
Nos deteremos na pergunta 28 deste capítulo:
Um homem está agonizante, vitima de cruéis sofrimentos, sabe-se que seu estado é desesperador, é permitido poupar-lhe alguns instantes de angústias, apressando-lhe o fim?
Meditando sobre tal questão chegamos a conclusão que com que pressa fechamos os olhos de um morto que talvez os tenha aberto pela primeira vez morrendo.
Se fechamos os olhos com o propósito de recapitularmos nossas vidas verificamos que muito rapidamente como um filme em avanço rápido se projetarão em nossas mente o passado longínquo, o próximo passado e o presente em questão de segundos. Toda uma vida em questão de segundos portanto num minuto pode modificar toda trajetória de uma vida, seja ela atuante na carne ou no espírito.
Exemplo de uma vida.
Nasceu o terceiro filho e cresceu até aos 12 anos como uma criança de família modesta e poucos recursos.
Ao completar seus 12 anos sofreu a perda do pai. A mãe católica fervoroso achando-se sem recursos para a educação do filho mais novo, colocou-o em um seminário, almejando o sonho que ele seguisse a religião até a batina. Viveu ali até os seus 20 anos, longe do convívio familiar, padecendo de uma educação rígida, sofrendo privações, pois que sua presença naquele estabelecimento só era permitida pela caridade de alguns.
Diz o menino que sofreu castigos como palmatória, ficar ajoelhado em grão de milho, comer restos ...
Mas aprendeu profundamente teologia e cultura geral. Aprendeu a arte de escrever!
Não foi possível idealizar o sonho de sua mãe, e aos 22 anos casou-se.
Um mês antes do seu casamento ele sentiu um mal-estar, e o seu lado esquerdo do corpo adormeceu. Esse sintoma foi agravando-se de tal maneira que começaram a manifestar-se ligeiras convulsões.
Procurou um médico, depois o segundo, o terceiro, até chegar a um diagnostico assustador.
O menino agora moço em pleno vigor do trabalho e que já tinha uma filha, nascera com uma má formação vascular cerebral imensa intocável sem recursos para a ciência.
O tratamento era paliativo, tomava forte medicação anticonvulsivante mas por um dia sequer deixou seu trabalho.
A doença trazia-lhe seqüelas progressivas, sua perna esquerda perdia a força, seu pé tomava uma posição invertida, arrastava a perna para caminhar e vez ou outra a convulsão vinha castigar-lhe a carne .
Morava então humildemente no fundo de um quintal cujo terreno fazia divisa com um cemitério, porém possuia uma família feliz. Construiu com grande sacrifício sua casa própria num bairro modesto, sem afasto sem iluminação na rua e nessa casa nasceu sua segunda filha.
Firme na sua luta jamais pensou em esmorecer, com a ajuda da esposa dedicada formavam uma família plena.
Nasceu seu terceiro filho, uma alegria imensa, um menino , um menino!
E assim foram vivendo sempre na expectativa de um agravamento na sua saúde, porem o trabalho era necessário para a educação dos seus.
Ele sempre dizia:
- Filhos a única herança que eu posso deixar é o estudo que estou oferecendo a vocês, estudem.
Ao 40 anos algo completamente inesperado. Uma dor forte rasgou-lhe o peito, foi acometido por um infarto!
E agora? Além do problema cerebral também um problema cardiológico a limitar-lhe!
Mas não foi isso que o fez parar, nem a perna que teimava em piorar.
Começou a usar uma ortese que lhe ajudava a caminhar.
Nessa caminhada o tempo não esqueceu sua doença, as convulções tornavam-se mais amiúdes, trocava-se então a medicação para um efeito mais eficaz.
Foi internado certa vez com pneumonia. Com intensa medicação antitérmica foi acometido pelo primeiro acidente vascular cerebral ( avc).
Faltando sangue para uma efetiva oxigenação cerebral o seu semicorpo esquerdo foi severamente afetado. Perda total dos movimentos da perna e braço. Perda da sensibilidade...
O fim? A medicina da época não lhe dava esperança...
Porem Deus estava ao seu lado, 48 horas depois para surpresa geral, ele levantava a mão esquerda e emocionado movimentava o braço para que a família pudesse observar sua vitória através do vidro da UTI.
Aposentou-se não pela doença mas pelo tempo de serviço e trabalhou por mais dez anos, resignado sim, porem jamais acomodado.
Agora também com o equilíbrio comprometido caiu no quintal da sua casa, fraturou o colo de fêmur da perna que já era fraca. Era necessário uma cirurgia para colocação de um pino metálico. Com o cérebro e o coração comprometidos ele não agüentaria a cirurgia? A medicina não garantia, porem o ato cirúrgico era imprescindível.
Ele agüentou. Lentamente se recuperou e durante 6 meses em cadeira de rodas o que após isso passou a andar com o apoio de uma bengala.
Certo dia sentiu o ameaço de uma convulsão que se seguiu em descargas descontroladas, ao seu término um dos seus vasos cerebrais se rompeu e aconteceu o segundo AVC, agora por uma hemorragia.
O quadro era desesperador, complicou-se com uma hidrocefalia, seu cérebro encharcara de líquido e devido a má formação vascular não era possível uma drenagem. Entrou em coma e respirava por aparelhos. O médico pediu que rezássemos pois para a medicina o quadro era irreversível.
Manteve-se sem alteração por quase setenta e duas horas, quando ele SONHOU (sonhou?), que o transferiram para um outro hospital, “Hospital Santa Marta”, onde os aparelhos eram diferentes e um médico alto e magro ficou ao lado do seu leito o tempo todo. Ao amanhecer saiu do coma procurando o tal médico o qual nunca foi visto pelo corpo clinico do hospital.
Teve alta apenas com as seqüelas anteriores.
Passado algum tempo sofreu outra cirurgia, desta vez na mão de apoio da bengala que apresentava certa deformidade. Quem viu não achava possível a recuperação daquela mão, tamanho os cortes que sofrera, porem em tempo médio a função voltou na sua totalidade.
Foi acometido por um terceiro AVC hemorrágico, aspirou vomito provocando infecção pulmonar, entrou em como novamente.
Sua filha mais velha em visita a UTI presenciou um quadro agonizante. Com os olhos esbugalhados seu pai convulsionava mordendo o tubo que o ajudava a respirar.
A equipe médica passava-lhe sonda para aspirar a secreção pulmonar que o sufocava.
Passada a convulsão o médico disse a sua filha:
- O quadro é irreversível!
A filha por um momento pediu a Deus que tivesse clemência perante tanto sofrimento, mas em seguida, intuída por força desconhecida, pegou na mão do seu pai que adormecia em estado de coma e lhe disse:
- Agüenta mais um pouco, é só até amanhã!
Uma lágrima secreta escorreu pela face do seu pai...
Amanheceu e ele mais uma vez acordou, pediu um café!
Engano dizer viver é lutar, lutar é viver!
Ele lutou pela vida, não só pela sua, por sua mulher, por seus filhos e lutando ainda vive, muito limitado atualmente porém vitorioso nas suas provas.
A medicina não explica, dizem os médicos, tanto o cardiologista, como o reumatologista, que este paciente já fugiu de todas as estatísticas conhecidas em matéria de sobrevida.
A ciência se enganou três vezes em suas previsões com um só paciente, e se com o intuito de poupar-lhe instantes de angustia em seu primeiro estado desesperador, fosse apressado o seu fim?
Ele não teria passado pelo segundo, nem pelo terceiro com a magnífica experiência de renascer em vida, de ter oportunidades que lhes permitiam a lapidação do espírito.
Talvez todo destino de uma família tivesse sido alterado e eu estaria hoje sem meu pai!
Fonte: A vida de seu próprio pai.(Inspiração)Maio de 1996
Obs. Seu pai veio a desencarnar no ano de 1998 pelo quarto acidente vascular cerebral (AVC)
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