terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Parábola da Pérola


Ao contrário do que muitas pessoas pensam, entender uma parábola e refletir sobre o seu conteúdo, exige acurado estudo, pesquisa dos costumes e linguagem da época e capacidade de discernimento desprovida de qualquer partidarismo religioso.
É primordial no estudo das parábolas, esclarecer-se quanto ao seu significado e vantagens. Portanto, é preciso estudar muito.

Therezinha de Oliveira, é uma estudiosa da Doutrina Espírita, notadamente do Evangelho de Jesus, pesquisadora, conferencista e autora. No livro Estudos Espíritas do Evangelho, publicado pela Editora EME, em seu capítulo 20, introduz o estudo sobre parábolas da seguinte forma:

"Que é uma parábola ?

Parábola é uma narração alegórica que encerra doutrina moral. É uma estória simbólica, comparativa, sob a qual se esconde uma verdade importante e que conclui pôr um preceito moral ou regra de conduta a ser seguida num caso determinado.

Suas vantagens

1) Interessa e impressiona mais e melhor aos ouvintes, pôr ser uma estória.

2) Facilita a compreensão mesmo de assuntos transcendentes, porque a comparação supre as deficiências intelectuais do ouvinte.

3) Mais fácil de reter e transmitir, porque o enredo da estória auxilia a associação de idéias (ajuda a fixar o ensino oral).

4) Permite dizer verdades que se outro modo não seriam escutadas nem toleradas, principalmente por pessoas de autoridade, porque é simbólica e o próprio ouvinte é que tira dela uma conclusão.

As parábolas do Velho Testamento

O ensino por parábolas já era conhecido dos hebreus que, como outros povos orientais, a empregavam muito.

No livro de Salmos (49 v.4), Davi fala: 'Inclinarei os meus ouvidos a uma parábola; decifrarei o meu enigma na harpa'.

E no livro de Provérbios, Salomão comenta: 'e o entendido adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios' (1 v. 6).

As parábolas do Velho Testamento foram narradas por diversos autores.

No Novo Testamento, as parábolas que os evangelistas registram são todas de Jesus. Ele com freqüência as empregava, pelas vantagens que apresentam como ensino e o fazia de modo magistral (era um verdadeiro Mestre).

Usando os mais simples elementos do dia-a-dia do povo (situações e coisas comuns, conhecidas) conseguia plasmar imagens de grande poesia ou impacto, para levar a conclusões de elevada moral ou revelar algo da vida espiritual.

Diz Emmanuel que, falando em parábolas, Jesus 'evitava ferir fosse a quem fosse'. (livro Religião dos Espíritos, pág. "No Fenômeno Magnético".)"

As primeiras parábolas proferidas por Jesus foram num mesmo dia e à beira do mar da Galiléia, dentre elas a Parábola da Pérola, introduzindo as primeiras noções sobre a natureza do "reino dos céus", ou seja, sobre a vida espiritual.

Assim é que o evangelista Mateus, no capítulo 13, versículos 45 e 46, narra que:

"45 O Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que anda em busca de pérolas finas.

46 Ao achar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra."

Em grande parte das parábolas que contou, Jesus falou em situações diferentes desse Reino que, semelhante as pedras preciosas do mundo material, buscadas pelos homens, possuía grande valor, tanto que quem o encontrasse venderia tudo o que tinha para adquiri-lo. Contudo, para perceber este tesouro, que não tem nada a ver com as coisas materiais, é preciso ter valores espirituais; é preciso ter desenvolvido o amadurecimento psicológico e entender claramente a finalidade da vida física e o que significa o mundo espiritual. É preciso questionar que valores, de fato, são perenes e insuscetíveis de serem corroídos pelas traças, destruídos pelo tempo.

O Espírito Joanna de Ângelis, no Livro Jesus e o Evangelho - À luz da psicologia profunda, no capítulo intitulado "O Reino", esclarece-nos que:

"(...).

Em momento nenhum levantou Sua voz para maldizer o mundo, para condená-lo; antes propunha respeito e consideração pela sua estrutura conforme Ele próprio se comportava, comedido e afável.

Mas que o Seu reino não era deste mundo transitório, relativo, material, é por definitivo, uma grande verdade. Ele viera para que os homens conhecessem a Realidade, que de origem pastoril e nômade, não tinham, ao tempo de Moisés, condição para entendê-la, necessitando antes do rigor de leis severas, a fim de comportar-se com equilíbrio após sucessivos períodos de escravidão, nos quais amolentaram o caráter, a conduta, a existência sem ideal de crescimento e dignificação.

Na visão da psicologia profunda, embora Ele se referisse às Esferas de onde procedia, o Seu reino também eram as paisagens e regiões do sentimento, onde se pudessem estabelecer as bases da fraternidade e o amor unisse todos os indivíduos como irmãos, conquista primordial para a travessia pela ponte metafísica do mundo terrestre para aquele que é de Deus e nos aguarda a todos.

(...)

Não foram poucos os indivíduos que desejavam instalar aquele reino por Ele anunciado no próprio coração. Fascinavam-se com a Sua eloqüência, com a lógica da proposta libertadora e logo recuavam, ante um mas, que abria condição para optar pelos interesses das paixões a que estavam acostumados, iludindo-se quanto a improváveis possibilidades de retornarem ao Seu convívio.

(...)

O mas, em relação a Jesus, é predomínio da sombra que paira nessa demorada infância psicológica dos indivíduos como pessoas e das massas como grupamentos. (...)."

Portanto, Jesus colocou ao alcance de todos que o quisessem, alcançar este reino de sabedoria e amor. Contudo, não os eximiu da luta, do trabalho de conquista deste tesouro que comporta todas as virtudes, os dons divinos que trazemos e que ainda não desenvolvemos por inúmeros motivos que, em verdade, apenas se constituem em pretextos para protelar o início desse processo de crescimento e amadurecimento espiritual.

No livro Até o Fim dos Tempos, o Espírito Amélia Rodrigues, em psicografia de Divaldo Pereira Franco, no capítulo intitulado "Ministério Desafiador", conta-nos que:

"(...)

O indispensável seria a harmonia interior, vinculada à irrestrita confiança em Deus, porquanto, no momento da eleição daquilo que deveriam preferir, nenhum apego os vinculasse aos haveres transitórios, que são acumulados e logo se tornam peso insuportável sobre os ombros frágeis das criaturas que perecem na sombra do corpo para ressurgirem na luz inapagável da imortalidade.

Ninguém pode ambicionar o reino de Deus disputando os valores terrestres que acumula com avidez insaciável, nem consegue harmonizar-se no ideal da fraternidade, se não realiza o equilíbrio interior para vitalizar os ideais soberanos da vida.

Somente quem se afeiçoa ao verdadeiro bem é capaz de transpor os obstáculos colocados pelo egoísmo, sentindo a lídima solidariedade apossar-se dos sentimentos e espraiar-se.

(...)."

Assim, a Parábola da Pérola contada por Jesus é, ainda hoje, um convite para que reflitamos sobre os verdadeiros valores, que se constituem em nosso tesouro, que nos direciona a vida. O que buscamos dessa oportunidade bendita de estar encarnado na Terra. Que tesouros, realmente, temos conquistado e acumulado: os da terra ou os do céu ? Em que medida estão estas conquistas? Vivemos só para trabalhar na aquisição de amplo patrimônio ou também disponibilizamos do nosso tempo para as conquistas do espírito?

O alerta de Jesus, nos ensinando sobre o verdadeiro tesouro, a pérola de grande valor, é extremamente atual. Já teremos conquistado as pérolas da paciência, da compreensão, da misericórdia, da caridade e do amor para com as criaturas, nossos irmãos de jornada?

São questões que devemos estar continuamente nos fazendo e respondendo, objetivando sempre caminhar para "a frente e para o alto."

Que Jesus nos ilumine e dê coragem para perseverarmos nessa busca árdua mas de grande plenitude interior.





Autor: Nadja Cruz de Abreu

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