quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

MORTE PREMATURA


       P. Que diz o Espiritismo sobre a morte prematura? Estará ela sempre na programação dos que a sofrem?

        R. Nenhuma religião ou filosofia do mundo ocidental estuda, tão abertamente e com tanta minudência, a problemática de morte, quanto o Espiritismo, vendo na morte do corpo a emancipação do espírito, a sua transmutação apenas para outra dimensão da vida, que se lhe apresenta infinita.
       Estudando do Espírito e das pessoas as reações ante o evento da morte e evocando, em suas análises sobre o tema, os possíveis motivos de tantas vezes que este ocorre aparentemente, ou verdadeiramente de forma prematura, no cenário deste mundo, não há como deixar de observar-lhes as causas, espontâneas, umas, provocadas, outras, inesperadas e inevitáveis, algumas vezes, inexplicáveis ou incompreensíveis, outras tantas.
       Perder um familiar querido prematuramente, seja de que forma for, ainda que se creia na continuidade da vida e em que essa separação seja apenas temporária, não é tarefa fácil para ninguém. É uma das vias mais dolorosas, dentre as que são dadas ao homem percorrer neste mundo-escola. Saber que essa perda ocorreu pela ação criminosa ou irresponsável de outrem, ou, pela negligência em termos de saúde ou de segurança da própria pessoa desaparecida, só redobra o sofrimento de quem a amava tanto e agora se priva de sua companhia, por tempo indeterminado.
       Ora, se, como assegura o Evangelho, "não cai uma folha de árvore, um fio de cabelo, um pássaro, ao chão, sem que isto seja da permissão divina", a pergunta que não cala é: Tais mortes estão nos planos de Deus? Ocorrem elas pela Sua vontade? Sendo Deus Onisciente e Onipotente, isto é, Sabedor de tudo e Todo poderoso, há como aceitar a ideia de que ninguém morre antes da hora e que as mortes aparentemente prematuras já estavam devidamente programadas pelo nosso Criador, mesmo quando uma vida seja ceifada por ato nefando de outra pessoa?
       Em alguns casos, sim; em outros, absolutamente não. Os estudos espíritas dão conta de que o Criador do Universo e da Vida estabeleceu, desde o princípio de tudo, Leis Naturais, infalíveis e imutáveis, que os regem em todas as suas expressões, irrevogavelmente. Entre essas Leis estão as de Amor, de Causa e Efeito, de Progresso, de Sociedade e de Livre-arbítrio (esta última somente para os seres racionais em seu desenvolvimento e progressão). Nada acontece alheiamente a estas e outras Leis universais. Só elas podem confirmar a Justiça e o Amor do Criador para com todas as Suas criaturas, de modo imparcial e invariável. Pego-me às vezes a pensar em como reagem, em certas circunstâncias, os meus amigos que creem na unicidade e no caráter definitivo da existência humana, para cada espírito, uma vez que acreditam seja este um ser eterno e imortal. Observa-se que muitos se revoltam contra Deus, quando lhes sobrevenha uma desgraça, qual a morte prematura de um ser amado. Quando esse ser foi o único responsável pela própria desdita, por imprudência ou má ação, fica o desconforto extra de sabê-lo condenado fatalmente à pena eterna, imposta como castigo divino ao transgressor. A não ser que, apelando ao protecionismo muitas vezes imputado a Deus, considere que o seu próprio protegido, pelas orações feitas ou mandadas fazer em seu favor, com fervor, possa ser absolvido pelo Grande Juiz, que nem sempre haverá de ter a mesma condescendência para com os outros, o que já não é problema seu, mas que não deixa de ser uma pesada incoerência, a meu ver.
       O Espiritismo, não apenas em "O Livro dos Espíritos", sua primeira obra basilar, mas numa gama de outras obras dedicadas, inteira ou parcialmente, ao estudo destas questões, nos abre imensas possibilidades de reflexão, elucidando-nos muitas dúvidas e, até, preparando-nos para um possível enfrentamento de evento doloroso, quanto o aqui focalizado, a que tenhamos um dia de assistir ou protagonizar em nossos círculos mais estreitos de afetividade.
       Fato inconteste, porém, é o de que Deus não erra jamais e não se deixa enganar pelas malandragens humanas. Tudo está sob o controle absoluto de Suas leis sábias.
      A única fatalidade que se nos reserva, em toda a nossa trajetória pelas vias da eternidade espiritual, desde que fomos criados, é, na verdade, a da evolução contínua. Não há como permanecer estagnado. Evoluímos sempre, queiramos ou não. E a morte prematura, quando natural, em alguma de nossas reencarnações, faz parte deste processo de evolução, como experiência necessária ao nosso burilamento moral. Quando provocada por nós mesmos, é pedra de tropeço que nos fere, mas nos ensina, igualmente, à força da dor, em um recomeço mais difícil. Se provocada por outrem, é comprometimento para ele, podendo, ainda assim, ser uma alavanca que nos impulsiona para adiante, se soubermos perdoar e confiar na plena e infalível Justiça Divina. ///

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