quinta-feira, 26 de maio de 2016

Se fosse um homem de bem - Simonetti

Se fosse um homem de bem

Escrito por Richard Simonetti

Acidente grave!

O carro derrapou na pista molhada e capotou, caindo na ribanceira. Perda total.

Milagrosamente, o motorista escapou, ileso.

Em casa, após abraçar os familiares, orou, agradecendo a proteção do Céu.

Espírita, buscou inspiração em O Evangelho segundo o Espiritismo, abrindo-o ao acaso.
Leu, no capítulo V:

“Se fosse um homem de bem, teria morrido.”

Dúvida atroz. Como deveria sentir-se:

Eufórico por não ter morrido?

Acabrunhado por não ser um homem de bem?

Interpretando literalmente o texto, poderíamos supor que os bons são mais suscetíveis de… morrer!

Os maus são preservados, tanto quanto possível, talvez para que sofram mais, purguem seus pecados e se danem!

Obviamente, não é assim, embora tenhamos Espíritos bons que vêm à Terra para jornada breve, retornando, sem delongas, ao Plano Espiritual.

A propósito, lembro-me de um mentor espiritual que, preocupado com seus pupilos, um casal que retardava o cumprimento de compromissos de trabalho junto à infância desvalida, reencarnou como seu filho.

Desde logo despertou nos pais imenso carinho, em sublime ligação afetiva.

Aos cinco anos, adoeceu e desencarnou, conforme planejara.

A dor de perdê-lo anulou nos genitores todas as ilusões e despertou neles a vocação religiosa.

Ligando-se ao Espiritismo, logo se inspiraram no cumprimento da tarefa procrastinada, dedicando-se, amorosamente, às crianças de um orfanato.

***

Fénelon, um dos colaboradores de Kardec na codificação da Doutrina Espírita, assina a mensagem que tem por título aquela citação, que constitui equivocado ditado popular.

Ele adverte que seria uma blasfêmia assim considerar.

Há gente boa que vive bastante. Há gente má que tem existência breve.

Basta lembrar os jovens que se envolvem com a criminalidade. A expectativa de vida para eles é de vinte anos, não por prêmio à bondade, mas por lamentável comprometimento com a maldade.

Poucos ultrapassam essa idade, habilitando-se a penosos reajustes no plano espiritual e atormentados resgates em futuras reencarnações.

***

Não há dia e horário determinados para morrer.

Salvo circunstâncias excepcionais, a extensão da existência humana relaciona-se com nossas ações.

Regra básica:

Os que vivem para o Bem são protegidos, evitando-se, tanto quanto possível, lhes suceda algo não programado.

Podem ter vida breve (como ocorreu com o mentor que planejou desencarnar aos cinco anos), média ou longa, mas, normalmente, de conformidade com o prazo que lhes foi concedido.

Os que se comprometem com o erro, o vício, o crime, a irresponsabilidade, a imprudência e outros desvios, próprios da imaturidade humana, ficam à deriva, no encapelado mar em que se aventuram.

Correm riscos maiores.

Portanto, meu caro leitor, nossa única preocupação deve ser a de sustentar existência nobre e digna, cumprindo nossos deveres.

Assim, quando partirmos, em qualquer circunstância, poderemos dizer que se cumpriu a vontade de Deus.

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