terça-feira, 28 de abril de 2015

Assistência Social e Espiritismo

Assistência Social e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Assistência Social no Centro Espírita Ismael: 4.1. Posição da Assistência Social no Organograma do Centro Espírita Ismael; 4.2. Funcionamento de um Dia de Trabalho; 4.3. Financiamento do Trabalho Assistencial. 5. Ação Social Espírita: 5.1. Pública e Privada; 5.2 Missão do Espiritismo; 5.3. Não Confundir os Meios com os Fins; 6. Subsídios para Alicerçar a Ação Social Espírita. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre a ação social. Sendo assim, a nossa peça oratória comportará uma visão histórica do termo, a estruturação da Assistência Social no Centro Espírita Ismael e os subsídios que a Doutrina Espírita nos oferece para praticá-la a contento.

2. CONCEITO

Assistência – do lat. Assistentia. Ato ou efeito de assistir a alguma coisa.

Assistência Social – Conjunto de medidas – reforço alimentar, creche, serviços de saúde etc – através das quais o Estado procura atender a certas necessidades das pessoas que normalmente não dispõem de meios para fazer frente a elas, ainda que em nível mínimo. (Dicionário de Ciências Sociais)

Voluntário – Segundo definição das Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte de seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos...”

3. HISTÓRICO

O fato de na antiguidade não haver asilos nem orfanatos como os encontramos hoje, não é motivo para afirmarmos que a Assistência Social não existia. Registros históricos mostram que os Egípcios – 5000 anos a.C. – respeitavam o próximo e reverenciavam os mortos, os Babilônios – 3000 anos a.C. – dispensavam consolo aos aflitos e não separavam os casais de escravos, os Hindus (na pessoa de Buda) – 600 anos a.C. – ensinavam por parábolas a tolerância, a igualdade e a bondade e os Chineses (pela influência de Confúcio) – 600 anos a.C. – ensinavam a bondade e a lealdade, a fim de se alcançar um ideal superior.

Afigura-se que somente depois da aceitação do Cristianismo como religião legal é que os povos do passado trataram de organizar instituições de assistência com caráter oficial e permanente. Com Jesus Cristo a assistência resplandece em cada ato, como está gravado nas páginas do Evangelho, abrangendo o tríplice sentido de universalidade: 1) alcança a todos os homens: escravos, inimigos e perseguidos; 2) estende-se além do campo material, atendendo também às necessidades morais e espirituais, visando ao mesmo tempo o corpo e a alma; 3) penetra todas as instituições, dilatando o conceito de justiça e de fraternidade.

O Evangelho de Jesus dá a base para a verdadeira caridade e amplia o conceito de amor ao próximo, conforme se depreende dos ensinos: O Bom Samaritano (Lucas X: 25-37); “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei também a eles...” (Mateus VII:12); “Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem.” (Lucas VI:31); O que é necessário para salvar-se (Mateus XXV:31-46); O amor aos inimigos (Mateus V:43-47; Lucas VI:32-36).

Com o surgimento da Revolução Industrial (séc. XVIII), o Capitalismo (séc. XIX) e os avanços da globalização na época atual, em que muitos empregos e ocupações foram se extinguindo, o desemprego passou a imperar e com ele a necessidade daqueles que têm mais auxiliar os que têm menos.

O Espiritismo, com Allan Kardec, traz nova luz à tarefa assistencial, realçando a responsabilidade de seus seguidores pelo preceito “Fora da Caridade não há Salvação”

A primeira campanha promovida por entidade espírita de que se tem notícia foi realizada por Kardec através da Revista Espírita (janeiro de 1863) com o objetivo de arrecadar recursos para socorrer os operários de Rouen, França, vitimados por rigoroso inverno. Graças às doações recebidas foi possível levar alguma tranqüilidade a inúmeras famílias em provação.

No Brasil, muitos foram os espíritas cuja dedicação e amor, no campo assistencial, se transformaram em exemplo. Entre eles, destacam-se Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco e Batuíra.

Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900) – apóstolo do Espiritismo. Como médico, dedicou-se, com grande desapego e amor, à assistência aos doentes e a todos que o procuravam necessitados de auxílio.

Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), natural de Sacramento-MG, educador, espírita, dotado de diversas faculdades mediúnicas, dedicou sua vida à educação do jovem, aos aflitos e abandonados pela sorte. Atendia a todos que o procuravam e ainda, em momentos de folga, saía pelos arrabaldes da cidade a socorrer doentes, assistindo os necessitados de toda ordem e pregando a doutrina do amor ao próximo.

Anália Franco (1856-1919), emérita educadora, se entregava, de corpo e alma, à prática do bem. Fundou e supervisionou mais de 70 asilos, creches e escolas espalhadas por vários Estados brasileiros. A síntese do seu pensamento era: “O nosso fim é procurar diminuir cada vez mais em nosso meio a necessidade da esmola pelo desenvolvimento da educação e do trabalho, de que provém o bem-estar e a moralidade das classes pobres. Eduquemos e amparemos as pobres crianças que necessitam de nosso auxílio, arrancando-as das trilhas dos vícios, tornando-as cidadãos úteis e dignos para o engrandecimento de nossa pátria.”

Antonio Gonçalves da Silva – “Batuíra” (...- 1909), português, veio para o Brasil ainda criança e, como imigrante, aqui cresceu e desenvolveu sua obra de dedicação ao próximo. Em 1873, por ocasião da epidemia de varíola, assistiu aos doentes e flagelados com verdadeiro espírito de renúncia, dando não apenas o remédio, mas também o pão, o teto e o agasalho. (Manual de Apoio da FEB)

4. ASSISTÊNCIA SOCIAL NO CENTRO ESPÍRITA ISMAEL

4.1. POSIÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ORGANOGRAMA DO CENTRO ESPÍRITA ISMAEL

O organograma é o quadro geométrico representativo das unidades de uma organização ou serviço e indica os limites das atribuições de cada uma delas. Assim, no topo do quadro está a Diretoria Executiva, em seguida os Departamentos e abaixo destes, os Sub-Departamentos.

O topo do organograma do Centro Espírita Ismael pode ser visualizado abaixo:

Diretoria Executiva

DEPCOM

DEPIJM

DEPAE

DEPAS

DEPOE

DEPED

DEPEV



DEPCOM - Departamento Comercial
DEPIJM - Departamento de Infância, Juventude e Mocidade
DEPAE - Departamento de Assistência Espiritual
DEPAS - Departamento de Assistência Social
DEPOE - Departamento de Orientação e Encaminhamento (Entrevista)
DEPED - Departamento de Ensino Doutrinário
DEPEV - Departamento de Eventos



O organograma do  Departamento de Assistência Social do Centro Espírita Ismael pode ser visualizado abaixo:



Departamento de Assistência Social

Gestantes

Famílias

Orientação
 Profissional

Costura



1) Gestantes – Setor em que se compõe o enxoval, que será distribuído  às gestantes carentes, depois de terem freqüentado 12 reuniões. Um enxoval é constituído de mijãozinho, meias, blusa, chupeta...

2) Famílias (alimento) – As gestantes cadastradas (aproximadamente 80 famílias) recebem cestas básicas – compostas de arroz, feijão, óleo, açúcar, sal etc. – por um período de 3 a 4 meses.

3) Orientação Profissional – Com aulas de pintura em tecido, tricô, crochê, bordados, a Assistência Social do C. E. I. procura incentivar o trabalho, inclusive como alternativa de renda, pela venda das peças produzidas.
4) Setor de Costura – Confeccionam-se roupas para: 1) composição das peças do enxoval; 2) serem vendidas no BAZAR permanente.

4.2. FUNCIONAMENTO DE UM DIA DE TRABALHO

1) Todas as gestantes participam de um trabalho de Assistência Espiritual, recebendo orientações para a vivência cristã e passes espirituais.

2) Enquanto as gestantes ouvem as palestras, seus filhos participam da evangelização infantil, com os respectivos passes espirituais. Além disso, tomam lanche, suco e periodicamente ganham brinquedos usados. No início do ano letivo, o Centro Espírita Ismael auxilia com doação de material escolar.

3) Após a reunião é facultativo às gestantes e freqüentadoras carentes terem aula de pintura em tecido, tricô, crochê, bordados, com alternativa de geração de renda.

4) Ao término das reuniões, as gestantes tomam lanche e suco.

5) Periodicamente recebem a visita de um Psicólogo ou Assistente Social, os quais ministram aulas sobre saúde, higiene, prevenção de doenças venéreas e AIDS.

6) Há sorteios variados e, duas vezes por mês, faz-se uma "feirinha", em que escolhem as roupas que foram doadas. O restante dessas roupas é enviado à Casa de David.

7) Distribuem-se cestas básicas e enxoval, conforme programação.

4.3. FINANCIAMENTO DO TRABALHO ASSISTENCIAL

Recebemos doações em dinheiro e em espécie. As doações em espécie são feitas diretamente nas dependências do Centro.

Destino das doações:

1) Quando o material está em bom estado, guarda-se para os Chás Beneficentes;
2) Material mais ou menos bom, guarda-se para um Bazar mensal;
3) Material em estado regular é posto no Bazar diário, sendo que nos dias do atendimento às gestantes, faz-se uma "feirinha", em que as gestantes escolhem os objetos que lhes interessam e levam-nos gratuitamente.
5. AÇÃO SOCIAL ESPÍRITA

5.1. PÚBLICA E PRIVADA

A ação social espírita fundamenta-se no voluntariado que, à semelhança da “Casa do Caminho”, procura levar reconforto material e espiritual aos mais necessitados. Nesse mister, diferencia-se do Serviço Social governamental, pois enquanto este visa dar apenas o alimento, aquele procura ver o  indivíduo como um todo, no sentido de fazer-lhe desabrochar os germes de sua evolução espiritual.

5.2 MISSÃO DO ESPIRITISMO

Considerando que a missão precípua do Espiritismo visa à “transformação da humanidade pela melhoria das massas por meio do gradual aperfeiçoamento dos indivíduos”, todo o auxílio feito ao próximo deve ser acionado dentro de um programa que tenha por objetivo o reequilíbrio moral; a reintegração social e a educação espiritual.

Assim, de acordo com os pressupostos codificados por Allan  Kardec, devemos não só dar o alimento que mata a fome, o agasalho que supre o frio, mas também o reconforto espiritual da palavra esclarecedora, que estimula o nosso irmão menos aquinhoado materialmente a caminhar com os próprios pés.

5.3. NÃO CONFUNDIR OS MEIOS COM OS FINS

Um dos grandes erros da humanidade é a confusão entre os meios e os fins. À pergunta, qual é o fim da religião, responderíamos que é para salvar almas, fazer a pessoa evoluir, conhecer melhor a Deus. Dentro desse raciocínio, qual é o fim do Espiritismo? Transformação do indivíduo? Burilamento interior? Mas será que os meios empregados tendem para este fim?

Tomemos, por exemplo, a doação de cestas básicas. Se, paralelamente a essa dádiva, não estivermos incentivando a pessoa a se melhorar, a se  aperfeiçoar, a  evoluir espiritualmente, estaremos apenas criando dependentes, o que contraria sobremaneira o objetivo do Espiritismo que, segundo o Espírito Emmanuel, é a libertação da consciência.

Resumindo: o alimento é o meio, a libertação da alma é fim. Saibamos distinguir um do outro.

6. SUBSÍDIOS PARA ALICERÇAR A AÇÃO SOCIAL ESPÍRITA

Na literatura espírita há diversos ensinamentos sobre a melhor maneira de praticar a caridade. Eis alguns deles.

1) P. 768 de O Livro dos Espíritos “Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados”. No isolamento o homem se embrutece e se estiola.

2) A Parábola do Bom Samaritano, que bem compreendida, dá-nos o exato conceito do que seja a Caridade ensinada pelo Cristo.

3) P. 886 de O Livro dos Espíritos - Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? – Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos”.

4) Fora da Caridade não há Salvação – “Meus filhos, na sentença: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor”. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai.  -  Paulo, o apóstolo  -  (Kardec, 1984, Cap. XV, item 10)

5) Na Obra Assistencial “Jamais reter, inutilmente, excessos no guarda-roupa e na despensa, objetos sem uso e reservas financeiras que podem estar em movimento nos serviços assistenciais”.  Não há bens produtivos em regime de estagnação. (Vieira, 1981, p. 53)

7. CONCLUSÃO

A ação social numa Casa Espírita reveste-se de particular importância. Não nos sirvamos dela para criar dependentes, mas para auxiliar cada qual a alcançar a sua libertação, tanto material quanto espiritual.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
SILVA, B. (coord.) Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1986.
VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita. Pelo Espírito André Luiz. 8. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.
www.espirito.com.br. Manual de Apoio para as Atividades do Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita, da FEB.

São Paulo, outubro de 2002.

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