sábado, 9 de julho de 2016

O argueiro e a trave


Cristina Sarraf

…como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho,
vós que tendes no vosso uma trave?
 Hipócritas, tirai primeiro a trave ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (MATEUS, cap. VII, vv. 3 a 5.)
Em o Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, Kardec estudou a citação acima, encontrada no evangelho de Mateus, e referida com o sendo dita por Jesus.
O Codificador escreveu: “O que eu pensaria, ao ver alguém fazer o que faço?”  E podemos acrescentar: o que eu pensaria ao ver alguém fazer, o que faço, como faço e porque faço?
O orgulho cega por ser uma emoção, e como todas, sobe e se subir muito, pode cegar, no sentido de nublar o raciocínio e tirar o discernimento.
Ao subir e ficarmos cegos de orgulho, dissimulamos, para nós mesmos, nossos equívocos, deformações morais, e maldades. Encontramos desculpas, justificativas e explicações que não aceitaríamos, vindo de outra pessoa, sobretudo das de quem não gostamos ou das que invejamos.
Contrariamente a muitas opiniões, ninguém é obrigado a ter orgulho, porque ele não é da nossa natureza e sim aprendido e resultado de inferioridade espiritual. Exatamente por causa disso, Kardec disse que ele é uma insensatez da humanidade. Ou seja, é um temporário fruto da pouca evolução moral que temos, o que não é uma justificativa, e sim a causa de sua existência.
Ter orgulho não é apenas pensar-se mais que os outros, porque a maioria dos orgulhosos, pensa-se menos que todos e assume uma postura de disfarçar isso. Ah! Eu não gosto de andar de bicicleta! Na verdade, a pessoa não sabe e não pode mostrar sua inépcia.
Ter orgulho é não distinguir seus pontos fortes, os médios e os fracos. A pessoa supõe-se, mas não se conhece e nem se dá chance de se conhecer. Toma outros como padrão e quer ser igual ou mais. Ou então, imagina que precisa ser de uma certa maneira e ter certa posição e, ou se ilude que é e não é, ou se esconde por não ser.
Geralmente o orgulhoso é manipulador, faz-se de vítima e precisa mentir.
Psicologicamente se defende e se apóia na ilusão que tem a seu próprio respeito.
Não que não tenha qualidades, às vezes até bem desenvolvidas, mas não se dá o devido e correto valor. Prefere o valor suposto e por isso acaba nas mãos de Espíritos maldosos e oportunistas, que alimentam esse orgulho, tornando a pessoa uma espécie de refém de si mesmo.
Porque eles estimulam o orgulho existente, mas a pessoa não percebe e aceita. Então eles atrapalham sua mente e levam suas energias mentais. Por isso, a pessoa erra ou se engana, e depois sente  necessidade de disfarçar dos outros o que ocorreu, e para tanto apela para orgulho. Aí esses Espíritos agem, de novo, insuflando o orgulho, em função de coisas que acontecem. A pessoa, por exemplo, cai na tentação da soberba, de se achar isto e aquilo. Ou pensa-se de pouca qualidade e valor. Então eles atrapalham sua mente e roubam energia mental. A pessoa recai em enganos e erros, precisa esconder isso dos outros e…. E o ciclo se repete, se repete e se repete.
Esse círculo vicioso vai até o dia em que a pessoa perceber-se manipulada e sentir que está se enganando. Então vai encarar a realidade e começar a tomar mais conta de seus rompantes ou de seu complexo de inferioridade, o que automaticamente diminui o orgulho.
Como uma tinta forte, que a tudo colore com seu tom, quando o orgulho domina, eclipsa as qualidades que a pessoa possui. No entanto, as qualidades estão lá. Ocultas, mas existentes e aparecem logo que o orgulho “baixa”. E baixa por causa das dores que criou, se a pessoa já se cansou delas; ou então, pelo esclarecimento de quem busca as razões de seus equívocos, fracassos e frustrações.
Analisando de “cabeça fria”, encontramos o orgulho na base e como móvel de boa parte das ações humanas, disse Kardec; porque ele representa nossa incapacidade transitória de entender, mais ampla e profundamente, como funcionam as leis da Vida, a começar por não entendermos a nós mesmos e nem distinguirmos nossos valores e nossas fraquezas.
E não há como forçar um entendimento mais maduro, porque este só vem com a experiência!
Combater o orgulho? Sim e não.
Sim, no sentido de estar alerta a sua manifestação e ao quando cedemos a ele os nossos pensamentos, conceitos, sentimentos e atos, buscando discernir e quebrar essa incidência.
Não, no sentido real da palavra combate, ou seja, briga, luta, guerra, perseguição. Porque, quando combatemos algo em nós, ficamos contra nós mesmos. E essa é a forma mais eficiente de não se sair do lugar e também de desenvolver depressão. Ficamos reféns da situação.
O melhor é compreender as causa do orgulho e vê-las em nós mesmos, se possível, com muito auto respeito e auto consideração. Postura essa que nos ajuda a encontrar novos caminhos, a discernir outras facetas do que pensamos e a encontrar alternativas mais eficientes para agir e interagir.
Vamos nos aceitar como somos, para podermos compreender como chegamos a ser assim, e conseguirmos observar que é possível alterar modos de pensar e ser, na medida em que sentimos que isso é bom, necessário e viável.

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