quarta-feira, 22 de abril de 2015

Lições sobre o nascimento de Jesus


Carlos Torres Pastorino apresenta, em sua obra “Sabedoria do Evangelho” [1], uma interessante análise sobre os primeiros vinte versículos do segundo capítulo do livro de Lucas. Estudando essa narrativa do nascimento de Jesus, depreendem-se lições tão lindas como práticas acerca de nosso próprio despertamento moral.

Os primeiros sete versículos assim são narrados:

1. Naqueles dias foi expedido um decreto de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado.
2. Este recenseamento foi primeiro (antes) do que se fez no tempo em que Quirino era governador da Síria.
3. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade.
4. José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser ele da casa e família de David,
5. para alistar-se, acompanhado de Maria, sua noiva, que estava grávida.
6. Estando eles ali, completaram-se os dias de dar à luz,
7. e teve um filho primogênito, e o enfaixou e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Não era da visão prática romana exigir que os cidadãos se deslocassem a grandes distâncias, abandonando seus negócios, para ter de ir à sua cidade natal fazer recenseamento. O ensino profundo dessa narrativa do nascimento de Jesus é distinto.

Belém significa “Casa do Pão”; e David significa “Bem-Amado”. Analisemos os elementos masculino e feminino, respectivamente José e Maria, por razão e intuição, bem como o menino nascido como o “homem novo”, ou o ser renovado.

A ida da razão (José) à Casa do Alimento Espiritual (Belém), terra de seus antepassados, exprime uma rememoração de existências corpóreas anteriores, usualmente parte do planejamento encarnatório de Espíritos que já dispõem de evolução moral para acessá-las.

Estando a razão (José) e a intuição (Maria) juntos no ambiente propício, tomam contato com a divindade dentro de si (Emanuel, que significa Deus conosco, como anunciado por um Espírito a José, uma ocorrência mediúnica em desdobramento no sono, narrada em Mateus 01:23). Eles (razão e intuição) estavam sós: o despertamento da Divindade em cada um depende de uma visão para dentro de si, uma experiência entre o indivíduo e Deus, sem interferência de terceiros.

A intuição (Maria) envolve o menino em faixas, e o põe na manjedoura, lugar próprio para o alimento dos animais. Ser enfaixado corresponde à colocação do ser na matéria (a encarnação); e as ideias do homem encarnado passam pelo cérebro físico, ou cérebro animal, de onde ele se alimenta de orientações.

Seguindo adiante nos subsequentes sete versículos, temos:

8. Naquela região havia pastores que viviam nos campos e guardavam seus rebanhos durante as vigílias da noite.
9. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor brilhou ao redor deles, e encheram-se de grande temor.
10. Disse-lhes o anjo: “não temais, pois vos trago uma boa notícia de grande alegria, que o será para todo o povo,
11. e é que hoje vos nasceu. na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor;
12. e eis para vós o sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura”.
13. De repente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste, louvando a Deus e dizendo:
14. “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”.

Verifica-se, nos versículos 9 a 13, a ocorrência de uma sessão de materialização de Espíritos de alta evolução moral, designados como anjos do Senhor, anunciando a chegada de Jesus.

Analisemos os pastores que vivem na região como as células do sangue, o qual efetua toda a alimentação do corpo físico, além de guardar forte interação com o perispírito, justamente a estrutura de interface entre o Espírito e o corpo físico (conforme os ensinamentos que André Luiz recebe e transmite em sua obra “Missionários da Luz” [2], “(...) o corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no sangue.”).

Em interpretação a respeito do significado profundo dos pastores e a notícia que receberam, nas palavras de Pastorino, “Ao sangue aparece, por meio do sistema nervoso, o ‘anúncio’ do extraordinário e divino fato. No primeiro momento, o sangue se retrai aterrorizado (a criatura empalidece), mas depois que recebe o aviso, se acalma, porque vem a saber que na Casa do Amado (na ‘cidade de David’) - o coração - nasceu o Cristo que é o Salvador, e que lá se encontra sob a forma de uma criança envolta em faixas. Realmente, o Encontro se dá na ‘célula-mônada’ que está fixa no ventrículo esquerdo do coração (exatamente no nódulo de Keith e Flack [ou nódulo sinoatrial] e feixe de Hiss). Ora, o sangue poderá dar-se conta desse nascimento, ao encontrar o ‘menino’ espiritual, envolto em faixas (envolto em matéria), cercado do intelecto (José) e da intuição (Maria), que descem ao coração, na meditação profunda, mergulhando em si mesmo. Só quando a mente desce ao coração pode encontrar o Eu Profundo, a Centelha Divina, que lá permanece em estado latente, mas que nascerá um dia.”

FIGURA “OS PASTORES COM JESUS” - Pintura de Guido Reni, gravura de H.B.Hall

Os versículos 15 a 20 contêm a seguinte narrativa:

15. Quando os anjos se haviam retirado deles para o céu, diziam os pastores uns aos outros: “vamos até Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”.
16. E foram a toda pressa e acharam Maria e José e a criança deitada numa manjedoura;
17. e vendo isso, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito desse menino.
18. Todos os que o souberam admiravam-se das coisas que lhes referiam os pastores.
19. Maria, porém, guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração.
20. Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus, por tudo quanto tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado.

Findo o impacto do encontro, as células sanguíneas (os pastores) vão à Casa do Alimento Espiritual (Belém), o coração, agora despertado pela Luz Divina no homem renovado. Após ir ao coração (o estábulo), o sangue (pastores) vai ao cérebro (manjedoura) e absorve as vibrações elevadas das ideias renovadas pela Inspiração Divina. Por sua vez também renovado, o sangue vai divulgar a boa nova às demais células do corpo, que também evolui. Conforma cita Pastorino, “Em linguagem científica moderna diríamos que as vibrações das células sanguíneas, ao modificar suas próprias vibrações em contato com o coração, que se transformou pelos novos pensamentos surgidos, vai elevar as vibrações de todas as demais células, fazendo que estas se modifiquem para melhor, sintonizando com o Homem-Novo, expulsando as aflições e mazelas do corpo físico. A intuição, porém, (Maria) guarda ciosamente todas essas coisas no âmago de si mesma, e nunca jamais se esquecerá das experiências vividas, e frequentemente medita sobre elas.”

Em suma, a lição sobre o nascimento de Jesus também ensina que nossa modificação interior, nossa reforma íntima, quando razão e intuição se unem em prol do Bem, nos modifica para melhor inclusive em nível físico, como a Ciência terrestre tem confirmado por seus ramos como a Medicina Psicossomática.

Joanna de Ângelis, no livro Autodescobrimento, capítulo Doenças Psicossomáticas [3], esclarece que:
"(...) O pensamento salutar e edificante flui pela corrente sanguínea como tônus revigorante das células, passando por todas elas e mantendo-se em harmonia no ritmo das finalidades que lhes dizem respeito. O oposto também ocorre, realizando o mesmo percurso, perturbando o equilíbrio e a sua destinação.
(...) Adequando-se à saúde e à harmonia, o pensamento, a mente, o corpo, o perispírito, a matéria e as emoções receberão as cargas vibratórias benfazejas, favorecendo-se com a disposição para os empreendimentos idealistas, libertários e grandiosos, que podem ser conseguidos na Terra graças às dádivas da reencarnação. (...)"

Ano Novo! Eis aí o convite para o nascimento do Cristo em nós, com a renovação de nossos pensamentos e emoções, refletindo no próprio corpo físico...


Bons estudos!
Carla e Hendrio


A respeito desses temas, leia também, neste blog, as postagens “Muitas Moradas”, “Faixas”, “Mediunidade na Bíblia”, “Instrumento Mediúnico” e “A lembrança dos sonhos”.


Referências:

1. PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 1. “Nascimento de Jesus”, “Anjos e Pastores” e “A Visita dos Pastores”.
2. XAVIER, Francisco Cândido. “Missionários da Luz”. Pelo Espírito André Luiz. 25ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1994. Capítulo 13.
3. FRANCO, Divaldo P. "Autodescobrimento". Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: LEAL. Disponível em: GEAL - Grupo de Estudos André Luiz. http://geal-ba.blogspot.com/2008/05/doenas-psicosomticas-por-joanna-de.html. Acesso em 26.12.2009.


Leia mais no endereço: http://licoesdosespiritos.blogspot.com/2009/12/licoes-sobre-o-nascimento-de-jesus.html#ixzz3Y2qEoQvr

Nenhum comentário:

Postar um comentário