sábado, 9 de julho de 2016

Minha descoberta com o argueiro e a trave no olho

MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)


Minha descoberta com o argueiro e a trave no olho

Jesus Cristo foi mesmo um Mestre. Mestre do amor, Mestre do desprendimento, Mestre da caridade, Mestre do perdão... E também Mestre da sabedoria. Seus ensinamentos precisam e merecem ser estudados à exaustão, porque deles tiramos sempre uma interpretação diferente à medida que os anos se passam e vamos aprofundando o estudo.
Foi assim comigo certa vez numa palestra na qual utilizei a passagem evangélica sobre o argueiro e a trave no olho:
“Por que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, vós que não vedes uma trave no vosso olho? Ou como dizeis ao vosso irmão: Deixai-me tirar um argueiro do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso? Hipócritas, tirai primeiramente a trave do vosso olho, e então vereis como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão”. (S. Mateus, cap. VII, v. 3, 4, 5.)
Argueiro, para quem não sabe, é cisco. Aquele cisco que cai no olho e incomoda à beça, fazendo com que pisquemos sem parar para expulsá-lo.
O ensinamento de Jesus é destinado aos que têm uma trave, ou seja, um pedaço de pau no olho, mas não percebem. Em contrapartida, enxerga o cisco, que é algo minúsculo, no olho de outra pessoa.
Sempre fiquei intrigado com tal comparação. Imaginava ser impossível enxergar um cisco no olho alheio se estou com uma trave de madeira no meu olho, algo que impede totalmente a visão.
Foi aí que percebi um interessante ângulo de interpretação desse trecho do Novo Testamento.
Eu tenho a tal da trave no meu olho; o vizinho, um cisco. Por que eu vejo o cisco no olho do outro e não vejo um pedação de madeira preso ao meu olho? Porque uma trave faz com que eu veja tudo de forma distorcida, fora de esquadro. Tão distorcida que penso que o cisco no olho do próximo é maior que a trave que atrapalha minha visão. Ou então, simplesmente, não há cisco algum no olho do vizinho. Eu é que, na minha visão pra lá de equivocada, acho isso. Moral da história: fazemos sempre uma comparação tendo a nós mesmos como referência.
Por essa razão, não devemos julgar. Não há como comparar uma pessoa à outra. Cada um é cada um. Impossível comparar Paula com Juliana porque ninguém é padrão, medida oficial. Esse princípio básico, assimilado pelo cristão que tem ouvidos de ouvir, fará com que ele veja que ninguém é melhor ou pior do que ninguém. É como o lema da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, do Rio de Janeiro, RJ: “Nem melhor, nem pior. Apenas uma escola diferente”.
Temos uma visão muito maniqueísta sobre o mundo. Antes de prosseguir, convém esclarecer o significado da palavra maniqueísta. Fala, Wikipédia!
“O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Maniqueu, profeta iraniano (216 – 276 d.C.), que divide o mundo simplesmente entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.”
Trata-se de uma doutrina considerada extinta, mas enxergamos tudo (olha a trave no olho aí) de forma maniqueísta muitas vezes. Achamos que o mundo é dividido entre bons e maus, feios e bonitos, pobres e ricos, os que serão salvos e os que serão condenados... Nada disso. O mundo é composto por Espíritos em evolução (todos nós) que ainda têm muito que aprender e corrigir. Quanto mais cedo percebermos isso, mais facilidade teremos para conviver com as diferenças, compreender e perdoar.
E entenderemos também que no movimento espírita ninguém é mais ou menos espírita do que ninguém.
Digo isso porque, em 27 anos de movimento espírita, já me deparei com gente se achando a última bolacha do pacote porque tem 10 tarefas no centro espírita, e se achando mais privilegiada do que a pessoa que só tem duas tarefas. Complicado isso.
Pedro tem dez tarefas: evangeliza infância, evangeliza mocidade, faz parte da reunião mediúnica, aplica passes, cuida da divulgação, faz palestra, aplica estudo sistematizado, pinta, borda, caseia, chuleia, aceita encomenda de doces e salgados, está praticamente todos os dias dentro do Centro Espírita. Uma coisa! Já João, coitado, só vai às quartas-feiras, quando aplica passes; e, aos sábados, quando ajuda no preparo do lanche para os socialmente carentes.
Daí Pedro, equivocadamente, se julga com o passaporte carimbado para Nosso Lar e acha que Pedro não terá a mesma sorte que ele. Não é por aí, gente.
Jesus Cristo é bem claro sobre o assunto quando fala sobre os trabalhadores da última hora. Nessa passagem, os que foram recrutados para trabalhar no último período receberam o mesmo dos que estavam trabalhando desde a primeira hora. A passagem chama atenção para a qualidade do trabalho, que é o que de fato vale.
Infelizmente já ouvi Julianas se queixando de que foram olhadas de cima para baixo pelas Paulas, só porque não participavam de determinada tarefa ou evento espírita. Será que para sermos espíritas temos de, obrigatoriamente, tomar parte num número “x” de tarefas? Penso que não.
A meu ver, ninguém é mais ou menos espírita devido ao número de tarefas a que se dedica. Se a pessoa pode dar conta de várias tarefas, ótimo. Mas não se julgue melhor do que os outros companheiros por isso. Aliás, como não devemos julgar, não devemos, portanto, achar que existe o espírita padrão. Cada um é espírita do que jeito que pode e como pode.
Confesso que já tive a minha fase de achar um absurdo ver determinados companheiros não aderirem a esse ou àquele trabalho na casa espírita. Como se todos tivessem a obrigação de estar em todas. Mas o tempo passa, a trave vai cedendo e passamos a ter olhos de ver.

BIBLIOGRAFIA:

1 - www.wikipedia.com.br.      

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