quinta-feira, 26 de maio de 2016

A Verdadeira Desgraça

A Verdadeira Desgraça

Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Considerações Iniciais. 3. Verdade e Erro: 3.1. Conhecimento como Relação; 3.2. A Verdade; 3.3. O Erro. 4. Caracterização da Desgraça: 4.1. Miséria; 4.2. Flagelos Destruidores; 4.3. Atentados à Vida. 5. A Visão Espírita: 5.1. Ato e Conseqüência; 5.2. Vida Futura; 5.3. Verdadeira Desgraça. 6. Conclusão. 7. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O que se entende por desgraça? A miséria é uma desgraça? Qual a verdadeira desgraça? Qual a orientação dos Espíritos superiores? A nossa maneira de pensar diverge muito da deles? Para tratar do assunto, desenvolveremos algumas idéias sobre o problema da verdade e do erro, a caracterização da desgraça e a desgraça sob a visão espírita.
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Desgraça significa desdita, infortúnio, infelicidade, caso triste, lastimável. Acontecimento funesto. Calamidade.
O tema – A Verdadeira Desgraça – foi extraído do item 24 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em que são tratados os problemas da aflição humana e suas conseqüências, tanto nesta com em outras existências.
Se existe a verdadeira desgraça haverá também a falsa. Sobre esta sentença, o Espírito Delphine de Girardin tece alguns comentários. Acha ele que os homens de uma maneira geral enganam-se acerca da infelicidade, pois a vêm no fogão sem lume, no credor ameaçador, no berço vazio do anjo que sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e de coração partido, na angústia da traição, na nudez do orgulhoso que gostaria de se cobrir de púrpura etc. Eles se esquecem de que toda a ação humana deve ser vista pela sua conseqüência e não por ela em si mesma.
Analisemos, então, os tópicos propostos em nossa introdução.
3. VERDADE E ERRO
3.1. CONHECIMENTO COMO RELAÇÃO
O conhecimento é definido como uma relação entre o sujeito e o objeto, o observador e a coisa observada. O que a mente capta da realidade não é falso nem verdadeiro. Ela simplesmente capta. Por isso é que se diz: "A realidade é o que é. Ela não é nem falsa e nem verdadeira; falsos ou verdadeiros só podem ser os nossos juízos acerca da mesma".
3.2. A VERDADE
verdade – como uma relação entre o sujeito e o objeto – mostra que há uma perfeita correspondência entre a coisa observada e a imagem que o observador faz dela. Olhamos para uma cadeira. Essa "cadeira-forma" penetra-nos pelos olhos e vai até o centro de nossa percepção. Se dela voltarmos com a idéia de uma cadeira, podemos dizer que estamos de posse da verdade, ou seja, conseguimos refletir fielmente o objeto em nossa mente.
3.3. O ERRO
O erro é a não conformação do juízo com o objeto. Há muitas fontes de erro: confundir os meios com os fins, ver o todo pela parte, ficar preso ao consenso etc. O preconceito, que é um conceito formado antecipadamente, também é um erro. A ilusão de ótica mostra-nos como somos facilmente enganados pela forma como os objetos nos são apresentados. Uma vara reta, quando colocada na água, parece torta. Sabemos que ela é reta, mas parece torta. Quando lemos, temos a impressão que os olhos deslizam sobre as letras, mas quando os movimentos dos olhos são analisados por sensores mecânicos, verificamos que eles não deslizam suavemente, porém aos saltos.
4. CARACTERIZAÇÃO DA DESGRAÇA
4.1. MISÉRIA
A miséria é um estado habitual de privação de bens supérfluos, de bens necessários à condição social e de bens necessários à vida. Há muitos seres humanos que não têm o mínimo de recursos para a sua sobrevivência e acabam morrendo de inanição. A ONU e outros órgãos mundiais tentam minimizar o problema, mas ele parece sempre aumentar. Muitos desses miseráveis moram em favelas, debaixo de pontes, no alto dos morros etc.
Visitando esses recintos, alguns em condições subumanas, pensamos logo na injustiça de Deus. Mas será que há injustiça? Por que uns vivem na opulência e outros na miséria? Onde encontrar a resposta? Se interpretarmos o fato apenas pelo ângulo material, não iremos muito longe; analisando-o, porém, com as luzes da reencarnação, obteremos uma imagem mais acurada, e uma melhor compreensão da vida. O princípio da reencarnação mostra-nos que precisamos passar tanto pela prova da pobreza quanto pela prova da riqueza. Se hoje somos pobres é porque já fomos ricos no passado ou seremos no futuro.
4.2. FLAGELOS DESTRUIDORES
Os furacões e os terremotos são uma espécie de infelicidade. De tanto vê-los veiculados em nos meios de comunicação social, pensamos que Deus está se esquecendo da raça humana. Os cientistas procuram as suas causas. Alguns chegam a apontar que os furacões, que têm causado pânico nos Estados Unidos, são conseqüências do aquecimento global do Planeta. Do ponto de vista pessoal, porém, esses flagelos são considerados como desgraças, porque ao tirarem a vida de um parente e mesmo de um amigo, acabam nos entristecendo e nos magoando. Do ponto de vista espiritual, os flagelos são úteis, porque fazem a humanidade progredir mais rapidamente. Chamamos flagelo do nosso ponto de vista pessoal, mas esses transtornos são necessários para fazerem que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos.
4.3. ATENTADOS À VIDA
Guerras, atentados terroristas e assassinatos fazem parte do rol das desgraças humanas. A diferença com relação aos flagelos naturais é que elas podem ser evitadas pelo ser humano. E se isso se prolifera no seio da sociedade é porque o egoísmo está acima das ações virtuosas da caridade e da humildade.
Esses fatos sociais aumentam o medo, a insegurança e o mal-estar. Sentimo-nos fracos para lutar contra o poder que os domina. Com isso, ficamos tristes e um sentimento de impotência nos envolve todo o ser. Mais uma vez estamos pintando o mundo de forma desgraçada.
5. A VISÃO ESPÍRITA
5.1. ATO E CONSEQÜÊNCIA
Os Espíritos superiores orientam-nos para que não olhemos os fatos em si mesmos, mas pelas suas conseqüências. Se a conseqüência for boa é porque o ato também o foi, embora no principio não o pareça. Observe as tempestades que assolam as cidades e os campos. Enquanto elas estão se processando, estamos reclamando e nos rebelando contra a vontade divina. Depois que ela passa, verificamos que estamos respirando melhor, que houve um saneamento no planeta. Somente aí é que começamos ver o lado bom daquela destruição transitória.
5.2. VIDA FUTURA
O espiritismo vem nos esclarecer que a vida corpórea é uma breve passagem por este mundo de provas e expiações, cujo objetivo é o aperfeiçoamento da alma. Assim sendo, em qualquer de nossas ações nunca deveríamos perder de vista a vida futura, ou seja, o que nos aguarda o outro da vida. Pergunta-se: estamos providenciando para o futuro ou apenas para as necessidades diárias? Muitas vezes, para conseguir vantagens materiais, saqueamos, matamos e traímos. Esquecemo-nos de que todos esses fatos são registrados em nossa consciência. Como nela está escrita a Lei de Deus, a vida futura pode se tornar um mar de lágrimas em vez de uma beatitude interior. De acordo com os princípios da Doutrina Espírita, não há céu e nem inferno, pois aonde formos levaremos conosco o teor daquilo que praticamos, quer seja bom ou ruim. Se bom, teremos as recompensa do bem; se mal, as recompensas do mal.
5.3. VERDADEIRA DESGRAÇA
Os Espíritos superiores afirmam que a verdadeira desgraça é a alegria, a fama, o prazer e a vã agitação. Como entender? É que essas ações fazem calar a consciência, roubando-nos o tempo que poderia estar sendo mais bem aproveitado no incremento de nossa evolução espiritual. A infelicidade é o ópio do esquecimento que reclamamos diariamente. É preciso, pois, olhar tudo de uma forma invertida, a fim de que possamos captar a verdade por detrás dos fatos.
6. CONCLUSÃO
Saibamos agradecer as injunções de nosso caminho. Se julgarmos que a nossa desgraça é maior que a dos nossos vizinhos, façamos um visita a um hospital, a uma prisão e veremos que a nossa dor não é tão grande quanto parece.
7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

São Paulo, setembro de 2005. 

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