sábado, 9 de julho de 2016

JUÍZO INOPORTUNO


Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes
sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medira vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave
que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu
olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então,
cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão..'(Mateus, 7: 1-5)

NÃO JULGUEIS, PARA QUE NÃO SEJAIS JULGADOS,

Não julgueis... - Julgar é formar juízo ou opinião sobro algo ou alguém; avaliar; apreciar.

É de bom senso que para realizar tal ação, busquemos conhecer todos os aspectos do fato a ser avaliado.

O juiz busca estudar todos os detalhes antes de expressar qualquer veredicto.

E necessidade do júri se inteirar de todos os pormenores a fim de apreciar melhor a questão.

Se, no plano objetivo há maior possibilidade de ter conhecimento do acontecido, no que diz respeito ao subjetivo das ações é quase impossível tal realização.

Cada Espírito é um mundo em si, fruto de evolução individual realizada durante os milênios. Desta forma, quando o elemento toma uma decisão ou age de certo modo, esta ação está vinculada ao seu grau de entendimento da questão. Não sendo jamais dois Espíritos possuidores da mesma história, como podem agir de igual forma diante de um mesmo fato? Como exigir do Semelhante visão idêntica à nossa sobre determinado assunto? E será que já possuímos conhecimento suficiente do processo evolutivo de cada um para executar o juízo de forma correta?

Ademais, a Lei Divina tem dois componentes básicos: Justiça e Misericórdia; e só é capaz de julgar com segurança aquele que já possui em si, em toda plenitude, estas duas virtudes.

É por estarmos ainda na infância espiritual que o Reto Juiz nos aconselha: não julgueis...

...para que não sejais julgados... - A expressão para que, usada por Jesus, dá-nos e a entender que todos os movimentos do Universos estão de tal forma sequenciados que o momento seguinte depende sempre do atual.

... não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior.

O Mestre nos revela, nestes apontamentos, a existência da Lei de Causa e Efeito, lei esta encarregada de manter o equilíbrio universal, através do dar a cada um de acordo com a sua própria ação.
É Dele, o Sábio maior entre todos os sábios, a frase que sintetiza toda esta verdade: a cada um segundo as suas obras.. .

Assim sendo, temos:

Do que se planta, colhe.

Do que se dá, recebe.

...se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós.. .(Mateus, 6:14)
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Não julgueis, para que não sejais julgados...

...PORQUE COM 0 JUÍZO COM QUE JULGARDES SEREIS JULGADOS, E COM A MEDIDA COM QUE TIVERDES MEDIDO VOS HÃO DE MEDIR A VÓS.

...porque com o juízo com que julgardes sereis julgados... - Se no versículo anterior Jesus nos mostrava como certeza a ação da Lei de Causa e Efeito, neste, Ele nos esclarece sobre a mecânica de seu funcionamento.

Tendo já sido dito ser esta lei responsável pelo equilíbrio do Cosmos, é preciso penetrarmos na intimidade de sua atuação para a compreendermos melhor.

Toda a Criação Divina tem por característica o Perfeito Equilíbrio. Ao Espírito - tendo já este atingido a faixa da razão - é dada a possibilidade de co-atuar na Criação Universal, mas sem desequilibrá-la, de tal modo que, quando sua ação contraria o andamento da Lei Natural, imediatamente a Vida lhe reage com uma ação contraria de semelhante intensidade, equilibrando assim o dinamismo universal. Esta reação que tem por objetivo básico fazê-lo voltar à Lei, em muitos casos não atua objetivamente, no mesmo instante, ficando assim adormecida, aguardando momento propício- que pode ser nesta ou em outra existência - para manifestar-se de conformidade com a Misericórdia, que também é um dos componentes da Lei Maior.

Aquilo que várias vezes chamamos de mal, ou que se manifesta como uma circunstância dolorosa, em muitos casos não passa de manifestação desta Lei em momento do despertamento. O que é importantíssimo compreendermos, o que Ela tem um caráter essencialmente didático, isto é, nunca nos cobra acima de nossa possibilidade naquele momento.

E Ela também, a Lei de Causa e Efeito, que, quando o Ser em evolução age consoante com os Seus sábios desígnios, alimenta-o e o fortalece, segundo seus objetivos. Assim, muitas vezes, o fraco vence o forte; ao necessitado é dado o pão mantenedor do equilíbrio físico; àquele que se encontra próximo do desespero é dada a oportunidade de página consoladora.

É por ser profundo conhecedor da Mecânica Universal que Jesus, o Engenheiro Celeste, alerta-nos: ...com o juízo com que julgardes sereis julgados, ou seja, conforme avaliar será avaliado, do mesmo modo que compreender será compreendido, daquilo que deres, receberás.

...e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. - Medida é uma grandeza que serve de padrão para avaliação de outras. Sua prática exige precisão. Ao usar este termo, o Mestre nos orienta sobre o rigor da Lei a atuar em tudo e em todos os domínios do Universo. ...com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós, isto é, a todos, sem exceção.

Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, não é Deus quem julga ou determina a punição; o Criador, ao realizar o Ato Criativo, estabeleceu Leis, e são estas que, atuando - e no que diz respeito à individualidade, tendo a própria consciência como sede - são encarregadas de cumprir Sua Vontade Soberana.

A expressão vos hão de medir a vós vem confirmar o que dizemos, embora mostrando outra forma de atuação da Lei. É a permissão para que outras criaturas venham participar do processo de reparação, através de cobranças e vinganças não poucas vezes desencadeadoras de processo obsessivo de larga duração. Esta permissão é dada, devido ao débito de uns e à ignorância de outros porque, se o Criador permite tal ação, a ninguém dá o direito de ser instrumento pelo qual se possa lazer justiça com as próprias mãos. É o que depreendemos do valioso ensinamento Daquele que é o Mestre dos mestres:

Ai do mundo por causa dos escândalos. Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! (Mateus, 18: 7)

Portanto, se quisermos ser feliz, construamos a felicidade daqueles que nos rodeiam. Se o objetivo é conhecer a verdade, sejamos verdadeiros no proceder; como necessitados de misericórdia, tornemo-nos misericordiosos, porque o padrão que adotarmos como norma de conduta será o mesmo que será usado em nosso favor. Não é castigo, mas questão de sintonia, de entendimento:

Porque tudo o que ligares na terra será ligado nos céus...(Mateus, 16: 19)

E POR QUE REPARAS TU NO ARGUEIRO QUE ESTÁ NO OLHO DO TEU IRMÃO E NÃO VÊS A TRAVE QUE ESTÁ NO TEU OLHO?

E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão... - Ao usar a pergunta por que...? O Mestre não está à procura de resposta. Ele, como conhecedor do processo evolutivo de cada um, já a possui; Pedagogo por excelência, seu objetivo é levar-nos a pensar e, consequentemente, a aprender.

O homem comum, muito mais ligado às faixas do instinto do que da razão, tem maior facilidade em observar, conforme; nos informa o verbo reparar aqui referenciado, o plano das exterioridades em detrimento do íntimo. Assim, dá mais valor ao que tange ao olhos físicos, ao plano das formas, do que a essência propriamente dita. Por este motivo, identifica com mais clareza os erros do outro do que os próprios, mesmo que os primeiros sejam insignificantes, conforme expressa o termo argueiro. Argueiro tem por significado: partícula leve, cisco, ou seja, algo sem importância, de pouco valor; mas em se tratando dos vícios alheios, é mais cômodo apercebê-los, mesmo que sejam nossos irmãos, isto é, elementos a quem devemos amar com grande intensidade.

...e não vês a trave que está no teu olho? - Excelente comparação feita por Jesus, a começar pelo uso do verbo. Na sentença anterior, Ele usa o verbo reparar que quer dizer dar atenção, observar, mostrando que, com relação às faltas alheias, não podemos muito fazer, visto ser o processo evolutivo individual. Nesta, o verbo usado é ver - vês - que, em boa sinonímia, quer dizer enxergar, compreender, reconhecer, ou seja, com relação aos próprios erros, é imperioso que os reconheçamos e trabalhemos por corrigi-los.

O objeto da comparação também deve ser avaliado e meditado por todos nós que nos dizemos cristãos. Trave é um grande tronco ou madeiro grosso, usado para sustentar o sobrado ou o teto de uma construção, isto é, algo que se destaca pelo tamanho, que se faz visível, ao contrário de argueiro, que é algo pequeniníssimo, muitas vezes invisível.

Assim, no processo de convivência a que estamos submetidos, tenhamos como norma de conduta a auto-análise, de tal forma que não venhamos criticar nosso irmão por algo insignificante, tendo muitas vezes vícios bem piores a serem trabalhados em nossas bases.

OU COMO DIRÁS A TEU IRMÃO: DEIXA-ME TIRAR 0 ARGUEIRO DO TEU OLHO, ESTANDO UMA TRAVE NO TEU?

Ou como dirás a teu irmão... - O Evangelho tem-nos trazido ensinamentos valiosíssimos. O Mestre escolhia palavras, ambientes e tempo didaticamente precisos, de tal forma que seus ensinos pudessem vencer os séculos, ultrapassando calendários e situações.

O relacionamento humano é o que há de mais sagrado para o despertamento do ser espiritual que existe em nós. Através dele nos burilamos, vencendo imperfeições, quebrando as amarras do egoísmo, fazendo-nos seres mais altruístas e integrados nas Sábias Leis do Criador.

É preciso, desta forma, meditarmos nesta pergunta proposta pelo Educador Maior, como forma de conscientização de como nos temos encaminhado com respeito a este relacionamento tão necessário: Ou como dirás a teu irmão...?

Em primeiro lugar, a necessidade tão decantada de vermos no semelhante um irmão tão necessitado ou mais do que nós mesmos. Ao identificarmos tal realidade, tornamo-nos mais dóceis, compreensivos e capazes de realizar nossa reforma cristã com mais segurança.

Se, antes do Cristo em nossas vidas, podíamos usar a palavra de qualquer modo, após conhecê-lo é imperativo que o interiorizemos e passemos a ter um uso mais amorável do verbo, buscando sempre esparzir suas verdades imorredouras.

Por isto, é sempre atual respondermos ao questionamento feito por Ele sobre o que temos dito ao nosso semelhante, Ou como dirás a teu irmão... ?

Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?- A caridade é ponto fundamental da Doutrina Espírita, baseada nos ensinamentos do próprio Mestre. A busca de sua vivência é fator diferencial entre a doutrina Kardequiana e as outras religiões cristãs. Assim, atender aos semelhantes em suas maiores necessidades é dever de todo aquele que se diz espírita.

Sua prática, entretanto, requer alguns requisitos que devem ser cuidadosamente analisados. Sinceridade, lealdade, vontade de servir, coerência e autoridade são alguns sem os quais é impossível prestar assistência digna.

Portanto, ao propor-nos o auxílio a um companheiro no qual diz respeito aos seus vícios ou tendências negativas, é preciso, no mínimo, não sermos praticantes dos mesmos ou de outros ainda piores; pois a nossa inclinação é para observar e criticar a mínima falta daqueles com quem nos relacionamos, esquecendo nos que muitas vezes, no lugar deles faríamos ainda pior.

O olho é o órgão responsável pela visão do ser encarnado. Qualquer obstáculo pode impedir seu funcionamento de forma adequada. Mas, se há visão física, há também visão espiritual. E é essa a mais importante, e sobre a qual o Cristo nos chama sempre atenção, quando muitas vezes nos afirma que, tendo olhos, não enxergamos corretamente. Esta visão a que nos referimos - a espiritual - tem por significado: entendimento e compreensão. Por sermos verdadeiros cegos espiritualmente falando, ou seja, portadores de minúscula compreensão e entendimento completamente deturpado quanto às questões maiores da vida, é que o Nazareno nos chama a atenção para a trave que possuímos a obstaculizar nossa visão espiritual. Trave esta que necessitamos extirpar de nossa individualidade, mas que só podemos retirá-la com a conscientização de sua existência, e esforço para vencermos as dificuldades por ela impostas.

HIPÓCRITA, TIRA PRIMEIRO A TRAVE DO TEU OLHO E, ENTÃO, CUIDARÁS EM TIRAR O ARGUEIRO DO OLHO DO TEU IRMÃO.

Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho... - Mais uma vez o Excelso Mestre, ao indicar o caminho, mostra-nos como adentrá-lo.

Hipócrita, repete Ele, a condenar nossa falsa postura diante dos Seus ensinos. Dissociamos o que pregamos do que fazemos. Preocupando-nos só com a fachada e esquecemos que o essencial, sermos, em espírito e verdade, o que verbalizamos.

...tira, imperativo, ordem; temos que proceder desta forma. ...primeiro, isto é, com prioridade. É preciso organizarmos, traçar metas, realizarmos, definindo o que é mais importante.

A trave são as nossas próprias imperfeições, visto serem elas que nos dificultam enxergar adequadamente. Desta forma, coerente com o que nos diz a Codificação Espírita, é urgente trabalharmos para vencermos o orgulho e o egoísmo, por serem estes as causas de todos os nossos vícios. Portanto, tirar a trave do olho é vencer o personalismo, alargar o entendimento, aumentar o ângulo da visão que, por ser acanhado, espiritualmente falando, pouco nos mostra de útil com vistas às nossas necessidades maiores.

...e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. - ...e, então, define o plano sequenciado em que devemos agir, quando motivados por programação cristã. Afim de realizarmos atitude nobre, é preciso estarmos preparados para tal; caso contrário, será cego guiando cego.

Torna-se imperativo avaliar melhor a questão, sentir as necessidades, trabalhar - vencendo as recaídas - incessantemente.

Bartimeu, o cego de Jericó, só pôde ser curado por Jesus ao identificar em si a causa de seus males. Quando perguntado pelo Sublime Terapeuta o que queria que lhe fizesse, respondeu sem mais delongas: que eu tenha vista. Sentindo seu grau de consciência, o Meigo Rabi despertou-lhe para a cura definitiva; consequentemente, pôde segui-Lo, fazendo o bem, tirando o argueiro do olho de todos os seus irmãos.

Claudio Fajardo

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