segunda-feira, 5 de agosto de 2013

AS MULTIPLICAÇÕES DOS PÃES - Cairbar Schutel

AS MULTIPLICAÇÕES DOS PÃES

PRIMEIRA MULTIPLICAÇÃO

"Jesus, levando os apóstolos consigo, retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida. Mas, ao saber disto, a multidão seguiu-o; e Jesus, acolhendo-a, falava do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura. O dia começava a declinar e, aproximando-se de Jesus os doze, disseram: Despede a multidão para que, indo às aldeias e sítios vizinhos, se hospedem e achem alimento; pois estamos aqui num lugar deserto. Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós de comer. Responderam eles: Não temos mais do que cinco pães e dois peixes, a não ser que devamos ir comprar comida para todo esse povo. Pois eram quase cinco mil homens. Então disse aos seus discípulos: fazei-os sentar em turma de cerca de cinquenta cada uma. Assim fizeram, e mandaram a todos sentar-se. E tomou Jesus os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao Céu, os abençoou e partiu; e entregou-os aos discípulos, para que os distribuíssem pela multidão. Todos comeram e se fartaram; e foram levantados doze cestos de pedaços que lhes sobejaram. " (Lucas ix, 10-17)

Primeira multiplicação

"Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali numa barca para um lugar deserto, à parte; e quando as multidões o souberam, seguiram-no das cidades por terra. Ele ao desembarcar viu uma grande multidão, compadeceu-se dela e curou os enfermos. À tarde, aproximaram-s e dele os discípulos, dizendo: Este lugar é deserto e a hora é já passada; despede, pois, ai multidões, para que indo às aldeias, comprem alguma coisa, para comer. Mas Jesus lhes disse: Não precisam ir; dai-lhes vós de comer. Replicaram-lhe: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes. Disse ele: Trazei-mos cá. E tendo mandadoà multidão que se assentasse à relva, tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao Céu, deu graças, e, partindo os pães, entregou-os aos discípulos e os discípulos entregaram-no à multidão. E todos comeram e se fartaram; e do que sobejou levantaram doze cestos cheios de pedaços. Ora, os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além das mulheres e crianças". (Mateus, XIV, 13:21)

SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO

Chamando Jesus a seus discípulos disse: Tenho compaixão deste povo, porque há três dias estão sempre comigo e nada têm que comer; não quero despedi-los em jejum, para que não desfaleçam no caminho. Disseram-lhe os discípulos: onde encontraremos neste deserto tantos pães para fartar tão grandiosa multidão? Perguntou-lhes Jesus: quantos pães tendes? Responderam: sete e alguns peixinhos. E tendo mandado o povo que se assentasse no chão, tomou os sete pães e os peixes e, dando graças, partiu-os e entregou-os aos discípulos, e os discípulos entregaram-nos ao povo. Então todos comeram e se fartaram; e do que sobejou levantaram sete alcofas cheias de pedaços. Ora, os que comeram foram quatro mil homens, além de mulheres e crianças. E despedindo do povo, Jesus foi para os confins de Magadã. " (Mateus XV, 32-35

Primeira multiplicação

"Ao desembarcar viu Jesus uma multidão de homens e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas sem pastor, e começou a ensinar-lhes muitas coisas. Como a hora fosse já adiantada, chegaram-se a ele os discípulos, dizendo: Este lugar é deserto, e já é muito tarde; despede-os para que vão aos sítios e aldeias circunvizinhas comprar para si alguma coisa. Mas Jesus disse-lhes: dai-lhes vós mesmos de comer. Deveremos então, disseram eles, ir comprar duzentos denários de pão e dar-lhes de comer? E ele lhes perguntou: Quantos pães tendes? Ide ver. Depois de se terem informado, responderam: Cinco pães e dois peixes. Então mandou os discípulos que a todos fizessem sentar em grupos sobre a relva verde. E sentaram-se em turmas de cem e de cinquenta. E ele tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao Céu, deu graças, e, partindo os pães, entregou-os aos discípulos para eles distribuírem-nos; e repartiu por todos os dois peixes. Todos comeram e se fartaram; e recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe. Ora, os que comeram os pães foram cinco mil homens. " (Marcos vi, 34-44)

Segunda multiplicação

"Naqueles dias, como houvesse de novo concorrido uma grande multidão, e não tivesse que comer, chamou Jesus os discípulos, e disse-lhes: Tenho compaixão deste povo, porque há três dias que está sempre comigo e nada tem que comer; e se eu os mandar para as suas casas em jejum, desfalecerão no caminho, pois alguns há que vieram de longe. Disseram seus discípulos: Donde poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto? Ele perguntou: Quantos pães tendes? Responderam eles: Sete. E ordenou ao povo que se assentasse ao chão; e tomando os sete pães, depois de haver dado graças, partiu-os e entregou-os a seus discípulos, para que os distribuíssem; e eles os distribuíram pela multidão. Tinham também alguns peixinhos; e abençoando-os, mandou que estes igualmente fossem distribuídos. Todos comeram e se fartaram; e levantaram, dos pedaços que sobejaram, sete alcofas. E eram perto de quatro mil homens. Depois Jesus os despediu. E entrando logo na barca com os seus discípulos, dirigiu-se para o território de Dalmanuta. " (Marcos VIII, 1-10)

Narrativa do Evangelista João

"Jesus atravessou o Mar da Galiléia, que é o de Tiberíades. Uma grande multidão seguia-o, porque tinham visto os milagres que operava nos que se achavam enfermos. Jesus subiu ao monte, e ali se assentou com os seus discípulos. A Páscoa, festa dos judeus, estava próxima; Jesus, então, levantando os olhos e vendo uma multidão que vinha a ter com ele, disse a Filipe: onde compraremos pão para lhes dar de comer? (Mas dizia isto para o experimentar, porque ele sabia o que ia fazer). Respondeu-lhe Filipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco. Um dos seus discípulos chamado André, irmão de Pedro, disse-lhe: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas o que é isto para tanto povo?

Disse Jesus: Fazei sentar o povo. Ora, havia naquele lugar muito feno. Sentaram-se pois, os homens em número de cinco mil. Jesus, então tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados; e do mesmo modo os peixes, quanto queriam. Depois de saciados, disse Jesus a seus discípulos: Recolhei os pedaços dos cinco pães de cevada (que sobejaram aos que haviam comido). Ora, quando o povo viu o milagre que Jesus fizera, disse: Este é verdadeiramente o profeta que havia de vir ao mundo. " (João vi, 1-14)

Comentário

Todos os fenômenos, quando desconhecidos, a sua procedência e o modo pelo qual se manifestaram, são inverossímeis. O mundo, desde o primeiro bruxulear da inteligência humana, tem sofrido os embates das negações inscientes de uns, e das afirmações dogmáticas de outros; de um lado o inverossímil, o nada; do outro, o mistério e o sobrenatural .

Leia-se a história das novas verdades, que têm concorrido com as suas luzes para nosso progresso, e dos novos descobrimentos que nos dão comodidade e bem-estar, e pergunte-se às gerações passadas se não lhes pareciam inverossímeis e até impossíveis. Que juízo se fazia do vapor, da telegrafia, da constituição do corpo humano, etc? O fenômeno da multiplicação dos pães tem sido assunto de intermináveis controvérsias entre os religiosos e os negadores. Aqueles, não podendo negá-lo, pois faz parte integrante dos Evangelhos, relegam-no para as esferas do milagre e do sobrenatural.

Os materialistas, por sua vez, não podendo explicá-lo de acordo com a sua limitada ciência, negam-lhe a veracidade, "porque as leis da natureza são inflexíveis e não se pode tirar alguma coisa donde só existe o nada". São muito cômodos estes processos, usuais entre os corifeus da Religião e da Ciência: afirmar sem provas, sem lógica e sem raciocínio, e negar sem exame e sem estudo, adotando para a discussão unicamente os sofismas e a filosofia abstrata. Mas os argumentos capciosos de uns e outros estão em pleno desacordo com as teorias que eles professam. Os católicos e protestantes ficam impossibilitados de provar aos materialistas a "multiplicação dos pães", devido à falsa crença que professam, de ter sido o mundo feito do nada.

Ora, como o nada pode produzir, e, do nada, nada se pode tirar, Jesus não poderia tirar pães e peixes donde nada existisse de pães e de peixes, nem de elementos para confeccioná-los. A proposição é lógica e clara, e ninguém poderá demonstrar o contrário. O materialismo, a seu turno, como a sua ciência, não admite o Espírito, e tudo é produto da força e da matéria, vê-se em duas conjeturas diante do fenômeno e, não podendo explicá-lo, acha de melhor alvitre negá-lo. A "multiplicação dos pães" em face da Religião e da Ciência, não passa, portanto, de absurdo, justamente porque essas duas ramificações do conhecimento são constituídas sobre as bases do absurdo. E assim, impedidas de tratarem do fenômeno por não poderem explicá-lo claramente, a Religião o relega para o domínio do milagre, do sobrenatural; e Ciência o arroja para os báratros da negação e do nada.

O Espiritismo apresenta-se justamente no momento propício em que as verdades Evangélicas são menosprezadas para reintegrá-las no seu verdadeiro lugar, dando-lhes o justo valor. E assim vem ele explicá-las de acordo com a razão e com a verdadeira Ciência, conforme as Leis Naturais . A Ciência e a Religião oficiais, divididas em dois campo de ação, se chocam e se contradizem, eternizaram a sua luta em prejuízo da Humanidade. Deus fez soar a hora das grandes reivindicações, e ( Espiritismo foi chamado para solucionar os problemas inextricáveis para a "religião" e para a "ciência". Ora, vamos ver como os Espíritos encaram o transcendental fenômeno da "multiplicação dos pães no deserto".

A "panificação do trigo", sob as ordens e direção de Jesus Cristo, no deserto, não pode deixar de obedecer à lei da materialização dos corpos, tenham eles a natureza que tiverem, sejam de carne, de massa, de pedra. O fenômeno da materialização tem como complemento o da desmaterialização, e se assenta justamente num princípio positivo proclamado pela ciência materialista, que é a existência, no Universo, da força e da matéria: força e matéria são os princípios constitutivos do Universo. Mas como está mais que provado que a força e a matéria não podem por si sós produzir fenômenos inteligentes, e todo o efeito inteligente deve forçosamente ter uma causa inteligente, o Espiritismo vem demonstrar a existência de Inteligências livres e individualizadas que presidem à direção da força e manipulam a matéria em suas múltiplas manifestações objetivas.

Para todas as obras ocorrentes na vida mundial, precisamos da força e da matéria; sem elas nada podemos produzir, mas ninguém é capaz de afirmar que unicamente a força e a matéria sejam capazes de erguer uma casa, de construir e mover uma máquina, de confeccionar um pão. Para tudo isso não dispensamos a força e a matéria, mas a força e a matéria, sem a nossa ação inteligente em qualquer dessas obras, nenhum efeito teriam. Esta é a verdade capital, e para o que concerne às coisas espirituais, à Metafísica, não podemos deixar de nos basear nos mesmos princípios.

No Universo todo, existe a força e a matéria. Na atmosfera terrestre a força e a matéria se manifestam de modo frisante; no deserto e no monte, nas cercanias do Tiberíades, não podia deixar de haver profusão de força e matéria. A região aérea é provida de todos os elementos de vida que constituem nossos corpos, não há vácuo na Natureza; a própria Natureza não é uma expressão abstrata, mas, sim, a constituição de seres e coisas em suas múltiplas e variadas formas; assim como no Éter existem animálculos visíveis com o auxilio do microscópio, mas imperceptíveis aos nossos sentidos limitadíssimos, devem existir diversos corpos orgânicos e inorgânicos, materiais admiráveis, elementos de vida invisíveis que nos deslumbrariam se nos fosse dado vê-los.

O que é a força? O que é a matéria? Vemos a força transformar-se em matéria e a matéria transformar-se em força! Os fenômenos de materialização e desmaterialização dos corpos, constatados por sábios de valor, nas sessões espíritas, não podem mais ser negados por qualquer "príncipe da ciência" nem "pontífice da religião". Quem será hoje capaz de assegurar que a força não se condensa, transformando-se em matéria, e que a matéria não se rarefaz, transformando-se em força! Mas abordemos de rijo o caso da "multiplicação dos pães", sem preconceitos e sem temor do ridículo da "ciência oficial".

Encaremos o caso de acordo com as experiências dos mais renomados sábios contemporâneos. Comecemos pelos resultados obtidos por William Crookes. No seu relato na Quaterly Review, órgão da Academia de Ciências da Inglaterra, diz ele ter conseguido da Entidade Espiritual, que lhe proporcionava fenômenos, a introdução da fração de um grão de arsênico através das paredes de um tubo de vidro fechado a fogo, no qual ele havia posto água pura. Numa outra sessão, o Espírito de Katie King permitiu que se lhe cortasse um cacho de cabelos, o que foi feito, cabelos que ela materializava e que cresciam em sua cabeça; e ainda noutra permitiu que se lhe cortassem pedaços do vestido que trazia, e a Sra. Marryat, observando que o vestido ficara muito esburacado e teria necessidade de grandes consertos, ela replicou: "Vou mostrar-vos como trabalhamos no Mundo dos Espíritos". Ergueu parte de seu vestido e retalhou-o bem com a tesoura, deixando-lhe cerca de quarenta buracos; depois exclamou: "Não é uma bonita peneira?" Estavam perto dela; viram-na então sacudir docemente a sua saia, e logo todos os buracos desapareceram sem subsistir o menor sinal!

Crookes assinala ter cortado uma mecha de cabelos do Espírito de Katie, que conservou por longo tempo. Enfim, donde vinha o vestido de Katie? Não podia ser do médium, porque ela própria afirmara que do médium só hauria a força vital, portanto, nem sempre ela tirava o seu corpo do médium. Russel Wallace, que fez experiências transcendentais, também afirma ter verificado produções de ervas e flores que não existiam na Europa. O Espírito as traria da China? É possível, mas neste caso os "pães da multiplicação" também poderiam ter vindo do Egito ou de outro país. Os meninos Pansini, de Bari, que foram transportados à distância de 45 quilômetros, em 15 minutos, por várias vezes tiveram, no quarto em que se achavam presos, grande quantidade de doces, confeitos e bombons de todas as qualidades e trazidos, todos esses doces, por mãos invisíveis, sem que se soubesse como nem donde.

Seriam feitos pelos Espíritos? Seriam tirados de elementos atmosféricos, ou seriam transportados de alguma confeitaria? Não se sabe, mas sabe-se que os doces aí apareciam, como por encanto! Inúmeros são os casos de produções, por Espíritos, de matérias comestíveis. Só os desconhece aquele que não estuda e não acompanha o Movimento Espírita, que se manifesta no mundo inteiro. Seria então ousada, como hipótese de trabalho, a afirmação de ter Jesus, com a colaboração de seus auxiliares espirituais e a dos seus discípulos, que eram médiuns, materializados confeccionado pães, com os elementos da Natureza ao seu alcance? E se essa hipótese não se verificasse, no caso vertente não se poderia, em face dos fenômenos de transportes, cuja realidade é proclamada hoje em todos os países do mundo, afirmar que os "pães da multiplicação" foram também transportados para alimentar a multidão faminta que, naquela ocasião, seguia o Mestre, arrebatada pelas consoladoras esperanças que Ele a todos proporcionara? Onde está o milagre, onde está o impossível na efetivação desse fenômeno?

Se a "multiplicação dos pães" fosse o fato único relatado na História, poder-se-ia ainda conceber a negação; contudo, fenômenos mais ou menos semelhantes são narrados por pessoas de valor e experimentadores insuspeitos, merecendo a aceitação dos psicólogos que estudam e pesquisam a vida em sua oculta fase espiritual. Há pouco, o sr. W. Asano, presidente da Sociedade Japonesa de Ciência Psíquica, fez, no Congresso Internacional Espírita, uma comunicação bem interessante sobre um velho analfabeto de mais de sessenta anos, que mora no Condado de Ysé. Aos nove anos fizeram-no discípulo dum Tengu (um Espírito, ser misterioso do plano astral). De vez em quando esse Tengu o visita e o leva em viagem a diferentes lugares.

Ele diz que em companhia desse ser super-humano pode percorrer várias centenas de milhas sem se cansar e em pouquíssimo tempo. E acrescenta que esse estranho Ser muitas vezes lhe dá vários objetos, livros, pergaminhos, ou então ofertas para o santuário, como bolos de arroz, peixes secos, frutas, doces, etc. Deixamos de fazer referência aos casos narrados nas Escrituras a tal respeito, convidando os leitores a estudá-los para uma perfeita compreensão do fenômeno.

Encarando o fato pelo lado moral, poder-se-ia fazer dele uma parábola demonstrativa dos poderes de Jesus e das regalias o Mestre oferece a quem desinteressadamente o segue. Com efeito, só com Jesus teremos tudo o de que precisamos neste mundo, e ainda mais, os talentos e as minas concedidas como premissas para aquisição da felicidade no outro mundo. O ínclito orador lusitano, que perlustrou o solo brasileiro, num dos seus sermões, diz: "Quereis ter pão? Quereis tê-lo em abundância? Segui a Jesus". E o meio mais consentâneo com o espírito da religião, é aconselhar a todos os que sofrem e estão famintos, seguirem Jesus. Assim como o Mestre multiplicou, no deserto, os pães e os peixes, e saciou a multidão faminta, recolhendo-se ainda, da sobra, muitos cestos de pedaços de pães e de peixes, assim continuará Ele a fazer aos que buscarem a sua Palavra, aos que lhe obedecerem os preceitos, aos que tomarem vivo interesse pelo seu próprio progresso espiritual .

De duas naturezas eram os pães que Jesus ofertou à multidão que, pressurosa, seguia seus passos: o pão para o corpo e o pão para a alma, o pão que sacia a fome do Espírito. Elevemo-nos em reconhecimento e gratidão pelas muitas graças que cotidianamente Dele vamos recebendo e não nos esqueçamos de que bem-aventurado não será só o que ouviu a Palavra do Evangelho, mas sim o que a puser em prática.

Cairbar Schutel

O milagre de pães e peixes aconteceu?

Ao conversar com alguns amigos espíritas, entristecemo-nos pelo modo com que observam os Evangelhos, aceitando-os de capa a capa, ou como está escrito, sacralizando os conceitos ali emitidos, como se os evangelistas não tivessem sido anotadores dos acontecimentos, e terem escrito muitos anos depois da desencarnação do Mestre Galileu.

Para nós, essas pessoas estão abdicando do direito de questionar, argüir, e procurar explicações mais aceitáveis para alguns acontecimentos.

Vamos exemplificar com uma passagem que nos veio à mente; a da multiplicação dos pães e peixinhos. Teria essa passagem ocorrido, realmente? Se ocorreu não teria sido aumentada ao passar pela tradição oral de boca a ouvido durante três décadas, até ser escrito o primeiro Evangelho?

Hoje, com o conhecimento espírita, sabemos que pode ter acontecido realmente, mas nunca através de milagre, pois as leis divinas não são derrogadas.
Vamos examinar sob a nossa ótica, o que poderia ter ocorrido: Sabemos que nas sessões de efeitos físicos, os Espíritos podem construir alguns objetos usando os fluidos apropriados dos médiuns. Sabemos de casos em que os eles fabricaram e/ou transportaram bombons e outras guloseimas.

Kardec explica no Livro dos Médiuns e na Revista Espírita que a matéria está disseminada no espaço e os espíritos podem aglutiná-la, com a força do pensamento, para um determinado efeito. Ele chamou isto de, laboratório do mundo invisível.Ora, Jesus de Nazaré tinha uma extraordinária força psíquica, e o mundo espiritual estava à sua disposição para ajudá-lo. Portanto era perfeitamente possível a materialização de pães e peixes suficiente para alimentar aquelas pessoas.

A segunda hipótese seria a do fenômeno de transporte. Os Espíritos teriam transportado o pão assado e o peixe frito de lugares onde eles existiam. Certamente, as casas de moradia e algum comércio. Esta tese esbarra em duas dificuldades: 1ª) A desonestidade, pois algumas pessoas sofreriam prejuízos. 2ª) Não se fabricava tantos pães, pois cada família fazia o suficiente para o seu consumo. Não havia casas comerciais, como as que conhecemos hoje, que comercializam o pão.

A nossa lógica tem outra explicação: a fraternidade, a solidariedade. Como aquele rapazinho, muitas outras pessoas deveriam ter levado algum lanche. Ao vê-lo entregar os seus pães e peixinhos, muitos outros fizeram o mesmo, e todos se fartaram.

Então não houve um milagre? Houve sim! O milagre da fraternidade a ponto de alguns dividirem o que era apenas seu.

Um último lembrete: para reunir cinco mil homens, fora as mulheres e crianças, seria necessário esvaziar centenas de aldeias e pequenas cidades da judéia, pois cada aldeia deveria ter 150 moradores ou um pouco mais.

Os evangelistas mentiram? Não! Mas talvez tenham se entusiasmado. Porém deixaram uma lição: a solidariedade. A fraternidade faz milagres!

Nota: Nosso querido Amilcar Del Chiaro Filho desencarnou em 2006.

A MULTIPLICAÇÃO DE PÃES E PEIXES

A MULTIPLICAÇÃO DE PÃES E PEIXES

A História da Humanidade tem um livro basilar: A Bíblia (Antigo e Novo Testamento). Nela, está fundamentado o Espiritismo na Promessa do Consolador - Evangelho de João, cap. 14, vs. 16, 17 e 26 - que todos os espíritas conhecem. Por isso, é essencial que a estudemos e a analisemos considerando o "espírito da letra".
Para tal estudo, existem três interpretações principais: a literal, a alegórica e a simbólica. Por exclusão, a literal é conforme a letra e esta, de um modo geral, extrapola os limites do bom senso; a simbólica é conforme o símbolo-lingüístico ou numerológico; tal é para os cabalistas e não é o nosso caso... Logo, estas estão excluídas, descartadas.
Assim, nos definimos pela interpretação alegórica que é a mais racional e consentânea com os postulados espíritas, como veremos adiante.
Com estas considerações preliminares, temos em vista a interpretação de uma passagem evangélica narrada pelos quatro evangelistas:
A Multiplicação de Pães e Peixes. Vejamos cada um por sua vez:
Mateus narra a 1ª multiplicação, cap. 14: 13 a 21, e a 2ª, cap. 15: 32 a 39;
Marcos, idem, 1ª multiplicação, cap. 6: 34 a 44, e a 2ª, cap. 8: 1 a 10;
Lucas, idem, apenas uma multiplicação, cap. 9: 10 a 17; e
João, idem, ibidem, cap. 6: 1 a 14.
Remetemos os nossos diletos confrades e confreiras para a leitura dos textos evangélicos citados; observando a importância desta passagem evangélica, face à narrativa, quase com as mesmas palavras, pelos quatro evangelistas. E daí, buscarmos a sua interpretação, considerando-se a alegórica.
Esta interpretação exclui a ocorrência de quaisquer fenômenos, quer sejam de materialização ou de transporte, os quais, serão considerados adiante; simplesmente não existiu materialmente; apenas se trata de um ensinamento de Jesus comparando o alimento do corpo e do espírito, ou seja, o pão material para o corpo perecível e o pão espiritual para o espírito imortal.
Assim, não passa de uma parábola e se prodígio houve é o ascendente da palavra de Jesus, o Pão da Vida. "(...) Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede". (1)
A palavra de Jesus, o seu evangelho, redivivo pela Doutrina dos Espíritos, é o pão substancioso que nos mantém saciados espiritualmente e para sempre.
"(...) Essa força moral testemunha a superioridade de Jesus, bem mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que deve ser considerado como uma alegoria". (2)
Jesus deixou bem claro que se referia, à exaustão, ao alimento espiritual:
"(...) Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; (...)" (3)
Como se vê, recordando Allan Kardec, repetimos: é ponto pacífico que a passagem evangélica, em apreço, deve ser considerada uma alegoria.
Porém, para a nossa maior ilustração, vamos recordar, também, o nosso irmão Cairbar Schutel que, com base na ciência espírita, isto é, no estudo e na explicação dos fenômenos e da mediunidade, interpretou, magistralmente, esta mesma passagem evangélica, considerando três hipóteses:
1ª) Materialização - "Inúmeros são os casos de produções por espíritos de matérias comestíveis. Desconhece-os só aquele que não estuda e não acompanha o movimento espírita que se manifesta no mundo inteiro. Seria então ousada, como hipótese de trabalho, a afirmação de ter Jesus, de colaboração com seus auxiliares espirituais, e de acordo com seus discípulos, que eram médiuns, materializado, confeccionado pães, com os elementos da natureza ao seu alcance?" (4)
2ª) Transporte - "(...) E se essa hipótese (materialização) não se verificasse, no caso vertente não se poderia, em face dos fenômenos de transportes, cuja realidade é proclamada hoje em todos os países do mundo, afirmar que os "pães da multiplicação" foram também transportados para alimentar a multidão faminta que naquela ocasião seguia o Mestre, arrebatada pelas consoladoras esperanças que ele a todos proporcionava?" (5)
3ª) Alegórica - "Encarando o fato pelo lado moral, poder-se-ia fazer dele uma parábola demonstrativa dos poderes de Jesus e das regalias que o Mestre oferece a quem desinteressadamente o segue." (6)
Eis Cairbar Schutel considerando, duma assentada, a viabilidade das hipóteses de materialização, transporte e alegórica; esta última, no final da sua lição.
Quanto a parte fenomênica, Cairbar Schutel, após discorrer sobre os fatos tratados por William Crookes e Russel Wallace, escreveu:
"Russel Wallace que fez experiências transcendentais, também afirma ter verificado produções de ervas e flores que não existiam na Europa. O Espírito as traria da China? É possível, mas neste caso os "pães da multiplicação" também poderiam ter vindo do Egito ou de outro pais. Os meninos Pansini, de Bari, Itália, que foram transportados à distância de 45 quilômetros em 15 minutos, por várias vezes tiveram, no quarto em que se achavam presos, grande quantidade de doces, confeitos e bombons" (...) (7)
Para reforçar a tese dos fenômenos de materialização ou de transporte, pinçamos no Velho Testamento os seguintes textos:
Elias multiplicou a farinha e o azeite da viúva de Sarepta (I Reis 17: 8 - 16); e
Elizeu multiplicou o azeite de uma viúva (II Reis 4: 1 - 7).
Voltando a recordar Allan Kardec, o insigne Codificador escreveu sobre o fenômeno de transporte: "(...) Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existiam no lugar onde se está; estes são, o mais freqüentemente, flores, algumas vezes frutas, bombons, jóias, etc." (...) (8)
E mais: interrogando um Espírito, Allan Kardec perguntou:
"Entre os objetos transportados há os que podem ser fabricados pelos espíritos; quer dizer, produzidos espontaneamente pelas modificações que os espíritos podem impor ao fluido ou ao elemento universal?" (Resposta:)
"Não por mim, porque não tenho permissão para isso; só um Espírito elevado pode fazê-lo". (9)
Como se vê, os fenômenos de materialização e de transporte podem estar interligados; porém, somente um Espírito elevado pode executá-los.
Para saber mais, leiam O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. VIII, Laboratório do Mundo Invisível e, para concluir, fazemos nossas as palavras de Cairbar Schutel:
"(...) De duas naturezas eram os pães que Jesus ofertou à multidão que pressurosa seguia seus passos: o pão para o corpo, e o pão para a alma, pão que sacia a fome do espírito. Elevemos-nos em reconhecimento e gratidão pelas muitas graças que quotidianamente dele vamos recebendo e não nos esqueçamos de que bem-aventurado não será só o que ouvir a Palavra do Evangelho, mas sim o que a puser em prática". (10)

(1) Evangelho de João,cap. 6, v. 35;
(2) A Gênese, Allan Kardec, cap. XV, nº 48;
(3) Evangelho de João, cap. 6, v. 27;
(4) O Espírito do Cristianismo, Cairbar Schutel, pág. 63, 4º Edição O Clarim - 1953;
(5) Idem, obra citada, pág. 63/64;
(6) Idem, ibidem, pág. 65;
(7) Idem, ibidem, pág. 63;
(8) O Livro dos Médiuns, Allan Kardec, 2ª Parte, cap. V, questão 96;
(9) Idem, obra citada, questão 99, nº 17; e
(10) O Espírito do Cristianismo, Cairbar Schutel, pág. 65, 4ª Edição O Clarim - 1953.

(as.) Julio Laurentino de Lima - juliollima@uol.com.br

(Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo de Out/07, pág. 476)

Multiplicar pães

WALDENIR APARECIDO CUIN
wacuin@ig.com.br
Votuporanga, São Paulo (Brasil)

Multiplicar pães

"Quantos pães tendes? Informaram-se e disseram-lhe: Cinco pães e dois peixes... Então tomou os cinco pães e os dois peixes e, com os olhos erguidos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e peixes e dava-os aos discípulos para que servissem a multidão... Todos comeram até saciarem.” ( Marcos: 30)

O episódio da multiplicação dos pães e peixes, narrado pelo Novo Testamento, é, incontestavelmente, uma notável e rica lição que Jesus delegou à humanidade para servir de norte e bússola às nossas ações quotidianas.

Naquele momento histórico o Cristo não transferiu aos seus discípulos a tarefa de socorrer a multidão faminta, que O buscava sedenta de consolo e alimento. Apenas solicitou que informassem quantos pães e peixes tinham e, após, procedeu à multiplicação dos dois gêneros, permitindo que mais de cinco mil pessoas se alimentasse.

Sem dúvida, um ensinamento profundo e valioso. Ele deu solução ao problema.

É óbvio que ninguém, em sã consciência e plena lucidez de raciocínio, se proporá a sair pela vida fazendo multiplicações de pães ou outros itens alimentícios, mas de forma alguma estamos impedidos de multiplicar os nossos talentos e recursos, de forma a contribuir para a melhoria do mundo que habitamos.

Multiplicando os pães da paciência conseguiremos conviver com as mais adversas situações e suportar os mais intrincados problemas, aqueles que desafiam o equilíbrio das nossas emoções.

Multiplicando os pães da perseverança haveremos de caminhar com coragem em defesa dos nossos ideais, onde a felicidade e a paz, por certo, figuram com meta e objetivo.

Multiplicando os pães da tolerância seguiremos firmes na compreensão das diferenças que nos cercam, principalmente no âmbito familiar, onde devemos entender que cada criatura traz consigo a própria individualidade, pensando e reagindo de modo próprio, como nós fazemos também.

Multiplicando os pães do altruísmo teceremos a teia das nossas ações sempre voltadas para o bem, onde o ser humano, em quaisquer situações e momento, será eleito como a preocupação máxima e interesse maior das nossas realizações.

Multiplicando os pães da fé e da confiança nunca deixaremos de acreditar piamente que não estamos sozinhos, mesmo que aparentemente o mundo nos mantenha isolados, pois do olhar da Providência Divina  ninguém está alheio.

Multiplicando os pães do amor veremos todas as criaturas do caminho como irmãos a serem considerados dignos merecedores da nossa solidariedade e respeito.

Multiplicando os pães da alegria contagiaremos aqueles que seguem conosco, informando a eles que o otimismo e a esperança são conquistas que não podem deixar de residir no íntimo dos nossos corações.

Multiplicando os pães do silêncio, saberemos como conter a palavra descortês e, às vezes, descuidada, que se lançada poderá destilar o fiel da crítica ou o azedume do comentário menos feliz, além de evitar, muitas vezes, sérias contendas ou terríveis e inoportunas discussões.

Multiplicando os pães da humildade teremos plenas condições de combater as investidas deletérias do orgulho que tanto sofrimentos causam no seio social, e segurar os ataques perigosos do egoísmo, essa chaga nefasta que aprisiona os nobres sentimentos humanos.

Nem sempre temos condições de realizar grandes obras ou feitos, mas, por certo, temos absolutas possibilidades de fazer pequenas coisas, aquelas que realmente somam, formando a atmosfera de uma vida melhor para todos.


A Multiplicação dos Pães e Peixes

Capítulo XIV - A Multiplicação dos Pães e Peixes – Outras Passagens

Em Mateus 14:13-21 — Marcos 6:30-34 — Lucas 9:10-17 e João 6:1-14 narram a primeira multiplicação dos pães e peixinhos. Esta é uma passagem que muitas pessoas aceitam sem questionar, porque aceitam milagres. Outros não aceitam de maneira alguma. Como espíritas não acreditamos em milagres, mas também não somos cépticos, por isso vamos examinar alguns ângulos possíveis:

Em primeiro lugar concordamos com Pastorino, que considera exagero do entusiasmo dos discípulos fixar o número dos que foram alimentados em 5.000 homens, fora as mulheres e as crianças. Sem nenhuma base para o cálculo vamos considerar hipoteticamente que no total havia 8 ou 10 mil pessoas. É verdadeiramente um exagero, se considerarmos que as aldeias teriam poucas centenas de habitantes, seria necessário esvaziar inúmeras aldeias e não se chegaria ao número astronômico, já citado.

Entre os fenômenos mediúnicos existe o "transporte". Ou seja, os espíritos transportam objetos de fora para dentro da sala de reunião, mesmo com as portas fechadas. Há, também, o fenômeno de materialização. O objeto transportado se materializa no local. Examinemos o transporte. Os espíritos subordinados a Jesus poderiam transportar os pães e peixinhos fritos até o local. Mas de onde tirariam. O pão era feito pela dona de casa para o consumo de uma semana. Se houvesse estabelecimentos para vender pão, certamente os proprietários sofreriam grande prejuízo, assim como as famílias, que ficariam sem o pão da semana.

Consideremos que os espíritos assistentes do Mestre, utilizassem a matéria disseminada no espaço e materializassem os pães e peixinhos. Isto tem sido feito em pequena escala nas sessões de materialização, e, sem dúvida, Jesus teria condições de fazer ou mandar fazer em grande escala. Contudo, temos uma solução mais simples: muitas pessoas teriam levado lanches e estavam escondendo só para si. Com as palavras de amor e fraternidade de Jesus, e o gesto humilde do rapazinho que entregou os seus pães e peixinhos fritos, todos dividiram com todos, o que traziam. Então não houve milagre? Houve sim! O milagre da fraternidade, da solidariedade.

Metaforicamente podemos aceitar que o pão do espírito, a Doutrina ensinada por Jesus, alimenta multidões, e ainda sobra muita coisa, não terminando nunca.

Mateus 14:23-33 — Marcos 6:47-52 e João 6:16-21 narra o episódio em que Jesus anda sobre a água. Para o Espiritismo o fenômeno é facilmente explicado pela levitação (fenômeno de efeito físico – objetivo). Entretanto há um aspecto interessante. Pedro pede para ir até onde Jesus está e devido as ondas e o vento, se apavora e começa a afundar. Jesus estende-lhe a mão e salva-o Quando atravessamos quadras dolorosas da vida, perdemos a fé, a confiança em nós mesmos, e começamos a afundar. Neste momento surge alguém superior a nós, e estende-nos a mão, impedindo o nosso naufrágio no mar revolto da vida

João, num longo capítulo, narra o que ficou registrado no seu Evangelho, como O Pão da Vida – (texto privativo de João). São 71 versículos, mas vamos nos ater à essência. É um trecho vivo, polêmico e dinâmico do Evangelho. Jesus afirma : Eu sou o pão que desceu do céu. Eu sou o pão da vida. Mais à frente, do versículo 53 até o 58 Jesus escandaliza os seus seguidores dizendo que quem não comer da sua carne, não saboreá-lo, não teria vida imanente (eterna).

Este trecho do Evangelho fica muito difícil de ser entendido se nos apegarmos à letra. Mas, se ficarmos no simbólico, não fica tão difícil. Certamente, Jesus não se referia ao seu corpo de carne, ou ao seu sangue, mas sim, ao corpo da sua doutrina. O simbolismo do pão é muito interessante.

Quando comemos o pão, ele tem que ser, antes, mastigado, depois engolido e passa pelo processo da digestão, e depois de digerido transforma-se em sangue que circula por todo o corpo, dando vida e vigor a todas as células

Assim deve ser a nossa vivência em relação ao Cristianismo do Cristo, e não dos seus vigários. Ele deve ser assimilado pelo nosso entendimento e fazer parte da nossa vida tão intimamente quanto o sangue do nosso corpo.

Infelizmente, até agora os cristãos tem entendido o cristianismo de forma infantilizada. Paulo de Tarso afirmou a uma das igrejas fundadas por ele, que os alimentava com leite porque não suportariam o alimento sólido. Até hoje, não são muitos os que podem comer o alimento sólido da verdade. Mesmo no Espiritismo são muitos os que ainda tomam a papinha infantil. Herculano Pires diz que são mamadores das cabras celestes. Pedro de Camargo – Vinícius – tem pensamento semelhante ao nosso. Assim como o pão nutre o corpo, a Doutrina de Jesus nutre a alma. Assim como o pão precisa ser mastigado, digerido, o pão espiritual precisa ser meditado, entendido

Moisés fez de um povo escravo, por tanto, sem cultura e organização, que só tinha um elo comum a uni-los, a crença monoteísta, uma nação. Mas para isto, deve combater hábitos arraigados no íntimo deste povo, e dar-lhe, até mesmo, noções de justiça, responsabilidade, higiene. Para que seus preceitos fossem aceitos obedecidos mais facilmente, ele afirmava que eram divinas, ou seja, ordenação do próprio Jeová..

Vamos dar um exemplo fácil de ser entendido. O povo judeu guerreou com muitos inimigos, e todos esses exércitos que enfrentaram o povo de Moisés, arrastavam atrás de si, grupos de prostitutas e jogadores, mais uma ralé de desocupados. A promiscuidade e a sujeira era muito grande, o que provocava doenças, como desintiria, e infecções nos ferimentos, enfraquecendo e provocando a morte de muitos soldados.

Com o exército hebreu não acontecia isto, porque era proibida a permanência e mesmo a visita de prostitutas e jogadores no acampamento. Por determinação religiosa nenhum judeu podia partir o pão sem lavar as mãos, para as suas necessidades naturais, como defecar, o soldado trazia como parte do seu equipamento uma pazinha, para cavar um buraco na terra, fazer as suas necessidades e cobri-la com a terra. Para reforçar esse preceito religioso, Moisés afirmava que Jeová visitava o acampamento durante a noite e não deveria pisar em excrementos humanos. Lavar as mãos para partir o pão e fazer as refeições, era medida higiênica, reforçada como mandamento religioso.

Em Mateus 15:1-11 e Marcos 7:1-10 vem relatada a querela levantada pelos fariseus, porque os discípulos de Jesus comiam sem lavar as mãos. Jesus admoesta os fariseus, dizendo que eles obedeciam preceitos de homens e com isso se desobrigavam de seguir os preceitos morais ou divinos, como o de amparar os pais na velhice.

O Mestre tem uma colocação mais viril quando afirma que não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, porque procede do coração.

Na seqüência, os discípulos informa ao Mestre que os fariseus ficaram escandalizados com sua colocação sobre o comer sem lavar as mãos, e Jesus faz outra severa admoestação, dizendo: Toda planta que o Pai Celestial não plantou será arrancada.

O ensinamento sobre a contaminação pelo que sai pela boca e não pelo que é ingerido, é de fácil entendimento, e mais fácil fica, ao sabermos que havia vários alimentos proibidos aos judeus, além da proibição taxativa de não tocar os alimentos com as mãos por lavar.

Do coração (simbolicamente), procedem os adultérios, homicídios, prostituições, corrupções, mentiras, calúnias, furtos, etc.

Pastorino, na sua abordagem esotérica esclarece que não é somente os alimentos ingeridos que não contaminam o homem, mas tudo que vem de fora. Vejamos o que ele diz: Não é apenas o alimento ingerido ou as bebidas, mas nem mesmo as vibrações mentais de outras criaturas, nem pensamentos externos, nem acusações caluniosas, nem ataques físicos ou morais: imperturbável em sua paz intrínseca e profunda, o eu-maior sobreestá a tudo, pairando em outra atmosfera. O que vem de dentro contamina o homem, isto é, o que vem do coração (sentimento). Todo pensamento criado pelo espírito, antes de atingir o alvo,, atravessa a aura de quem pensa e nela imprime as suas vibrações.

O que sai do coração que pode contaminar o homem, pode ser atos cometidos, palavras (vibrações sonoras), e pensamentos (vibrações mentais).

Pastorino enumera duas listas de atos ou simples desejos, dos quais, destacaremos alguns: adultérios ou desejos sexuais, (com o ato material realizado, ou não), em relação a uma outra pessoa comprometida com outra. Prostituição ou desejos sensuais ou atos sexuais que não estejam fundamentados no amor. Furtos de qualquer espécie: físicos ou intelectuais, ( de idéias de outrem, fazendo passar por suas

Lucas em 6:39 põem na boca de Jesus essas palavras: por ventura pode um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no barranco?

Jesus falou tal coisa em referência aos cegos do conhecimento espiritual, e que, pretensiosamente, se intitulam guias da humanidade. O destino do guia, e dos guiado, é o barranco. O que significa que sofrerão as conseqüências das ignorância. Há guias de médiun e de centros espíritas que se enquadram nesse ensinamento. São cegos espirituais guiando outros cegos. E todos rumam para o barranco, onde cairão, se não lhes forem abertos os olhos.

Em Mateus 16:13-20 Marcos 8:27-30 e Lucas 9:18-21 encontramos uma passagem muito interessante porque suscita vários ensinamentos. É quando Jesus, em conversa aberta com os discípulos, pergunta o que o povo fala sobre ele, quem pensam que ele é. Os discípulos citam vários personagens, incluindo Elias, Jeremias, deixando claro que conheciam a lei da reencarnação, pois os dois viveram muitos séculos antes de Jesus. Estranhamente, citaram, também, João O Batista, pois eram contemporâneos.

Jesus indaga diretamente os discípulos: e vós, que dizeis que sou? Pedro adianta-se aos demais e responde que ele é o Cristo (Messias). Jesus elogia Pedro, chama-o de bem-aventurado, por que não foi a carne e o sangue que te revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Depois Jesus afirma que fundará a sua igreja sobre os ombros de pedra. Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. A seguir as palavras: Tudo que ligares sobre a Terra será ligado no céu. A igreja Católica Apostólica Romana aproveitou essas palavras para criar alguns dogmas. Vamos examinar Pastorino e depois Rohden.

Pastorino levanta a suspeita de interpolação (acréscimo) porque a igreja criou as prerrogativas dos sacerdotes de perdoar pecados ou condenar e também a instituição do papado. Para a Igreja Jesus deu investidura a Pedro, que por herança passou a seus sucessores. Essa posição foi veementemente combatida e foi imposta pela força das armas dos Imperadores Romanos, que no ano 369 estabeleceu Dâmaso, Bispo de Roma, como juiz e soberano de todos os bispos.

Pastorino faz uma longa exposição sobre a palavra "ekklesia", comumente traduzida por igreja, e apresenta mais de uma dezena de significados possíveis, inclusive "aprisco", porém, opta pela palavra "comunidade", já que o Mestre pregava em praça pública, nas praias, montes ou nas casas de amigos. Diz ele que em hipótese alguma a palavra grega ekklesiapode corresponder ao que se conhece hoje por igreja.

Quanto ao Hades, em hebraico, Sheol, designava a habitação dos desencarnados, astral inferior, (umbral) . Os latinos chamavam de "lugares baixos", ínferus, mas que nada tem a ver com o atual sentido de inferno. Ilustra o autor com uma passagem de Vergalho (Eneidas 6-106 onde o poeta conta que Enéas penetrou as "portas do Hades" inferni janua, encontrando ali os romanos mortos que aguardavam a reencarnação.

As chaves representam autoridade e já aparece no Velho Testamento (Isaias 22:22) e também Apocalipse 3:7 – refere-se a quem possui a chave – o que abrir fica aberto – o que fechar fica fechado.

Pastorino não aceita a tradução comum – "o que ligares ou o que desligares", mas sim, abrir e fechar. Pastorino recorre a Clemente Romano, bispo entre 100 e 130, em Roma, que diz que tendo Jesus dado as chaves do Reino dos Céus a Pedro, e disse: "o que abrires fica aberto; o que fechares fica fechado".. Ligar e desligar, diz Pastorino, refere-se mais ao perdão. Quando perdoamos, desligamos, quando não perdoamos mantemos os laços de ódio, vingança, rancor com os adversários. Desliga-se perdoando. Desligar (perdoar), na Terra, à caminho com o adversário, será ratificado no mundo espiritual.

Carlos Torres Pastorino afirma que houve transferência do versículo 18 do Capítulo 18 para o versículo 18 do capítulo 16, de Mateus, já que Marcos e Lucas não fazem tal citação. Marcos, possivelmente sobrinho de Pedro, mas certamente seu tradutor nas pregações, já que Pedro só falava o aramaico, ouviu os ensinamentos de Jesus da boca do apóstolo, se essas palavras tivessem sido pronunciadas por Jesus, em relação a Pedro, certamente Marcos saberia.

OBS. Não é admirar essa observação de Pastorino, porque encontramos num opúsculo de Pinheiro Martins, algumas transposição de textos. O autor conta que uma criteriosa tradução da Bíblia para o inglês — a New English Bible — feita por homens especialista no assunto, informam que encontraram 30 mil erros de tradução e mais de 2000 interpolações (Interpolação significa, alteração feita no texto, colocando-se neles palavras ou frases que antes não existiam)

Em 1956, veio a público por intermédio do Prof. Victor Martin, da Universidade de Genebra, a descoberta de um texto de João em melhor estado (antes havia sido descobertos fragmentos de papiro de textos de João, descobertos no Egito), proveniente também do Egito e em grego. Dos textos do Evangelho de João, em bom estado, é o mais antigo: data cerca de 150 anos depois de Cristo e é conhecido pelo código "P 66". Pois bem, esse exemplar mais antigo do Evangelho de João ignora totalmente passagens famosas que foram incluídas no texto posteriormente. Exemplo disto é o fim do versículo 3 e todo versículo 4 do capítulo 5 - do Evangelho de João. Essas frases foram colocadas posteriormente no texto original como uma glosa visando apenas explicar porque nos pórticos do tanque de Betesda havia tantos enfermos, cegos, coxos e paralíticos. Outra passagem que não existia em João é a narração da multiplicação dos pães e dos peixes, seguida pelo do milagre de Jesus andando sobre as águas do mar da Galiléia. Os versículos 11 a 35 do capítulo 6 que contem essas narrativas nas Bíblias atuais, simplesmente não existe no "P 66". Também a bela passagem sobre a mulher adúltera, que Jesus livrou de ser apedrejada, não existiria no texto original. Os 11 versículos que contém essa narrativa (Jo. 8:1-11 faltam em muitos manuscritos gregos antigos. E finalmente, todo o capítulo 21 foi acrescentado no Evangelho de João — originalmente ele terminava no versículo 31 do capítulo 20. Leon Denis comenta em Cristianismo e Espiritismo: Se reconhecermos que foi acrescentado um capítulo inteiro a esse evangelho, seremos levados a concluir que numerosas interpolações poderiam ter sido feitas igualmente. De fato é o que se verifica.

O evangelho de Marcos também recebeu interpolações. Basta observar as duas cópias mais antigas que possuímos do evangelho de S. Marcos, terminam com o versículo 8 do capítulo 16. Os últimos 12 com o relato da ressurreição e da subida ao céu, de Jesus, foram acrescentados mais tarde. Além disso há vários versículos interpolados pois faltam em manuscritos gregos. Outra interpolação famosa é o acrescentamento do adjetivo sanctus em spiritus pela vulgata latina. Além do sanctus foi colocado um artigo definido (o espírito santo) onde deveria ser (um espírito santo).

Huberto Rohden procura demonstrar que a Igreja Católica Apostólica Romana tinha interesse em utilizar as palavras de Jesus para reforçar a sua autoridade, principalmente quando quis centralizar o poder nas mãos do Bispo romano. Com a queda do Império Romano as figuras de Papa e Imperador se confundiram numa só. Rohden, como Pastorino, afirmam que não foi Pedro, homem de carne e osso, que sabia ser Jesus, o Cristo de Deus, mas a sua essência espiritual, o seu Cristo interior, a divindade do Pai que habitava nele como habita em todas as criaturas. O que sabia era a sua intuição superior. Acrescentamos nós: sabia pela sua mediunidade.

Rohden explica que a rocha da igreja é o Cristo e nenhum outro fundamento. Esta foi também a opinião de Paulo e de vários Pais da igreja. Sobre o perdoar e não perdoar, ou ligar e desligar, Rohden é de opinião que nem o texto grego do 1º século, nem o latino dos séculos seguintes, fala em perdoar. O grego usa o vocábulo "aphíemí", que quer dizer, desligar, soltar, libertar. O interessante é que Rohden coloca sobre a palavra perdoar (latim – perdonare), é composto de per e + donare = a doar. O mesmo significado tem a palavra em inglês e em alemão. Inglês – forgive. For + Give = dar - Alemão Vergeben. Ver + geben = dar. Rodhen ensina que quando o ofendido não se dá por ofendido, desliga-se do ofensor.

Pessoalmente, resumimos assim: a igreja Católica usou as palavras de Jesus e adaptou-as para reforçar a sua autoridade. Na nossa opinião Jesus não fundou nenhuma igreja, mas baseou a sua doutrina na Revelação = mediunidade, e esta igreja está no íntimo, no coração de cada cristão verdadeiro. Entendam que a nossa afirmação está no campo do simbolismo, porque Jesus não autorizou nem o Templo de Salomão, nem o dos samaritanos, no Monte Garizin.

Concordamos com Pastorino sobre o deslocamento do versículo 18 do capítulo 18 de Mateus, para o capítulo 16: 19 do mesmo autor.

Obs. Cap. 18:18 – Em verdade vos digo que tudo que ligardes na terra, será ligado no céu e tudo que desligardes na terra será desligado no céu.

Cap. 16:19 - e eu te darei as chaves do Reino dos Céus e tudo o que ligares na terra será ligados no céu, e tudo que desligares na terra será desligado no céu.

Ao perdor, o ofendido desliga-se do ofensor, mas este continua ligado à ofensa até resgatá-la.

O acontecimento que se deu na seqüência, demonstrou que os ombros de Pedro eram muito frágeis para suportar o peso da igreja do Cristo, porque, ao tentar dissuadir o Mestre de ir a Jerusalém e ser preso e executado (sacrifício espontâneo), Jesus manda que Satanaz (adversário) se retire para a retaguarda.

Templos, não importa que seja catedral ou capela ou centros espíritas, é local de reunião para homens místicos, que vive a horizontalidade. O coração, o sentimento, a mente superior é o verdadeiro templo para o homem que vive a verticalidade. O universo é o verdadeiro Templo para o homem cósmico.

Consideremos, porém, que Jesus freqüentava o Templo de Jerusalém e as Sinagogas nas cidades por onde passava, obedecendo os preceitos do Judaísmo, portanto, é natural que freqüentemos centros espíritas, participando das suas atividade, contudo, que desenvolvamos cada vez mais a nossa união interior com Deus.

Mateus 16:24-28 - Marcos 8:34-38 e Lucas 9:23-27 abordam a passagem que em que Jesus disse, que quem quiser segui-lo que tome a sua própria cruz e siga- o. A passagem é um pouco complicada. Jesus afirma que voltará em toda a sua glória, para recompensar os seus seguidores. Diz, mesmo, que alguns dos seus ouvintes não experimentará a morte até que ele retorne. Estas palavras deu aos seguidores de Jesus a idéia que ele voltaria em pessoa, muito breve, mas sobretudo que voltaria pessoalmente. Outra dificuldade é o "não experimentar a morte". Se aceitarmos que Jesus falava ao espírito, e não ao corpo, temos que convir que o espírito é imortal mesmo sem essa promessa. Quanto ao corpo, todos que ouviram aquelas palavras morreram, até o discípulo amado, João.

Tomar a cruz já era um simbolismo conhecido, pois era o castigo dos romanos aos criminosos, e os romanos aplicava este suplício largamente, na Palestina. O condenado carregava a sua cruz, ou a parte superior, horizontal, da cruz, até o local da execução. Além disso, como já vimos anteriormente, a cruz era o símbolo da iniciação de povos antigos, inclusive essênios.

Aprendamos que discípulo é aquele que palmilha o caminho trilhado pelo Mestre, e não aqueles que apenas aprendem os seus ensinamentos. É preciso viver os ensinos, senti-los, saboreá-los.

Ser aluno é diferente de ser discípulo. Para ser discípulo e seguir um Mestre é preciso querer. Não pode ser por dever (imposição), mas, pelo querer, (aceitação).

Quem vive apenas para as coisas do mundo perde o sabor das coisas espirituais. Prejudica a sua alma (mente, inteligência, vontade).

Huberto Rohden, no livro – Filosofia Cósmica do Evangelho, tece um bonito comentário, sobre "quem perder a sua vida, ganhá-la-á", do qual, discordamos apenas da parte em que ele diz que o ego humano; só pode ser imortalizado pelo eu divino. Porém, ele é muito feliz quando diz que o sofrimento redentor, é o voluntariamente aceito. Entendemos nós, que ele não é buscado, procurado, mas aceito, concordado.

Afirma Rohden que não se redimem, nem os revoltados, nem os que se resignam passivamente ao sofrimento. Diz ele, que não é o sofrimento em si que redime e espiritualiza o homem, mas sim , a atitude positiva, afirmativa, que o homem assume em face do sofrimento.

Mateus 17:1-9 - Marcos 9:2-8 e Lucas 9:-28-36 narram a transfiguração de Jesus. O lado objetivo da passagem é fácil de ser entendido: Jesus subiu a um monte, o Tabor possivelmente, levando consigo Pedro, Tiago e João (possivelmente por serem os melhores médiuns) e ali se transfigurou, e Moisés (Moisés viveu 1500 anos a. C.) e Elias (Elias viveu 900 anos a. C.)se materializaram e conversaram com Jesus. O que aconteceu foi uma Sessão mediúnica de efeitos físicos, ou materialização. Os médiuns foram os três discípulos e os acontecimentos foram muito parecidas com as sessões mediúnicas já citadas. Os três discípulos dormiram oprimidos de sono (os médiuns de efeitos físicos entram em profundo transe sonambúlico), mas estavam desdobrados espiritualmente e consciente, assistiram a tudo em detalhes. Uma nuvem os envolveu. (o ectoplasma pode ter a forma de um cordão de algodão, ou nevoeiro, neblina)

Qual a razão de Moisés e Elias se apresentarem para conversar com Jesus? Del Chiaro em artigo que intitulou, A Síntese de Três Eras, afirma que Moisés estava presente para, com aquela manifestação mediúnica, retirar o selo que colocou na boca dos mortos, quando proibiu essas manifestações, castigando com a morte, quem desobedecesse. Como morto ilustre, vinha mostrar que os túmulos estão vazios. Elias, foi no passado um profeta vigoroso, popular e estava ali representando o futuro, com o advento da Doutrina Espírita. Mas, porque ele não se apresentou como João, O Batista, que havia sido degolado há pouco tempo? Sabemos que o espírito desencarnado podem dar ao seu perispírito a aparência que preferir. Ora, os discípulos eram homens simples, sem muita coragem, pois é fácil lembrar como se desesperaram quando viram Jesus andando sobre as águas e pensaram que fosse um fantasma. Talvez, a figura de João pudesse apavorá-los. Jesus representava ali, o eterno presente.

Como a interpretação esotérica de Pastorino é um pouco complicada, vamos ficar com a de Del Chiaro:

Subimos, elevamo-nos em vibrações quando abandonamos, por instantes, as preocupações do mundo. Este subir desperta nossa luz ou potencialidades, e por momentos somos integrados ao universo e podemos entrar em comunhão com espíritos superiores, que vela, de longe, pelo nosso progresso. Porém, por mais sublimes que sejam esses momentos, temos que descer para a planície e viver a vida comum das pessoas, mas incomum para nós, graças ao aprendizado, aio conhecimento.

Em Mateus 17:10-13 e Marcos 9:10-13 relatam a conversa de Jesus com os discípulos quando estes perguntaram sobre a vinda de Elias antes do advento do Messias. Jesus dá, mais uma vez, testemunho da reencarnação, dizendo que Elias já veio, e não foi reconhecido. Os discípulos entenderam que ele falava de João, o Batista.

Lucas 10:1-16 relata que Jesus reuniu 72 discípulos e enviou-os em duplas, às localidades que ele deveria visitar para anunciar que o Reino dos Céus está próximo. É neste passo do Evangelho que Jesus fala da grandeza da seara e o pequeno número de trabalhadores. Na verdade, até hoje os trabalhadores são poucos, porque não muitos os que compreendem a essência do Cristianismo, e os encargos da função de trabalhadores da seara.

Pastorino cita vários documentos históricos que se contradizem no número de novos apóstolos enviados por Jesus. Alguns dizem 70 e outros 72, eles foram enviados aos pares, como já havia acontecido com os 12. Jesus aconselha e determina que não levem bolsa, nem alforges. O que seria impossível nos tempos atuais, porque os costumes mudaram. Na sua conversa com os emissários, Jesus faz comparações entre Corazin e Betsaida — Tiro e Sidon, e também Cafarnaum e Sodoma. Jesus afirma que se o que ocorreu em Corazin e Betsaida (as maravilhas que ele realizou) tivesse ocorrido em Tiro e Sidon, aquelas cidades teriam se convertido. (é preciso saber que Tiro e Sidon eram cidades pagãs).

Cafarnaum foi a cidade em que Jesus fixou residência ao sair de Nazaré. Sodoma, juntamente com Gomorra, foram as cidades destruídas por Jeová, devido a depravação dos seus habitantes. (segundo a Bíblia)

Na explicação oculta da passagem, Pastorino revela o significado dos nomes das cidades mencionadas pelo Mestre: Corazin significa O Segredo. Betsaida – Casa dos Frutos. Diz Pastorino que os discípulos procuravam os frutos em segredo (iniciação interna). Tiro significa Força. Sidon = Caçada, e propõem se Jesus chegou a pensar se , não teria maior êxito se lançasse a humanidade numa caçada à Força. Ou ainda se em vez de Cafarnaum (cidade do Consolador, ele agisse em Sodoma = aridez, isto é, com dureza, se os resultados não seriam melhores.

Outra curiosidade é que Pastorino faz interessantes cálculos matemáticos, dizendo que cada discípulo de Jesus deveria conquistar mais 12, capazes de entender a mensagem do Cristo. Ele baseia-se em Paulo, que disse que os discípulos eram os 72, mais 432 = 504 (Corinthios 15:5-6. Jesus apareceu aos 12 e depois a mais de 500 irmãos de uma só vez. Afirma Pastorino que quando Jesus desencarnou, deixou 516 discípulos, já iniciados e prontos para o trabalho de divulgação do Evangelho. Afirma ele que se a humanidade estivesse preparada, em poucos anos a Terra estaria transformada. Sendo que cada discípulo, enviado em dupla deveria conquistar mais 12 – na 12ª vez em que as duplas fossem enviadas atingiria 4 bilhões 533 milhões 564 mil 672 irmãos.

A multiplicação de pães e peixes

Bíblia do Caminho — Estudos Espíritas
(Website)
EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo
TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE II
Módulo VI — Aprendendo com fatos extraordinários

Roteiro 2

A multiplicação de pães e peixes

Objetivo: Interpretar, à luz do Espiritismo, a multiplicação dos pães e dos peixes, realizada por Jesus.


 IDEIAS PRINCIPAIS
O fenômeno da multiplicação dos pães e dos peixes pode ser interpretado sob dois enfoques espíritas: como figura alegórica, representativa de alimento espiritual; como efeito da doação magnética do Cristo, que produziu materialização dos alimentos, necessários a alimentar a multidão faminta.
A multiplicação dos pães é um dos milagres que mais têm intrigado os comentadores e alimentado, ao mesmo tempo, as zombarias dos incrédulos. […] Entretanto, a maioria das pessoas sérias há visto na narrativa desse fato, embora sob forma diferente da ordinária, uma parábola, em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo. Pode-se, todavia, perceber nela mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio. É sabido que uma grande preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente presa a uma coisa fazem esquecer a fome. Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material de comer. Allan Kardec: A gênese, cap. 15, item 48.


SUBSÍDIOS

1. Texto evangélico

1.1 Primeira multiplicação de pães e peixes
E, regressando os apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os consigo, retirou-se para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida. E, sabendo-o a multidão, o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura. E já o dia começava a declinar, então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos campos e aldeias ao redor, se agasalhem e achem o que comer, porque aqui estamos em lugar deserto. Mas ele lhes disse. Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo. Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse, então, aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em grupos de cinquenta em cinquenta. E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos. E, tomando os cinco pães e os dois peixes e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão. E comeram todos e saciaram-se; e levantaram, do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços. Lucas, 9:10-17.

1.2 Segunda multiplicação de pães e peixes
E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho. E os seus discípulos disseram-lhe: Donde nos viriam num deserto tantos pães, para saciar tal multidão? E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete e uns poucos peixinhos. Então, mandou à multidão que se assentasse no chão. E, tomando os sete pães e os peixes e dando graças, partiu-os e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos, à multidão. E todos comeram e se saciaram, e levantaram, do que sobejou, sete cestos cheios de pedaços. Ora, os que tinham comido eram quatro mil homens, além de mulheres e crianças. E, tendo despedido a multidão, entrou no barco e dirigiu-se ao território de Magdala. Mateus, 15:32-39.

O fenômeno da multiplicação dos pães e dos peixes, considerado milagre por algumas teologias cristãs, é relatado pelos quatro evangelistas e aconteceu em duas oportunidades distintas: uma num lugar deserto nas proximidades de Betsaida, outra, antes do território de Magdala. Na primeira multiplicação, a partir de cinco pães e dois peixes, Jesus alimenta cinco mil pessoas, e ainda sobram doze cestos com pedaços desses alimentos. Na segunda multiplicação, quatro mil pessoas tiveram a fome saciada, tendo como base sete pães e alguns peixinhos, sobrando sete cestos com pedaços.
A primeira multiplicação é relatada nesse texto de Lucas e, também, por Mateus, 14:13-21, Marcos, 6:34,35 e João, 6:1-14. A segunda, por Mateus, no texto citado e por Marcos, 8:1-10. Não há dúvida, portanto, de que o fato aconteceu.
Importa, entretanto, indagar: como ocorreu, efetivamente, a multiplicação de pães e peixes?
Para o Espiritismo, o Cristo produziu materialização de pães e de peixes. Entretanto, é importante que este efeito físico conduza o estudioso ao entendimento das implicações espirituais de que o fenômeno se reveste: mais importante que o alimento material, deve-se ficar atento à alegoria do “alimento espiritual”, simbolizado nos ensinamentos de Jesus.

Temos de distinguir dois aspectos: o material e o espiritual. Materialmente falando, o fato pertence ao gênero dos fenômenos de efeitos físicos. E nas sessões espíritas de efeitos físicos, já se tem observado a formação de objetos pelos Espíritos com auxílio dos médiuns. Jesus, médium de Deus, ajudado pela mediunidade de seus doze discípulos e assistido pelos Espíritos que o secundavam nos trabalhos evangélicos, faz com que se materializem em suas mãos os bocados de pão para o povo. (8)

Pode-se perceber nessas passagens evangélicas […] “mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio.” (3)

A interpretação que se segue dos registros de Lucas e de Mateus, inseridas neste Roteiro, será realizada concomitantemente, destacando-se que as poucas diferenças existentes entre os dois registros, são mais de forma do que de conteúdo.

2. Interpretação dos textos evangélicos: primeira parte

Texto de Lucas: primeira multiplicação
E, regressando os apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os consigo, retirou-se para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida. E, sabendo-o a multidão, o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura. E já o dia começava a declinar, então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos campos e aldeias ao redor, se agasalhem e achem o que comer, porque aqui estamos em lugar deserto. Mas ele lhes disse. Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo. Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse, então, aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em grupos de cinquenta em cinquenta. (Lc 9:10-14).

Texto de Mateus: segunda multiplicação
E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho. E os seus discípulos disseram-lhe: Donde nos viriam num deserto tantos pães, para saciar tal multidão? E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete e uns poucos peixinhos. Então, mandou à multidão que se assentasse no chão. (Mt 15:32-35).

No texto de Lucas, os apóstolos revelam preocupação com a quantidade de pessoas para alimentar. Pedem, então, a Jesus para dispensá-las: “E já o dia começava a declinar; então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos campos e aldeias ao redor, se agasalhem e achem o que comer, porque aqui estamos em lugar deserto”.
No outro texto, Mateus anota que o Cristo percebeu a necessidade de alimentar as pessoas, movido pela compaixão: “E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho”.
Em ambas as citações se identifica a necessidade de auxiliar a multidão faminta. Há, porém, uma grande diferença: o primeiro texto informa que a iniciativa foi dos apóstolos, por desejarem ficar livres do problema, daí terem pedido ao Cristo: “Despede a multidão”. O segundo texto relata que a percepção inicial foi do Cristo, que tendo compaixão dos que o seguiam por três dias, quis alimentá-los. Ambos, Jesus e os apóstolos identificaram a problemática: alguém com fome. A resolução do problema, entretanto, seguiu o nível de entendimento de cada um: livrar-se da dificuldade ou amparar os que sofriam a privação.
Lucas registrou que, por ter Jesus detectado nos apóstolos o sentimento de “querer livrar-se do problema”, disse-lhes: “Dai-lhes vós de comer” (Lc 9:13). Justamente o que eles não queriam fazer, por ignorar como, afinal só possuíam alguns pães e peixes. Uma inesquecível lição foi ensinada por Jesus naquele momento:

Diante da multidão fatigada e faminta, Jesus recomenda aos apóstolos: — “Dai-lhes vós de comer”. A observação do Mestre é importante, quando realmente poderia ele induzi-los a recriminar a multidão pela imprudência de uma jornada exaustiva até o monte, sem a garantia do farnel. O Mestre desejou, porém, gravar no espírito dos aprendizes a consagração deles ao serviço popular. Ensinou que aos cooperadores do Evangelho, perante a turba necessitada, compete tão somente um dever — o da prestação de auxílio desinteressado e fraternal. Naquela hora do ensinamento inesquecível, a fome era naturalmente do corpo, vencido de cansaço, mas, ainda e sempre, vemos a multidão carecente de amparo, dominada pela fome de luz e de harmonia, vergastada pelos invisíveis azorragues da discórdia e da incompreensão. Os colaboradores de Jesus são chamados, não a obscurecê-la com o pessimismo, não a perturbá-la com a indisciplina ou a imobilizá-la com o desânimo, mas sim a nutri-la de esclarecimento e paz, fortaleza moral e sublime esperança. (11)

Com Sua autoridade, o Mestre veio abrir o entendimento dos seres quanto às realidades que norteiam o crescimento espiritual. Ensinou que todo processo renovador sublima-se nos fundamentos do Amor e da Caridade, perfeitamente identificáveis nos textos em estudo. Afiançava Jesus, quanto à multidão, que não queria “despedi-la em jejum”, para que não desfalecesse pelo caminho. O Amor é, sem dúvida, o substancioso alimento das almas. Erguido no alicerce da realização efetiva e consciente, identifica necessidades e peculiaridades a cada criatura humana, em processo de auxílio continuado do Senhor junto do semelhante.
Assim, quando informado sobre a escassa provisão de alimentos, a primeira providência do Mestre foi manter a situação sob controle, com equilíbrio, daí afirmar: “Fazei-os assentar, em grupos de cinquenta em cinquenta” (Lc 9:14), ou, “mandou à multidão que se assentasse” (Mt 15:35). É importante que a ordem e a harmonia sejam preservadas, principalmente quando surge a dificuldade. Emmanuel interpreta com lucidez essas orientações de Jesus, tendo como base não os dois textos evangélicos citados neste Roteiro, mas o de João, 6:1-14:

Esta passagem do Evangelho de João é das mais significativas. Verifica-se quando a multidão de quase cinco mil pessoas tem necessidade de pão, no isolamento da natureza. Os discípulos estão preocupados. Filipe afirma que duzentos dinheiros não bastarão para atender à dificuldade imprevista. André conduz ao Mestre um jovem que trazia consigo cinco pães de cevada e dois peixes. Todos discutem. Jesus, entretanto, recebe a migalha sem descrer de sua preciosa significação e manda que todos se assentem, pede que haja ordem, que se faça harmonia. E distribuí o recurso com todos, maravilhosamente. A grandeza da lição é profunda. Os homens esfomeados de paz reclamam a assistência do Cristo. Falam n’Ele, suplicam-lhe socorro, aguardam-lhe as manifestações. Não conseguem, todavia, estabelecer a ordem em si mesmos, para a recepção dos recursos celestes. Misturam Jesus com as suas imprecações, suas ansiedades loucas e seus desejos criminosos. Naturalmente se desesperam, cada vez mais desorientados, porquanto não querem ouvir o convite à calma, não se assentam para que se faça a ordem, persistindo em manter o próprio desequilíbrio. (10)

É de fundamental importância, contudo, analisar que a preocupação dos apóstolos era justa. É natural admitir que ante “[…] o quadro da legião de famintos, qualquer homem experimentaria invencível desânimo, considerando a migalha de cinco pães e dois peixes. Mas Jesus emprega o imenso poder da bondade e consegue alimentar a todos, sobejamente.” (14)
O texto de Mateus assinala, por outro lado, a seguinte indagação de Jesus: “Quantos pães tendes?”. Então, os apóstolos respondem: “Sete e uns poucos peixinhos”.

Observemos que o Senhor, diante da multidão faminta, não pergunta aos companheiros: — “de quantos pães necessitamos?” mas, sim, “quantos pães tendes?”. A passagem denota a precaução de Jesus no sentido de alertar os discípulos para a necessidade de algo apresentar à Providência Divina como base para o socorro que suplicamos. Em verdade, o Mestre conseguiu alimentar milhares de pessoas, mas não prescindiu das migalhas que os apóstolos lhe ofereciam. (13)

“Quantos pães tendes?” é indagação que traz implicações de ordem espiritual.

A pergunta denuncia a necessidade de algum concurso para o serviço da multiplicação. Conta-nos o evangelista Marcos que os companheiros apresentaram-lhe sete pãezinhos, dos quais se alimentaram mais de quatro mil pessoas, sobrando apreciável quantidade. Teria o Mestre conseguido tanto se não pudesse contar com recurso algum? A imagem compele-nos a meditar quanto ao impositivo de nossa cooperação, para que o Celeste Benfeitor nos felicite com os seus dons de vida abundante. […] — Que tendes? Infinita é a Bondade de Deus, todavia, algo deve surgir de nosso “eu”, em nosso favor. Em qualquer terreno de nossas realizações para a vida mais alta, apresentemos a Jesus algumas reduzidas migalhas de esforço próprio e estejamos convictos de que o Senhor fará o resto. (12)

3. Interpretação dos textos evangélicos segunda a parte

Texto de Lucas: primeira multiplicação
E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos. E, tomando os cinco pães e os dois peixes e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão. E comeram todos e saciaram-se; e levantaram, do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços. (Lc 9:15-17).

Texto de Mateus: segunda multiplicação
E, tomando os sete pães e os peixes e dando graças, partiu-os e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos, à multidão. E todos comeram e se saciaram, e levantaram, do que sobejou, sete cestos cheios de pedaços. Ora, os que tinham comido eram quatro mil homens, além de mulheres e crianças. E, tendo despedido a multidão, entrou no barco e dirigiu-se ao território de Magdala. (Mt 15:36-39).

Allan Kardec considera a possibilidade de ter Jesus eliminado a sensação de fome, não por materialização de pães e peixes, mas pela irradiação de suas energias magnéticas sobre a multidão.

Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material de comer. […] Desse modo, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um efeito fisiológico, natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no ascendente da palavra de Jesus, poderosa bastante para cativara atenção de uma multidão imensa, ao ponto de fazê-la esquecer-se de comer. Esse poder moral comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que tem de ser considerada como alegoria. (4)

Essa teoria tem razão de ser, uma vez que as energias magnéticas exercem poderoso efeito, bons ou maus, conforme a natureza da emissão fluídica e as intenções do operador. Em relação a Jesus, esse efeito é inimaginável, pois o Mestre sabia (e sabe) conjugar, entre si, profundo amor ao semelhante e inigualável conhecimento das leis que regem a produção dos fenômenos espirituais e materiais.
O Espiritismo ensina que os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, “[…] empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem.” Esta ação produz efeitos materiais, em decorrência das transformações ocorridas nas propriedades da matéria, como acontece nas curas, aparições e materializações de Espíritos, transporte de objetos, etc.

Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente. Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta se produza, como basta que modele uma ária, para que esta repercuta na atmosfera. […] Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar. […] Para o Espírito, que é, também ele, fluídico, esses objetos fluídicos são tão reais, como o eram, no estado material, para o homem vivo [reencarnado]; mas, pela razão de serem criações do pensamento, a existência deles é tão fugitiva quanto a deste. (2)

Não podemos esquecer, contudo que, em outras oportunidades, Jesus agiu sobre as propriedades da matéria, modificando-a, tal como aconteceu na transformação de água e vinho, nas bodas de Caná (Jo 2:1-12). Cairbar Schutel, assim como André Luiz, (15) defendem a ideia de materialização de pães e peixes, da mesma forma que Espíritos e objetos são materializados, até porque, sobraram cestos contendo pedaços desses alimentos.

A “panificação do trigo”, sob as ordens e direção de Jesus Cristo, no deserto, não pode deixar de obedecer à lei da materialização dos corpos, tenham eles a natureza que tiverem, sejam de carne, de massa, de pedra. O fenômeno da materialização tem como complemento o da desmaterialização, e se assenta justamente num princípio positivo proclamado pela ciência materialista, que é a existência, no Universo, da força e da matéria: força e matéria são os princípios constitutivos do Universo. Mas como está mais que provado que a força e matéria não podem por si só produzir fenômenos inteligentes, e todo efeito inteligente deve forçosamente ter uma causa inteligente, o Espiritismo vem demonstrar a existência de Inteligências livres e individualizadas que presidem à direção da força e manipulam a matéria em suas múltiplas manifestações objetivas. (6)

Cairbar considera também que de “[…] duas naturezas eram os pães que Jesus ofertou à multidão que, pressurosa, seguia seus passos: o pão para o corpo e o pão para a alma, o pão que sacia a fome do Espírito.” (7) Não, nenhuma dúvida a esse respeito, pois, como esclarece Kardec, Jesus estava “[…] empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. […] Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo.” (5)

Jesus é o despenseiro divino. Compadeceu-se da humanidade que marchava na aridez da matéria, e franqueou-lhe a despensa celeste, onde há pão espiritual para todas as almas famintas, luz para clarear todas as trevas, consolo para todas as aflições, esperanças para todos os desalentados. Jesus multiplica incessantemente sua palavra, de modo que nunca deixará de fartar as multidões que acorrem a ele, e sempre sobrará para os que vierem depois. (9)





ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Pedir à turma que leia os subsídios deste Roteiro mais uma vez, anotando pontos considerados importantes. Em seguida, promover ampla discussão a respeito da interpretação espírita, relativa aos textos de Lucas e Mateus que tratam da multiplicação dos pães e dos peixes.

Referências:
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 14, item 14, p. 322.
2. Idem, ibidem - p. 322-323.
3. Idem - Cap. 15, item 48, p.386.
4. Idem, ibidem - p. 386-387.
5. Idem - Item 51, p. 389.
6. CAIRBAR, Schutel. O espírito do Cristianismo. 8. ed. Matão: O Clarim, 2001 . Cap. 12 (As multiplicações dos pães), p. 92-93.
7. Idem, ibidem - p. 96.
8. RIGONATTI, Eliseu. O evangelho dos humildes. 15. ed. São Paulo: Pensamento, 2003. Cap. 14 ( A morte de João Batista), item: A primeira multiplicação dos pães, p. 143.
9. Idem - Cap. 15 (A tradição dos antigos), item: A segunda multiplicação dos pães, p. 152.
10. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 25 (Tende calma), p. 65-66.
11. Idem - Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap.131 (No campo social), p. 325-326.
12. Idem - Cap. 133 ( Que tendes?), p. 329-330.
13. Idem - Palavras de vida eterna. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed. Uberaba: CEC. 2005. Cap. 9 (Socorro e concurso), p. 31.
14. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 91 (Migalha e multidão), p. 205.
15. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 26 (Jesus e mediunidade), item: Efeitos físicos, p. 202.


MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

48.- A multiplicação dos pães é um dos milagres que mais têm intrigado os comentadores e alimentado, ao mesmo tempo, as zombarias dos incrédulos. Sem se darem ao trabalho de lhe perscrutar o sentido alegórico, para estes últimos ele não passa de um conto pueril. Entretanto, a maioria das pessoas sérias há visto na narrativa desse fato, embora sob forma diferente da ordinária, uma parábola, em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo.

Pode-se, todavia, perceber nela mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio. É sabido que uma grande preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente presa a uma coisa fazem esquecer a fome. Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material de comer.

Prevendo esse resultado, Jesus nenhuma dificuldade teve para tranqüilizar os discípulos, dizendo-lhes, na linguagem figurada que lhe era habitual e admitido que realmente houvessem trazido alguns pães, que estes bastariam para matar a fome à multidão. Simultaneamente, ministrava aos referidos discípulos um ensinamento, com o lhes dizer: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Ensinava-lhes assim que também eles podiam alimentar por meio da palavra.

Desse modo, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um efeito fisiológico, natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no ascendente da palavra de Jesus, poderosa bastante para cativar a atenção de uma multidão imensa, ao ponto de fazê-la esquecer-se de comer. Esse poder moral comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que tem de ser considerada como alegoria. Esta explicação, aliás, o próprio Jesus a confirmou nas duas passagens seguintes.

O fermento dos fariseus

49.- Ora, tendo seus discípulos passado para o outro lado do mar, esqueceram-se
de levar pães. - Jesus lhes disse: Tende o cuidado de precatar-vos do fermento dos
fariseus e dos saduceus. - Eles, porém, pensavam e diziam entre si: É porque não
trouxemos pães.

Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Homens de pouca fé, por que
haveis de estar cogitando de não terdes trazido pães? Ainda não compreendeis e não
vos lembrais quantos cestos levastes? - Como não compreendereis que não é do pão
que eu vos falava, quando disse que vos guardásseis do fermento dos fariseus e
saduceus?

Eles então compreenderam que ele não lhes dissera que se preservassem do
fermento que se põe no pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. (S. Mateus,
cap. XVI, vv. 5 a 12.)


O pão do céu

50.- No dia seguinte, o povo, que permanecera do outro lado do mar, notou que
lá não chegara outra barca e que Jesus não entrara na que seus discípulos tomaram,
que os discípulos haviam partido sós - e como tinham chegado depois outras barcas de
Tiberíades, perto do lugar onde o Senhor, após render graças, os alimentara com cinco
pães; - e como verificassem por fim que Jesus não estava lá, tampouco seus
discípulos, entraram naquelas barcas e foram para Cafarnaum, em busca de Jesus. - E,
tendo-o encontrado além do mar, disseram-lhe: Mestre, quando vieste para cá?

Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que me procurais, não
por causa dos milagres que vistes, mas por que eu vos dei pão a comer e ficastes
saciados. -Trabalhai por ter, não o alimento que perece, mas o que dura para a vida
eterna e que o Filho do Homem vos dará, porque foi nele que Deus, o Pai, imprimiu seu
selo e seu caráter.

Perguntaram-lhe eles: Que devemos fazer para produzir obras de Deus? -Respondeu-
lhes Jesus: A obra de Deus é que creiais no que ele enviou.

Perguntaram-lhe então: Que milagre operarás que nos faça crer, vendo-o? Que
farás de extraordinário? - Nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está
escrito: Ele lhes deu de comer o pão do céu.

Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que Moisés não vos
deu o pão do céu; meu Pai é quem dá o verdadeiro pão do céu, - porquanto o pão de
Deus é aquele que desceu do céu e que dá vida ao mundo.

Disseram eles então: Senhor, dá-nos sempre desse pão.

Jesus lhes respondeu: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá
fome e aquele que em mim crê não terá sede. - Mas, eu já vos disse: vós me tendes
visto e não credes.

Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim tem a vida eterna. -Eu
sou o pão da vida. - Vossos pais comeram o maná do deserto e morreram. - Aqui
está o pão que desceu do céu, a fim de que quem dele comer não morra. (S. João, cap.
VI, vv. 22-36 e 47-50.)

51.- Na primeira passagem, lembrando o fato precedentemente operado, Jesus dá claramente a entender que não se tratara de pães materiais, pois, a não ser assim, careceria de objeto a comparação por ele estabelecida com o fermento dos fariseus: «Ainda não compreendeis, diz ele, e não vos recordais de que cinco pães bastaram para cinco mil pessoas e que dois pães foram bastantes para quatro mil? Como não compreendestes que não era de pão que eu vos falava, quando vos dizia que vos preservásseis do fermento dos fariseus?»
Esse confronto nenhuma razão de ser teria, na hipótese de uma multiplicação material. O fato fora de si mesmo muito extraordinário para ter impressionado fortemente a imaginação dos discípulos, que, entretanto, pareciam não mais lembrar-se dele.

É também o que não menos claramente ressalta, do que Jesus expendeu sobre o pão do céu, empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. «Trabalhai, diz ele, não por conseguir o alimento que perece, mas pelo que se conserva para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará.» Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. «Eu sou, declara ele, o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê nunca terá sede.»

Tais distinções, porém, eram por demais sutis para aquelas naturezas rudes, que somente compreendiam as coisas tangíveis. Para eles, o maná, que alimentara o corpo de seus antepassados, era o verdadeiro pão do céu; aí é que estava o milagre. Se, portanto, houvesse ocorrido materialmente o fato da multiplicação dos pães, como teria ele impressionado tão fracamente aqueles mesmos homens, a cujo benefício essa multiplicação se operara poucos dias antes, ao ponto de perguntarem a Jesus: «Que milagre farás para que, vendo-o, te creiamos? Que farás de extraordinário?»
Eles entendiam por milagres os prodígios que os fariseus pediam, isto é, sinais que aparecessem no céu por ordem de Jesus, como pela varinha de um mágico. Ora, o que Jesus fazia era extremamente simples e não se afastava das leis da Natureza; as próprias curas não revelavam caráter muito singular, nem muito extraordinário. Para eles, os milagres espirituais não apresentavam grande vulto.

("A Gênese", capítulo XV, itens 48 a 51)

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Qual a explicação que Kardec considera mais provável para o episodio da "multiplicação dos pães"?

b) O que seria o fermento dos fariseus e saduceus?

c) Qual o significado dado por Jesus para "pão do céu"?

Transfiguração, Multiplicação dos pães, e "Ressurreições" operadas por Jesus

Transfiguração, Multiplicação dos pães, e "Ressurreições" operadas por Jesus

Autor: Therezinha Oliveira

A Transfiguração (Mt. 17 1/8, Mc. 9 2/8 e Lc. 9 28/36. )
Resumamos as narrativas evangélicas:

Jesus levou Pedro, Tiago e João em particular a um alto monte, com o propósito de orar.

Enquanto ele orava:

seu rosto se modificou, resplandecia como o sol;
suas vestes tomaram-se brancas como a luz.
E apareceram Moisés e Elias (ambos já desencontrados) e conversavam os três sobre sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém.

Explicação espírita do fenômeno
A transfiguração é "uma transformação fluídica, uma espécie de aparição perispirítica, que se produz sobre o próprio corpo do vivo" ; "geralmente é perceptível a todos os assistentes e com os olhos do corpo, precisamente por se basearem na matéria carnal visível". Pode-se dar pela vontade da própria pessoa ou sob influência externa. (Vide Allan Kardec, "A Gênese", cap. XIV, item 39; e a "Revista Espírita" de março de 1859.) Quando orou, Jesus se expandiu perispiritualmente, superpondo ao corpo novo aspecto e apresentando grande irradiação. A luminosidade propagou-se às suas vestes e através delas.

Quanto à presença de Moisés e Elias, foi um fenômeno de materialização (Pedro, Tiago e João eram médiuns de efeitos físicos), que será estudado em aula posterior.

A multiplicação de pães e peixes
Relatam os evangelistas que Jesus por 2 vezes multiplicou pães e peixes para atender à multidão que o seguira até uma região "deserta" (longe de cidades) e ali ficara ouvindo-o e recebendo curas mas, por não se terem munido de alimentos, estavam a ponto de passar fome.

A primeira multiplicação é relatada por Mt, 14 vs. 13/23, Mc. 6 vs. 30/44, Lc. 9 vs, 10/17 e Jo. 6 vs, l/15. A segunda somente por Mt. 15 32/39 e Mc. 8 1/10.

As diferenças entre as duas são pequenas, pois em ambas Jesus:

aproveitou o de que dispunham (alguns pães e peixes) ;
mandou que o povo se assentasse em grupos (ordenou a multidão);
orou (tomando os pães e peixes, ergueu os olhos aos céus e os abençoou);
depois fez a repartição entre os discípulos e estes para o povo;
todos comeram à vontade (milhares de homens, além das mulheres e crianças) ;
e ainda sobraram muitos cestos com pedaços de pão e de peixe, que Jesus mandou recolher para nada se perder.
Como explicar esse fenômeno?
Kardec entende que não houve o fenômeno materialmente ("A Gênese", cap. XV, item 48). A passagem seria simbólica, representando que Jesus "alimentou" espiritualmente a multidão que, magnetizada por sua presença e atenta à sua palavra, nem sentiu a falta de alimento físico. Assim queria Jesus que os discípulos também "alimentassem" o povo, quando lhes disse:

"Não é preciso que se retirem; dai-lhes vós de comer".

Também se pode pensar que, além dos poucos pães e peixes trazidos pelos discípulos, outras pessoas tivessem mais alimentos consigo e, ante o exemplo de doação generosa, acabaram por entregá-los também para a repartição entre todos. Aí, deu e sobrou.

Entretanto, não seria impossível um fenômeno de efeitos físicos, materializando substâncias. Em "O Livro dos Médiuns" (cap. VIII, Do Laboratório do Mundo Invisível), vemos que os espíritos podem não só reproduzir aparência de alimentos mas fazer que essas substâncias materializadas dêem até "a impressão de saciedade", quando ingeridas.

Mas para que teria Jesus realizado um fenômeno de efeitos físicos assim, multiplicando pães e peixes? Talvez com o objetivo de ensinar que precisamos pensar no próximo, no que ele necessita, e ajudar a atender essa necessidade; fazer isso orientando e ordenando o povo, doando o que nos for possível, buscando também o auxílio espiritual (orou antes de multiplicar) e não desperdiçando recursos (mandou recolher o que sobrasse).

Qual foi a repercussão?
Foi grande. A multidão, depois, queria proclamar rei a Jesus.

Mas ele não aceitou. E advertiu a todos: "Trabalhai não pela comida que perece mas pela que permanece para a vida eterna", ou seja, que procurassem assimilar sua mensagem, seus ensinos e exemplos.

Ressurreições
No Velho e no Novo Testamentos, há relatos de ressurreições, isto é, de pessoas que estavam mortas e voltaram a viver.

Como aceitar tais relatos se, à luz da Ciência, fatos assim são impossíveis e também não mais os vemos ocorrer nos dias de hoje?

O que a Ciência constata são casos em que as pessoas sofreram:

morte clínica: com parada cardíaca, perda da respiração, da consciência e dos movimentos; ' - letargia (do latim, letargia): perda momentânea da sensibilidade e do movimento, dando ao corpo aparência de morte real;
catalepsia (do grego, katálepsis): perda momentânea, algumas vezes espontânea, da sensibilidade e do movimento em determinada parte do corpo.
São, os três, estados patológicos ou anômalos. Geralmente a pessoa pode se recuperar deles, em minutos ou dias, havendo as condições e ajuda adequadas.

Explicação espírita de tais estados
Havendo desligamento parcial do perispírito, o espírito deixa de tomar contato, temporariamente, com determinada região do corpo ou no seu todo, porque lhe falta o elemento de ligação com ele.

O desligamento perispiritual pode se dar por causas orgânicas ou espirituais (inclusive por influência de outrem). Mas enquanto os laços fluídicos não se desataram totalmente e o corpo ainda tem vitalidade, sem lesão irreversível nos órgãos, será possível fazer a pessoa retomar ao normal:

restaurando as condições do funcionamento orgânico;
auxiliando fluidicamente (magnetismo humano ou espiritual) ;
estimulando o espírito à ação sobre o corpo;
afastando o espírito perturbador (se houver).
Mas, ao tempo de Jesus, se uma pessoa caísse em estado letárgico não haveria no local um médico que a examinasse e soubesse reconhecer que ela estava viva. (Quase não havia "doutores" na Palestina, naquela época, e muitos dos que assim se consideravam eram rabinos e, às vezes, curandeiros ; conheciam-se poucos remédios genuínos, se bem que se usassem várias ervas medicinais).

Por isso, as pessoas em estado letárgico acabavam sendo consideradas mortas. E como o sepultamento de cadáveres era feito no próprio dia da morte (às vezes de modo imediato: Atos 5, 1/11), podia não dar tempo de a pessoa se recuperar da letargia.

Após estes esclarecimentos, leiamos e analisemos os 3 casos em que Jesus "ressuscitou" pessoas, que foram:

o filho da viúva de Naim (Lc. 7 vs. l1/17);
a filha de Jairo, chefe da sinagoga de Cafarnaum (Lc. 8 40/42 e 49/56) ;
Lázaro (Jo. l 1, 1/45).
Observações:
No caso da filha de Jairo e de Lázaro, Jesus afirma textualmente que a pessoa não está morta mas dorme. Também ocorreria o mesmo quanto ao filho da viúva de Naim.
Jesus orou antes de "ressuscitar" Lázaro; certamente o fez também nas outras vezes mas, ou não foi em voz alta, ou não ficou relatado.
Os discípulos estavam sempre por perto; mas provavelmente se utilizava Jesus dos fluidos de Pedro, Tiago e João (médiuns de efeitos físicos), pois estes apóstolos foram os únicos que admitiu entrassem com ele para fazer a "ressurreição" da filha de Jairo.
Jesus se encaminhou para o túmulo de Lázaro, que "era uma gruta, a cuja entrada tinham posto uma pedra". Esclarece bem o evangelista João, pois o sepultamento, entre os judeus, não era feito sob a terra (como o fazemos atualmente) mas nas rochas, em cavernas naturais ou artificiais, fechando-se a entrada por meio de pedras, para proteger de eventual ataque de animais. Preferiam sepultar em lugares distanciados das habitações, fora dos muros da c idade.
Portanto, apesar de sepultado logo após a sua "morte", Lázaro não estava sob a terra mas numa gruta, com oxigenação suficiente para sobreviver ao estado letárgico em que caíra.
"Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias", disse Marta, irmã de Lázaro, quando Jesus mandou removessem a pedra da entrada do sepulcro. Era o que Marta pensava mas não a realidade, pois Lázaro não morrera, e seu corpo, em estado letárgico, não estava em decomposição.
Nos três casos, Jesus falou diretamente à pessoa para que se levantasse. Em espírito, podiam ouvi-lo e agir sobre o corpo, após haverem recebido a ajuda fluídica de Jesus. No caso da menina, Lucas diz expressamente: "voltou-lhe o espírito" (quer dizer que estava afastado) e então "ela imediatamente se levantou".
(Vide "O Livro dos Espíritos", 2a parte, cap. VIII, pergs. 422/424 e "A Gênese", cap. XV, itens 37 a 40.) Por mais admirável que a "ressurreição" física nos pareça, ela é de efeito temporário, pois um dia o "ressuscitado" terá de desencarnar mesmo.

Que haverá "ressurreição" espiritual para todos nós, além da morte do corpo, é verdade, pois continuaremos a viver em espírito. Porém, em que estado despertaremos nesse além? Felizes ou infelizes, conforme nossos pensamentos, sentimentos e ações.

Que mais nos importa, então? É a "ressurreição" moral, o despertamento nosso em espírito, para sairmos da "morte espiritual" (erro, inércia, vício, usura, etc.) na direção da vivência correta e plena de nossas potencialidades espirituais.