VOLUNTÁRIOS
Uma das maiores conquistas do Espírito, em sua trajetória rumo à perfeição relativa, é a liberdade de escolher e de decidir seus próprios caminhos. Muitas vezes, entretanto, em virtude da nossa imprudência, intemperança, ganância, orgulho, vaidade, valorização e apego excessivo aos bens materiais, impomos a nós mesmos sofrimentos pelos quais, na grande maioria das vezes, não teríamos que passar: os chamados tormentos voluntários.
Quando sofremos as graves e funestas consequências de nossas escolhas, colocamos a culpa em Deus, no próximo, na incompreensão do mundo e, se cremos na reencarnação, debitamos nossos infortúnios a possíveis resgates de um passado delituoso. Se nos dispuséssemos a analisar friamente os fatos, veríamos que grande porcentagem dos males que nos afligem, verdadeiros tormentos, decorre de atos do presente, pela inversão de valores que vivenciamos.
Pela busca de uma felicidade equivocadamente centrada na aquisição de bens materiais, assim como a de sensações ligadas aos prazeres que o mundo tem a nos oferecer, cometemos excessos de toda natureza.
Somos, sem que percebamos, vítimas de nós mesmos a partir do instante em que decidimos utilizar o nosso livre-arbítrio indo de encontro às Leis Naturais, criadas por Deus com a finalidade de manter o nosso equilíbrio físico, mental e espiritual, tomando-nos criaturas felizes. Entretanto "O homem é insaciável. A natureza traçou o limite de suas necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua constituição e criaram para ele necessidades artificiais.” (L.E, questão 716).
A grande finalidade da criação do Universo e de todos os seres que dele fazem parte é a evolução, que deverá nos conduzir à conquista da felicidade. Porém, esse é um estado que se alcança com a conquista das virtudes. É condição natural, decorrente do despertar da responsabilidade em relação às escolhas efetuadas, aos valores que abrigamos em nossos corações, assim como do conhecimento das consequências que teremos forçosamente que enfrentar em futuro próximo ou mais distante, se agimos mal.
Diz-nos o Espírito Fénelon que poderíamos gozar de uma felicidade relativa, porém a procuramos "(...) nas coisas perecíveis, sujeitas às mesmas vicissitudes, ou seja, nos gozos materiais, em vez de buscá-Ia nos gozos da alma, que constituem uma antecipação das imperecíveis alegrias celestes"!'
Devemos buscar a vivência fundamentada na moral do Cristo, para que não soframos desnecessariamente por nossas escolhas insensatas.
O único mérito em agravarmos nossas provas, buscando sofrimentos voluntários, é quando o fazemos com o objetivo de beneficiar o nosso próximo, através do exercício sincero da caridade. Temos o direito e o dever de tentarmos amenizar as nossas provas, buscando sempre uma solução favorável aos problemas ou suportando com resignação as conseqüências dos males que não podemos evitar. (E.S.E, cap.V, item 26)
Fomos criados para sermos felizes e não há nenhum demérito em usufruirmos as coisas materiais, desde que o façamos sem excessos e apego excessivo.
Como alcançarmos, então, a felicidade relativa? Allan Kardec, na questão 922 do L.E, pergunta aos Espíritos: "(...) Há, entretanto uma medida comum de felicidade para todos os homens? ". E eles lhes respondem: "Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral a consciência pura e a fé no futuro.”
1 KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 9ª ed. São Paulo: FEESP, 1993, Cap.V, Item 23, p.83.
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