sábado, 9 de julho de 2016

NÃO JULGUEIS PARA NÃO SERDES JULGADOS

NÃO JULGUEIS PARA NÃO SERDES JULGADOS



Aquele que estiver sem pecado, atire a primeira pedra

Não julgueis, a fim de não serdes julgados; porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros. Mateus, 7:1-2
Então, os escribas e os fariseus lhe trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e, pondo-a de pé no meio do povo, disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em adultério; ora, Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as adúlteras. Qual sobre isso a tua opinião?” Diziam isto para o tentarem e terem de que o acusar. Jesus, porém, abaixando-se, entrou a escrever na terra com o dedo. Como continuassem a interrogá-lo, ele se levantou e disse: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.” Em seguida, abaixando-se de novo, continuou a escrever no chão. Quanto aos que o interrogavam, esses, ouvindo-o falar daquele modo, se retiraram, um após outro, afastando-se primeiro os velhos. Ficou, pois, Jesus a sós com a mulher, colocada no meio da praça.
Então, levantando-se, perguntou-lhe Jesus: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?”
Ela respondeu: “Não, Senhor.”
Disse-lhe Jesus: “Também eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar.” João, 8:3-11
Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo X, itens 11-13

Essas duas passagens do Evangelho nos trazem vários ensinamentos.

Na segunda passagem, podemos perceber claramente o objetivo dos escribas e fariseus, que era colocar Jesus contra a lei Mosaica. Mas Jesus, como de outras vezes, não só escapou de forma brilhante da armadilha que lhe prepararam, como também deixou um ensinamento moral àqueles homens.

Nesse episódio há ainda um fato relevante a considerar: se a mulher havia cometido adultério, onde estava o seu parceiro, no caso, um homem? Por que, então, só a mulher deveria ser apedrejada? Não deveriam ambos, homem e mulher sofrer a mesma pena, segundo a Lei de Moisés? A prova de que assim era encontramos no Velho Testamento (Levítico, 20:10), de acordo com o qual, pelo ato de adultério, mereciam condenação tanto o homem quanto a mulher; logo, de acordo com Lei Mosaica, ambos deveriam ser mortos por apedrejamento. Mas, com o passar do tempo, a punição passou a ser aplicada apenas à mulher, tendo em vista tratar-se de uma sociedade patriarcal e machista.

Dessas duas passagens ressalta um importante ensinamento: a autoridade moral para julgar.

Quando o Mestre disse - Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra -, Ele fez com que cada um dos presentes analisasse a própria consciência e percebesse que nenhum possuía autoridade moral para julgar e condenar aquela mulher.

O Mestre esperou calmamente pelo resultado que suas palavras causaram naqueles homens endurecidos. Ele era o único que, naquela circunstância, possuía autoridade moral para isso; no entanto, Jesus não julgou e não condenou, nem disse se deveriam apedrejá-la ou não. Jesus apenas aguardou.

Quando todos se retiraram e Jesus ficou só com a mulher, esta ouve dele a frase: Vá e não peques mais.

Ao dizer: Vá, Jesus nos mostra que somente a Deus cabe julgar.

E, ao dizer: não peques mais, Jesus demonstra o quanto Deus é misericordioso, pois aquela mulher, como todos nós, temos más tendências a vencer, defeitos a corrigir e a misericórdia divina se traduz pela oportunidade que Deus nos dá de corrigir nossos erros.

Jesus mostra, também, que, assim como Ele, todos podemos ser indulgentes e capazes de desculpar os erros dos outros, pois nenhum de nós está apto a julgar próximo, levando-se em consideração a nossa inferioridade e a nossa caminhada evolutiva, repleta de erros e, portanto, a nossa própria necessidade de indulgência em algum momento da vida.

E aqui cabe uma pergunta: não sendo perfeitos, nunca podemos reprimir o mal?

A questão não é essa. Jesus não disse que não podemos reprimir o mal, nem deixar de denunciá-lo, se necessário. Ao contrário; em várias passagens do Evangelho vemos o Mestre repreendendo os fariseus e doutores da lei, chamando-os de hipócritas e víboras, porque não praticavam o que ensinavam.

Desse modo, podemos sim reprimir o mal se ele atinge a sociedade como um todo e, nesse caso, é um dever denunciar o mal, para que ele não se propague ainda mais. O que Jesus condena é a maledicência e a vontade deliberada de prejudicar o outro.

Desse modo, é preciso não tomar em sentido absoluto o ensinamento de Jesus: “Não julgueis se não quiserdes ser julgado”, pois a letra mata e o espírito vivifica.

Anne Marie Lanatois

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