sexta-feira, 1 de julho de 2016

Perante as provações

ALESSANDRO VIANA VIEIRA DE PAULA
vianapaula@uol.com.br
Itapetininga, SP(Brasil)


Perante as provações

Aprendemos com a religião espírita que a Terra é um mundo de provas e expiações, onde há o predomínio do egoísmo, do orgulho, do materialismo e das paixões asselvajadas.
A expiação permite ao Espírito reparar os males por ele causados, a si mesmo e a outrem, com a finalidade de que desperte para a importância do bem e das demais virtudes, na medida em que sofre a consequência da própria ação irresponsável, de tal sorte que passa a compreender a proposta do Cristo: “A cada um segundo suas obras”.
As provações são situações desafiadoras escolhidas pelo próprio Espírito ou pelos benfeitores espirituais, com o escopo de avaliação ou fortalecimento das próprias virtudes. Como nos ensina o Espírito Camilo, na obra “Vozes do Infinito” (capítulo 12), “provações são testes da Lei Divina, não para que Deus nos avalie, mas para que nós mesmos nos demos conta do modo como estamos atendendo aos ditames da Vida Maior”.
Na aludida lição, que servirá de parâmetro para as nossas análises neste artigo, o benfeitor Camilo nos faz refletir sobre como temos nos comportado moralmente diante das provações na Terra, haja vista que o mais importante é o modo como estamos atravessando a rota de lutas.
Anote-se que apenas saber que estamos em regime de provas não resolve a situação, uma vez que é imprescindível que tenhamos uma conduta equilibrada diante das situações provacionais, de forma que “as circunstâncias de aceitação ou de revolta é que vão determinar a libertação ou o agravamento dos problemas do ser”.
Dessa forma, as condutas desarmonizadas, irrefletidas e agressivas gerarão “novas provas sobre as provas não exitosas”.
É obvio que o conhecimento do sistema de provas e expiações das leis divinas auxilia-nos a abandonar a ideia de que Deus se esqueceu de nós, de que estamos sendo castigados, de que somos vítimas do azar ou das fatalidades genéticas. Tal conhecimento ainda facilita a conduta de aceitação, porque passamos a entender que foram as nossas ações infelizes de vidas passadas que geraram determinadas situações aflitivas na atualidade (expiação), ou que é a nossa imperfeição moral que suscita algumas ocorrências desafiadoras a fim de nos fazer crescer como Espíritos em evolução (prova).
Aceitação não significa entregar-se passivamente à situação, mas deve representar uma conduta equilibrada, resignada, sendo lícita a procura de alternativas éticas para melhorar a nossa vida, não nos esquecendo de que o mais importante é ouvirmos o recado da provação, que é de melhoria espiritual, sob pena de termos que sofrer novas provas, ainda que com outras nuances e particularidades.
Na lição em foco (“Vozes do Infinito”, capítulo 12), o Espírito Camilo exemplifica algumas situações corriqueiras em nossas vidas que, normalmente, trazem a característica de prova, exigindo-nos uma postura mais saudável sob a ótica do evangelho.
Camilo nos fala dos testes nas famílias. “São filhos que aguardam orientação e paciência; vêm os cônjuges carecentes de compreensão e paciência; os afins que se agregam ao núcleo doméstico, rogando atenção e paciência.”
São inúmeras as pessoas que enfrentam os desafios existenciais no âmbito doméstico, de forma que devemos buscar a espiritualização, a conexão com Deus através da prece e da caridade, a assiduidade no templo religioso para fortalecimento dos conceitos do evangelho, a fim de que tenhamos força interior para manter a paciência e a resignação na intimidade do lar.
Caso a nossa conduta seja de omissão, de atritos constantes, de desapreço, de comportamento desregrado, tudo isso “determinará nova prova para quem não logrou bom êxito no sistema de provas”.
Camilo também nos lembra das questões da saúde. Alguns mantêm condutas saudáveis, amadurecidas, em regime de confiança em Deus, de forma que estão vencendo a prova. Em contrapartida, outros elegem a mágoa surda, a reclamação contumaz, a revolta contra a vida, o que gerará novos quadros provacionais, uma vez que a prova atual não surtiu o efeito pedagógico almejado pelo próprio Espírito (elevação moral).
O referido benfeitor ainda nos recorda das convivências difíceis dos contatos humanos e das agruras das profissões, a nos exigir uma conduta pacificada, afinada com as propostas do Cristo, todavia, muitos, ao darem vazão ao temperamento explosivo ou impaciente, comprometem-se indevidamente, criando novas provas “no bojo da prova não vencida”.
Frise-se que muitas situações típicas da Terra também se enquadram como ocorrências provacionais coletivas que, se bem vividas, trazem conquistas morais significativas aos Espíritos envolvidos.
Com efeito, temos em nossa sociedade diversas situações provenientes da imperfeição moral, como, por exemplo, a carência no atendimento da saúde pública, as limitações no âmbito da rede escolar pública, os altos índices de desemprego, a violência urbana etc.
Não cabe de nossa parte qualquer reclamação no sentido de que não merecíamos tais ocorrências, em que pese seja louvável a luta por melhorar as condições de vida no orbe terrestre, porquanto, à luz da doutrina espírita, são os nossos limites morais que nos vinculam ao planeta Terra, de forma que, se não necessitássemos destas experiências dolorosas, próprias de um mundo de provas e expiações, certamente estaríamos reencarnados em mundos mais felizes.
Como Deus não se equivoca, concluímos que as experiências vividas na Terra, boas ou más, servem para o nosso aprimoramento intelecto-moral.
Nesse contexto, num conceito mais elástico de prova, poderemos afirmar que as citadas experiências trazem-nos, no mínimo, um aprendizado, e, se bem enfrentadas, geram-nos a conquista de virtudes.
A obra “O Evangelho segundo o Espiritismo” traz uma lição com a mesma proposta moral, ao nos falar sobre o bem e o mal sofrer (Capítulo V – Bem-aventurados os aflitos).
Nessa lição, o Espírito Lacordaire enfatiza que poucos sofrem bem e compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao Reino de Deus, isto é, à plenitude interior.
Na parte final da lição, Lacordaire diz: “Bem-aventurados os aflitos pode, portanto, ser assim traduzido: Bem-aventurados os que têm a oportunidade de provar a sua fé, a sua firmeza, a sua perseverança e a sua submissão à vontade de Deus, porque eles terão centuplicadas as alegrias que lhes faltam na Terra, e após o trabalho virá o repouso”.
Assim sendo, seria prudente de nossa parte a autoavaliação, até como desdobramento da proposta do autoconhecimento (questão n. 919 do Livro dos Espíritos), para que, periodicamente, aferíssemos como têm sido a nossa ação e o nosso pensamento diante das provas e vicissitudes que a vida nos tem apresentado na Terra, que é uma abençoada escola a propiciar a elevação da alma no rumo da plenitude.
Diante de todo o exposto, cabe-nos uma reflexão profunda sobre as provações e as nossas posturas perante elas, pois, conforme enfatiza o Espírito Camilo: “O que se tenha que sofrer hoje, em regime provatório, não seja adulterado, piorado, pela invigilância ou pela obstinação no quadro do equívoco ou da perturbação”.
“Com Jesus ouvimos que – nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no Reino... – o que podemos parafrasear, asseverando que nem todos os que sofrem as provas estarão liberados do seu guante, após as travessias terrenas. Isso porque somente quando, ao invés de criar provas novas nas provas antigas, cada qual aprender a trabalhar hoje, com empenho, certo de que isso se faz urgente para a evolução espiritual, não retendo mais detritos morais no coração, a fim de alimpar-se, em definitivo.”  

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