quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cura do servo do Centurião - Revista Católica


E, tendo entrado em Cafarnaum, aproximou-se dele um Centurião, fazendo-lhe uma súplica, e dizendo: Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, e sofre cruelmente. E Jesus disse-lhe: Eu irei, e o curarei. Mas o Centurião, respondendo, disse: Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; dize, porém, uma só palavra, e o meu servo ficará curado. Pois também eu sou um homem sujeito a outro, tendo soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. E Jesus, ouvindo (estas palavras), admirou-se, e disse para os que o seguiam: Em verdade vos digo: Não achei fé tão grande em Israel. Digo-vos, porém, que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e que se sentarão com Abraão e Isaac e Jacó no reino dos céus, enquanto que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes (São Mateus, 8, 5 a 12).


Comentários extraídos da Catena Áurea(1)
de Santo Tomás de Aquino
Cafarnaum (que significa vila da abundância, campo de consolação) representa a Igreja que se havia de formar dos gentios, a qual está plena de abundância espiritual, conforme aquelas palavras do Salmo 52: "Fique minha alma bem cheia de ti como de um manjar abundante e suculento". E entre as aflições do mundo, consola-se com os bens do Céu, segundo as palavras do salmo 93: "Quando se multiplicam as angústias no meu coração, as tuas consolações deleitam a minha alma".
Este Centurião é o fruto primeiro dos gentios, em comparação de cuja Fé se considera como infidelidade a fé dos judeus. Não tinha ouvido a pregação de Nosso Senhor Jesus Cristo e nem visto a cura do leproso, mas, tendo sabido dela, acreditou mais do que os que a presenciaram, vindo a ser, então, a figura que representava a futura conversão dos gentios, aquele que não conhecia a Lei e nem os profetas, nem mesmo havia visto os milagres.
Acercou-se, pois, o Centurião, rogando e dizendo: "Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, e sofre cruelmente". Vemos aqui a bondade do Centurião, que tanta solicitude mostrava pela saúde de seu servo, como se nenhum dano de dinheiro, senão na sua própria saúde, hovesse de experimentar com a morte dele: não via nenhuma diferença entre o servo e o senhor, porque a natureza de ambos é igual, embora, segundo o mundo, a dignidade entre eles seja diferente.
Vemos também, aqui, a Fé do Centurião, ao dizer: "vem e cura-o", porque, Nosso Senhor estando alí, entretanto estava presente em todas as partes.
Vemos igualmente sua sabedoria, porque não disse "cura-o daqui mesmo". Sabia, pois, que tinha poder para fazê-lo, sabedoria para compreendê-lo e caridade para ouvi-lo. Portanto, limitou-se a expor a enfermidade, deixando o remédio da cura ao arbítrio de sua misericórdia.
Dizendo "sofre cruelmente", manifesta que o amava; pois quem ama o que está enfermo sempre julga que o mal de que padece é de maior gravidade do que na realidade o é. Assim, sob a pressão da dor e com gemidos articulava essas palavras: "jaz em casa paralítico, e sofre cruelmente", com o fim de manifestar a grande aflição de sua alma e comover o Senhor. Exemplo de como todos devem compadecer-se de seus criados e ter cuidados com eles.
Vendo Nosso Senhor a fé, a humildade e a prudência do Centurião, disse-lhe imediatamente que iria e curaria o servo. O que nunca tinha feito, fez Jesus agora: em todos os lugares seguia a vontade dos que suplicavam; aqui se excede: não só ofereceu curá-lo, senão também ir à sua casa. Fez isso para conhecermos a virtude do Centurião.
Assim como admiramos a fé do Centurião, porque acreditou que o paralítico poderia ser curado pelo Senhor, assim também se manifesta sua humildade enquanto se considera indigno de que o Senhor entre em sua casa, como está dito: "Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa". Considerando-se como indigno, apareceu como digno, não de que entrasse o Senhor em sua casa, mas em seu coração. E não teria dito isto com tanta fé e humildade se não tivesse já em seu coração Aquele de quem temia que entrasse em sua casa, pois não constituiria uma grande felicidade se Nosso Senhor Jesus Cristo entrasse em sua casa e não em seu peito.
Quando a pessoa come a Carne e bebe o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, Nosso Senhor entra em sua casa. E ela, humilhando-se, diz: "Senhor, não sou digna". Mas quando entra em quem não é digno, entra para julgar!
A prudência do Centurião aparece no ver, através do Corpo do Salvador, a divindade que nEle se encontrava oculta, e por isso acrescenta: "dize, porém, uma só palavra, e o meu servo ficará curado".
Sabia, pois, que os Anjos estavam ali assistindo-O invisivelmente, convertendo em obras todas as suas palavras, e que, embora a ação dos Anjos cessasse, as enfermidades não podiam resistir às suas palavras de vida.
Disse também o Centurião que seu servo podia ser curado somente por uma palavra porque toda a salvação dos gentios procede da Fé, e a vida de todos consiste no cumprimento dos preceitos do Senhor. E por isto continua dizendo: "Pois também eu sou um homem sujeito a outro, tendo soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz". Por inspiração do Espírito Santo insinua o mistério do Pai e do Filho, como se dissesse: "Ainda quando eu estou sob a autoridade de outro, sem embargo, tenho poder para mandar nos que estão sob mim; assim Vós, mesmo quando estais sob o poder do Pai, isto é, enquanto Homem, tendes, não obstante, poder para mandar nos Anjos".
Por súditos do Centurião podem-se entender as virtudes naturais, muito abundante nos gentios, ou mesmo os pensamentos bons ou maus. Digamos aos maus que se retirem, e se retirarão; chamemos os bons para que venham, e virão; e também a nosso servo, isto é, nosso corpo, que se sujeite à vontade divina.

Comentários apresentados pelo Pe. Luis Cláudio Fillion2
O Centurião merecia um elogio público. "Em verdade vos digo: Não achei fé tão grande em Israel. Digo-vos, porém, que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e que se sentarão com Abraão e Isaac e Jacó no reino dos céus, enquanto que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores".
Os filhos do reino são os judeus, para os quais estava destinada, primeiro, a possessão do reino celeste; mas sua incredulidade será a causa de que a maior parte deles seja excluída do reino, enquanto que os gentios de todas as nações, tornados fiéis, ocuparão seus lugares.
Depois do elogio dessa fé insigne, veio a recompensa, que consistiu na cura imediata do enfermo.
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Notas:
(1) Santo Tomás de Aquino, Catena Aurea, Exposición de los cuatro evangelios, Vol. I, Cursos de Cultura Catolica, Buenos Aires, 1946.
(2) Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, p. 146.

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