quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Evangelho Condena o Espiritismo?


Paulo da Silva Neto Sobrinho

Sempre acompanhamos a coluna de Carlos de Brito Imbassahy, Qual é a Dúvida?, no Jornal Espírita, editado pela FEESP, onde podemos esclarecer dúvidas que sempre temos. Na edição de nº 302, mês outubro de 2000, lemos sua resposta a um leitor que lhe questiona a propósito das provas que possam existir no Evangelho sobre a condenação de princípios da Doutrina Espírita.
O colunista apresenta uma relação que lhe foi oferecida por um pastor seu amigo. Nela constam as seguintes passagens:
Condenação do Espiritismo
Atos 16, 16 a 18 = Gál. 5: 19 a 21 = Rev. 21: 8 e 22:15.
Ressurreição e condenando a reencarnação
João 5: 28, 29 e 11:25 = I Co 15:40 e 20 a 25 = Fil 3:20, 21 = Atos 17:31 = Mat 12: 31, 32 = Rom 5:19 + Rev 20:4 e 5:13 e 21:34.
Salvação pela fé em Jesus
Atos 4:12 + Luc 13:24 = I Tim 4:10 = I João 4:9 e 14 = Tiag 20:14 e 26 = Rom 6, 23.
Completa: “Segundo este meu amigo, o Espiritismo não tem amparo nenhum no Novo Testamento e mais, a palavra de Jesus, segundo ele, contida nos textos acima citados, provam que o Espiritismo é condenado pelo Mestre”.
É interessante como tentam de todas as maneiras colocar o Espiritismo como sendo proibido ou condenado pela Bíblia. Nesse, em particular, chamou-nos a atenção por ser, até então, o único que encontramos que não busca a nossa condenação no Antigo Testamento. É louvável, pois parece, realmente, que o autor dessas citações compreendeu bem o que Jesus queria dizer, quando, na narrativa de Mateus 9, 16-17, disse: “Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque o remendo tira parte do vestido, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas, põe-se vinho nove em odres novos, e ambos se conservam”.
Entretanto, não consegue ainda separar nos textos o que é verdadeiramente de Jesus e o que é apenas opinião dos diversos autores que constam do Novo Testamento. Dizemos isso, pois não podemos admitir como verdade nada que venha a ser contrário ao que Ele tenha dito, pouco nos importando qual seja a fonte. Até porque, devemos seguir o que disse: “O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo acima do seu senhor”, conforme citado em Mateus 10, 24.
Não podemos deixar de falar também como, em alguns casos, mudam completamente o sentido do texto sagrado, procurando, sempre, adaptá-los às suas convicções ou dogmas, apesar da advertência clara que encontramos em 2 Pedro 3, 16: “Ao falar acerca destes assuntos, como de fato costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas cousas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles”.
Assim, no decorrer deste estudo, vamos mostrar como certas citações são contraditórias ao que Jesus nos passou e como algumas interpretações que querem dar aos textos não condizem com o seu real sentido. Infelizmente notamos que são apegados demais à letra, outras vezes não buscam o contexto, agindo com o espírito preconcebido, arraigados aos dogmas que lhes são impostos.
Vamos fazer nossos contra-argumentos por partes, utilizando os textos citados.

Condenação do Espiritismo

Atos 16, 16-18: Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito de adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação. Isto se repetia por muitos dias. Então Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando: Retire dela. E ele na mesma hora saiu.
Nessa passagem não existe nenhuma condenação feita por Jesus ao Espiritismo. O que vemos, e não há como negar, é que Paulo após ser importunado diversas vezes por uma jovem que estava possessa de espírito adivinhador fica indignado, por isso resolve, num determinado momento, livrar a jovem de tal possessão, para que também pudesse realizar sua tarefa sem ser amolado. Sabemos que nos casos de possessão o espírito exerce uma tal subjugação que, a grosso modo, impõe a sua vontade à daquele sobre o qual domina. Nesse caso, a pobre jovem não tinha nenhuma culpa nos atos que fazia, sua única culpa, conforme sabemos, é por ter ficado na mesma faixa vibracional que o espírito, assim lhe deu as condições necessárias para que a ligação entre dos dois se consumasse. Por outro lado, é uma situação que existe desde que o homem entrou no mundo, não sendo, portanto, a possessão algo que somente acontece na Doutrina Espírita, a vemos acontecer em todos os seguimentos religiosos, muito embora, revestida com outro nome, é a tal da possessão demoníaca. E não há, aqui na terra, quem possa proibir que isso aconteça, pois se encontra dentro das leis naturais. Temos é que fazer como Paulo fez, ou seja, promover a libertação daqueles que se encontram sob a influência desses espíritos inferiores, é o que também fazer, até mesmo por caridade ao nosso próximo.
Não podemos deixar de falar que a jovem, mesmo possessa, estava sendo usada por alguém que lhe explorava, fazendo que o espírito adivinhador fosse consultado proporcionando-lhe lucros. Mas, em qualquer caso isso não tem nada a ver com a Doutrina Espírita, são praticas que absolutamente não fazemos, embora vejamos muitas pessoas quererem, a todo custo, atribuir-nos tais coisas, é pura distorção dos fatos.
Por outro lado, se a comunicação com os mortos fosse mesmo condenada por Jesus, não teria sentido algum ele próprio fazer o que estava condenando. Como pode ser isto? Vejamos, então:
Mateus 17, 1-3: Seis dias depois, toma Jesus consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João, e os leva, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.
Nessa passagem, é bem claro, que Jesus estava conversando com os espíritos Moisés e Elias, tendo como testemunhas Pedro, Tiago e João. Como vemos que Ele nunca se contradisse em nenhum dos seus ensinamentos, por que somente nesta questão estaria se contradizendo? Concluímos, então, que agora estava era justamente sancionando o intercambio com os ditos mortos, vivos em espírito, mostrando qual a maneira correta de se fazer.
Gálatas 5, 19-21Ora, as obras da carne são conhecidas, e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias, e cousas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já outrora vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais cousas praticam.
Apocalipse 21, 8: Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.Apocalipse 22, 15: Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras, e todo aquele que ama e pratica mentira.
Não falamos de que alguns textos são interpretados segundo a conveniência dogmática de determinadas pessoas, não tendo, portanto, nenhum fundamento. Os textos acima, por exemplo, não possuem nada com Jesus condenando o Espiritismo. Vemos é Paulo e João dizer que entre outras coisas condenáveis está a feitiçaria, que parece ser a única entre estas condenações que pode ser confundida com Espiritismo. Mas esta confusão é dos que nada conhecem de Espiritismo, muitas vezes, apenas, repetem o que outros lhe passaram por puro fanatismo religioso.
Por outro lado, se querem mesmo herdar o reino de Deus deveriam seguir a orientação de Paulo aos Gálatas deixando de fazer inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções contra qualquer outra corrente religiosa, principalmente contra a Doutrina Espírita, que tem um enorme respeito por todas elas.

Ressurreição e condenação à reencarnação

João 5, 28-29Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: e os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.
João 11, 25: Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá;
Esses textos sim, são realmente palavras de Jesus entretanto, se aqui entendermos que Ele estava falando contra a reencarnação, temos que convir que estaria contradizendo a si mesmo e até contrário ao que pensava o povo, vejamos, então as passagens:
Mateus 11, 11-15: Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele. Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir. Quem tem ouvidos (para ouvir) ouça.
Mateus 17, 9-12: E, descendo eles do monte, ordenou-lhes Jesus: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem ressuscite dentre os mortos. Mas os discípulos o interrogaram: Por que dizem, pois, os escribas ser necessário que Elias venha primeiro? Então Jesus respondeu: De fato Elias virá e restaurará todas as cousas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram, antes fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer nas mãos deles.
Mateus 16, 13-14: Indo Jesus para as bandas de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias, ou algum dos profetas.
Não vemos claramente Jesus dizer que João Batista era o Elias que estava para vir, ou seja, João era o Elias reencarnado. Observamos que inclusive esse era o pensamento do povo, que acreditava que um morto pudesse voltar a vida em outro corpo, se assim não fosse Jesus, não poderia ser, como pensavam, ou João Batista, ou Elias, ou Jeremias ou algum dos profetas.
Assim devemos buscar outro sentido para os dois textos anteriores. É certo que todos nós seremos julgados pelos atos que tenhamos praticado, quando na carne, quer bons ou maus. Então figuradamente sairemos do túmulo para este julgamento. E “o ainda que morra, viverá” é porque não morreremos, pois somos, na verdade, espíritos eternos, somente existindo a morte para o nosso corpo físico.
1 Coríntios 15, 40: Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é a glória dos celestiais e outra a dos terrestres.
1 Coríntios 15, 20-25Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como em Adão todos morreram, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés.
Passagens onde Paulo dá orientações aos Coríntios, não sendo, portanto, um ensinamento de Jesus. Sabemos que nosso corpo espiritual é muito diferente do nosso corpo físico, é um fato, foi o que percebeu Paulo. Não devemos ter dúvida alguma que para cada situação que Deus nos coloca, receberemos um corpo apropriado àquele meio em que iremos viver. Observem aqui na Terra, como nossos corpos possuem diferenças conforme o meio em que vivemos, ou seja, na água, na terra e no ar. Quanto à questão de a morte ter vindo por um homem, não podemos concordar com este absurdo, pois estaríamos dizendo que também a morte dos animais entrou no mundo por causa do pecado de Adão. Não condiz com “a cada um segundo suas obras” conforme afirmativa de Jesus.
Uma coisa é certa: o que terá fim aqui na terra é a maldade do homem, depois disso o reino de Deus estará estabelecido. Não existem inimigos de Deus, somente aqueles que ainda não o compreenderam, o que não quer dizer necessariamente inimigos, apenas seriam aos olhos dos ignorantes.
Filipenses 3, 20-21Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as cousas.
Onde aqui está a condenação à reencarnação? “A nossa pátria está nos céus”, é interessante isso que Paulo diz, pois é exatamente o que a Doutrina Espírita vem confirmar, que na realidade todos nós viemos do mundo espiritual e para lá voltaremos depois da morte, que a nossa verdadeira pátria é o plano espiritual, simbolicamente “os céus”. Nela retomaremos o nosso corpo espiritual, esse corpo sem humilhação de que fala Paulo.
Atos 17, 31: Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
Pelo que já expomos, não sentimos necessidade de falar sobre este item, pois estaríamos apenas repetindo argumentos já colocados.
Mateus 12, 31-32: Por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á isso perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.
Não sei de onde tiram que nessa passagem existe condenação à reencarnação, por mais que tenhamos nos esforçados, não vimos nada neste sentido.
Romanos 5, 19: Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos serão feitos justos.
Apocalipse 20, 4: Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo por mil anos.
Apocalipse 5, 13: Então ouvi que toda a criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos.
Apocalipse 21,34: (???) Este capítulo só vai até versículo 27.
Na carta de Paulo aos romanos, de certa forma repete o que diz aos coríntios quanto ao pecado de Adão. Especificamente quanto ao Apocalipse, não temos nada a dizer, pois tais textos, são para nós tão confusos que qualquer coisa que fossemos dizer poderia parecer ridículo. Entretanto, achamos que somente o próprio autor poderia nos passar o que quis dizer com aquela linguagem mística e simbólica que nos trás em sua revelação.

Salvação pela fé em Jesus

Atos 4, 12: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa ser sejamos salvos.
Lucas 13, 24: Respondeu-lhes: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão”.
Se aceitarmos que somente pela fé estamos salvos estaremos sendo contrários ao que Jesus ensinou, conforme as seguintes passagens, que também servem como argumento aos outros itens:
Mateus 16, 27: Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme as suas obras.
Conforme já citamos várias vezes, a retribuição de cada um será conforme as obras que tenha praticado.
Mateus 25, 31-46: Quando vier o Filho do homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda; então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me. Então perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te damos de comer? ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então o Rei dirá também ao que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me. E eles lhe perguntarão: Senhor quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso, e não te assistimos? Então lhes responderá: Em verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna.
Os que foram para a direita foram os que tiveram fé, ou somente aqueles que ajudaram ao próximo? Não podemos distorcer os textos à nossa conveniência, temos dito. Os justos, ou seja, os que conquistaram sua evolução espiritual vivem na vida eterna, não mais necessitando de reencarnar.
Lucas 10, 25-37: E eis que certo homem, intérprete da lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus em provas, e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então Jesus lhe perguntou; Que está escrito na lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó, e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chagando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem e, se alguma cousa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar. Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu-lhe o intérprete da lei: O que usou de misericórdia para com ele. Então lhe disse; Vai, e procede tu de igual modo.
O sacerdote e o levita representam todos os que se encontram à frente dos segmentos religiosos que mesmo conhecendo o que consta do Evangelho de Jesus não o coloca em prática, ou seja, não exercem o amor ao próximo através da caridade. Já o samaritano é o símbolo de todos aqueles que mesmo sem pertencerem a nenhuma das religiões organizadas pratica a caridade, seguindo, mesmo sem saber, os ensinos de Jesus. Qual deles Jesus nos oferece como exemplo a ser seguido? Foram os de fé ou o de ação? A conclusão é por demais óbvia, não foram os de fé.
Mateus 7, 21-29: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas.
Novamente estamos diante da prática da caridade como aquilo que devemos fazer para merecer o reino dos céus.
Fica até incisivo a lição de Jesus acerca do que realmente nos salva. Em nenhuma das passagens acima fala que é a fé, muito antes, pelo contrário deixa taxativo ser as obras de caridade que tenhamos feito ao nosso semelhante. Qualquer ensinamento, venha de onde vier, fora disso é contrário ao que Jesus ensina.
1 Timóteo 4, 10: Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis.
Não vemos nesta passagem que é a fé que salva. Deus não pode ser o nosso Salvador, pois tiraria o nosso mérito. O que em realidade acontece é que ele fornece a todos nós os meios de nos salvarmos. Como é justo este meio, deverá ser um que todos nós indistintamente podemos fazer. Vejam que somente a caridade é algo que todos podem fazer, mesmo aqueles que são ateus – não é o caso do bom samaritano? A fé ao contrário, os que não conhecem o Deus verdadeiro, poderão estar adorando um deus qualquer, estariam assim desprovido de fé nEle.
1 João 4, 9Nisto se manifesta o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele.
1 João 4, 14E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo.
A questão da salvação de maneira fácil, somente por crer, aceitar ou ter fé, é contrária, conforme já cansamos de dizer, ao: “a cada um segundo suas obras”, então porque ainda insistem nesse absurdo? Entretanto, este não parece ser o pensamento de Tiago, ele conforme veremos, dizia que a fé sem obras é morta. Vamos, então à sua narrativa:
Tiago 2, 14-18 e 26: Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa, e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos, e fartai-vos, sem, contudo, lhes dardes o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim também a fé, se não tiver obras, por si só esta morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé. Porque assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.
Mas, ao lemos Paulo, notamos que ele ora fala que é a fé, ora que é o amor, esse se manifestando na ajuda que damos aos necessitados, vejamos:
Romanos 5, 1: Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
Romanos 10, 9: Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração credes que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
1 Coríntios 13, 1-13: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em partes será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino. Porque agora vemos como em espelho obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior destes é o amor.
Tiago 20, 14 e 26: (???)
Não existe este capítulo, pois esta carta vai somente até capítulo 5.
Romanos 6, 23: Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Não podemos censurar os que ainda acreditam que a morte veio ao mundo porque Adão pecou. Para nós é ilógico, pois vemos tudo, na natureza em nossa volta, passar pelo ciclo nascer-viver-morrer, nada mesmo escapa de tal lei. Assim a morte do homem nada mais é que aplicação desta lei, não sendo, portanto castigo de Deus. Tenhamos que convir que aos homens era necessário dar uma explicação para a morte, daí inventaram esta lenda do pecado de Adão e Eva para que ele aceitasse a morte mais naturalmente. Temos, por lógica, aceitar que é uma lenda, pois não poderemos acreditar que um simples ato de comer uma fruta tenha provocado tamanho disparate, até porque é de se estranhar que tenha existido alguma árvore que ao comermos de seu fruto passamos a ter conhecimento do bem e do mal.

Conclusão

Provamos que Jesus nunca condenou o Espiritismo, buscando para nossa sustentação os textos do Evangelho. Mas se a Doutrina Espírita ainda incomodar a alguém, usaremos em nossa defesa as palavras de Gamaliel, mestre da lei, quando no Sinédrio advogou a favor de Pedro e os demais apóstolos, dizendo: “Daí de mão a estes homens, deixai-os; porque se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus”, conforme Atos 5, 38-39.
Outubro/2000.

Bibliografia:

  • A Bíblia Anotada = The Ryrie Study Bible/Texto bíblico: Versão Almeida, revista e atualizada, com introdução, esboço, referências laterais e notas por Charles Caldwell Ryrie; Tradução de Carlos Oswaldo Cardoso Pinto, - São Paulo: Mundo Cristão, 1994.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

INSTRUÇÕES AOS EMISSÁRIOS – PARTE III



Mat. 10:24-33

24. "Não é o discípulo mais que seu mestre,
nem o servo mais que seu senhor:
25. basta ao discípulo ser  como o seu mestre e
ao servo como o seu senhor. Se chamaram
Beelzebul ao dono da casa, quanto mais (o
farão) aos seus domésticos!
26. Portanto, não os temais: pois nada há de
encoberto que não venha a descobrir-se,
nem de oculto que não venha a saber-se.
27. O que vos digo às escuras, dizei-o na luz; e o
que ouvis aos ouvidos, proclamai-o nos telhados.
28. Não temais os que matam o corpo, mas não
podem matar o alma; temei, antes, o que
pode fazer perder tanto a alma como o corpo no vale das lamentações.
29. Não se vendem dois passarinhos por um
centavo? e nenhum deles cairá no chão sem
vosso Pai.
30. E até os cabelos de vossa cabeça estão todos
contados:
31. Não temais, pois: mais valeis vós que muitos
passarinhos.
32. Portanto todo aquele que me aceitar diante
dos homens, eu também o aceitarei diante
de meu Pai que está nos céus;
33. mas aquele que me rejeitar diante dos homens, eu também o rejeitarei diante de meu
Pai que está nos céus.


Nesta terceira parte, que intitulamos "encorajamentos", encontramos, em forma sentenciosa, três recomendações de coragem, iniciadas com as palavras “não temais".
A fórmula inicial salienta que um discípulo não deve pretender tratamento superior ao que teve seu
mestre, nem o servo ser mais bem tratado que seu senhor. A verdade é evidente. Muito felizes deverão
julgar-se discípulos e servos, se conseguirem tratamento semelhante ao do mestre e ao do senhor.
Lucas apresenta uma particularidade: o discípulo  não é mais que seu mestre, mas todo discípulo diplomado (katÍrtismÈnos, particípio passado passivo de katartÌzÙ, isto é, que foi aparelhado, preparado,
formado, ou seja, diplomado), é como (é igual) a seu mestre.


Depois vem o exemplo: chamaram o Mestre de Beelzebul. Essa palavra desorientou os exegetas durante séculos. Nessa forma aparece nos manuscritos, e significa literalmente "senhor do fumeiro"; não
deve ser confundido com Beelzebub,  “senhor das moscas", a quem Ozonias (2.º Reis 1:6) mandava
consultar em suas dificuldades. Na época de Jesus, Beelzebul tinha o sentido genérico de “ídolo", isto
é, de culto a uma divindade falsa; então, Beelzebul era o falso profeta, o falso sacerdote. Se assim
chamaram o "dono da casa", quanto mais o farão a seus familiares! ...
Até hoje vemos esse epíteto aplicado, mesmo dos  púlpitos, aos que seguem os lídimos preceitos de
Jesus. E o próprio ato de sermos assim denominados, constitui para nós a maior glória, pois vem provar à saciedade que, segundo a predição de Jesus, nós realmente somos seus seguidores, seus discípulos, pois recebemos o mesmo epíteto que Ele.
A argumentação é feita nos moldes rabínicos, da menor para a maior (a minori ad majus, na fórmula
silogística da Escolástica).
Por que temê-los?
Depois aparece uma sentença axiomática, também repetida: tudo o que se esconde, há de aparecer à
luz; e as malevolências dos homens, tenham ele que títulos tiverem e atribuam-se a autoridade que
quiserem, tudo se virá a saber a respeito da verdade. Podem eles intitular-se a si mesmo delegados,
embaixadores e representantes de Deus, mas suas credenciais estão assinadas por eles mesmos, e portanto nenhum valor real apresentam, porque lhes falta a chancela da Divindade. Tudo isso, que é escondido, virá a ser publicado.
A seguir uma advertência baseada no costume da época. O pregador, denominado darshan, não discursava na sinagoga aos sábados em voz alta: falava a meia-voz ao intermediário chamado amor‚ ou turgem‚n, e este é que repetia  em voz alta o que o  darshan lhe comunicava (cfr. Strack e Billerbeck,
Kommentar zum neuen Testament aus Talmud und Midrash: Das Evangelium nach Matth., Munchen,
1922, tomo 1, pág. 579; citado por Pirot, o.c.). Assim diz Jesus, que o que lhes é dito às escuras, deve
ser proclamado na luz; isto é, o que é dito simbolicamente, deve ser explicado com clareza, e tudo o
que for oculto deve ser traduzido à luz; e o que for dito aos ouvidos, deve ser gritado dos telhados.
Prende-se esta última frase também a um hábito da época: o hazzan subia, às sextas-feiras, ao telhado
mais alto da aldeia e tocava a trombeta, para avisar a todos os camponeses que se recolhessem para
respeitar o sábado.
Justamente pela explicação clara desses ensinamentos secretos vem a humanidade esperando há quase
dois mil anos. Com a ajuda do Pai, eles estão sendo trazidos aos poucos, infelizmente ainda de modo
deficiente, por incapacidade dos intérpretes.
Aparece o segundo conselho de coragem. Aqui encontramos a oposição entre sÙma (corpo) e psychÍ
(alma). Não devem temer-se os que só tem o poder de matar o corpo (sôma) , mas não no possuem
para matar a alma (psychê), ou seja, desviá-la do rumo certo, levando-a para o anti-sistema, para o
pólo negativo.
Em numerosos lugares, tanto do Antigo como do Novo Testamento, aparecem como ações opostas as
locuções "matar a alma" e "salvar a alma". A alma (psychê) é o corpo astral que plasma o corpo físico
na reencarnação e aparece, no físico, sob a forma de sangue (Deut. 12:23). A distinção entre "matar o
corpo” (sÙma) e "matar a alma” é bem clara nas Escrituras. Quem mata o corpo apenas destrói o veí-
culo mais denso, mais grosseiro, mas, com isso, não afeta o corpo astral (a alma), já que esta prossegue
sua mesma vida em outro plano de vibrações e, de modo geral, não é prejudicado senão por perturba-
ção momentânea pois de qualquer forma dirimiu um carma que o alivia de dívidas do passado. Por
tudo isso, a alma se vê "salva" da garra dos perseguidores. Já a "morte da alma" se apresenta sob outros aspectos muito mais graves. É atingido o próprio corpo astral, que se perturba profundamente e, ao
chegar ao outro plano de vibrações, permanece desequilibrado de tal forma, que só novo mergulho no
"vale das lamentações" (na reencarnação terráquea) poderá reequilibrá-lo através do esquecimento
temporário. No entanto, a reencarnação desses que se encontram "mortos" nesse estado é terrivelmente
dolorosa, pois que, pelo próprio desequilíbrio, construirão corpos físicos deficientes, defeituosos, ou
pelo menos com os neurônios cerebrais disrítmicos, o que lhes causará sérias perturbações mentais e

até demência. Por tudo isso, compreende-se que a morte do corpo físico não é temível, mas a da alma é
de consequêncías desastrosas, e por isso deve ser temida: "teme: os que podem fazer perder tanto a
alma quanto o corpo no vale das lamentaçães”, perdidos no escuro cárcere da loucura que afeta tanto o
corpo como a alma.
No entanto, a Providência do Pai que em todos e em tudo habita, está sempre atenta a tudo, e nada nos
acontecerá sem Ele. O texto grego ·neo tou patrÛs humÙn, que literalmente significa "sem vosso Pai",
pode ser entendida nesse sentido preciso (que preferimos): nada ocorre sem o Pai que está dentro de
tudo e de todos (cfr. Ef. 4:6 e 1 Cor. 15:28), e que constitui a essência ou substância ultérrima de tudo
o que existe; ou b) “fora de vosso Pai". pois nada existe fora Dele, já que Nele estamos mergulhados
integralmente. Nele nos movimentamos, Nele existimos (cfr. At. 17:28); ou c) interpretando-se o sentido: "Sem o consentimento ou a vontade de vosso Pai”.
Se o Pai está em nós e nós estamos no Pai, que temer? Tudo o que ocorre conosco, ocorre juntamente
com o Pai que nos acompanha a cada segundo, e nada ocorre a nós sem que o Pai nos acompanhe amoravelmente. Até os pardais, que quase nada valem, não caem ao chão sem Ele; até os fios de cabelo de
nossas cabeças; que estão todos contados pelo Pai, não caem sem Ele. E uma criatura humana, que
muito mais vale, como poderia qualquer coisa ocorrer-lhe sem a coparticipação do Pai? É ainda o raciocínio a minori ad majus; se não cai um cabelo nosso, como ocorreria uma enfermidade ou morte sem
que isso ocorresse com o Pai, a Seu lado dentro Dele.
Não adotamos as traduções "sem o consentimento" do Pai nem, menos ainda, "sem a vontade" do Pai,
para não falsear a idéia expressa por Jesus. Essas duas expressões dariam a falsa impressão de que um
Pai externo e pessoal estaria deferindo requerimentos, dando uma permissão exterior para que uma
desgraça atingisse ou não seus filhos, enquanto Ele ficaria "de fora”, a olhar passivamente os extertores de dor das criaturas. E menos ainda a "vontade" do Pai, que faria que o imaginássemos como um
sádico a gozar com o sofrimento das criaturas,  sofrimento planejado e desejado pela vontade Dele.
Essa tradução plasmou erradamente a mentalidade geral durante milênios, e ainda hoje ouvimos: "Fulano ficou aleijado ... foi a vontade de Deus”: ou então: "Fulano foi roubado ... foi a vontade de Deus";
e coisas piores, como se Deus, o Pai Amoroso e Bom, fora um malfeitor criminoso que só quisesse
desgraças. Porque se algo de bom e agradável acontece, ninguém diz que “foi vontade de Deus", ao
contrário: o que é bom é atribuído à sorte da criatura, à sua competência, à justiça, e até ao acaso, mas
jamais à vontade de Deus. Esta só ocorre nos acontecimentos tristes e dolorosos. Para a massa, Deus
ainda é "o vingador" do tempo de Moisés. No entanto, pelo ensino de Jesus, aprendemos o contrário: o
Pai é a Alegria, a Felicidade, a Bondade, e só quer o Bem de seus filhos; se algo de mal ocorre, é provocado por nossos erros, como consequência de nossas investidas contra a Lei. Ora, quem bate com a
cabeça num muro de pedra, quebra a cabeça por vontade própria, não por vontade de Deus. Ele construiu o muro de pedra da Lei para guiar a humanidade, e leva todos a obedecerem à Lei para não se
ferirem nas pedras, sendo até mesmo beneficiados  e defendidos por essa muralha granítica. Mas se
alguém, por ignorância ou maldade, teima em investir contra o muro, Ele não tem culpa, não é por Sua
vontade que isso ocorre. As consequências são colhidas pela criatura que cometeu o erro, e exclusivamente por culpa própria, porque quis.
A conclusão é dada com a "maior" “vós valeis mais que muitos passarinhos".
Lemos depois a sentença que finaliza esta parte do discurso, e que constitui uma ilação de tudo o que
foi dito. O raciocínio caminha com impecável lógica.
a) o discípulo não é mais que o Mestre;
b) se perseguiram o Mestre, perseguirão o discípulo;
c) não obstante, coragem! preguem a doutrina; já que
d) os inimigos só poderão prejudicar o corpo,
e) mas nada acontece fora do Pai, nem a um passarinho;
f) ora, os discípulos valem muito mais,

g) então aceitem esse Mestre, apesar dos sofrimentos.
As traduções correntes transladam o verbo grego homologÈÙ por "confessar". Realmente, pode apresentar-se esse sentido. Mas o significado português atual de confessar pode dar idéia de "contar os pecados a um sacerdote ou seus erros a um juiz". E esse não é o significado desse verbo, que, etimologicamente exprime: "falar" (logÈÙ) "a mesma coisa" (homo), e portanto, "concordar, estar de acordo,
reconhecer, aceitar". Preferimos o último, por  causa da oposição com a segunda parte do dístico:
"aceitarei, quem me aceitar; rejeitarei, quem me rejeitar”.
O princípio ensinado é claro: é o discípulo que escolhe o mestre e se entrega à sua formação. Se ao
professor fosse dado escolher seus discípulos, seria ótimo; mas a ele só cabe ser escolhido pela preferência de quem nele confia e lhe quer ouvir os ensinos. Portanto, a lógica ainda continua precisa: se
alguém O aceitar, será aceito por Ele; mas se O rejeitar, por Ele será rejeitado.
As frases do ensino tornam-se cada vez mais incisivas.
A diferenÁa entre individualidade e personalidade È aqui realÁada com todo o vigor.
Jamais poder· pretender a personalidade transitÛria superar ela mesma o nÌvel da individualidade.
Em relaÁ„o a esta, a personalidade È um discÌpulo diante de um mestre, uma escrava perante seu senhor, e n„o lhe cabe outro recurso sen„o abaixar a cabeÁa, "renunciar a si mesma" e, carregando sua
cruz por ela mesma construÌda, seguir no rumo da espiritualizaÁ„o. Mais tarde vir„o outros conhecimentos em apoio: sÛ quem der preferÍncia absoluta ‡ individualidade poder· dizer-se discÌpulo (Mat.
10:37). Por enquanto, est· firmado o princÌpio da superioridade de uma sobre a outra, sem possibilidade de enganos. Por mais que se esforce, a personalidade poder·, no m·ximo, quando j· "diplomada", igualar a individualidade atravÈs do conhecimento que lhe advÍm exatamente da sabedoria profunda da prÛpria individualidade, sua mestra inequÌvoca.
Quem coloca a personalidade acima de seu "mestre e senhorî o EspÌrito, o Cristo Interno, ainda se
encontra bastante atrasado na estrada da evoluÁ„o no perÌodo da construÁ„o de suas cruzes, ‡s quais
autom·tica e sucessivamente vai ficando preso, tendo que carreg·-las posteriormente atÈ o cimo do
Calv·rio.
Ora, enquanto o Cristo Interno se acha crucificado na matÈria, trilhando a dura, ·rdua, Ìngreme e
pedregosa estrada para o GÛlgota, ter· que passar pelas Forcas Caudinas do sofrimento; e como se
acha entre "espÌritos" muito materializados, que nem sabem o valor do EspÌrito, ter· que suportar a
perseguiÁ„o do meio ambiente que o acolhe. Acha-se assim elucidada a frase: "se o mestre e senhor
(EspÌrito, Cristo Interno) È chamado Beelzebul (senhor do fumeiro, isto È, chefe das trevas, da ignor‚ncia), muito mais o ser„o os seus familiares" (ou domÈsticos), que s„o seus veÌculos, e em primeiro
lugar seu intelecto que governa toda a sua personalidade. Quer isto dizer que a perseguiÁ„o movida
pelo mundo material ao EspÌrito, sÍ-lo-· tambÈm aos veÌculos daqueles que servem ao EspÌrito, como
seus discÌpulos e servos.
No entanto, toda essa perseguiÁ„o movida pela matÈria (diabo, satan·s) ao EspÌrito, no planeta em
que vivemos, ser· tempor·ria: "nada h· encoberto que se n„o descubra". Se nas condiÁıes atuais o
EspÌrito est· oculto sob a matÈria, ele vir· a descobrir-se, manifestando-se radiantemente ao prÛprio
mundo. E a massa humana ir· aos poucos encontrando-o dentro de si mesma. Para isso, requer-se
tempo, n„o contado em dias e meses, mas computado em sÈculos e milÍnios. "Tudo o que est· oculto,
vir· a saber-se", e por isso a ˙nica parte real da vida (o Cristo) ser· conhecido de todos .
Caber·, pois, aos discÌpulos e continuadores da obra de Jesus (da individualidade) ensinar ‡s massas
o Segredo do Reino, falando claramente o que Ele revelou sob o vÈu da simbologia mÌstica, explicando Seus ensinamento, em Època futura mais preparada para recebÍ-Lo. Melhor dito: o que cada criatura evoluÌda ouviu em segredo, silenciosamente,  ensinado por seu Cristo Interno residente em seu
coraÁ„o, ela dever· proclam·-lo a todos os ventos, na hora oportuna.


Recordemos: "Tenho ainda muito que vos dizer, mas n„o podeis suport·-lo agora; quando vier porÈm
o EspÌrito verdadeiro, ele vos guiar· a toda verdade, porque n„o falar· por si mesmo, mas dir· o que
tiver ouvido, e vos anunciar· coisas futuras" (Jo„o, 16:12-13).
Ent„o, nada de mistÈrios nem de "segredos ocultos" sÛ para iniciados: devemos divulgar "por cima
dos telhados" tudo o que formos aprendendo.
Chega, a seguir, a advertÍncia de coragem: nada do que ocorre ‡ personalidade, de bem ou de mal,
atinge a individualidade, o Eu profundo. Se algum mal È feito ‡ personalidade de Fulano, sÛ a personalidade de Fulano sofrer· com isso, pois o Eu profundo È inatingÌvel. Mas aqueles que podem obrigar o "espÌrito" a reencarnar no "vale das lamentaÁıes" (a Terra), esses devem ser temidos. Fugir dos
que chegam a nÛs, obrigando-nos a com eles criar carmas dolorosas para o futuro.
E finalmente a certeza da vitÛria: os passarinhos, os cabelos, tudo est· no Pai, e jamais coisa alguma
poder· ocorrer sem o Pai, que reside dentro de nÛs, que constitui nosso Eu mais profundo. Por que
temer? O Pai est· conosco, em redor de nÛs, dentro de cada um de nÛs, e nÛs estamos mergulhados no
Pai como peixes no oceano: nada nos acontecer· sem o Pai. Ent„o, "n„o temais"!
Todavia, h· importante pormenor a considerar. Toda criatura que "diante dos homens., publicamente,
aceitar seu EspÌrito, seu Cristo Interno, ser· aceita e recebida em uni„o com Ele, "diante do Pai que
est· nos cÈusî, isto È, que babita dentro de nÛs, e portanto ser· feita a uni„o mÌstica. Mas quem, "diante dos homens" rejeitar sua prÛpria individualidade, preferindo viver a vida ilusÛria da personalidade, ser· rejeitado "diante do Pai" e n„o poder· realizar a unificaÁ„o mÌstica.
Est·, pois, neste passo, bem esclarecida a quest„o da graÁa e do livre-arbÌtrio, t„o discutida h· milÍ-
nios, e j· resolvida em duas frases lapidares pelo Mestre Incompar·vel. Se o movimento partir do livre-arbÌtrio do homem (aceitar o Cristo Interno ), o Cristo Interno aceitar· a criatura (graÁa) diante
do Pai (com a uni„o mÌstica). Mas essa graÁa n„o poder· descer atÈ o homem que a rejeitar livre e
espontaneamente. Portanto, a rejeiÁ„o È provocada pela personalidade, que em primeiro lugar rejeita
o Cristo Interno, mergulhada e gozosa que est· com a matÈria em que se rebolca. … a velha exemplificaÁ„o do copo: se o colocarmos debaixo de uma bica aberta, mas emborcado de boca para baixo, ele
n„o poder· ficar cheio; mas se o colocarmos de boca para cima, ele se encher· das bÍnÁ„os da ·gua
que dessedenta.





A REALIDADE DA ALMA


CAP. I: A REALIDADE DA ALMA

O conhecimento que o ser humano pode ter, da realidade da alma, constitui a informação mais importante que venha a adquirir em toda a sua existência, pois inúmeras pessoas desconhecem que, além do corpo físico, cada um tem uma alma imortal que dirige os seus atos. E mesmo os que dizem saber que o ser humano é formado de corpo e alma, desconhecem sua participação na vida humana e que a mesma se manifesta pelo pensamento, pela inteligência, pelo senso de responsabilidade, pelo caráter, pela consciência, pela vontade, pelo livre-arbítrio, pela intuição e pelo anseio, muitas vezes oculto, de ser útil aos seus semelhantes.

A aquisição desse conhecimento pode trazer um enriquecimento do seu ser, advindo-lhe o reconhecimento da unidade da Criação e da responsabilidade pela sua própria existência, e o amor que deve dispensar a todos os seres da Natureza e, especialmente, às criaturas humanas, independentemente de sua idade, raça, condições sociais, econômicas e do seu próprio estado físico. Todo ser humano é uma alma vivente que se identifica pelos seus atributos próprios e não pela sua aparência física ou pelos seus adornos exteriores.
A alma é um ser de constituição energética que apresenta a forma do ser humano, amoldado-se à sua idade, sexo e às características do corpo ao qual imprime sua vitalidade. Tem a individualidade e a grandeza que lhe facultam vida plena, quando se encontra na espiritualidade, ou na condição de estar vivificando um organismo biológico, participando na constituição do ser humano. Nessa situação, a alma comanda todas as atividades da vida humana.

Alma é a denominação dada por Allan Espírito encarnado, como está em O Livro dos Espíritos, página 100, item 134. Essa denominação é simplesmente didática, visto que alma e Espírito designam a mesma entidade, respectivamente, quando está encarnada ou quando se encontra no mundo espiritual . O ser humano, em sua evolução cronológica, tem seu corpo físico vinculado às leis condicionado a uma existência limitada que vai desde o nascimento até a morte. E a alma, que participana formação do seu organismo, pela sua condição de imortalidade, preexiste à formação do corpo, e continua sobrevivendo na espiritualidade depois da desintegração do mesmo.

Na sua evolução antropológica através dos tempos, o organismo humano recebeu a atuação da espiritualidade, ainda na fase pré-anímica de sua formação, preparando o seu corpo para receber a participação da alma como constituinte do ser humano. A conjunção da alma com o organismo já diferenciado do antropóide primitivo constitui o fenômeno mais importante que ocorreu em toda a história da formação do ser humano.

Esse fenômeno tornou possível à alma participar de todos os atos da vida humana e, deste modo, poder atuar positivamente sobre os neurônios encefálicos, desde o momento de sua formação embrionária no interior do útero materno, promovendo o seu aprimoramento a planos progressivamente mais elevados, de modo a possibilitar ao ser humano alcançar cada vez mais, embora lentamente, todo o potencial de energias intelectuais que lhe estão reservadas.

1 - A Alma Segundo a Bíblia

Sua criação e sobrevivência são mencionadas na Bíblia, constando do Gênesis que "o homem foi feito alma vivente" (Gê 2, 7), visto que "criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou". (Gê l, 27) A mensagem segundo a qual "o homem foi feito alma vivente", tem um significado muito importante, evidenciando que o ser humano deve pensar e viver como alma encarnada e não pelos atributos inerentes ao seu corpo físico.

Da alma sabemos, ainda, que desfruta do privilégio da imortalidade, como consta da afirmação contida nos Salmos: "tu, Senhor, livraste a minha alma da morte." (SI 116,8) Do mesmo modo, Jesus lembra que a alma é imortal, afirmando: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma". (Mt 10,28)
Falando sobre a alma, Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, página 25, 2° parágrafo, reúne esses dois conceitos, o da existência e o da imortalidade da alma, dizendo que na formação do ser humano há a participação do corpo físico e da alma ou Espírito, afirmando que "o Espírito é o elemento principal dessa união, pois é o ser pensante e que sobrevive à morte, do que um acessório do Espírito, roupagem que ele abandona depois de usar".
Não obstante esteja aparentemente oculta no organismo, a alma é responsável pelas ações boas ou más praticadas pelo ser humano, devendo responder pelas mesmas na espiritualidade ou em vidas futuras.
2 - RESPONSABILIDADE DA ALMA

No Evangelho de São Marcos sobre a conduta das pessoas que, desviadas do bem, podem ser danosas à própria alma, aconselhando o desapego dos valores transitórios da vida, dizendo: "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder sua alma ?" (Mc 8, 36). Essa mensagem de São Marcos nos faz pensar que o ser humano passa pela vida entretido em preocupações frívolas, sua alma terá que enfrentar as conseqüências de uma vida desperdiçada.

Os diferentes caracteres psicológicos, que qualificam o ser humano, não são determinados por peculiaridades dos seus órgãos físicos, da sua aparência e constituição, mas pelos atributos da alma, que participa em todos os atos da vida. Desse modo, uma pessoa não se torna um cientista porque recebeu hereditariamente circunvoluções cerebrais diferenciadas nesse sentido, mas porque a sua alma é dotada das qualidades de cientista.

Esse conceito está de acordo com o que ensina Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, página 198, item 370: "O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos". Sendo a alma responsável pelo pensamento, pelo livre-arbítrio, pela conduta das criaturas, é natural que possa exercer influência não apenas sobre seu comportamento, mas também sobre as células do organismo, condicionando os seus estados de saúde ou de doença.

Respeitadas as leis de hereditariedade, a alma atua como Modelo Organizador Biológico do organismo, como afirma Hernani Guimarães Andrade no livro Espírito, Perispírito e Alma, página 54, 2° parágrafo, sendo "capaz de atuar sobre a matéria orgânica e provocar-lhe o desenvolvimento biológico". Essa atuação realiza-se desde a fase de formação da célula-ovo e durante toda a vida do ser humano. Desse modo, a alma é um ser atuante que pode agir continuamente sobre o organismo, vivificando-lhe as células, promovendo a saúde e o bem-estar.

A alma exerce, ainda, importante contribuição à vida humana por conter, no perispírito, o arquivo da memória dos fatos ocorridos em vidas passadas e que se somam aos adquiridos na presente existência. Em virtude de sua natureza espiritual, e na condição de estar vivificando um organismo biológico, a alma realiza, em cada criatura, o encontro entre o humano e o divino.
Como espírito encarnado, o ser humano tem sua dignidade e deve ser respeitado, não obstante a situação em que possa encontrar-se e as faltas que tenha praticado. É um ser em fase de evolução, a caminho do seu aprimoramento, ainda que esteja passando por situações menos dignas. Na prática, cada pessoa pode conduzir livremente sua vida, procurando praticar o bem e desfrutar condições progressivamente melhores, ou optar por uma conduta menos edificante para si mesma, em relação aos demais seres humanos.

O importante é que, diante desses acontecimentos, a alma participa, consciente ou inconscientemente, de todos os atos da vida, e as ações boas ou más que tenha praticado são registradas no arquivo perispiritual e se enquadram na lei de reciprocidade ou de causas efeito e suas consequências, respectivamente, boas ou más, retornam para o mesmo ser, nesta vida ou em vidas futuras, porque as existências são solidárias umas com as outras. As boas ações voltam sob a forma de alegria, saúde e bem-estar, e, as más, como diferentes modalidades de sofrimentos.

3 - RECONHECIMENTO DA ALMA

Nos tempos atuais, há um número crescente de pessoas que procuram dedicar-se à vivência interior,por meio de diferentes recursos, como os religiosos, esotéricos, meditação, grupos de estudo, retiro espiritual e práticas orientais, que a par da realização dos seus anseios, podem levar, ao auto-reconhecimento da alma.

Entre os que se dedicam aos estudos orientais, é comum a prática da meditação através de uma auto-análise, que consiste em dar um mergulho no seu eu interior, num trabalho lento e gradativo que leva ao reconhecimento de sua própria individualidade. Podem, assim, ser descortinadas suas diferentes qualidades, suas aspirações mais íntimas, encontrando as raízes que levam ao reconhecimento do seu ser.

A identificação da alma pode ocorrer espontaneamente nas situações que nos colocam diante de pessoas ou de fatos que fazem lembrar imagens ou situações que já teríamos conhecido em existências pregressas. Seriam lembranças vagas, subliminares, de vidas passadas. Do mesmo modo, esse conhecimento pode ser revelado por pessoa dotada de capacidade mediúnica, durante consultas espirituais seriamente conduzidas.

Ainda, entre os recursos que levam ao reconhecimento da própria alma, não se pode deixar de reconhecer a importância da regressão da memória a vivências passadas, capaz de evidenciar a participação da própria pessoa, vivendo em outras condições, com a mesma individualidade, em épocas diferentes.

Essa modalidade de pesquisa, a par de sua finalidade médica, para o diagnóstico e tratamento de doenças decorrentes de distúrbios da alma, permite chegar a duas importantes conclusões: a da imortalidade da alma, constatada pela continuidade da vida através das gerações, e a da veracidade da reencarnação, em que a mesma criatura participa de organismos distintos em épocas diferentes.
O reconhecimento da imortalidade da alma pode dar, a cada um, um incentivo para as diferentes atividades da vida, levando o ser humano a utilizar seu livre-arbítrio para realizar positivamente a vivência do amor, a prática de boas ações.
4 - DESLIZES DA ALMA

Muitas vezes o ser humano é levado a cometer deslizes, quer seja na satisfação de prazeres supérfluos, ou procurando acumular, indevidamente, bens materiais, cometer ações agressivas ao próximo, ou procurando alcançar, sem merecimento, o poder e a supremacia sobre os seus semelhantes.
São ações que decorrem basicamente da pouca evolução espiritual ou por não ter tido a oportunidade de ser educado nos moldes dos valores que enaltecem a vida humana. Analisando o conceito popular segundo o qual as pessoas podem cometer deslizes porque a carne é fraca, Allan Kardec no livro O Céu e o Inferno, 85, 3° parágrafo, diz: "A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos.
A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito que é o ser pensante e de vontade própria".
São inúmeras as faltas que os seres humanos cometem, marcadamente pela agressividade tão generalizada, em suas diferentes formas, e que culmina em agressões coletivas e guerras de extermínio.

São ações próprias de almas que ainda não tiveram a oportunidade de assimilar o conteúdo básico do segundo mandamento da Lei de Deus, de amar ao próximo como a si mesmo. Por falta de aprimoramento espiritual, os seres humanos ainda não compreenderam o significado da vida e a oportunidade que desfrutam de realizar-se como almas viventes, para alcançar planos progressivamente mais elevados na escala da evolução.

5 - Correlação com o Cérebro

O cérebro, apesar das aparências, não é o criador dos pensamentos, mas um recurso para a sua manifestação, sendo igualmente responsável pela manifestação de outros atributos da alma, como a vontade, o querer, a determinação, a intuição e a consciência. Para que o cérebro possa desempenhar plenamente suas atribuições, é necessário que esteja em perfeito estado, tanto em sua estrutura anatômica como em suas condições fisiológicas, sem comprometimentos que possam prejudicar a livre manifestação de suas funções.

Entre os fatores que comprometem a massa encefálica, podem estar presentes os acidentes vasculares cerebrais, os tumores, as infecções como a encefalite e a meningite, os traumatismos cerebrais, o uso de drogas ou substâncias que agridem a célula nervosa, bem como os distúrbios congênitos e hereditários. As diferentes modalidades de conhecimento, que adornam a personalidade humana, são importantes, mas podem ser supervalorizadas, levando à vaidade intelectual e ao orgulho altamente prejudiciais ao entendimento da realidade da alma.

Para o reconhecimento dessa realidade, são dispensáveis conhecimentos de alta sabedoria, pois esse é um campo em que os simples e os sábios se identificam. Esse conhecimento, que no passado era revelado apenas a alguns iniciados, começa a ser devendado por um grande número de pessoas, visto que a humanidade se encontra no limiar da realidade, e nada pode manter-se oculto no alvorecer da nova era que se aproxima, a Era do Espírito.
Esse conceito está de acordo com o que consta no Evangelho, que "nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se". (Mt 10, 26)
6 - INDAGAÇOES SOBRE A ALMA
Quem sou eu ? Como conhecer e identificar este ser que está em mim? São perguntas que inquietam os seres humanos desde remota antiguidade. Para se chegar ao conhecimento desta verdade é necessário despojar-se das vaidades intelectuais e se tornar como criança, que se encontra numa fase da vida mais propícia para as manifestações da alma na vida humana. Essa afirmação se identifica com o ensinamento de Jesus quado afirma: "Se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus". (Mt, 18, 3)
Durante a infância, o ser humano tem o dom de expandir as peculiaridades de sua alma, recentemente chegada do reino espiritual e pode, mais facilmente, relatar fatos ocorridos na vida pregressa. E como ainda não assimilou a influência psicossocial do ambiente em que vive é, frequentemente, mais simples e humilde, qualidades enaltecidas por Jesus ao afirmar que "aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus". (Mt 18, 4)

A vivência da realidade da alma se caracteriza pela valorização dos bens espirituais e pelo desprendimento das preocupações voltadas para os bens transitórios da vida. O amor é o recurso para que o ser humano possa viver a realidade da alma, o requisito essencial para que possa alcançar a vida plena como ser vivente. A senda espiritual de cada um é percorrida individualmente, mesmo que esteja participando de treinamentos, em grupos de estudos, ou frequentando as mesmas instituições religiosas, visto que os seres humanos são almas que apresentam graus diferentes de evolução, e têm experiências próprias, individuais e indivisíveis.
E, à medida que vão alcançando graus mais sensíveis de consciência, cada um vai se capacitando para alcançar estados progressivamente mais elevados de percepção espiritual. Mas a fase primeira, para se alcançar o conhecimento da realidade da alma, consiste em admitir sua existência, como parte integrante do organismo humano, responsável pelos seus atributos psíquicos e espirituais, e pelos atos da vida diária.

7 - A Alma Segundo Sócrates

A exploração do mundo interior teve em Sócrates um dos seus mais brilhantes adeptos, e a humanidade teve nesse homem um dos seus mais insignes pensadores. Sua atenção esteve sempre voltada para os problemas que preocupavam particularmente os jovens, a Política e a Moral. Ele viveu em Atenas, no período de 399 a 470 a.C., sendo considerado um dos maiores filósofos gregos, homem de singular sabedoria, de retidão de caráter e de devotado amor à Justiça e aos seres humanos.

Para ele não havia verdadeira filosofia se o homem não se voltasse, reflexivamente, para si mesmo. Suas idéias levavam a uma moral individual, baseada na essência espiritual de cada ser humano, alicerçando a conduta de cada um na plena consciência responsável. Mas, em sua época, os homens estavam voltados para uma falsa política democrática, e consideravam que suas idéias poderiam ser prejudiciais aos jovens que o seguiam com fervor.

E, esse homem que teve por seguidor um contemporâneo como Platão, foi acusado de corromper a mocidade. A razão de Sócrates é a razão que duvida, que investiga e que leva cada um a ter as suas próprias convicções. A bem da verdade, Sócrates não se marginalizou da sociedade. Quando foi convocado para a Guerra entre Esparta e Atenas, pensou muito e ficou uma noite inteira meditando, porque era humilde, obediente e amava a sua comunidade.

Sendo um homem forte e de elevada estatura, foi para a guerra movido por uma extraordinária força interior, e na luta, que era individual entre soldados, procurou defender-se, e não matou nenhum adversário por considerar todos os homens seus verdadeiros irmãos. Sua filosofia é sintetizada no seu ensinamento fundamental que atravessa os séculos e se mantém atualizado: "Conhece-te a ti mesmo". E essa proposição ainda é lembrada como base para o conhecimento do eu interior, a própria alma.

8 - Pensamentos de Descartes

Mais recentemente, no Século XVII da era atual, o eminente pensador francês, René Descartes (1596-1650), centrava suas reflexões no ser imaterial atuante em seu organismo. Reconheceu que o ser humano é formado de corpo e alma, dois princípios completamente distintos, um material e o outro espiritual, e que o pensamento está relacionado ao seu eu espiritual. Teve, assim, a percepção do seu eu espiritual, independente dos seus atributos físicos, chegando à famosa conclusão, ainda não contestada: "Penso, logo existo".
Segundo ele, o corpo manifesta-se pelos seus atributos físicos e a alma pelo pensamento e pela vontade. Há, todavia, uma perfeita harmonia entre ambos, como pode ser observado nas sensações e nos sentimentos, em que a alma recebe os estímulos das impressões corporais e, por sua vez, a vontade impulsiona a dinâmica do corpo.

Partindo do reconhecimento do seu próprio eu, e plenamente convencido do potencial da inteligência humana, acreditou na possibilidade de substituir a fé cega pela razão e pela ciência. Na verdade, Descartes pode ser considerado um precursor do Espiritismo, pois, há alguma semelhança entre certos conceitos, como a expressão: "penso, logo existo" e a afirmação de Allan Kardec, segundo a qual "a alma é um espírito que pensa", como está em O Livro dos Espíritos, página 238, item 460. Outro ponto de convergência é o de considerar que a fé deve ser baseada na razão e na ciência, conceito que se identifica com a "fé raciocinada" de Allan Kardec, Segundo o Espiritismo, página 256, itens 6 e 7.
Há, ainda, outro conceito segundo o qual para Descartes "a glândula pineal é o centro da alma", como está em Fraga Lima e col. no JBM, vol. 65, página 203, e conceito idêntico de André Luiz no livro Missionários da Luz, página 21,4° parágrafo, ao analisar a epífise, como "glândula da vida espiritual do homem.

Contudo, há uma diferença muito grande entre os ensinamentos desses dois insignes pensadores. René Descartes procurou evidenciar a existência da alma tendo por base sua vida na matéria, e vida do espírito na matéria, tendo como ser cósmico universal.

Esse conceito do mestre lionês tem uma dupla conotação: estuda a alma na erraticidade, como espírito, e na vida biológica como ser encarnado, durante certo período de tempo. A situação do espírito viver na Terra, encarnado num corpo físico, é apenas uma das condições, como ser cósmico, de participar da vida humana, mas conhece a mensagem que "na casa do meu Pai há muitas moradas". (Jo 14, 2)

9 - A Alma Segundo Allan Kardec

Na sequência da evolução dos conhecimentos adquiridos sobre a realidade da alma, em diferentes épocas, destaca-se Allan Kardec, o emérito codificador da Doutrina Espírita, nascido em Lion, na França (1804-1869), que transcreve a mensagem revelada pelo Espírito da Verdade à Luz do Cristianismo, onde o ser espiritual que dá vida à criatura humana é muito bem estudado nas diferentes modalidades de sua existência.

Seus ensinamentos vêm adquirindo progressivamente maior número de adeptos, em todas as camadas sociais, em diferentes partes do mundo. Alguns conceitos, contidos em O Livro dos Espíritos, são aqui transcritos livremente no seu conteúdo, por serem indispensáveis à interpretação que se procura dar, no presente trabalho, sobre a realidade da alma e do espírito:

1) Os espíritos são os seres inteligentes da Criação e se caracterizam pela sua individualidade. Foram criados simples e ignorantes e têm a oportunidade de evoluir e de se tornarem perfeitos, (página 77, item 76; página 92, item 115; página 99, item 133).

2) O pensamento, a inteligência, as qualidades morais e a consciência, são atributos da alma. (página 57, item 24; página 81, item 89a; página 161, 2° parágrafo; página 196, item 364).

3) As almas são os espíritos encarnados. Fazem parte da constituição dos seres humanos temporariamente, para se purificarem e esclarecerem e fora deles, como espíritos, povoam o mundo invisível, (página 100, item 134 e 134 b).
4) A participação dos espíritos na formação dos seres humanos faz-se através do processo de reencarnação, um fenômeno de associação, advindo-lhes a oportunidade de evoluírem, pois todos os espíritos tendem à perfeição. (página 116, itens 166 a 170);

5) O espírito é revístido por um envoltório de natureza eletromagnética, o perispírito, que no organismo humano constitui o liame entre a alma e o corpo físico, e após a separação, que se realiza no desenlace, o perispírito também se desprende do corpo e se mantém unido ao espírito, (página 82, item 93; páginas 100 e 101, item 135a; página 160, 2° parágrafo);

6) Se os espíritos, como seres encarnados, procederem de modo contrário à Lei de Deus, receberão, como retorno, nesta vida ou em vidas futuras, as provas correspondentes às suas faltas, sob a forma de sofrimentos físicos ou psíquicos, ou dificuldades nos diferentes setores da vida. (páginas 99 e 100, itens 133 e 133a; página 117, item 168);

7) Os atributos da individualidade humana são os do espírito encarnado. Assim, um homem de bem é a encarnação de um espírito bom e um homem perverso a encarnação de um espírito impuro, ignorante, (páginas 195 e 196, itens 361 e 361a);

8) Os seres humanos que cometem faltas, que agridem a Lei, não retrogradam espiritualmente. Mantêm-se estacionários e se não tiverem oportunidade de reparar, na mesma existência, as faltas cometidas, terão que retornar, em encarnações futuras, quantas sejam necessárias, e enfrentar diferentes modalidades de sofrimentos, que constituem formas de reparação de suas faltas, e a oportunidade de refazerem a existência não aproveitada, para alcançar algum progresso espiritual, (página 120, itens 178a e 178b);

9) Os espíritos sofrem, quer no mundo corporal, quer no espiritual, as consequências das suas imperfeições, (página 159, item 255; página 164, 2° parágrafo);

10) Para os espíritos a encarnação pode ser um ato de expiação ou de missão que eles aceitam prazerosamente, com o fim de ajudar os seres humanos a alcançarem mais rapidamente o progresso nos diferentes setores da vida. São almas primorosas que podem reencarnar isoladamente, ou em grupos, e mesmo em diferentes países, distinguem-se pelos seus dotes científicos, artísticos, culturais e outros, e se identificam pelos seus ideais de amor aos semelhantes, procurando incentivar o progresso e o bem-estar dos seres humanos nas diferentes áreas de atuação, motivando a evolução da consciência humana nos ideais de paz, fraternidade e progresso, (página 99, item 132; página 120, item 178).

10 - Evolução da Alma

O ser humano é formado de corpo e alma. O corpo tem uma estrutura biológica que envelhece com o decorrer da idade, durante a vida. A alma, de estrutura energética, não envelhece, mas evolui através das reencarnações. A evolução anímica ou espiritual constitui a aquisição mais importante que pode ser almejada tanto pelas criaturas encarnadas como desencarnadas.
A mesma realiza-se paulatinamente, através das gerações, mediante esforços fundamentados na práticado amor fraterno. O grau de evolução espiritual caracteriza a posição alcançada pelas criaturas na sua caminhada através dos tempos.

Na prática, a evolução espiritual manifesta-se por diferentes atributos como a bondade, a sabedoria, a compreensão, o desprendimento dos bens materiais, a lhaneza no trato com os seus semelhantes, a vivência de pensamentos positivos e a anulação dos pensamentos negativos como os de raiva, de ciúme, de traição, de falsidade, de ódio, de agressividade e de outros da mesma natureza, que deverão ser banidos do planeta Terra, que terá alcançado um nível elevado de vibração espiritual no alvorecer da nova era que se aproxima, em que os homens serão bons e se amarão uns aos outros.
Dr. Roberto Brólio

Pelos Inimigos do Espiritismo


V – 

            50 – Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados são, quando vos injuriarem, e vos perseguirem, e disserem todo o mal contra vós, mentindo, por meu respeito. Folgai e exultai, porque o vosso galardão é copioso nos céus; pois assim também perseguiram os profetas, que foram antes de vós. (Mateus, V: 6, 10-12)
            E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma: temei antes, porém, o que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo. (Mateus, X: 28)
            51 – Prefácio – De todas as liberdades, a mais inviolável é a de pensar, que compreende também a liberdade de consciência. Lançar o anátema contra os que não pensam como nós, é reclamar essa liberdade para nós e recusá-la aos outros, e é violar o primeiro mandamento de Jesus: o da caridade e do amor do próximo. Perseguir os outros pela crença que professam, é atentar contra o mais sagrado direito do homem: o de crer no que lhe convém, adorando a Deus como lhe parece melhor. Constrangê-los à prática de atos exteriores semelhantes aos nossos, é mostrar que nos apegamos mais à forma do que à essência, mais às aparências do que à convicção. A abjuração forçada jamais produziu a fé. Só pode fazer hipócritas. É um abuso da força material, que não prova a verdade. Porque a verdade é segura de si mesma; convence e não persegue, porque não tem necessidade de fazê-lo.
            O Espiritismo é uma opinião, uma crença; fosse mesmo uma religião, por que não teriam os seus adeptos a liberdade de se dizerem espíritas, como a tem os católicos, os judeus e os protestantes, os partidários desta ou daquela doutrina filosófica, deste ou daquele sistema econômico? Esta crença é falsa ou verdadeira: se for falsa, cairá por si mesma, porque o erro não pode prevalecer contra a verdade, quando a luz se faz nas inteligências; e se é verdadeira, a perseguição não a tornará falsa.
            A perseguição é o batismo de toda idéia nova, grande e justa,cuja propagação aumenta, na razão da grandeza e da importância da idéia. O furor e a cólera dos seus inimigos são equivalentes ao temor que ela lhes infunde. Foi essa a razão das perseguições ao Cristianismo na antiguidade, e essa a razão das perseguições ao Espiritismo, na atualidade, com a diferença de que o Cristianismo foi perseguido pelos pagãos, e o Espiritismo o é pelos cristãos. O tempo das perseguições sanguinárias já passou, é verdade, mas se hoje não matam o corpo, torturam a alma. Atacam-na até mesmo nos seus sentimentos mais profundos, nas suas mais caras afeições. As famílias são divididas, excitando-se a mãe contra a filha, a mulher contra o marido. E mesmo a agressão física não falta, atacando-se o corpo no tocante às suas necessidades materiais, ao tirarem às pessoas o próprio ganha pão, para reduzi-las à fome. (Cap. XXIII, nº 9 e segs.)
            Espíritas, não vos aflijais com os golpes que vos desferem, pois são eles a prova de que estais com a verdade. Se não o estivésseis, vos deixariam em paz, não vos agrediriam. É uma prova para a vossa fé, pois é pela vossa coragem, pela vossa resignação, pela vossa perseverança, que Deus vos reconhece entre os seus fiéis servidores, os quais já está contando desde hoje, para dar a cada um a parte que lhe cabe, segundo suas obras.
            A exemplo dos primeiros cristãos, orgulhai-vos de carregar a vossa cruz. Crede na palavra do Cristo, que disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. E acrescentou: “Amai aos vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem mal, e orai pelos que vos perseguem”. Mostrai que sois os seus verdadeiros discípulos, e que a vossa doutrina é boa, fazendo, para isso, o que ele ensinou e exemplificou. A perseguição será temporária. Esperai, pois, pacientemente, o romper da aurora, porque a estrela da manhã já se levanta no horizonte. (Cap. XXIV, nº 13 e segs.)
            52 – Prece – Senhor, vós nos mandastes dizer por Jesus, o vosso Messias: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça; perdoai os vossos inimigos; orai pelos que vos perseguem”, e ele mesmo nos mostrou o caminho, orando pelos seus algozes. Por seu exemplo, Senhor, apelamos à vossa misericórdia, em favor dos que desprezam os vossos divinos preceitos, os únicos que realmente podem assegurar a paz, neste e no outro mundo. Como o Cristo, também nós vos pedimos: “Perdoai-lhes, Pai, porque eles não sabem o que fazem!” Dai-nos a força de suportar com paciência e resignação, como provas para a nossa fé e a nossa humildade, as zombarias, as injúrias, as calúnias e as perseguições que nos movem! Afastai-nos de qualquer idéia de represálias, pois a hora da vossa justiça soará para todos, e nós esperamos, submetendo-nos à vossa santa vontade.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A PRUDÊNCIA



Artigo publicado no jornal Unificação - Ano X - Setembro de 1962 - Número 114

“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos, sede, portanto prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. (Mateus, 10:16).

Não foram poucas as passagens evangélicas nas quais Jesus definiu a necessidade de termos prudência no trato das coisas do Alto. Na parábola das dez virgens o Mestre, deixou transparecer, de modo preciso, a necessidade de se ter prudência na solução dos problemas que surgem no decurso da nossa vida terrena, tudo fazendo para acumularmos os dons imperecíveis do Espírito, objetivando sairmos vitoriosos das encarnações que nos são propiciadas pele Justiça Divina.
As virgens prudentes levaram o “combustível” suficiente para a jornada, conseguindo, desta forma, atingir o objetivo primacial da mesma: - serem recebidas pelo esposo.
Nos sublimes ensinamentos contidos nas entrelinhas dessa parábola, o Cristo, procurou demonstrar a necessidade de sermos prudentes e, no desenrolar da nossa vida terrena conseguirmos amealhar as aquisições santificantes imprescindíveis para a conquista da sublimação de nossas almas.
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Noutro trecho do Evangelho também o Nazareno assevera que o homem prudente constrói sua casa sobre a rocha, e, a impetuosidade da borrasca nada pode contra ela, que a tudo resiste.
Aqui também o Mestre prescreve a necessidade da prudência no processo de consolidação da vida humana. O objetivo primacial de Jesus ao ensinar essa parábola foi a de fazer evidenciar a importância de constituirmos como base de nossa vida um sistema sólido composto de amor, tolerância, moralidade e conformação com os desígnios de Deus.
Se tivermos a sensatez de edificar nossa vida sobre a rocha da fé, da paciência, da integridade moral e do amor ao próximo, não deveremos temer as tempestades da adversidade e das tribulações inerentes à vida humana.
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Nas palavras que encimam esta crônica, o Messias, prescreve a necessidade de sermos mansos como os pombos, porém prudentes como as serpentes. É óbvio que devemos ser tolerantes, mansos, resignados, entretanto, é imperioso que sejamos prudentes como as serpentes.
Não devemos, sob alegação de humildade e desprendimento abdicar da nobreza de nossas almas, resvalando para o desequilíbrio e para a anulação dos princípios que norteiam uma vida íntegra perante Deus.
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“Os filhos do mundo são mais hábeis na sua geração de que os filhos da luz”.
No versículo 8 do capítulo 6 do Evangelho de Lucas, o Mestre nos fala da necessidade de tirarmos o maior proveito possível do nosso aprendizado no mundo. Os filhos do mundo que tratam exclusivamente das coisas da Terra, muitas vezes sabem ser prudentes fazendo com que seus recursos materiais advenham benefícios de ordem espiritual. Os filhos da luz, aqueles que na Terra cuidam das coisas do espírito, nem sempre sabem tirar o devido proveito dos dons preciosos que Deus, em sua Infinita Misericórdia, coloca ao alcance de suas mãos.
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A prudência é, pois um atributo relevante em nossa vida.
Devemos usá-la do modo mais eficiente possível, pois sem ela dificilmente poderemos vencer os problemas agudos que se nos deparam no desenvolvimento de nosso aprendizado terreno.
Se formos prudentes não alimentaremos ódio, inveja ou ciúme contra os nossos irmãos, não chafurdaremos nossas almas no lodaçal dos vícios, da intemperança e do descalabro moral.
Agindo de modo prudente nós não nos perderemos no labirinto da avareza, do orgulho e da soberba.
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A prudência nos indica que devemos ver nos Evangelhos o manancial de luz e verdade, que contribuirá de modo decisivo para a elevação das nossas almas para Deus.