segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Registro de Pessoas dadas como Mortas

Etcetra:
Um velho ditado bretão pede: “Os deuses me livrem de perseguição, prisão, ruim – e de ser enterrado vivo”. Hoje os médicos garantem que o enterro prematuro é uma vitual impossibilidade. Mas quem tem de voltar a si na sepultura sofre um dos mais simbólicos terrores da alma humana – tanto que se fala dele entre risos, para recompor o moral. Há casos comprovados do que seria o Complexo de Lázaro.

Os médico tiveram trabalho para explicar o que aconteceu na noite do dia 15 de julho de 1980, no necrotério do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre. Declarado morto, o ex-operário Manoel Antônio Soares, de 119 anos, esta sentado preparado para o velório por um agente funerário quando o cadáver respirou profundamente e movimentou uma perna. Foi imediatamente encaminhado para a UTI. Alguns dias depois, o ex-morto já estava falando, embora com dificuldade.

Perplexo, Ubirajara Motta, diretor do  hospital, afirmou que nunca vira caso semelhante e escalou três médicos para investigar o acontecimento. Concluiu-se que Manoel sofreu um raro caso de hibernação, provocado pela idade, desnutrição e frio. Estudos posteriores não puderam ser feitos porque no dia 22 o ancião morreu – finalmente.

O bizarro episódio não é o único. Ressurreição semelhante são noticiadas com regularidade. Algumas pessoas já chegam a escapar mais de uma vez de serem enterradas vivas.

Uma delas é Musyoka Mututa cidadão da aldeia de Kitui, no Quênia, que já “morreu” três vezes. Suas aventuras começaram aos três anos, em 1928, quando venceu a morte no grito. Envolto em lençóis, seu corpo já ia baixar à sepultura quando a criança começou a chorar. Com 22 anos, o jovem Mututa desapareceu por seis dias e seu corpo sem vida foi encontrado num campo. No momento em que o caixão fechado tocava o fundo da sepultura, o falecido consegui forçar a tampa e chamar a atenção dos coveiros.

Recentemente, foi vitima aparentemente fatal da cólera. Dado como morto em 1985, então com 60 anos, estava sendo velado por dezenas de aldeãos quando subitamente ergueu-se no caixão, dizendo “estou com sede”. Mututa escapava mais uma vez.

Também sentiu sede a finad Antonisa Agabin, uma costureira do povoado de Tuguegarão, no Norte das Filipinas. Em meio ao velório, em 1971, ela sentou-se no caixão e quis um copo d’água. O desejo foi atendido por uma irmã, enquanto as outras pessoas fugiam apavoradas. Em 1079, Agabin morreu novamente e a família, temendo enterra-la viva, adiou o quanto pôde o sepultamento. Antes de descer o caixão para conferir se Agabin estava mesmo morta. Desta vez, se ela acordou com sede, ninguém sabe, niguém viu.

Há nove anos, em Campaingn, nos Estados Unidos, Karla Woods foi declarada morta pelo legista do condado. Chegando ao necrotério, no entanto, seu corpo começou a se mexer. Karla sobreviveu depois de ser devidamente medicada. Segundo os médicos, seu organismo estava em hibernação.

Pode ter sido o que aconteceu com Helen Fracoeur, de 82 anos, em 1989, foi encontrada inerte em seu apartamento por um policial. Examinando o corpo frio, sem pulso ou batimentos cardíacos, o médico legista William J. Dean não teve dúvidas em assinar o óbito. Qual não foi a surpresa dos agentes funerários que preparavam o cadáver pra o transporte quando a anciã começou a se mexer. Um deles, David Ragazzini, qualificou o caso de “um verdadeiro engano a ser decifrado pela comunidade médica”.

Estatística e Vietnã

“Milhões de pessoas já foram enterradas vivas por ausência constatada dos chamados sinais vitais”, afirma o médico francês Perón Autret. Após um profundo estudo sobre a morte ele publicou na década de 70 o livro Os enterrados vivos com revelações assustadoras sobre o assunto.

Cita a estatística levantada pelo exército norte-americando durante a guerra do Vietnão. Quando os soldados mortos eram repatriados, a lei obrigava as autoridades abrirem os caixões. Graças a isso, constatou-se que quatro por cento dos soldados aparentemente foram encaixotados vivos. Alta patente militar chegou a propor que os combatentes fossem enterrados com frascos de clorofórmio ao alcance da mão para abreviar o sofrimento.

A causa de tanto infortúnio são ataques catalépticos mal diagnosticados: diz Perón-Autret. No entanto, estima que apenas 10 por cento dos enterrados vivos despertam da catalespsia. O resto morre mesmo, por falta de cuidados especiais.

Vampiros e celebridades

Em séculos passados, quem “resolvesse” se levantar da tumba era tomado por vampiro e ganhava esse estigma da sociedade, conta Perón Autret. Para confirmar isso, lembra que os textos referentes ao assunto registram que um vampiro verte sangue vermelho e quente quando é finalmente morto. O médico considera que o candidato a enterrado vivo não tinha mesmo salvação: “ a sociedade o declarara como morto e ele tinha de morrer”.
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Entre as figuras históricas que teriam escapado por um triz, o médico francês cita o poeta Petrarca, o romancista Prévost e o Barão de Hornstein. Em 1819, este entrou em estado de letargia e só voltou a si dentro do jazigo real. O nobre consegui sair do caixão e afastar a pesada tampa de mármore do túmulo, mas acabou morrendo ali mesmo, ao bater a cabeça no jazigo.

Quem sobreviveu para contar a história foi o anatomista dinamaquês Wislaw, que escreveu um volume chamado Da incerteza dos sinais da morte.
O mais célebre caso foi o de Lázaro, salvo por Jesus Cristo. Quando ele adoeceu, Jesus disse: “está enfermidade não é de morte”. Porém, na volta do Messias a Betânia, Lázaro, irmão de Marta e Maria, já havia sido sepultado há quatro dias. Ao saber das más notícias, pelas irmãs inconsoláveis, Jesus pediu para ser conduzido à caverna onde jazia o corpo de Lázaro. Mandou que retirassem a pedra da entrada. Gritou: “Lázaro, sai!”. E o morto saiu, ainda com as ataduras e o sudário.

 Sinais enganadores

O médico Perón-Autret avisa que o estado de morte aparente pode surgir em casos avisa que o estado de morte aparente pode surgir em casos de asfixia, intoxicação, soterramento, afogamento, enfarte fulminante ou hipotermia (baixa temperatura do corpo). Ainda é possível por choque devido á explosão de bombas, no caso dos soldados americanos no Vietnã.

Infelizmente – para o francês – os diagnósticos da morte atualmente empregados não são confiáveis. A rigidez cadavérica pode ser gerada pela secreção de endorfinas e encefalinas, poderosas substâncias anestesiantes; a insensibilidade total pode ocorrer em casos de doenças mentais, como a nevropatia histérica, e a imobilidade é comum em choques psíquicos e traumatismos físicos.

Nem a falta de respiração ou batimentos cardíacos significa, necessariamente, ausência de vida. Místicos e faquires indianos que praticam a postura Khé-chari-mudra (suspensão da respiração perceptível) permanecem muitas horas nesse estado. Também na índia, cardiologistas descobriram que certas posições iogas – como a Valsalva – permitem paralisar o coração.

“Sabemos agora que o sangue não circula apenas pela força da bomba-coração”, revela Péro-Autret. Ele cita o efeito de “pulsões magnéticas”. A diferença de carga elétrica entre o sangue e as paredes das artérias garantiria a circulação.

Exame confiável

Para reduzir as chances de erro, o médico francês recomenda que se realizem testes com eletrocardiograma e eletroencefalograma. Além disso, avisa que há um método bioeletrônico desenvolvido por cientistas da Nasa para avaliar o estado de saúde dos astronautas no espaço, que tira qualquer dúvida. Através de análise do sangue, da urina e da salva, o aparelho detecta os impulsos eletromagnéticos celulares nas pessoas consideradas mortas. Este diagnóstico determina se o corpo já entrou em processo de mineralização, ou seja, quebra dos compostos orgânicos. Segundo Perón-Autret,o aparelho só está disponível para a classe médica nos Estados Unidos e Alemanha. “Em minha opinião, esta técnica deveria ser adotada legalmente em todo o mundo para o controle da morte. Morrer não é tão fácil quanto parece”, diz o francês.
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Arte e Maquiagem no Velório de Sérgio Cardoso

Quando se fala em casos de gente enterrada viva, o nome do ator Sérgio Cardoso está na ponta da língua. Falecido em 18 de agosto de 1972, seu corpo foi enterrado no cemitério São João Batista o enterro foi acompanhado por mais de dez mil pessoas, que choravam e gritavam. Outro grande número de fãs visitou o artista no velório.

Poucos dias depois, correram boatos que o ator teria sido inumado sem estar morto. Levantada a suspeita, nada ficou comprovado até hoje. Porém, em dezembro de 1979, uma edição do programa Fantástico colocou Sérgio Cardoso entre os exemplos dramáticos de morte aparente. A reportagem partia das declarações do médico francês Perón-Autret, para quem o perigo é grande.

O jornalista Odilon Coutinho, autor da matéria, ouviu o covoeiro paulista que comentaram o boato de um tabelião que teria, por sua vez, recebido do ator queixas do medo de ser enterrado vivo se sofresse um ataque de catalepsia. E só. Segundo o diretor do Fantástico, José Itamar de Freitas, a informação foi levada ao ar no intuito de provocar debate e esclarecer os boatos.

Amiga e colega de Sérgio Cardoso, a atriz Rosamaria Murtinho, falando a Ano Zero, rejeita a versão corrente. “É coisa da imaginação popular. Acho essa história muito boba.”, diz. “Comenta-se que o caixão do ator foi aberto três dias após o enterro e seu corpo estava revirado. Mas uma exumação envolve uma burocracia enorme e só pode ser realizada em presença de alguém da família. Como isso foi feito e ninguém ficou sabendo?”, questiona.

A atriz acha que o boato surgiu em parte porque Sérgio Cardoso tinha “um aspecto bem disposto durante o velório”. E conta que Erik, o maquiador da emissora, confessou-lhe mais tarde ter caprichado em sua arte para dar vida ao rosto do falecido durante o velório.

Por outro lado , Rosamaria não escondeu seu medo de ser enterra por engano. Por via das dúvidas, combinou com uma amiga que providencie um exame seguro. A atriz também sugere que se faça um projeto de lei exigindo três atestados de óbito para a realização dos enterros. E pergunta: “Se os médicos erram nos diagnóstico, por que não vão errar nos atestados de óbito?”.  

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