segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O BATISMO DE JESUS E OS CRISTÃOS CANIBAIS


Segundo os doutores da Igreja Católica, SACRAMENTO é um sinal sagrado instituído por Jesus Cristo para distribuição da salvação divina àquele que, recebendo-o, faz uma pro-fissão de fé.
Os sacramentos são sete: Batismo, Eucaristia, Crisma, Penitência, Ordem, Matrimônio e Extrema-Unção.
Desde pequeno me chama atenção os dois primeiros, Batismo e Eucaristia, e sempre desejei explicações a respeito, mas... ainda não consegui. Vejamos, pois, de início a Eucaristia, que segundo a crença:
“Jesus Cristo se acha presente, sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade”.
Isto é um ritual e a Igreja Católica tem sua forma especial e considera-o sagrado. Ao passo que os rituais das outras religiões ou seitas, para esta igreja, não passam de supersti-ções. Por exemplo, entre os antigos, há a representação do pênis, adorado como símbolo da fecundidade da natureza. Não há negar, o Phallus é um símbolo sexual. Gradualmente foi esquecido este aspecto, tomando a forma de símbolo do Criador. E do mesmo modo, não é outro o sacramento de comunhão dos católicos. Segundo os crentes, este sacramento é “a matança de um homem, de quem se come a carne e toma o sangue, a fim de obterem-se as boas qualidades desse homem”. Isso era praticado pelos índios sel-vagens antropófagos. É isto é o que fazem tribos selvagens se um homem é valente, matam-no e comem a sua carne, pois pensam que assim obterão as qualidades que aquele homem possuía.
Não vejo diferença alguma desse ritual indígena para o ritual religioso católico da Eucaristia. Há diferença apenas no emprego de termos. Enquanto chamamos de canibalismo ao ato dos índios; chama-se Eucaristia ao ato dos católicos. E assim vemos os cristãos católicos comerem “Jesus Cristo” nas missas, o corpo assado em forma de Hóstia sagrada e o sangue em forma de vinho. Afinal de contas, estamos no iní-cio do século XXI, a aurora do terceiro milênio já despontou e ainda estão a comer a carne e a beber o sangue de Jesus, a quem dizem que amam... Que forma mais estranhar de de-monstrarem o seu amor! Ainda não consegui encontrar a di-ferença entre os adoradores do Phallus, do ritual do selvagem e do ritual do banquete do corpo de Jesus.
Minha segunda curiosidade é o Batismo.
Coisa interessante, por que não me perguntaram se eu queria ser batizado? Por que não nos deixam batizar quando nos tornamos adultos?
Ora, aí ocorreria um fato bastante desagradável. Os filhos começariam a interrogar as mães inicialmente e como estas não saberiam mesmo explicar se o batismo tem ou não vali-dade não responderia. As mães passariam então a pergunta para o padre. E está aí uma coisa que padre não gosta: perguntas sobre os dogmas da Igreja. Porque aí os padres se atrapalham e só encontram uma saída:
“ – Minha filha! Isso é coisa divina e não cabe-nos duvidar de tais verdades sagradas”.
E com palavras como: sagrado, divino e milagre, levam tudo para o campo do sobrenatural, e assim, respondem aos inoportunos...
Aí entra a psicologia dos padres: o batizado tem que ser realizado enquanto a criança ainda é bebê, pois do contrário, torna-se pagã. E uma pessoa pagã, nem tem desculpas nem perdão, vai direto para o inferno. Esta beleza de doutrina so-bre o batismo foi fundamental para o terror criado entre aque-les que estão sob o jugo do poderoso Império Vaticano ou Evangélico.
Mas, qual o valor do batismo para a criança que nem sabe que está sendo batizada?
É sabido que o culto exterior impera nas consciências humanas. E assim vemos a Circuncisão, prática que consistia numa operação cruenta, criada por Moisés (Levítico, 12: 3), muito embora desde Abraão já a praticassem (Gênesis, 17: 10-14). Moisés visava à necessidade higiênica. João Batista tratou logo de pôr fim à circuncisão (Lucas, 2: 21-24), uma vez que esta prática não era mais necessária e havia degenerado em cerimônia religiosa, sob a ação dos sacerdotes judeus.
Conforme se vê em Lucas (2: 21-24), José era obediente à Lei, só por este motivo levou Jesus para ser circundado. Acrescenta, no entanto, o pe. Matos Soares em sua tradução da Bíblia, que “A Circuncisão, que em relação aos hebreus representava o nosso (católico) batismo quanto à incorporação ao povo eleito, Jesus não a recebeu por necessidade ou obrigação, mas para tornar-se igual aos irmãos e também para redimir os que se achavam sob a Lei”.
Mas, se “Jesus morreu para nos salvar”, conforme os cristãos, consequentemente, o sacrifício de Jesus resgatou os homens do pecado. Por que então, ainda batizam os homens?
E João, que recebeu Batista por apelido, tentando substituir a circuncisão como cerimônia religiosa, adotou a imersão dos catecúmenos no rio Jordão. Interessante é que os padres da Igreja, em vez de discutirem o valor do batismo, passaram a debater se era imersão ou por salpicos na cuca do indivíduo.
As substâncias salinas, oleosas e vestes especiais utilizadas na cerimônia do batismo atualmente, foram criadas por João Batista? E sendo o batismo feito no corpo, por qual mi-lagre transubstancia-se para purificar a alma? O sal, o óleo, o trigo e água, podem exercer influência sobre a alma?
Em Mateus (3: 11):”Eu, na verdade, vos batizo com água para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de lavar-lhe! Ele vos batizará com o Espírito e com fogo”. João Batista batiza com água, para o arrependimento; Jesus batiza com o Espírito e com fogo. Qual a religião que emprega este batismo? O batismo do fogo, não será a destruição dos dogmas e cultos exteriores, que se tornaram árvores infrutíferas e à raiz das quais está posto o machado? (Mateus, 3: 10). O batismo de fogo não representará o calor da lógica, do raciocínio, dos fatos em face da crença? Pelo que se depreende da “Boa Nova”, o batismo do Espírito arrebata as almas para o Céu; e o batismo do fogo pulveriza e destrói tudo o que é da Terra.
Que estranha contradição existente no batismo dos cristãos, conforme Cairbar Schutel:
Os homens Batizam com ÁGUA;
Enquanto, Jesus, com FOGO;
As religiões na CARNE;
E Jesus, no ESPÍRITO...
De nada valeu Paulo haver concluído: “E, assim, cada um de nós dará contas a Deus de si mesmo”. (Romanos, 14: 12).
Quanto á questão, por que Jesus foi batizado? É outro relato.
____________________
Referências:
Schutel, Cairbar. “O Batismo”, 4ª ed. O Clarim, Matão-SP, S/d,pág. 15.
Vivekananda, Swami. “Estudo da Religião”, ed. O Pensamento,S. Paulo, 1931. pp. 88-89. (tradução de Francisco Valdomiro Lorenz).

Eucaristia: Jesus a instituiu?



Para justificar a eucaristia pegam o momento em que Jesus, ceando com os seus apóstolos, distribui o pão e o vinho. Fato acontecido, segundo alguns, na sexta-feira anterior à  da sua crucificação.
Vamos iniciar nossa análise comparando as passagens bíblicas que narram a ocasião considerada como sendo a instituição da eucaristia para, com isso, termos uma visão do assunto.

Mt 26,26-29: Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, o partiu, distribuiu aos discípulos, e disse: "Tomem e comam, isto é o meu corpo." Em seguida, tomou um cálice, agradeceu, e deu a eles dizendo: "Bebam dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados. Eu lhes digo: de hoje em diante não beberei desse fruto da videira, até o dia em que, com vocês, beberei o vinho novo no reino do meu Pai."
Mc 14,22-25: Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, o partiu, distribuiu a eles, e disse: "Tomem, isto é o meu corpo." Em seguida, tomou um cálice, agradeceu e deu a eles. E todos eles beberam. E Jesus lhes disse: "Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. Eu garanto a vocês: nunca mais beberei do fruto da videira, até o dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus."
Lc 22,14-20: Quando chegou a hora, Jesus se pôs à mesa com os apóstolos. E disse:"Desejei muito comer com vocês esta ceia pascal, antes de sofrer. Pois eu lhes digo: nunca mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus." Então Jesus pegou o cálice, agradeceu a Deus, e disse: "Tomem isto, e repartam entre vocês; pois eu lhes digo que nunca mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus." A seguir, Jesus tomou um pão, agradeceu a Deus, o partiu e distribuiu a eles, dizendo: "Isto é o meu corpo, que é dado por vocês.Façam isto em memória de mim." Depois da ceia, Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança do meu sangue, que é derramado por vocês”
   

Fato curioso é que João não fala absolutamente nada sobre essa distribuição de pão e vinho, considerando que ele também se encontrava presente no evento; inclusive, se foi ele o discípulo a quem Jesus amava, certamente, estaria a seu lado, pois é ele quem descreve com maior número de pormenores tal acontecimento.
Se compararmos Mateus e Marcos, cujas narrativas são bem semelhantes, veremos que, no primeiro, consta um acréscimo da expressão “para remissão dos pecados”, o que poderá ser muito bem uma interpolação para justificar a ideia do sangue com poder para remir os pecados, embora Jesus tenha dito “a cada um segundo as suas obras” (Mt 16,27). Interessante é que nenhum dos dois evangelistas falou em “façam isto em memória de mim”, expressão essa só escrita em Lucas. Aí é a questão de se perguntar: qual deles falou a verdade? Logo, devemos entender o ato de comer e beber constante dessa passagem como
uma metáfora, sob pena de se estar aceitando a pregação de canibalismo. Se na eucaristia está presente o corpo e o sangue de Jesus, não há alternativa a não ser entender tal prática como um ato, mesmo que simbólico, de canibalismo; não é mesmo?
Mas o que devemos fazer, isto sim, é sair do nosso egoísmo para distribuir com os necessitados o pão nosso de cada dia. Entre fazer isso e comer o corpo e beber do sangue de Cristo, qual dos dois entendimentos está seguindo a orientação de “amar ao próximo como a si mesmo”?
Por outro lado, é necessário decidir qual das três situações devemos aceitar, no que se refere à nossa salvação, já que, simultaneamente, pregam estas três hipóteses...:
a) que basta somente receber o perdão de Deus;
b) que já fomos perdoados pelo derramamento do sangue de Jesus; ou
c) que seremos salvos pela simples condição de crer e de ser batizado (Mc 16,16).
Vejamos o que Geza Vermes nos mostra, analisando essas palavras ditas por Jesus durante a ceia:

Quatro relatos da Última Ceia sobreviveram no Novo Testamento. Eles
concordam entre si sobre vários pontos essenciais, mas também ostentam
variações substanciais. Também é notável que o Evangelho de João não
contenha qualquer relato da ceia de Páscoa compartilhada por Jesus e seus
discípulos. Isto se deve sem dúvida ao fato de a prisão e crucificação de Jesus
terem acontecido, segundo o Quarto Evangelho, um dia antes da festa, não
podendo consequentemente ser questão de qualquer participação de Jesus
numa ceia real de Páscoa. João especifica que os dignitários que entregaram
Jesus a Pilatos recusaram-se a entrar em seu palácio, no pretório, a fim de
permanecerem ritualmente puros “e poder comer a Páscoa” (ver João 18,28).
Há um consenso geral entre intérpretes do Novo Testamento de que a
narrativa da Última Ceia, com a sua exiguidade de detalhes concretos,
foi escrita acima de tudo para registrar o que desde o princípio a igreja
primitiva compreendeu como a instituição de um ritual religioso
significativo, a Eucaristia. Queira ou não, essa visão eclesial afeta
retrospectivamente o significado das palavras que presumidamente teriam vindo
dos lábios de Jesus. (VERMES, 2006, p. 344-345). (grifo nosso).



Na passagem de Mateus, em nota de rodapé, os tradutores da Bíblia de Jerusalém nos explicam: “Estamos no meio da ceia pascal. É em gestos precisos e solenes do ritual judaico (ações de graças a Iahweh pronunciadas sobre o pão e sobre o vinho) que Jesus enxerta os ritos sacramentais do novo culto que instaura” (p. 1751). Apenas uma perguntinha: ou enxertaram usando o nome de Jesus? Além do mais, isso se deu no primeiro dia dos pães ázimos (Mt 26,17); portanto, é mesmo um ritual judaico realizado durante a celebração da Páscoa. Essa ceia, com a distribuição de pão e vinho, fazia mesmo parte dos rituais judeus,
conforme explica Renan (1823-1892):

[...] Naquela refeição, assim como em muitas outras(48). Jesus praticou
seu rito misterioso da divisão do pão. Como se acreditou, desde os primeiros
anos da Igreja, que a refeição em questão tivesse acontecido no dia de Páscoa e
tivesse sido o banquete pascal, naturalmente veio a ideia de que a instituição
eucarística se fizera naquele momento supremo. Partindo da hipótese de que
Jesus sabia antecipadamente com precisão quando morreria, os discípulos
deveriam ter sido levados a supor que ele reservara para aquelas últimas horas
uma enorme quantidade de atos importantes. Como, aliás, uma das ideias
fundamentais dos primeiros cristãos era a de que a morte de Jesus fora um
sacrifício, substituindo todos os da antiga Lei, a Ceia tornou-se o sacrifício por
excelência, o ato constitutivo da nova aliança, o sinal do sangue derramado para
a salvação de todos (49). O pão e o vinho, relacionados à própria morte, foram,
dessa forma, a imagem do Novo Testamento, que Jesus selara com seus
sofrimentos, a comemoração do sacrifício do Cristo até a sua vinda(50).
Muito cedo esse mistério se fixou num pequeno relato sacramental, que
possuímos em quatro versões(51) muito parecidas entre si. O quarto
evangelista, tão preocupado com ideias eucarísticas(52), que descreve a
última ceia com tanta prolixidade, que liga a ela tantas circunstâncias e
discursos(53), não conhece esse relato. Isso prova que não considerava
a instituição da Eucaristia como uma particularidade da Ceia. Para o
quarto evangelista, o rito da Ceia é a lavagem dos pés.
______
(48) Luc., XXIV, 30-31, 35, representa a divisão do pão como um hábito de Jesus.
(49) Luc., XXII, 20.
(50) I Cor., XI, 26.
(51) Mat. XXVI, 26-28; Marc., XI, 22-24; Luc., XXII,19-21; I Cor., XI, 23-25.
(52) Cap. VI.
(53) Cap. XIII-XVII.
(RENAN, 2004, p. 360-361) (Grifo nosso).

Seria interessante que aqui fôssemos ver essa passagem bíblica citada por Renan, a primeira da lista acima, na qual ele diz ser, a divisão do pão, um hábito de Jesus, que, para um melhor entendimento, iremos começá-la num versículo anterior ao citado; então, leiamo-a:

Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais
adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: "Fica conosco, pois já é tarde e a
noite vem chegando." Então Jesus entrou para ficar com eles. Sentou-se à mesa com
os dois, tomou o pão e abençoou, depois o partiu e deu a eles. Nisso os olhos dos
discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente
deles. Então um disse ao outro: "Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos
falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?" Na mesma hora, eles se
levantaram e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze, reunidos com os
outros. E estes confirmaram: "Realmente, o Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão!"
Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham
reconhecido Jesus quando ele partiu o pão. (Lc 24, 28-35)
.
Jesus, depois de ressuscitado, foi reconhecido pelos dois discípulos, que estavam se dirigindo a Emaús, exatamente pelo ato de partir o pão. Dessa forma, a conclusão de Renan é absolutamente correta, não sendo, portanto, o ritual de partir o pão e beber vinho a instituição da eucaristia, rito sacramental praticado em determinadas correntes religiosas.
Estranhamos que tal fato ainda venha a acontecer, pois a nós, da forma que é praticado, mais parece, voltamos a dizer, um ritual de canibalismo do que qualquer outra coisa. Povos primitivos acreditavam que, ao se comer o corpo de um guerreiro que haviam matado, a sua força e coragem, muito valorizadas por esses povos, passariam àquele que fizesse do guerreiro vencido o seu “prato do dia”.
Qual será a razão para se justificar que os fiéis ainda “comam do corpo e bebam do sangue” de Jesus, que creem presentes na hóstia, após ser consagrada pelo sacerdote? Para nós é algo sem sentido, principalmente considerando que Jesus disse “não é o que entra pela boca que torna o homem impuro,...” (Mt 15,11); da mesma forma podemos entender que o que entra pela boca não torna o homem puro. Consequentemente podemos concluir que,mesmo que se coma algo sagrado (hóstia), ninguém se tornará um ser purificado por isso.
Pesquisando outras fontes sobre o assunto, encontramos o autor Bart D. Ehrman, considerado a maior autoridade sobre o Novo Testamento do mundo, dizendo:
 
[...] Em um de nossos mais antigos manuscritos gregos, assim como em
vários testemunhos latinos, temos:
E tomando o cálice, dando graças, ele disse: “Tomai-o, reparti-o entre
vós, pois eu vos digo que não beberei do fruto da vinha a partir de agora,
até que venha o reino de Deus”. E tomando o pão, dando graças, ele o
partiu e o deu a eles, dizendo: “Isto é o meu corpo... Mas vede que a mão
daquele que me trai está comigo nesta mesa” (Lucas 22,17-19).
Contudo, na maioria de nossos manuscritos, há um acréscimo ao texto,
que soará familiar a muitos leitores da Bíblia, visto que se assentou nas
traduções modernas. Ali, depois que Jesus diz: “Isto é meu corpo”, ele
continua dizendo as palavras: “'Que foi dado por vós; fazei isto em memória de
mim', e fez o mesmo com o cálice após a refeição, dizendo: 'Este cálice é a nova
aliança em meu sangue derramado por vós'”.
Estas são as palavras, muito familiares, da “instituição” da Ceia do
Senhor, registradas também sob uma forma muito similar na primeira carta de
Paulo aos Coríntios (1 Coríntios 11,23-25). A despeito do fato de serem tão
familiares, há boas razões para pensar que esses versículos não
estavam no original do Evangelho de Lucas, mas que foram
acrescentados para ressaltar que foram o corpo partido e o sangue
derramado de Jesus que trouxeram a salvação “para vós”. [...]
Além do mais, não se pode deixar de notar que os versículos, por mais
familiares que sejam, não representam a própria compreensão que
Lucas demonstra ter da morte de Jesus. É uma característica
surpreendentemente do retrato que Lucas faz da morte de Jesus – por mais
estranho que isso seja à primeira vista – que ele nunca, em nenhuma outra  passagem, indica que a morte em si seja o que traz a salvação do
pecado. Em nenhum outro lugar de toda a obra em dois volumes de Lucas
(Lucas e Atos dos Apóstolos), se diz que a morte de Jesus foi “por vós”. De fato,
nas duas ocasiões em que a fonte de Lucas (Marcos) indica que foi por meio da
morte de Jesus que veio a salvação (Marcos 10,45; 15,39), Lucas mudou a
disposição do texto (ou o eliminou). Em outros termos, Lucas tem uma
compreensão diferente da forma com que a morte de Jesus conduz à salvação,
diferente da de Marcos (da de Paulo e da de outros escritores cristãos antigos).
(EHRMAN, 2006, p. 175-176). (grifo nosso).

Assim, dentro da visão desse renomado autor, um dos textos a que se apegam para justificar a eucaristia não é outra coisa senão uma adulteração dos originais bíblicos. E, pelo visto, ele não está sozinho em sua tese. Vejamos uma outra opinião:

Jesus seguia a ordem essênia em suas refeições de festa e, em especial,na última ceia, ou seguia a ordem não-sectária: vinho e pão? Segundo Mateus e Marcos, Jesus primeiro abençoava o cálice e depois o pão, mas a situação em
Lucas é diferente. “Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta
páscoa, antes de meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até
que ela se cumpra no reino de Deus. E, tomando um cálice, havendo dado
graças, disse: Recebei e reparti entre vós; pois vos digo que de agora em diante
não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus. E,
tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é meu
corpo” (Lc 22:14-19). Aí termina o texto de Lucas, de acordo com o famoso
Codex Bezae, a antiga tradução latina, e dois antigos manuscritos siríacos.
Todos os leitores atentos reconhecerão com facilidade que o que se segue em
Lucas nos outros testemunhos é tirado de 1 Cor 11:23-26, de modo que temos
aqui a estranha situação de que no texto aceito aparecem dois cálices, um no
começo e o outro no final. Tanto a Versão Padrão Revista como a Nova Bíblia
Inglesa adotaram o ponto de vista correto, de que Lc 22:19b-20 não fazia
parte do texto original de Lucas. Depois que Jesus disse do pão partido ‘Isto
é meu corpo” fazendo alusão a sua iminente morte violenta, ele continuou e
tornou-se mais explícito, dizendo: “Todavia a mão do traidor está comigo à
mesa” (Lc 22:21). (FLUSSER, 2000, p. 227) (grifo nosso)
.
Confirma-se, portanto, que o texto de Lucas (Lc 22,19b-20) foi um acréscimo posterior. Em James D. Tabor, em A dinastia de Jesus: a história secreta das origens do cristianismo, vamos encontrar outras explicações que são bem interessantes de se ver:

Ironicamente, os mais antigos relatos da última refeição na quarta-feira à
noite vêm de Paulo, e não de qualquer dos evangelhos. Em uma carta a seus
seguidores na cidade grega de Corinto, escrita por volta de 54 d.C., Paulo
passa adiante a tradição que dizia ter "recebido" de Jesus: "Jesus, na
noite em que foi traído, tomou um pão, e tendo dado graças, partiu-o e disse:
'Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isso em memória de mim: Do mesmo
modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: 'Este cálice é a nova Aliança no
meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim'” (1
Coríntios 11:23-25).
Essas palavras, tão familiares aos cristãos como parte da
Eucaristia da Missa, são repetidas com ligeiras variantes em Marcos,
Mateus e Lucas. Representam a síntese da fé cristã, o pilar do evangelho
cristão: a humanidade está salva dos pecados pelo sacrifício do corpo e do
sangue de Jesus. Qual é a probabilidade histórica de que essa tradição
baseada naquilo que Paulo disse ter "recebido" de Jesus represente o
que Jesus disse durante a última ceia? Tão surpreendente quanto possa
parecer, existem alguns problemas autênticos a considerar.
Em cada refeição judaica, o pão é partido, o vinho partilhado, e a
bênção dada - mas a ideia de comermos carne humana e bebermos
sangue, mesmo que simbolicamente, é de todo alheia ao judaísmo. A
Torá proíbe especificamente a ingestão de sangue, não só para os
israelitas, mas para todos. A Noé e a seus descendentes, como
representantes de toda a humanidade, já tinha sido proibido "ingerir sangue"
(Gênesis 9:4). Moisés tinha prevenido, "se qualquer homem da Casa de Israel
ou gentio, residente no meio deles, ingerir qualquer espécie de sangue, eu me
voltarei contra esse que ingere sangue e eliminá-lo-ei de seu povo" (Levítico
17:10). Em outra ocasião, Tiago, o irmão de Jesus, refere-se a isto como uma
"exigência”, para que os não judeus pudessem juntar-se à comunidade nazarena
- não ingerirão sangue (Atos 15:20). Essas restrições dizem respeito ao sangue
de animais. Ingerir carne e sangue humanos não era proibido, era
simplesmente inconcebível. Essa sensibilidade generalizada em relação à
mera ideia de "beber sangue" mostra a improbabilidade de Jesus ter usado tais
símbolos.
Como dissemos, a comunidade essênica, em Qumrã, descreveu, em um
de seus manuscritos, um futuro "banquete messiânico", no qual o Messias
Sacerdotal e o Messias da linhagem de Davi sentar-se-iam com os membros da
comunidade crente e abençoariam a sagrada refeição de pão e vinho como a
celebração do Reino de Deus. Teriam certamente ficado espantados com
qualquer simbolismo sugestivo de que o pão fosse a carne humana, e o vinho, o
sangue.(10) Tal ideia simplesmente não poderia ter partido de Jesus
como judeu.
Portanto, qual a origem dessa linguagem? Se aparece primeiramente com
Paulo, e ele não a recebeu de Jesus, então qual seria sua fonte? As maiores
semelhanças encontram-se em alguns ritos mágicos greco-romanos.
Existe um papiro grego que registra um encantamento amoroso, no qual um
macho pronuncia certos feitiços sobre um cálice de vinho, que representa o
sangue que o deus egípcio Osíris tinha dado à sua consorte Ísis para que ela o
amasse. Quando sua amante bebe o vinho, ela simbolicamente se une a seu
amado pelo seu sangue.(11) Em outro texto, o vinho é transformado na carne
de Osíris.(12) Simbolicamente, comer a "carne" e beber o "vinho" era
parte de um rito mágico de união na cultura greco-romana.
Devemos considerar que Paulo cresceu imbuído da cultura grecoromana,
na cidade de Tarso, na Ásia Menor, fora da terra de Israel. Ele nunca
conheceu ou falou com Jesus. A relação que ele pretendeu com Jesus é
"visionária”, e não com um Jesus de carne e osso, caminhando na terra.
Quando os Doze se reuniram para substituir Judas, depois da morte de
Jesus, colocaram como condição para fazer parte do grupo ter estado com Jesus
desde o tempo de João Batista até a crucificação (Atos 1:21-22). Ter visões e
ouvir vozes não eram qualificações suficientes para um apóstolo.
Em segundo lugar, e de forma ainda mais reveladora, o evangelho de
João narra os acontecimentos daquela última refeição na noite de
quarta-feira, mas nunca se refere às palavras de Jesus instituindo essa
nova cerimônia da Eucaristia. Se Jesus, na realidade, iniciou a prática de
comer o pão como sendo seu corpo, e beber o vinho como sendo seu sangue na
sua "última ceia" como poderia João tê-la omitido? O que João escreve, segundo
todas as indicações, é que Jesus sentou-se para participar de uma refeição
judaica comum. Após a ceia, ele se levantou, pegou uma bacia de água e um
pano, e começou a lavar os pés de seus discípulos, mostrando como o professor
e mestre deveria agir como criado - mesmo para seus discípulos. Jesus
começou, então, a descrever como iria ser traído, e João nos diz que Judas
abruptamente abandonou a ceia.
O evangelho de Marcos está muito próximo, em suas ideias
teológicas, àquele de Paulo. Parece possível que, em sua descrição da última
ceia, feita uma década depois da de Paulo, Marcos tenha inserido o
tradicional "coma o meu corpo" e "beba o meu sangue" em seu
evangelho, influenciado pelo que Paulo afirma ter recebido. Tanto Mateus
como Lucas baseiam inteiramente suas narrativas em Marcos, e Lucas é
também um convicto defensor de Paulo. Tudo parece levar a Paulo. Como
veremos, não há qualquer prova de que os primeiros seguidores judeus
de Jesus, conduzidos ao quartel-general em Jerusalém por Tiago, o
irmão de Jesus, tenham alguma vez praticado qualquer rito dessa
natureza. Como todos os judeus, eles santificavam o vinho e o pão como parte
de uma refeição sagrada, e provavelmente tinham presente a noite em que ele
havia sido traído, lembrando-se da última refeição com Jesus.
Na realidade, para resolver essa questão, precisamos de uma fonte
independente, cristã, que não tenha sido influenciada por Paulo, que possa
esclarecer a prática original dos seguidores de Jesus. Felizmente, em 1873, esse
texto foi encontrado em uma biblioteca em Constantinopla. É intitulado Didache,e data do início do século II d.C.(13) Fora mencionado pelos primeiros autores da igreja, mas desaparecera até ser descoberto acidentalmente por um
sacerdote grego, o Padre Bryennios, em um arquivo de manuscritos antigos.
Didache significa "Ensinamentos”, em grego, e seu título completo é "Os
Ensinamentos dos Doze Apóstolos”. Trata-se de um antigo "manual de
instruções", provavelmente escrito para ser utilizado por aspirantes ao batismo
cristão. Contém muitas instruções e exortações éticas, mas também capítulos
sobre o batismo e a Eucaristia - a sagrada refeição do pão e vinho. É aí que
entra a surpresa. Ele oferece as seguintes bênçãos para o pão e o vinho:
No que se refere à Eucaristia, darás graças da seguinte forma.
Em primeiro lugar, quanto ao cálice: "Damos-vos graças, Pai nosso,
pela santa vinha de Davi, vosso filho, que nos destes a conhecer através
de Jesus, vosso filho. Para vós a glória eterna". E quanto ao pão: Damos vos
graças, Pai nosso, pela vida e sabedoria que nos comunicastes através
de Jesus, vosso filho. Para vós, glória eterna.(14)
Notem que não há menção ao vinho, representando o sangue, ou
ao pão, representando a carne. E, no entanto, é um registro da primeira
refeição da Eucaristia cristã! Este texto nos faz lembrar muito das descrições da
sagrada refeição messiânica nos Manuscritos do Mar Morto. O que temos aqui é
a celebração messiânica de Jesus como o Messias da linhagem de Davi, e a vida
e a sabedoria que ele trouxe à comunidade. Evidentemente, essa comunidade
de seguidores de Jesus nada sabia da cerimônia proposta por Paulo. Se a prática
de Paulo viera realmente de Jesus, seguramente esse texto tê-la-ia incluído.
Existe mais um ponto importante a esse respeito. Na tradição judaica, é o
cálice de vinho que, primeiramente, é abençoado, depois o pão. Essa é a ordem
que encontramos na Didache. Mas no relato de Paulo da "Ceia do Senhor", Jesus
abençoa primeiro o pão, depois o cálice de vinho - justamente o oposto. Pode
parecer um detalhe insignificante até examinarmos o relato de Lucas sobre as
palavras de Jesus, durante a refeição. Embora ele siga basicamente a tradição
de Paulo, ao contrário deste, Lucas fala primeiro no cálice de vinho, depois no
pão e, em seguida, em outro cálice de vinho! O pão e o segundo cálice de vinho
ele interpreta como o "corpo" e o "sangue" de Jesus. Mas quanto ao primeiro
cálice - na ordem que se esperaria da tradição judaica - nada é dito que
represente "sangue". Ao contrário, Jesus diz, "Eu vos digo, doravante não
beberei da fruta da videira até a chegada do Reino de Deus" (Lucas 22:18). Essa
tradição do primeiro cálice, só encontrada em Lucas, é uma pista do que deveria
ter sido a tradição original antes de a versão Paulina ter sido inserida, agora
confirmada pela Didache.
Vista sob essa luz, essa última refeição tem sentido histórico. Jesus disse
a seus seguidores mais próximos, reunidos secretamente na Sala do Andar
Superior, que ele não partilharia com eles outra refeição até a chegada do Reino
de Deus. Ele sabe que Judas iniciará, naquela noite, os procedimentos que
culminarão com sua prisão. Suas esperança e prece são de que, da próxima vez
em que estiverem sentados juntos para comer, dando a tradicional bênção
judaica do vinho e do pão - o Reino de Deus já tenha chegado.
Uma vez que Jesus se reuniu só com seu Conselho dos Doze, nessa última
refeição privada, Tiago e os três outros irmãos de Jesus teriam estado
presentes. Isso foi confirmado em um texto perdido chamado Evangelho dos
Hebreus, que era usado por judeus-cristãos que rejeitavam os ensinamentos e a
autoridade de Paulo. Sobrevive apenas em algumas citações, preservadas por
autores cristãos, como Jerônimo. Uma das passagens nos diz que Tiago, o irmão
de Jesus, depois de ter bebido do cálice que Jesus fizera circular, afiançou que
também ele não comeria ou beberia até ver o Reino chegar." Portanto, temos
aqui a prova textual de uma tradição que recorda a presença de Tiago na última
refeição.
______
(10) Manuscritos do Mar Morto, The Messianic Rule (1QSa) 2.11-25.
(11) The Demotic Maginal Papyrus of London and Leiden 15.1-6, em The Greek
Magical Payri in Translation, incluing the Demotic Spells, ed. Hans Dieter Betz
(Chicago: University of Chicago Press, 1968).
(12) Papyri graecae magicae 7.643ff.
(13)Didache é promunciado como did-a-quei.
14) Didache 9:1-3, em Bart Ehrman, trad. The Apostolic Fathers, Loeb Classical
Library 24, vol. 1 (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2003), p. 431.
(TABOR, 2006, p. 215-219). (grifo nosso).

Realmente, a questão de comer carne e beber sangue para um judeu era algo impensável; por isso, Jesus, que nasceu, viveu e morreu como judeu, jamais teria dito isso. É inacreditável que ainda se adotem, nos dias atuais, práticas religiosas tidas “como bíblicas”, quando, na verdade, são, em sua esmagadora maioria, atos pagãos, para usar uma expressão ao gosto dos teólogos. É o caso que estamos analisando, que é corroborado por Kersten e Gruber, que, narrando o culto persa a Mitra, dizem: “O serviço religioso semanal era realizado aos domingos, dia dedicado ao deus. A cerimônia mais importante do culto era uma
ceia que constava de vinho e pão – oferecido na forma de hóstias consagradas que tinham o sinal da cruz”. (KERSTEN e GRUBER, p. 316). (grifo nosso).
Curiosa é a frase a seguir, atribuída a Mitra, que nos coloca diante de um fato, em relação ao qual qualquer semelhança não é mera coincidência: "Aquele que não comer minha carne e não beber meu sangue para ser um comigo, e eu um com ele, aquele não conhecerá a salvação". (FREKE e GANDY, 2002, p. 11 e 52).
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Mai/2006.
(revisado nov/2010).
Referências bibliográficas:
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, São Paulo: Paulus, 1990.
Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002.
EHRMAN, B. D. O que Jesus disse? O que Jesus não disse?: quem mudou a Bíblia e por quê,
São Paulo: Prestígio, 2006.
FLUSSER, D. O Judaísmo e as origens do Cristianismo, vol. 1, Rio de Janeiro: Imago, 2000.
FREKE, T. e GANDY, P. Os mistérios de Jesus – seria o Jesus original um deus pagão? Mem
Martins, Portugal: Europa América, 2002.
KERSTEN, H. e GRUBER, E. R. O Buda Jesus – as fontes budistas do cristianismo, São Paulo:
Best Seller, s/d.
RENAN, E. A vida de Jesus, São Paulo: Martin Claret, 2004.
TABOR, J. D. A dinastia de Jesus: a história secreta das origines do cristianismo. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2006.
VERMES, G. O Autêntico Evangelho de Jesus, Rio de Janeiro: Record, 2006

Mediunidade Através dos Tempos


Dalisio Salati

Os povos adâmicos foram os primeiros a habitantes da terra que despertaram perante a responsabilidade de cada um, tanto moral como espiritual ou material, tanto é que Deus disse-lhes que daquele momento em diante deveriam ganhar o pão de cada dia com o trabalho de seus próprios braços. E Caim, após o fratricídio de Abel também ouviu a voz .que o maldizia pelo crime que havia praticado. Daí seguiram-se os descendentes daquele grande povo, muitos deles recebiam os espíritos, outros ouviam as vozes, outros viam os espíritos, tanto seres inferiores como também superiores. Lot também teve um diálogo muito prolongado com o Anjo de Deus quando recebeu ordem de abandonar, junto com sua mulher, a cidade de Sodoma.

Era tanta a facilidade que os homens e mulheres recebiam os espíritos que, sob aquelas aparições e manifestações aquele povo costumava negociar, fazer previsões sobre o futuro, fazendo jogatinas de todas as espécies e avultadas transações.

Noé, o grande patriarca, também viu e ouviu o anjo do Senhor, que o preveniu que construísse uma casa apropriada para que ele e seus descendentes não fossem atingidos pelo fenômeno pluvial que iria aparecer.

Moisés, o grande legislador hebreu, recebeu do Alto a incumbência de livrar o seu povo da escravidão dos Faraós e com um sinal do seu bastão fez com que as águas do Mar Vermelho se abrissem em dois lados, paralisando o seu curso pelo espaço de tempo necessário para que alguns milhares de israelitas passassem de uma margem para outra, e logo consumada a travessia, com outro sinal as águas se uniram novamente voltando ao seu estado normal como de costume.

Conta-nos a história que a travessia do deserto foi de grande sofrimento, marchando Moisés com o seu povo muitíssimo tempo sem comida e sem água. Estavam todos descontentes e percebendo que uma conspiração estava sendo tramada contra ele chamou os seus protegidos aos pés de uma coliga e com o mesmo bastão que havia ferido as águas, feriu uma rocha de pedra e com a admiração de todos jorrou água pura e cristalina em abundância para todos se refrescarem matando sua sede. Levantou Moisés suas mãos ao Alto pedindo comida e eis que de um momento para outro surgiu uma revoada de filhotes de codornas e outros pássaros, em quantidade tão grande que deu para aquele povo se alimentar e fazer provisões para muito tempo.

Mais adiante, Moisés pede novamente comida e numa bela manhã apareceram os prados circunvizinhos cobertos de espessuras de diversos centímetros de uma massa alimentícia que a recolheram para guardar e alimentarem-se até o final da viagem. Por ser tal massa de um sabor adocicado deram-lhe o nome de Maná e Mel.

Logo acomodado na Terra Prometida os seus protegidos e precisando de melhores esclarecimentos, Moisés subiu ao Monte Sinai onde novamente recebeu outra comunicação do Espírito do Senhor que lhe ditou a Taboa da Lei, que são os Mandamentos de Deus, para serem ministrados ao seu povo, mandamentos estes que perduram até hoje e perdurarão por toda a eternidade.

Profetizaram Jeremias, Isaias, Abrão, Isac, Jacob e Arão, Salomão com toda á sua glória recebeu a voz de justiça que ainda hoje é conhecida como a justiça de Salomão. De sorte que as 60 gerações do povo adâmico até Malaquias quasi todas profetizaram como medianeiras inconscientes não podendo, entretanto, conhecer ainda a lei de tal fenômeno.

Elias, o grande profeta zesbita também era inconsciente da sua responsabilidade, mesmo com acalma com que salvou uma mulher e o filho do desespero. Mais vezes atraiu o fogo queimando os soldados que queriam prendê-lo. Eliseu inconscientemente afirma ter visto Elias sendo arrebatado para o céu em carro de fogo; mas logo também afirma ter visto os corpos dos soldados que há muito tempo foram vencidos e que ali haviam sido sepultados e que ao brado de outra batalha no mesmo lugar, se levantaram, pegando suas armas e combatendo ao lado de outros soldados contra o secular inimigo.,

Mais tarde, todos aqueles que profetizaram, os chamavam de pitões, mesmo a pitoniza de Endor que, à noite, foi procurada pelo Rei Saul, para consultar a Samuel. Foram também inconscientes Confúcio; Buda, Krisma, Maomet, que foram os grandes sacerdotes e reformadores. Recebiam também instruções do Alto, Pitágoras, Platão, Diógenes, Pigmaleão, Plutarco, Aristóteles que eram tidos como sábios.

Mais tarde aparece o Anjo a Zacarias anunciando-lhe o nascimento de João em seguida o mesmo Anjo anuncia a Maria que ela seria a mãe de Jesus.

Enquanto crescia, Jesus aparece no templo de Jerusalém, discutindo com juízes e sacerdotes daquele tempo, dando muito que pensar, de onde viriam as eruditas palavras pronunciadas pelo filho do carpinteiro. Logo adulto, João, com a voz forte como um trovão, pregava no deserto e na beira do rio Jordão para que se aparelhassem o caminho do Senhor e endireitassem s veredas anunciando a vinda do Salvador, ensinando e mergulhando aquele povo as águas do Jordão.

O Rabi havia atingido os 30 anos e 3 com o nome de Jesus Cristo, quando pareceu novamente no cenário mundial e, esta vez, com mais conhecimento e coragem ministrando a todos o cumprimento da Lei de Deus e dando por terminada a era Mosaica, destruindo todas as leis que eram o homem.

Eu irei, disse Ele, restabelecer a Lei Divina e dar cumprimento às Escrituras azando-vos como boa nova a notícia fiel a imortalidade da alma e o convite aos gêmeas de boa vontade para trabalharem a grande Seara do Pai.

Chamou a si os doze homens nos quais por certo, reconheceu a grandeza de ias almas e os elevados predicados de que eram possuidores. Transformou logo água em vinho nas bodas de Canaá; fez a multiplicação dos pães e peixes, curou paralíticos, deu vista a cegos, ressuscitou Lázaro, curou a filha da viúva de Naim, expulsou uma legião de espíritos maus e dizia àqueles que o cercavam, «si vós quiserdes no futuro podereis fazer tudo o que eu faço e ainda mais». Querendo saber Jesus si os apóstolos estavam a altura . da missão que iam receber lhes perguntou: - Quem dizeis vós que eu sou ? Fez-se então um grande silêncio 1 Pedro respondeu: - És filho de Deus ,vivo; responde, então, Jesus: Pedro ! Não foi a carne que te revelou, nem tão pouco a tua inteligência, mas sim meu Pai que está no céu e sobre esta revelação que é firme como a rocha de granito edificarei a minha igreja e tudo o que com esta revelação ligardes na Terra também será ligada no Céu. Tenho muitas coisas a vos dizer mas não sois ainda aptos para compreender : mais tarde, porém, recebereis o Espírito Consolador que vos ensinará toda verdade. É preciso que eu vá para vosso bem, mas logo que eu for açoitado e morto irei primeiramente a meu Pai e voltarei entre vós para dar testemunho de mim.

Crucificado, o Mestre voltou e mostrando-se à Maria e outras mulheres disse

»Ide a Jerusalém, reuni-vos que lá estarei também e meu Pai mandará sobre vós o Espírito Consolador».

Foi justamente no Dia de Pentecoste que houve a grande explosão profética; em conjunto aqueles homens simples falaram todas as línguas em vigor naquela época.

Passaram-se quase dois milênios e a voz do Alto continua suas manifestações em todos os sentidos, os homens que tinham' poder e curavam enfermidades os apelidaram de feiticeiros, outros que falavam com os espíritos, curavam loucuras, os chamavam de bruxos. Enquanto os bruxos e feiticeiros eram perseguidos a santa madre igreja católica romana santificava seus adeptos que lhes reconhecia poderes do Alto. Os grandes escultores, pintores, mestres da Arte como Leonardo da Vinci, Rafael e tantos outros eram chamados «Gênios». Os grandes mestres da música, da poesia, da literatura, eram apelidados como «inspirados». Faltou somente o momento propício para que os homens recebessem a verdade prometida pelo Cristo de Deus.

Justamente provocado pelos Espíritos que eram encorajados para tal trabalho, foi que em 1848, em Hisdesvile, na América do Norte, na casa das irmãs Fox deu‑se o fenômeno de espíritos tão rumoroso que chamou a atenção de todos os sábios daquela época que estavam aparelhados para tal conhecimento. Para lá rumaram centenas de sábios para estudar de perto aqueles fenômenos. Logo reconhecida a verdade dos fatos e cientificaram-se de que tudo aquilo era objeto de meticuloso exame. Denizard Leon Hypolite Rivail foi designado e convidado para estudar os fenômenos Logo recebeu ordem do Espírito da Verdade para que dos quatro evangelhos escritos pelos apóstolos do Mestre ele verificasse o verdadeiro sentido espiritual, compilasse tudo aquilo e ditasse livros científicos e filosóficos a respeito. 0 segundo livro que foi o «Livro dos Médiuns» e que veio nos esclarecer como devíamos chamai, a partir daquela época, todos os profetas, todos os gênios, todos aqueles que foram santificados e todos os pitões, os feiticeiros, os bruxos do passado presente e futuro : Médiuns, que quer dizer intermediários entre dois mundos, receptadores por excelência da vontade dos Espíritos com todos os seus fenômenos com toda sua grandeza, livre de mentiras, de títulos convencionais, que a mediunidade não é privilégio de nenhum povo, de nenhuma religião e que se manifesta em todas as esferas sociais, das mais atrasadas às mais elevadas, e que quando a humanidade conhecer bem a mediunidade, terminará a loucura e o fanatismo e todos viverão debaixo da bandeira dos verdadeiros gênios.

(Revista Internacional de Espiritismo – Dezembro de 1968)

O Libertador


O Libertador

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Antigamente quase todas as pequenas cidades do interior, invariavelmente, tinham um cinema. Pois àquela época era o único meio de diversão do povo. Hoje o cinema foi substituído pela TV. Antes, saíamos sempre para ir ao cinema, hoje ficamos em casa defronte à máquina de fazer doidos, horas e horas a fio.

Foi neste tempo, que tivemos a oportunidade de assistir ao fel que contava a história de Moisés. Ficamos deveras impressionados com este personagem, pois ao que tudo parecia, tinha parte com Deus, tantos os prodígios que fazia em nome Dele. Filme épico, que mostrava a história do povo hebreu, escravo no Egito, sendo libertado por esse nosso personagem.

Criado no palácio real, teve uma formação cultural comum somente à nobreza. Devia ter conhecimento de todos os segredos ocultos de sua época.

Mas, sempre ficamos a questionar se foi realmente verdadeira a história, que assistíamos boquiabertos. Hoje, querendo descobrir algo sobre este nosso herói, fomos pesquisar, na Bíblia, a sua história, para responder alguns questionamentos que nos saltaram à mente.

A história de Moisés é lenda?

Em Ex 2, 1-4, lemos: “Um homem da família de Levi casou-se com uma mulher de seu clã. A mulher concebeu e deu à luz um filho. Vendo que era um lindo bebê, guardou-o escondido durante três meses. Não podendo escondê-lo por mais tempo, pegou uma cestinha de papiro, calafetou com betume e piche, pôs nela a criança e deixou-a entre os juncos na margem do rio. A irmã do menino postou-se a pouca distância para ver o que lhe aconteceria”.

Encontramos a seguinte explicação para esta passagem: “O relato do nascimento e salvamento de Moisés se assemelha à lenda contada a respeito de Sargão, o conquistador da Mesopotâmia (3º milênio AC). Nascido de pai desconhecido e de uma mãe que o abandonou nas águas do Eufrates numa cesta de vime calafetada com betume, foi salvo e criado por um jardineiro real. Depois, amado pela deusa Istar, se tornou rei durante 56 anos. Lendas semelhantes contam-se sobre a origem de Ciro, rei da Pérsia, e de Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Com recurso a um tal clichê literário Moisés é colocado entre os grandes personagens da história”.

Veja bem, se o relato do nascimento e salvamento de Moisés se assemelha a uma lenda e que lendas semelhantes contam-se a respeito de outras pessoas, podemos concluir que, por esse pensamento, a história de Moisés é uma lenda.

Quem lhe apareceu na sarça?

Para responder esta questão teremos que recorrer ao que consta narrado em Ex 3, 1-6: “Moisés ...chegou ao monte de Deus, o Horeb. Apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo no meio de uma sarça. ...Moisés se aproximava para observar e Deus o chamou do meio da sarça: ...Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus”.

Ora, as passagens abaixo não dizem a mesma coisa:

Atos 7, 30: “Passados quarenta anos, um anjo apareceu a Moisés no deserto do Monte Sinai, entre as chamas da sarça ardente”.

Atos 7, 35-36: “...Moisés ...Mas Deus é que o enviou como guia e libertador, por meio do anjo que lhe apareceu na sarça. Então, o anjo conduziu o povo para fora, realizando milagres e prodígios no Egito, no Mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos’”.

Atos 7, 38: “Foi ele quem ...foi mediador entre o anjo que lhe falava no Monte Sinai...”.

Afinal quem apareceu a Moisés, foi o próprio Deus ou foi um dos seus anjos?

Falava face a face ou não?

Vejamos em Ex 33, 11: “O Senhor se entretinha com Moisés face a face, como um homem fala com o seu amigo”.

Mas, em outra passagem se diz que ninguém poderá ver a face de Deus e continuar vivo, conforme consta em Ex 33, 20.: “Mas, ajuntou o Senhor, não poderás ver a minha face: pois o homem não me poderia ver e continuar a viver”.

E, mais importante ainda, o próprio Jesus afirma que “ninguém jamais viu a Deus” (Jo 1, 18).

Então, o que será que realmente aconteceu? Pressupomos que, talvez tenha sido um dos anjos quem conversou face a face com Moisés, que o confundiu como sendo o próprio Deus.

Era um mago ou um profeta?

Os prodígios que Moisés fez, nos colocaram essa dúvida, vejamos as narrativas:

Ex 7, 10-12: “...Moisés e Arão ...fizeram assim como o SENHOR ordenara; e lançou Arão a sua vara diante de Faraó, e diante dos seus servos, e tornou-se em serpente. E Faraó também chamou os sábios e encantadores; e os magos do Egito fizeram também o mesmo com os seus encantamentos. ...”.

Ex 7, 19-22: “Disse mais o SENHOR a Moisés: Dize a Arão: Toma tua vara, e estende a tua mão sobre as águas do Egito,... E Moisés e Arão fizeram assim como o SENHOR tinha mandado; e Arão levantou a vara, e feriu as águas ...e todas as águas do rio se tornaram em sangue, ...Porém os magos do Egito também fizeram o mesmo com os seus encantamentos;...”.

Ex 8, 5-7: Disse mais o SENHOR a Moisés: Dize a Arão:... E Arão estendeu a sua mão sobre as águas do Egito, e subiram rãs, e cobriram a terra do Egito. Então os magos fizeram o mesmo com os seus encantamentos, e fizeram subir rãs sobre a terra do Egito.

Se Moisés já havia transformado as águas do rio em sangue, como é que os magos do faraó fizeram o mesmo?É o que queremos saber e ainda não encontramos uma resposta lógica para isso.

Estas passagens descrevem o cumprimento da determinação de Deus por Moisés e seu irmão Arão, para convencer o Faraó a deixar o povo hebreu partir, liberto da escravidão, em busca da Terra Prometida.

Ao analisá-las, ficamos numa dúvida cruel. Ora, se os magos do Faraó também conseguiram fazer essas proezas que Moisés e Arão fizeram, de duas uma: ou teremos que admitir que o deus do Faraó era tão prodigioso, que conseguia fazer tudo quanto o Deus de Moisés fez, ou deveremos entender que Moisés e Arão eram, na verdade, magos, iguais aos que acompanhavam o Faraó, já que todos eles conseguiram produzir esses mesmos fenômenos.

A primeira hipótese é absurda, pois há um só Deus. Assim, teremos que, inevitavelmente, ficar com a segunda, ou seja, somos constrangidos a admitir que Moisés e Arão eram magos, isso se não formos daqueles que o fanatismo cega. Se bem que pelos textos, quem produziu os fenômenos foi somente Arão, Moisés era apenas um espectador. Admitindo isso, estas passagens se conflitam com a determinação contida em Dt 18, 9-12, que, entre várias coisas, Deus proibia a magia. E aí, quem consegue sair desse dilema, sem usar qualquer tipo de apelação?

Você, meu caro leitor, poderá até ponderar que essa determinação é posterior aos acontecimentos narrados. É um fato, e não temos como contestar, entretanto também não temos como admitir Deus mudando de opinião, pois, para nós, Ele é imutável, e todas as Suas determinações são para todos os tempos e povos, a exemplo de: Não matarás, Honrar pai e mãe, não furtarás, ou o não adulterarás!

Realizou milagres?

Mas e os tais milagres realizados por Moisés que tanto se fala, ocorreram ou não? Para buscar a resposta vamos ver a narrativa de Ex 14, 21-22: “Moisés estendeu a mão sobre o mar, e durante a noite inteira o Senhor fez soprar sobre o mar um vento oriental muito forte, fazendo recuar o mar e transformando-o em terra seca. As águas se dividiram, e os israelitas entraram pelo meio do mar em seco, enquanto as águas formavam uma muralha à direta e outra à esquerda”.

A explicação para essa passagem está da seguinte forma: “A descrição da passagem pelo mar Vermelho corresponde a um fenômeno de ordem natural, como o sugere a menção do ‘vento forte’ que põe o mar, isto é, uma região pantanosa, em seco. Tal fenômeno foi providencial para salvar os israelitas e fazer perecer os egípcios: de madrugada as condições climáticas foram favoráveis à passagem segura dos israelitas; de manhã mudaram bruscamente e os egípcios pereceram. Nisto Israel viu a mão providencial de Deus, expressa pela nuvem e pelo fogo, pelas águas que formaram alas para os israelitas passarem e pela vara milagrosa de Moisés”.

Assim, podemos concluir, que na realidade a passagem do Mar Vermelho, quando o mar abriu-se em duas muralhas, é, nada mais nada menos, que um fenômeno de ordem natural. Mas, por que ainda continuam a afirmar que se trata de um milagre?

Vejamos agora a narrativa de Ex 16, 13: “De tarde, realmente veio um bando de codornizes e cobriu o acampamento; ...”.

A explicação dada a essa passagem foi: “As codornizes são aves migratórias que, duas vezes por ano, aparecem em abundância na península do Sinai, tanto no Golfo arábico como na costa mediterrânea. Exaustas do longo vôo, podem ser facilmente apanhadas”.

Nós aqui em Minas Gerais, diríamos: Uai!, então não foi milagre? Não entendo porque ainda continuam dizendo que foi.

Outra passagem para análise é a de Ex 16, 14-15: “Quando o orvalho evaporou, na superfície do deserto apareceram pequenos flocos, como cristais de gelo sobre a terra. Ao verem, os israelitas perguntavam-se uns aos outros: ‘Que é isto?’, pois não sabiam o que era”.

Explicam-nos que: “Da pergunta ‘que é isto?’, em hebraico man hú, a etimologia popular fez derivar o nome de maná. O maná é o produto da secreção de certos insetos que se alimentam da seiva de uma variedade de tamareira do deserto. Em forma de gotas de orvalho, o maná cai no chão donde é ajuntado, peneirado e guardado para servir de alimento. Os árabes ainda hoje chamam a essa substância açucarada, man”.

Noooossa! Então o maná também não foi um milagre.

Essa ocorrência, como as anteriores, são simples fenômenos de ordem natural. Como explicar que os teólogos sempre disseram que todas elas são milagres?

Ficamos a pensar quantas outras coisas que estão na Bíblia podem ser apenas fenômenos naturais, vistos, pelos conhecimentos da época, como milagres.

Desculpe-nos, caro leitor, se transferimos a você as nossas dúvidas.

Abril/2002.

Bibliografia:

Bíblia Sagrada, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1989, 8ª edição (de onde, também, retiramos todas as explicações que os tradutores deram para as passagens citadas neste estudo)
Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, São Paulo, SP, 1989, 68ª edição.

O PÃO DA VIDA


O PÃO DA VIDA (Jo 6:22-40 e Jo 6:41-71)
( curso Aprendizes do Evangelho – FESP)

João Evangelista, no cap. 6, verso 22 a 40, narra que no dia seguinte à multiplicação dos pães, a multidão procurou Jesus novamente, pedindo-lhe um milagre, para que cressem em Jesus, o que não deixa de ser estranho: pois no dia anterior não presenciaram um milagre espetacular?! Jesus usa com eles energia e amor: - "Trabalhai, não pela comida que perece, mas para a vida eterna".

Conhecedor profundo das almas, Jesus sabia que o sinal prodigioso da multiplicação dos pães passara em vão e apenas a fome saciada lhes comovera as entranhas. Trabalhar pelo pão de cada dia é necessário à sobrevivência física com dignidade; trabalhar pelo alimento espiritual é elaborar a imortalidade.

Este valor intrínseco da nutrição espiritual, Jesus colocou na oração matinal: "O pão nosso de cada dia dai-nos hoje", não o pão para o qual trabalhamos fisicamente, mas o Pão de Deus, o que dá vida ao mundo.

Ele complementa: "Eu sou o Pão da Vida, quem vem a mim não terá fome".

Sendo nós seus discípulos, seguindo suas orientações morais e espirituais, ESTAREMOS SACIADOS E NÃO TEREMOS ANGúsTIAs E NECESSIDADES.

Obs.: Ler GE, cap. XV, itens 50 e 51.

BIBLIOGRAFIA

LM, 2.a Parte, - cap. VII e VIII

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O PÃO DA VIDA – PARTE III - VIA CONTEMPLATIVA - Pastorino

João, 6: 35-46

35. Falou-lhes Jesus: "Eu sou o Pão da Vida; o que vem a mim, de modo algum terá fome, e o que confia em mim nunca jamais terá sede.
36. Mas eu vos disse que vós até me vistes, e não confiais
37. Todo o que o Pai me dá, virá a mim; e o que vem a mim de modo, algum o lançarei fora
38. porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou.
39. E esta é a vontade de quem me enviou: que todo o que ele me deu, eu não o separe dele, mas o eleve na etapa final.
40. Porque esta é a vontade do que me enviou: que todo o que contempla o filho e nele confia, tenha a
vida imanente, e eu o elevarei na etapa final.
41. Os judeus então murmuravam dele, porque dissera:
42. "Eu sou o pão que desci do céu", e perguntavam: "este não é Jesus, o filho de José, cujos pai e mãe
nós conhecemos? Como pois diz isto: "Desci do céu"?
43. Respondeu-lhes Jesus e disse: "Não murmureis uns com os outros”,
44. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair, e eu o elevarei na etapa final.
45. Está escrito nos profetas: "E serão todos instruídos por Deus"; todo o que ouviu do Pai e aprendeu, vem a mim.
46. Não que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que vem de Deus: esse viu o Pai".

Comentário:

35. "Eu sou o pão da vida", original: egô eimi ho árlos tês zôês, repetido no vers. 48.

36. "vós me viste", com o pronome objeto direto, segundo os manuscritos B, L, D, W, theta

37. "Todo o que". O sentido exige que se trate de criaturas humanas, especialmente por causa da  continuação e do andamento do versículo: "Todo o que o Pai me dá virá a mim, e o (aquele que, no masculino singular, referindo-se pelo sentido a todo o que) vem a mim, não o lançarei fora". Ora, acontece que a primeira parte, pãn hó, está no acusativo neutro, que deveria ser traduzido por "tudo o que". O padre Max Zerwick, jesuíta ("Análysis Philológica Novi Testamenti Graeci", Roma, 1960, pág. 223) escreve: "neutro no lugar de masculino, talvez por influência do aramaico onde kol de, “a totalidade que", não distingue nem o gênero nem o número". A mesma expressão é usada no vers. 39,  também no neutro em lugar do masculino. E encontramos a mesma construção de neutro pelo masculino em João, 3:6: 5.39; 17:2,24 e 1 João, 5:4.

38. Aqui é dito "eu desci do céu" (katabébêka ek toú ouranqú) com o mesmo verbo empregado no vers.  33: "o pão de Deus que desce do céu' (ho ártos toú theoú katabainôn ek toú ouranoú). Esse verbo é repetido nos vers. 42, 50. 51 e 58 deste trecho.

39. A expressão mê apolésô ex autoú é mais fielmente traduzida por "eu não separe dele", em vez de "eu não perca dele". Assim também allá anastêsô autó (acusativo neutro) "mas o eleve", ou seja, o levante, o melhore; en têi eschátêi hêmérai, vulgarmente traduzido à letra "no último dia". No entanto, preferimos dar o sentido exato da expressão em linguagem moderna: "na etapa final", "na última etapa", pois sabemos que a palavra "dia" designava qualquer espaço de tempo (cfr. no Gênese, os "dias" da criação), que nós hoje melhor designamos com a palavra "etapa", "ciclo", etc. Essa expressão volta nos vers. 40, 44, 54.

40. "Contemplar" é o sentido mais preciso de theóréó aqui empregado. Não se trata mais do verbo hor áô (ver), empregado no vers. 36. Enquanto este designa a visão física, o primeiro apresenta também o sentido de visão intelectual (de união contemplativa com aquilo que é contemplado, que é objeto de compreensão).

41. Os "judeus", estamos em Cafarnaum; portanto esses israelitas não eram propriamente "judeus" (da tribo de Judá), mas "galileus", embora obedientes ao judaísmo oficial. "Murmuravam" (egógguzon) não tem sentido pejorativo, exprimindo mais o murmúrio da surpresa.

42. "Filho de José" - é a única vez que aparece, no Evangelho de João, uma referência ao pai carnal de Jesus.

44. "Se o Pai o não atrair", traduz eán mê ho pátêr helkusêi autón. O verbo hélkô (cfr. latim veho)  exprime mais propriamente "puxar arrastando", para si um objeto pesado.

45. "Instruídos por Deus", em grego didáktoi theoú, particípio passado com seu agente da passiva em genitivo; "todo o que ouviu (particípio aoristo de akoúô) e aprendeu" (particípio aoristo 2.º de manthánô) exprimem uma ação atemporal. O texto citado é do profeta Isaías, 54: 13.

46. O versículo diz, em última análise: só quem vem de Deus é que pode "ver" o Pai. 

35. O Mestre não se preocupa, em absoluto, em responder às palavra dos ouvintes. A exposição, aprofundando cada vez mais o tema, prossegue numa lição que, se não for aproveitada pelos presentes, se-lo-á pelos futuros.
Neste ponto, a personalidade humana de Jesus desaparece, aniquila-se: quem toma a palavra através da boca de Jesus é o CRISTO CÓSMICO, que por essa personalidade podia manifestar-se em sua plenitude ("porque Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" , Col. 2:9), já que a personalidade, o Espírito de Jesus, se anulara totalmente pela humildade ("pois Jesus, subsistindo em forma de Deus, não julgou usurpação ser como Deus, mas esvaziou-se, tendo tomado a aparência de escravo, tornando-se semelhante aos homens e achando-se na condição de homem; humilhou-se,  tornando- se obediente até a morte, morte de Cruz", Filip. 2:6-8).
Quando o Cristo Cósmico começa a falar através de Jesus, o tom da aula assume maior profundidade, as verdades tornam-se incisivas, "fala como quem tem autoridade" (Mat. 7:29), e o discurso passa a ser feito na primeira pessoa: "EU SOU o Pão da Vida". Abramos os ouvidos de nosso coração para aprender a maravilhosa lição que nos é dada diretamente pelo CRISTO, que também em nós habita; mas estamos ainda tão retardados em nossa evolução, que queremos que Seus ensinamentos passem pelo nosso intelecto, e com isso distorcemos Seu ensino. Aproveitemos, então, ao máximo, o que Ele nos diz através de Jesus. EU SOU o Pão da Vida: era a Substância Divina, que existe em todas as coisas, mas que, encontrando um intérprete à altura, podia manifestar-se através Dele, exteriorizando- se e revelando-se às personalidades múltiplas ali presentes.
O eco de Sua Voz sublime deveria ressoar em todos, no auditório, como em nós deve ecoar, porque o Cristo Cósmico é o mesmo, é UM SÓ, que em todos e em cada um habita com Sua plenitude ("Há um só Espírito, uma só carne, um só Deus e Pai", Ef. 4:4-5) e CRISTO está todo inteiro em cada um de nós (sicut ánima est tota in toto córpore et tota in quálibet parte córporis, (Agostinho, De Trinitate,  6:6) ita Deus TOTUS est in ómnibus et IN SÍNGULIS, (Summa Theológica, I, q. 8, art. 2, ad tertium), ou seja: "Assim como a alma está TODA em todo o corpo e em cada parte do corpo, assim Deus TODO
está em TODOS e EM CADA UM"). 
Diz o Cristo: "Eu sou o Pão da Vida", isto é, o sustento da vida, a base da vida, a Centelha da Vida, a substância da vida. E acrescenta "quem vem a mim (quem se liga a mim, ao Cristo Cósmico) jamais voltará a ter fome”, porque estará saciado para sempre; e "todo aquele que confia em mim, jamais terá sede". Realmente, uma vez "encontrada a pérola de grande valor", ou "descoberto o tesouro enterrado" nunca mais a criatura buscará ansiosamente (com fome a sede) as "comidas e bebidas" da matéria, os  prazeres, a glória, a comodidade, e tantas outras vacuidades que só satisfazem aos sentidos e às personalidades, mas são todos transitórios e perecíveis.

36. Aparece a seguir uma frase que parece interromper a sequência da lição, e que muitos intérpretes comentam como um parênteses. No entanto, compreendêmo-la como mais uma evidência, dirigida àqueles Espíritos que já perceberam alguma coisa da Realidade Espiritual, aos que já tinham conhecimento desse ensino, embora ainda não confiem, na prática, plenamente; e diante de qualquer atropelo da vida, se emocionam, perturbam, descontrolam e preocupam. Diz o Cristo: "mas eu vos disse que até me vistes, e não confiais em mim": ou seja, até mesmo tendo tido rápidos Encontros, percepções da Grande Presença, não obstante ainda não confiam; mesmo depois de alguns "mergulhos" na Consciência Cósmica, assim mesmo ainda temem diante das contingências humanas ...
Falta de confiança em Cristo que em nós habita!

37. Depois, amplia mais a visão, explicando porque temos todos que unir-nos ao Cristo: pertencemos a Ele. E diz, esclarecendo a origem dessa posse, para que não pairem dúvidas: "todo o que o Pai me dá, vem a mim".
Eis a razão: o Pai nos doou ao Cristo; ou melhor, o Pai (o AMANTE) tornou-se o Filho (o AMADO, o
Cristo) e ambos são um só ("Eu e o Pai somos um", João, 10:30) e "tudo quanto o Pai tem, pertence ao Cristo" (cfr. João, 16:15). Com efeito, sendo o Cristo a própria substância mais íntima de todas as coisas, possui tudo o que existe, já que as formas externas apenas revestem a substância íntima; e então tudo o que existe irá fatalmente a Ele no final da evolução. E todos os que a Ele forem, buscando-O no âmago de seus corações, impulsionados pelo Pai (ou "atraídos" ou "arrastados" pelo Pai), esses jamais serão rejeitados pelo Cristo; todos os que O procuram, serão por Ele acolhidos carinhosamente.
Todos os que, por qualquer meio, Nele confiarem com ardor e se lançarem no "mergulho interno", serão atendidos, sem exceção: a ninguém o Cristo rejeitará, ninguém ficará decepcionado, desde que se voltem para Ele. A questão é usar a técnica correta e os meios certos.

38. E isso porque o Cristo "desceu do céu", ou seja, baixou suas vibrações do Estado de Luz Incriada (Espírito Santo, Brahma) ao plano do SOM (Verbo, Pai) e a seguir baixou mais ao plano das vibra ções individuadas (Mônadas) e desse plano baixou mais ao estado de energia, e daí desceu mais ainda sua frequência ao estado da matéria densa; tudo isso, não para realizar a Sua vontade (do Cristo, do Filho, do Amado, terceiro aspecto da Divindade), mas para obedecer à vontade do Verbo Criador, o Pai, o segundo aspecto trinitário, o SOM da Luz Incriada que é o Deus Único e absoluto, o Foco de Luz inextinguível, que é o Amor. O AMOR é o absoluto (LUZ), que se manifesta em SOM no AMANTE, o Pai (também chamado Verbo ou Lagos, por ser SOM), o qual quis manifestar-se para produzir o objeto de Seu Amor, o AMADO, que é o Filho ou Cristo Cósmico, terceiro aspecto divino. O Cristo Cósmico espalhou-se e multiplicou-se, sem dividir-se, individualizando-se nas coisas criadas. Então Este, o Cristo, não desceu "do céu", de Suas altíssimas vibrações, senão para fazer a vontade do Amante, do Pai.

39. Mas qual será a vontade do Pai, desse Amante, desse Verbo (SOM ou Palavra)? O Cristo a revela claramente: "A vontade de Quem me enviou é que Eu (o Cristo) não separe Dele (do Pai) nenhum daqueles que me foram lados mas, ao contrário novamente os eleve à mesma vibração primitiva na etapa final da evolução". Evidentemente tudo isso devia ser ensinado naquela época e naquele ambiente com palavras e compara ações materiais, ao alcance de mentalidades ainda cruas (cfr. João, 16:12); palavras que só poderão ser plena e profundamente compreendidas "quando vier o Espírito Verdadeiro que nos guiará à Verdade total" (João, 16: 13), ou seja, quando o Espírito contemplar o Pai no Encontro Místico, na Unificação total com a Centelha Divina que é nosso Eu Profundo. Esse, então, o sentido geral da evolução, de que está encarregado o Cristo, o Amado: descer até a matéria ("descer do céu") e, de dentro dela, fazê-la evoluir através dos "reinos" mineral, vegetal, animal, hominal, até chegar ao "reino dos céus" ou "reino de Deus", que é a perfeição primitiva da Fonte de onde emergiu, ao Pai que lhe deu origem, ao Som que a produziu, à Luz de que constitui uma Centelha.

Isto Paulo compreendeu, quando escreveu, narrando a descida da Mônada e Sua subida, sua involução ao "Anti-Sistema" e a nova ascensão ao "Sistema" (Pietro Ubaldi): "A graça foi concedida a cada um de nós (a Centelha Divina habita em cada um) segundo a proporção do dom de Cristo (segundo a própria capacidade de manifestá-Lo). Por isso diz: quando Ele (Cristo) subiu às alturas,  levou cativo o cativeiro (levou consigo o Espírito Individualizado e evoluído, que mantinha cativa a Centelha) e concedeu dons aos homens (e gratificou-os com imensas e inesgotáveis oportunidades de evoluir). Ora, continua o Apóstolo, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até as regiões inferiores da Terra (ou seja: se o Cristo se elevou às alturas, é sinal de que havia anteriormente descido até a matéria densa, que constitui a região inferior da Terra)". E então repete, esclarecendo: "Aquele que desceu é também O MESMO que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas" (o Cristo glorificado é a mesma humilde Mônada que percorre todos os degraus evolutivos, e agora, novamente em Sua plena potência, enche todas as coisas). E essa subida evolutiva de cada Mônada tem justamente esse objetivo: "até que todos (todos, sem exceção) cheguemos à unidade da confiança e do total conhecimento do Filho de Deus, ao estado de Homem Perfeito, à medida da evolução plena do Cristo" (Ef. 4:7-10 e 13).

40. E, repetindo didaticamente o mesmo conceito, diz com outras palavras: "esta é a vontade de Quem me enviou (do Pai, Verbo ou Som), que todo o que contempla o Filho - ou seja, todo o que, pela contemplação se une ao Filho, (ao Cristo, ao Amado, que é a Centelha divina) - e Nele plenamente confia (e a Ele totalmente se entrega) esse, quem quer que seja, "terá a Vida Imanente", a Vida Divina que, qual Fonte inesgotável de Água Viva (cfr. João, 4:14) jorrará de dentro dele perenemente como Vida Imanente. E essa criatura que tiver conquistado esse grau evolutivo supremo, será elevado ao plano espiritual da vibração da Luz, na etapa final do ciclo de sua evolução. As afirmativas a respeito da VIA CONTEMPLATIVA começa a desenvolver-se, para chegar à exposição clara da VIA UNITIVA (são termos da Teologia Mística ...) que será esplanada logo a seguir, a partir do vers. 47. Então, concluindo o arrazoado, temos que a vontade do Pai é que todos (sem exceção) cheguem à fase da contemplação mística, tendendo para a união completa.

41. Novamente, em vez de dizer "galileus", João emprega o gentílico “Judeus", e com razão: sabemos que "Galiléia" significa o Jardim Fechado em que vivem aqueles que já penetraram a Individualidade; ao passo que "judeus" são os "adoradores de Deus" seres já religiosos, mas que ainda não compreendem o "mergulho interno", e toda a devoção deles é externa. Realmente, observamos que a objeção apresentada prende-se à personalidade.

42. Não podem eles entender o Espírito, o Cristo Interno; pois até o próprio Deus, o Absoluto,  afirmam ser uma "pessoa" ... Confundem o Cristo (individualidade) com a personalidade exterior de Jesus que eles estão vendo. E perguntam como pode ter essa personalidade "descido do céu", se eles lhe conhecem o pai e a mãe ... É total a falta de compreensão; absoluta a ausência de penetração da Verdade, tão claramente ensinada.

43. O Cristo não gasta Seu tempo em explicar. Eles não estavam maduros para a lição e o  demonstraram cabalmente (vers. 66) logo após a segunda parte da aula, que foi ainda mais profunda (e chocante!) que a primeira. Sempre alguns haveriam de aproveitar (e dos doze, alguns o compreenderam) e aquela oportunidade não seria perdida. Limita-se, então, nosso único Mestre (cfr. Mat. 23:10) a recomendar: "não murmureis entre vós"!

44. E prossegue no mesmo tom, ainda mais ampliando o ensino sobre a Via Contemplativa: "Só pode vir a mim (ao Cristo Interno que falava pela toca de Jesus) quem for atraído (ou "arrastado") pelo Pai”. E a conclusão é a mesma: "eu o elevarei na etapa final". A respeito dessa "atração" que o Pai exerce, atração do Amante que atrai a Si todos os Amados, de dentro de cada um, arrastando-os a evoluir, Agostinho escreveu bela explicação, demonstrando que não se trata de uma atração "forçada", mas de um "arrastar de amor". Eis suas lindas palavras: Noli te cogitare invítum tráhi: tráhitur ánimus et amore ... Porro si poetae âírere licuit "trahit sua quemque voluptas" (Verg. Ecl. 2,65), non necéssitas, sed voluptas; non obligatio, sed delectatio; quanto fortius nos dicere debemus trahi hóminem ad Christum qui delectatur veritate, delectatur beatitudine, delectatur justitia, delectatur sempiterna vita,  quod totum Christus est? Videte quómodo trahit Páter: docendo delectat, non necessitatem imponendo. Ecce quómodo trahit (Patrol. Latina, vol. 35, col. 1608). Traduzindo: "Não penses que és arrastado contra a vontade: o espírito é arrastado também por amor ... Por isso pode o poeta escrever "cada um é arrastado por seu prazer"; não a necessidade, mas o prazer; não a obrigação, mas o deleite: quanto mais devemos dizer que o homem é arrastado para o Cristo que se deleita na verdade, que se deleita na felicidade, que se deleita na justiça, que se deleita na vida perene, o que tudo é o Cristo? Observai como o Pai arrasta: deleita ensinando, não impondo a necessidade. Eis como arrasta". Realmente, se o primeiro passo tem que ser dado pelo livre-arbítrio da criatura, esta todavia só o dará quando for atraída ou arrastada pelo desejo, pela vontade, pela ânsia interior de encontrar a felicidade. E quem desperta na criatura a sede incontrolável de felicidade, inata em todas as criaturas, é precisamente o Pai, o AMANTE, que atrai o AMADO.
Por isso vemos que no início da evolução, sentindo-se atraída por um Amante, a criatura corre atrás de tudo o que lhe cai sob os sentidos, enganada de objetivo, crente de que a felicidade que a atrai e arrasta são as riquezas materiais, são os prazeres físicos, são as sensações exóticas, são as emoções violentas, é a glória dos aplausos, é a cultura que a incha de orgulho, e até é a religião ritual que a eleva pela autoridade aos olhos das multidões e dos "reis". E após errar séculos e séculos em busca dessas ilusões, sente em cada uma delas o travo amargo da decepção, do vazio, da solidão ... Até que um dia, depois de lições práticas e de experiências de dor, percebe que a atração não vem de nada que esteja foca dela: é de dentro, é do AMANTE que a chama com "gemidos inenarráveis" (cfr. Rom . 8:26) para Si, para a felicidade total: qual maior felicidade, para o Amado, que unificar-se ao Amante, no Amor?

45. Falando a conhecedores das Escrituras, o Cristo aduz como testemunho de autoridade a palavra
de Isaias: "Todos (sem exceção) serão instruídos por Deus". Observemos a profundidade da interpreta
ção que é dada à frase pelo Cristo: Deus está dentro de todos, "com Sua essência" (Tomás de
Aquino), e daí, do mais íntimo de cada ser, instrui a todos através de Suas manifestações: o Pai (o
Amante, o Verbo ou Som) e o Filho (o Amado, o Cristo Interno que, dentro de cada um, constitui o
Eu Profundo de cada criatura). Deus instrui a todos, mostrando o caminho certo, por meio das
experiências bem sucedidas ou fracassadas, até que descubramos por nós mesmos que todos os
caminhos que não levam ao interior, ao Cristo, são falsos, e que o único "caminho da Verdade e
da Vida é o Cristo, e só por Ele chegaremos ao Pai" (cfr. João 14:6). Instruídos todos por Deus,
que pacientemente nos espera a volta como o pai esperou o "filho pródigo" (cfr. Luc. 15:11-32),
acabamos atinando com o rumo verdadeiro que é para dentro de nós mesmos, através do "mergulho"
no Infinito e Eterno Cristo, o Amado.

46. No final desta primeira parte da aula, vem um esclarecimento indispensável para esta Via Contemplativa.
Não imaginemos que havemos de ver o Pai com os olhos da matéria, nem mesmo com
os do astral ou do mental: "Ninguém viu o Pai". Invisível como pessoa, como figura, porque é a
Força Mental, é o Amante concreto mas de tão subtil vibração, que não pode ser percebido pela
visão, por mais extensa que seja a gama da capacidade visual em qualquer plano; é inaudível pelos
ouvidos mais apurados, porque é o SOM (o Verbo) Criador de todas as vibrações altíssimas
plasmadoras dos universos, mas está infinitamente acima de qualquer escala de vibrações sonoras
que possamos imaginar. Poderíamos compará-la à nossa inteligência que, apesar de pequenina,
não pode ser vista, nem ouvida diretamente, mas apenas percebida pela própria inteligência em si
mesma, através de seus efeitos . Por isso o Cristo usa aqui o verbo horáô, "ver" (e não theoréô,
"contemplar”). Daí a conclusão dada: "só aquele que vem de Deus, vê o Pai". Ou seja, o única
plano da criatura que pode "ver" o Pai, é o que provém Dele: é a Centelha Divina que veio "de
perto de Deus" (òn parà toú theoú), porque é um reflexo Dele, e que constitui exatamente nosso Eu
profundo, o Cristo Interno. Só esse pode "ver" o Pai, pode contemplá-lo no Encontro Místico,
quando mergulha na Luz Incriada. Só o Cristo Interno, o AMADO, pode unificar-se ao Pai, o
AMANTE, mergulhando no Espírito (o Santo), que é o AMOR.

Todos os grandes místicos concordam com este ponto de vista, embora jamais tenha interpretado este
trecho evangélico como uma lição a esse respeito. Longa seria a citação. Mas pode ser obtido um bom
resumo do que dizem no capítulo 4.º (The Ilumination of the Self, pág. 232 a 265) e no capítulo 7.º
("Introversion: Contemplation", pág: 328 a 387 da obra MYSTICISM, da autoria de Evelyn Undershill
(The Noonday Press, New York, 1955).







quarta-feira, 10 de outubro de 2012

AMAR O INIMIGO


Esta é uma ação da qual não poderemos fugir caso queiramos crescer espiritualmente. Ao ler uma reportagem sobre o assunto, gostei tanto que achei interessante trazer até nossos estudos. Procurarei na medida do possível, resumir. A mesma encontra-se segundo a reportagem, no canal IRC Espiritismo. O ideal seria transcrever na íntegra mas vamos tentar colocar o principal do tema em questão.



Amar o inimigo é algo que na prática poucos conseguem. Mas, esta é uma realidade da qual não podemos fugir e só ficarmos no aspecto de falar sobre ela, entender, porque o crescimento moral depende também deste ato. Quando você tem o conhecimento de que deve amar seu inimigo e o porque deste ato, você deve se esforçar para tal. Use a fé raciocinada e deixe que sua capacidade de amar se desenvolva de tal maneira que possa conseguir a prática do amar ao inimigo.



Mas, será que amar a um inimigo é a mesma coisa que amar a um parente? Como poderíamos fazer isto? Analisem a resposta do entrevistado: “Se o parente é alguém de quem gostamos e temos afinidade, então não é a mesma coisa. No Evangelho, no capitulo XII temos o seguinte: Geralmente há um equívoco no tocante ao sentido da palavra amar neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo, pois esta pressupõe confiança. Ninguém pode depositar confiança em uma pessoa sabendo que esta lhe deseja o mal, ninguém pode ter expansões de amizade, sabendo que ela é capaz de abusar desta atitude.



Entre pessoas que desconfiam umas da outras, não pode haver manifestações de simpatia como as que existem entre quem tem as mesmas idéias. Ninguém pode sentir pelo inimigo, o mesmo que sente por um amigo. Amar o inimigo, é primeiro combater em nós mesmos a vingança e os maus pensamentos, buscar a mudança de postura com relação a ele. Todo espírita sabe que o inimigo de hoje pode ser a vítima de ontem e então devemos compreende-lo e amá-lo.



Sabemos que o nosso inimigo não é alguém de quem gostamos. Sabemos que é difícil amar assim, mas nós temos que entender que ele é alguém que com certeza deve ter seus motivos para hoje nutrir ódio mas que também assim como nós, terá que aprender a amar. Quem nos garante que você e seu inimigo já não vieram lá de trás com eternos problemas? Quem te garante que você não tenha feito algo de mau a ele e hoje o tem como inimigo? Cristo diz que devemos reconciliar com o inimigo enquanto estamos caminhando, por isto sempre você terá a oportunidade para tal. Não é muito fácil mas as oportunidades sempre estão ao nosso alcance. Só se afastar dele, já é algo muito melhor que engendrar vinganças, mas devemos orar e pedir forças para que possamos nutrir sentimentos bons para o inimigo de hoje.



Interessante é saber que quando você odeia, você acaba se prendendo à outra pessoa. A lei da ação e reação, a sintonia é que vai ligando as partes. Você fica escravizado a este sentimento que vai gerando vingança e você acaba perdendo tempo precioso em sua caminhada.



Como tirar este sentimento? Primeiro é preciso ter muita vontade, não aquela passageira, que muda rápido mas a que vem com a certeza de Deus. Temos que raciocinar e ter fé. Ë muito difícil porque ainda nos afastamos do mal e muitos ainda querem ou praticam a lei do olho por olho, dente por dente. Segundo, é preciso coragem já que toda a base está no pensamento. Com estas duas coisas, devemos então direcionar nosso pensamento de forma positiva. Se você quando pensar no inimigo e logo seu pensamento for para o ódio, combata ele pensando que ele deve ter uma qualidade porque é um ser humano como você. Pense nele como alguém que tem qualidades. No inicio pode ser difícil mas se você exercitar aos poucos verá que logo aprenderá como foi bom mudar o nível do pensamento. Um dia você perceberá que já não mais sente o que sentia antes. E quem sabe até transforme aquele inimigo em um novo amigo?



Outro fato interessante é que o inimigo desencarnado pode atuar num outro encarnado e fazer com que tenhamos mais desiquilibrio ainda. Isto é normal. Mas, se nós entendemos e compreendemos, devemos orar e vigiar. Muitos dizem também que o ódio é o amor que está doente. O ódio é um sentimento ligado aos nossos erros, ao orgulho, ao egoísmo. Se a gente tem o amor egoísta por dentro e quando ele não atende aos nossos interesses, aí vem o ódio. Pode ser isto.



A prece sempre ajudará também a esquecer as mágoas, mas com certeza a ação será a nossa. Quando você age e pensa com o coração, você se sintoniza a bons espíritos que irão te auxiliar. Trarão bons conselhos e energias positivas, mas como temos o livre arbítrio, poderemos desprezar isto e aí é que a prece perderá seu efeito. Portanto é preciso forças e querer agir para o bem.



Amar o inimigo é crescer no amor, sem isto, sem o perdão jamais iremos evoluir. A doutrina com sabedoria, nos explica que é importante o esquecimento do passado e sendo assim, as oportunidades serão melhores aproveitadas. Perdoando, reconciliando, vamos aprendendo e resgatando nossos débitos. Com a certeza de que houve e sempre haverá novas vidas, sabemos avaliar que ou fomos vitimas ou fomos algozes portanto, entre eu e meu inimigo, aconteceu algo de ruim e temos que acertar isto. Jesus disse que temos que pagar até o último ceitil. Quer dizer que conforme vamos evoluindo, mais a nossa consciência nos cobrará os atos praticados. Veja o exemplo colocado abaixo:



Imaginemos que numa empresa alguém para subir de posto, puxou o tapete de um amigo, que é despedido e, não suportando as dificuldades, se entrega e vem a morrer. Um dia esta que morreu, despertará e enquanto não se vingar ou resolver a questão em si, ele não sossegará. Ninguém foge de sua consciência, portanto, é preciso resolver e resolver da melhor maneira e dentro das leis de Deus nossos problemas. Porque um dia seremos cobrados. Nada se perde no tempo.



Para encerrar, diria que cada um de nós somos um universo em si mesmo. Cada um pensa e entende a vida de uma maneira. É normal analisarmos o nosso semelhante de acordo com nós mesmos e isto nos deixa pouco generoso, pouco compreensivo e até rígido demais. Somos assim no trabalho, na família e sempre estamos perto de revoltarmos com qualquer contrariedade. Devagar vamos nutrindo sentimentos com nossos semelhantes que acaba em ódio. Temos que cortar o  mal pela raiz. Temos então que sempre lembrar que façamos ao semelhante o que gostaríamos que nos fizessem. Isto em todos o momentos. Devemos iniciar então pelo pensamento e a ação será conseqüência. Jesus não veio a Terra em vão.


Fonte: entrevista dado por Carlos Alberto ao IRC Espiritismo.

Como Amar os Inimigos?


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Como Amar os Inimigos?

por Guilhermina Batista Cruz - guilherminabcruz@click21.com.br

"Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e caluniam".(O Evangelho segundo O Espiritismo-Capítulo VII). 
Amar os inimigos assim como nos fala o Evangelho de Jesus nos parece uma coisa inalcançável. Quando ele nos disse para Amar os nossos inimigos,sabia a dificuldade que teríamos até conseguirmos aceitar e vivenciar isso. Para desenvolver em nosso ser as potencialidades que nos leve a exercer o  sublime dom de amar é preciso entendermos o que o Cristo quis nos ensinar com este divino preceito.

O evangelho nos fala que é muito diferente o amor que dedicamos a um amigo, já que este amor é todo ternura e confiança, e, com nossos inimigos, não podemos ter a mesma confiança e apreço que temos para com os amigos. O Evangelho assim nos fala: "Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha com seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo, pois esta pressupõe confiança. Ora, ninguém pode depositar confiança em uma pessoa sabendo que esta lhe quer mal, ninguém pode ter expansões de amizade sabendo que ela é capaz de abusar dessa situação".

Afinal de contas, por que consideramos alguém como nosso inimigo? Qual o papel que ele desempenha em nossas vidas? Por que não conseguimos amar certas pessoas ou pelo menos tolerá-las?  Pela nossa vivência espiritual, podemos inferir que o inimigo de hoje é aquele que ontem prejudicamos e amá-lo pode significar tentar buscar uma postura diferente em relação a ele. É tentar compreendê-lo e ter por ele tolerância. Mesmo quando, de alguma forma, somos atingidos pelos atos prejudiciais deles.

Pela reencarnação temos a oportunidade de nos ajustar à lei divina e aprender a ter para com o semelhante o respeito e amor que queremos para nós. Através dela, Deus nos mostra que sempre encontraremos uma porta aberta para corrigir o rumo de nossa caminhada e aprender a conviver adequadamente com aqueles a quem prejudicamos no passado. O inimigo que nos aparece do nada, aquela pessoa com a qual não conseguimos estabelecer nenhum laço de simpatia, está relacionada com nossos enganos passados.  Antes de reencarnarmos,  nós mesmos podemos ter pedido a oportunidade de nos reconciliarmos com ela.

Jesus já nos advertia: "Reconciliai-vos com vosso inimigo enquanto estás a caminho". É preciso que tenhamos coragem de romper nossas limitações, de domar nosso orgulho e nosso ego exagerado. Se não nos reconciliarmos o quanto antes com nossos desafetos, não conseguiremos nunca usufruir a paz e a fraternidade verdadeiras. O ódio deixa a pessoa estagnada e escravizada àquele de quem não gosta. Existem espíritos que ficam muitos séculos estacionados, presos ao ódio, arquitetando planos de vingança contra seus desafetos, sem se darem conta de que assim agindo, permanecem onde estão, parados, perdendo um valioso tempo de seu despertar espiritual.

Além disso, o ódio que devota a seus inimigos pode não atingi-los mais, pois, se eles tiverem ultrapassado suas fases negativas, e conseguido romper a cadeia do mal pelo mal, os sentimentos de ódio de que são alvos já não os prejudicam mais. É preciso muita força de vontade e coragem, desenvolvida pela fé e a certeza de que precisamos evoluir e nos libertarmos das amarras do ódio e do desejo de vingança, para que consigamos sopitar em nós os sentimentos negativos em relação aos nossos inimigos. Não é uma tarefa fácil, porque, mesmo já tendo alcançado um certo grau de evolução, ainda nos enredamos nos sentimentos negativos que geram a mágoa e a vingança e , embora inconscientemente,  podemos nos sentir "recompensados"com o mal que atinge nossos desafetos.

Somos seres sujeitos às instabilidades do ego e embora aspiremos melhorar moralmente, temos ainda uma forte ligação com o nosso lado inferior. Refletindo sobre o ódio, vemos que ele está relacionado às nossas imperfeições, ao nosso egoísmo e orgulho extremos. Quando nos libertarmos disso tudo, com o pensamento direcionado ao bem e ao amor, com certeza, nos sentiremos mais fortalecidos e prontos a praticar a máxima ensinada pelo Cristo, quando nos exortou ao perdão e ao esquecimento das ofensas.

Fomos criados para a felicidade, apesar de vivenciá-la de uma forma relativa no mundo conturbado em que vivemos. Mas, para encontrá-la, é preciso que nossa consciência esteja tranqüila, em paz com tudo o que nos é destinado. À medida que avançamos em nosso crescimento espiritual mais nos sentimos cobrados por ela, que não nos deixa viver em paz enquanto não resolvermos a situação originada pelos atos infelizes que praticamos contra nossos desafetos. Ninguém consegue fugir da própria consciência, e, quando entendermos isso, compreenderemos que, mesmo não amando ainda os inimigos como o Cristo nos exortou a amá-los, não podemos deixar que em nosso coração se abrigue sentimentos de ódio e aversão em relação a eles.

Somos guiados por leis divinas perfeitas e não podemos julgar o comportamento de ninguém. Precisamos é nos conscientizar de nossos atos, para que enxerguemos os defeitos que nos recusamos a ver em nós e que, muitas vezes, tentamos encontrar no semelhante. É preciso entender que somos seres únicos e que temos nossas próprias conquistas e lutas e que necessitamos desenvolver e manter a capacidade de perdoar para que lancemos em nosso ser as sementes que brotarão como amor e compaixão pelo próximo. Quem não consegue perdoar, não pode amar. Para termos condição de perdoar a quem nos fez mal é preciso à capacidade de compreender que todos nós possuímos latente o gérmen do bem.

Quando passamos por uma grande adversidade é que nos tornamos conscientes de quão pequeno somos por abrigarmos ainda sentimentos tão contrários ao amor. Quando compreendermos que a vida material é tão efêmera, é que vamos começar a entender o ensinamento do Cristo, que nos ensina a amar ao próximo como a nós mesmos. No fundo, somos todos iguais e almejamos o melhor. E o melhor para mim tem que ser o melhor para o outro. O amor é a força capaz de modificar nossas vidas e pode transformar um inimigo em um amigo. Só nos libertaremos do ciclo do ódio com sentimentos contrários a ele. Os sentimentos libertadores do perdão e do amor, por sua própria natureza, conseguem a força redentora de transformar tudo.

O mal só existe devido à ignorância que ainda habita em nosso ser. A partir do momento em que começamos a nos inteirar da verdade, a nossa compreensão sobre a vida se dilata e começamos a abrigar em nós sentimentos de compaixão e caridade para com todos indistintamente. Quando formos Espíritos iluminados pelo conhecimento das verdades divinas compreenderemos que o amor vibra num sentido único, o que significa que amar a si mesmo e ao próximo é o mesmo que amar a Deus. Afinal de contas tudo se resume numa palavra só: AMOR.

Paz e Luz a todos. 
Texto revisado



por Guilhermina Batista Cruz - guilherminabcruz@click21.com.br  
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