segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Família de Jesus - Raphael

Considerações Iniciais do Palestrante:

<Raphael_Carneiro>  Sobre o tema dessa noite - A Família de Jesus - é sempre difícil falar sobre o guia e modelo da humanidade, sem correr o risco de diminuí-lo devido à nossa pobreza de palavras. Pouco se sabe sobre os dados reais da família de Jesus. Alguns períodos de sua biografia não aparecem nem nos textos evangélicos. Algumas passagens do Evangelho sugerem que ele possuía irmãos consangüíneos, e que pertencia a uma família comum. Porém, na tentativa de "divinizar" o mestre Jesus, mitos foram criados, para tirar o caráter humano de seu nascimento.
Jesus veio nos ensinar que, acima dos laços consangüíneos, existem os laços espirituais, que são duráveis e que se perpetuam no mundo dos Espíritos. Honrar pai e mãe sempre fará parte do dever filial de amor aos que o acolhem neste mundo. Mas, acima de todas as coisas, há o dever com o Pai Celestial. Através de parábolas e de mensagens diretas a seus discípulos, Jesus utilizou com freqüência as relações familiares para ensinar à humanidade a lei do amor numa visão mais profunda. (t)

Perguntas/Respostas:

<[Moderador]> [01] - <LuFrancis> Quando Jesus pergunta, segundo a passagem no Evangelho, quem eram seus irmãos e quem era sua mãe, como podemos entender a assertiva?
<Raphael_Carneiro> Na referida passagem, Jesus estava pregando em Cafarnaum, que distava cerca de 30 km de Nazaré, onde moravam seus familiares. As notícias devem ter chegado algo alarmantes, pois seus parentes se dirigiram a Cafarnaum para contê-lo, pois julgavam que ele estava "fora de si". Isso demonstra que eles não acreditavam, nem compreendiam, a grandeza da missão de Jesus.
A lei mosaica, base da religião judaica, pregava como um dos dez mandamentos "honrar pai e mãe". Portanto, a obediência dos filhos aos pais era algo sagrado e inquestionável.
Diante daquelas circunstâncias, Jesus aproveita a ocasião para passar a seus discípulos uma profunda lição. Ele pergunta aos presentes "quem é minha mãe e quem são meus irmãos?"
E a resposta, apontando para os que o cercavam: "todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, irmã e mãe”. Dessa forma, Jesus amplia o conceito de família, que passa a extrapolar os laços consangüíneos, e abrange todos Espíritos que estão ligados por laços de afinidade espiritual. Jesus não veio destruir a lei mosaica de "honrar pai e mãe", mas veio dar-lhe a real dimensão perante a lei divina. (t)

<[Moderador]> [02] - <LuFrancis> Há relatos de que Jesus teria outros irmãos de sangue. Verdadeiro ou falso? E teria isto alguma modificação quanto ao teor da história de Jesus que conhecemos?
<Raphael_Carneiro> Essa questão é uma polêmica entre teólogos e estudiosos ainda hoje. Mateus, um dos doze apóstolos e um dos evangelistas, narra o seguinte episódio: "Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não vivem todas entre nós?" Além de afirmar que Jesus possuía irmãos, ainda informa os seus nomes. Lucas, que foi discípulo de Paulo de Tarso, narra no livro "Atos dos Apóstolos": "Todos estes perseveraram unanimemente em oração, com as mulheres, e com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele." Novamente, refere-se claramente aos irmãos de Jesus.
Lucas também descreveu assim o nascimento de Jesus: "Enquanto lá estavam [em Belém], completaram-se os dias para o parto, e ela [Maria] deu à luz o seu filho primogênito"
A palavra utilizada, em grego, corresponde a "primogênito", e não a "unigênito", que são palavras distintas naquele idioma. Todas essas passagens são indícios de que Jesus teve irmãos consangüíneos. Entretanto, não se pode afirmar categoricamente.
No idioma aramaico, a palavra que designa "irmão" também pode ser usada para designar um parente próximo, como um primo em primeiro grau. Entre os cristãos primitivos, usava-se o termo "irmão" para designar os correligionários. Na verdade, segundo o professor Palhano, em sua obra "Teologia Espírita", estão preocupados com esse assunto aqueles que querem procurar argumentos da virgindade de Maria, para justificar o corpo fluídico ou divino de Jesus.
Para divinizar Jesus, acabam por ter que divinizar Maria também. Tudo isso provém da idéia hebraica de que o sexo é coisa suja e pecaminosa.
Há muita fantasia para que a Verdade seja discutida o mínimo possível. O que interessa, realmente, é o ensinamento de Jesus, que indica o único caminho para a liberdade das consciências. A lição de Jesus permanece resplandecente, tendo ou não havido irmãos consangüíneos em sua família corporal. (t)

<[Moderador]> [03] - <LuFrancis> Por que deixam de informar, ou dizer, acerca da infância e adolescência de Jesus? E se todas as crianças necessitam de educação familiar, mesmo sendo Jesus um Espírito Elevado, não necessitaria ele recebê-la?
<Raphael_Carneiro>  As informações contidas nos textos evangélicos foram escritas décadas após a passagem de Jesus na Terra. Considerando-se que Jesus iniciou suas atividades de pregação aos trinta anos, é provável que nenhum dos evangelistas tivesse realmente tido informações sobre a infância e a adolescência de Jesus.
Alguns autores afirmam que Jesus educou-se entre os essênios, uma comunidade judaica contemporânea, e que, devido a suas práticas serem fechadas, isso não se tornou conhecido.
O que podemos afirmar é que tudo na vida tem o seu momento certo de iniciar. Mesmo uma missão grandiosa como a de Jesus teve as suas etapas preparatórias. O período de infância e juventude certamente foi utilizado para isso. É certo que as crianças necessitam de educação para poder desenvolver suas potencialidades quando chegarem à fase adulta. Entretanto, devemos lembrar que cada ser possui uma bagagem de conhecimento e sabedoria condizente com o seu nível evolutivo.
Vemos isso demonstrado nas crianças-prodígio, que realizam proezas no campo das artes e das ciências, desde a tenra idade, e mesmo tendo nascido num lar de ignorantes. Jesus, pertencendo a uma estirpe de Espíritos elevadíssimos, certamente nasceu com uma bagagem que dispensou muito a necessidade de receber educação, conforme a temos. (t)

<[moderador]> [04] - <_Alves_> Há pouquíssimos anos, era comum às famílias com numerosos filhos, há casos de mais de 30. Imagine à época de Jesus, em que havia o reforço da lei "crescei e multiplicai". Diante disso, por que se tenta passar aos fiéis que Jesus seria filho único? Há, inclusive, um dos evangelhos em que o autor se intitula "irmão do Mestre", seria irmão de sangue ou de ideal?
<Raphael_Carneiro>  Conforme mencionei há pouco, a idéia de que Jesus possa ter tido irmãos consangüíneos é fortemente combatida pelos grupos religiosos que insistem no dogma da virgindade de Maria e do corpo fluídico de Jesus. O mito do "pecado original", na cultura judaico-cristã leva ao conceito de que o sexo é algo sujo, pecaminoso. Segundo essa visão limitada, como poderia o messias ter nascido do pecado? Então, para divinizar Jesus, tiveram que divinizar Maria, atribuindo-lhe uma virgindade eterna. Esse o motivo para que se defenda a tese de que Jesus era unigênito. Entretanto, sabemos que o sexo é um mecanismo de reprodução natural, que nada contém de pecaminoso. O fato de Jesus ter nascido com um corpo semelhante ao nosso, concebido por métodos normais, não o diminuiria em nada. Ao contrário, sua missão na Terra demonstra que um Espírito de amor não se subjuga aos laços inferiores da matéria. (t)

<[moderador]> [05] - <dindafoz> Se Jesus coloca que "todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, irmã e mãe...", como estariam classificados então aqueles nossos irmãozinhos ainda envoltos com o mal e longe do caminho do bem?
<Raphael_Carneiro>  Aqueles também são nossos irmãos, mas ainda não descobriram isso. O conceito de "irmão" utilizado por Jesus nessa passagem é o de "pertencente à mesma família espiritual". Refere-se, portanto, aos Espíritos que apresentam uma afinidade entre si e; no caso de Jesus, essa afinidade também representa um respeito à lei divina. Os irmãozinhos que estão (temporariamente) envolvidos no mal ainda não possuem condições vibratórias de se "irmanar" com os Espíritos superiores. Os gestos de amor, de fraternidade, de compaixão são confundidos por eles com atitudes de ameaça, fraqueza, subversão. Chegará o tempo em que eles poderão se integrar à irmandade formada pelos "Filhos de Deus", a que Jesus se referia. (t)

<[moderador]> [06] - <LuFrancis> Existem algumas literaturas que informam que Jesus teria recebido instrução junto aos Essênios. Se assim for, teríamos uma contradição com os relatos que nos faz crer que ele não teria, digamos, recebido educação escolar?
<Raphael_Carneiro>  É muito difícil lidar com a "historicidade" da vida de Jesus.
Acrescente-se a essa dificuldade os mitos de divindade com que sua vida foi revestida pela religião cristã a partir da Idade Média. O fato de haver biografias contraditórias reforça essa constatação. Nos dois primeiros séculos da era cristã havia quase uma centena de evangelhos sobre a Jesus. A Igreja decidiu adotar os Evangelhos e desprezar todos os demais. Mas isso não significa que esses quatro evangelhos estejam isentos de erros de tradução e informações de origem questionável. O elevado grau espiritual de Jesus não o dispensaria de cercar-se de Espíritos que o auxiliassem em sua missão. O hábito de passar horas e dias em meditação e oração demonstra que o mestre buscava muito auxílio do Alto também. (t)

<[moderador]> [07] - <[herb]> Não se fala muito da família de Jesus, com exceção de seus pais. Ele tinha irmãos e irmãs? E se tinha, como era o relacionamento entre eles?
<Raphael_Carneiro>  Conforme mencionei há pouco, há passagens do Evangelho que sugerem que ele tinha irmãos e irmãs consangüíneos. Mas não se pode afirmar que fossem irmãos, poderiam ser primos ou parentes próximos, pois os termos são semelhantes no idioma aramaico. Ao que tudo indica, o relacionamento não era dos melhores. O evangelista João narrou: "Porque nem mesmo os seus irmãos criam nele." Isso indica que Jesus era mais amado por seus apóstolos do que por seus parentes. (t)

<[moderador]> [08] - <Melzinha28> Jesus aos doze anos falou aos doutores em Jerusalém, mostrando sua sabedoria tão precocemente. Interessante, após esse episódio, não terem sido relatados mais fatos sobre o Mestre. Ou há fatos entre os doze e trinta relatados nas obras?
<Raphael_Carneiro>  Nos quatro evangelhos, não. Há em outras obras, conforme foi mencionado em pergunta anterior. É importante lembrar que, segundo a tradição judaica, só era permitido pregar após a idade de trinta anos. Se Jesus tivesse começado sua vida pública mais cedo, talvez sua missão não tivesse tido o êxito que teve. (t)

Considerações finais do palestrante:

<Raphael_Carneiro>  As lições que Jesus trouxe à humanidade representam uma revolução na visão estrita da estrutura patriarcal de então. A parábola do filho pródigo mostra um pai generoso que concede ao filho insensato o direito de seguir segundo seu livre arbítrio. E depois mostra o pai compassivo, que perdoa e acolhe o filho faltoso. Essa lição, assim como outras mostram a relação entre o Pai Celestial e seus filhos, e ensina aos homens que essa relação de amor deve ser reproduzida na família terrena também. Que possamos todos beber nessa fonte luminosa que o mestre nos trouxe! Foi um prazer estar aqui hoje, e espero poder estar novamente. (t)


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