As aflições humanas: causas anteriores
Há muitas coisas na existência que nos causam dúvidas curiosas.
Há muita coisa que se não sabe de onde é que vem, porque acontece, como é que ocorre.
Basta olharmos as nossas crianças. Desde novinhas, demonstram coisas curiosas para nós, nos dizem coisas que nunca lhes ensinamos, apresentam situações que nunca esperamos.
Crianças que nascem microcéfalas, com o crânio reduzido; macrocéfalas, com o crânio ampliado; crianças que nascem sem cérebro, anencéfalas; crianças que nascem surdas, mudas, que ficam paralíticas, sem nenhuma razão exterior palpável.
As mães fizeram pré-natais notáveis, sérios, com bons médicos e os filhos nascem com lesões irreversíveis.
Encontramos situações para as quais não vemos explicações imediatas na vida que temos.
Por que é que nascem crianças em Nova York, em São Paulo, em Tóquio, que não lhes falta nada e nascem outras em Serra Leoa, na Libéria, nos confins do Nordeste brasileiro às quais falta tudo?
Qual é a visão que temos dessas questões, se considerarmos as Leis de Deus? Por que é que Deus faz isto?
Por que nascem crianças com todas as possibilidades de se desenvolver e nascem outras para as quais falta tudo? As dificuldades homéricas para que se desenvolvam...
Como é que nascem crianças ricas, poderosas e outras miseráveis, famélicas? Como explicar essas coisas?
Essas crianças não fizeram nada para merecer isso.
A voz popular diz que são verdadeiros anjinhos e uma mãe retém, nos seus braços, um anjinho marcado por doenças incuráveis ou por doenças gravíssimas tendo ela feito tudo o que era preciso fazer durante a gestação, tendo ela todo o amor do mundo para dar ao seu neném. O que é que acontece?
Ficamos pensando nesses problemas para os quais não achamos explicações agora, nesta atualidade do mundo, mas nem por isso menos aturdentes.
São situações grotescas mesmo. Como é que uma criança é violada? É violentada e morta? Como se justifica isto?
Somente na fereza do adulto que fez? Como é que podemos justificar isso, se consideramos as Leis de Deus Leis de perfeição?
Isso faz com que muita gente estabeleça não crer mais em Deus porque seria impossível admitirmos esse Deus justo, amoroso, bom, paternal, Pai de toda a Humanidade, admitindo a unicidade das vidas. Chegamos na Terra uma vez só, vivemos na Terra uma vez só. Se for assim, a vida não merece ser vivida.
Essa miséria toda que se espalha no mundo, ao lado dessa riqueza toda que o mundo guarda. Deus, de fato, não poderia existir.
O que acontece é que, às vezes, nos falta esse olhar para compreendermos que não estamos na Terra por primeira vez, nem pela última vez.
Adotar a visão milenar reencarnacionista, não aquela que, por exemplo, têm os nossos irmãos indianos de que um familiar pode nascer num rato, num bicho qualquer, como havia na Grécia a ideia da metempsicose; seres humanos que podiam nascer em corpos de plantas ou de bichos. Não, não é por aí.
Admitimos, sim, que as almas voltam para habitar novos corpos, para viver de novo na Terra, mas em corpos humanos e, nesses corpos humanos é que elas terão que dar conta do que desarranjaram no seu passado, quando viveram em outros corpos humanos.
* * *
Diante dessas situações, temos que admitir que não existe uma única existência na Terra, não existe uma única vida na Terra.
Lembramos do texto do Evangelista João, no seu capítulo terceiro, onde há uma conversa entre Jesus e o Rabi Nicodemos quando Ele diz que: Aquele que não nascer de novo, não verá o Reino dos Céus.
Nicodemos pergunta ao Mestre Jesus: Como pode um homem, sendo velho, voltar ao ventre de sua mãe para tornar a nascer?
Nicodemos tinha entendido, não tinha admitido que pudesse acontecer isso. Como é que um homem velho...?
E Jesus Cristo redargue:
Aquele que não nascer da água e do Espírito, não verá o Reino dos Céus.
Naturalmente que, ao longo das idades, já no século XX, os cientistas demonstraram que um corpo físico é um corpo de água. Demonstraram que a vida orgânica nasceu no seio das águas, ainda nos tempos remotos da Terra.
E nascer do Espírito é essa renovação que o corpo físico nos permite viver.
Estamos num corpo físico para aprender a iluminar o Espírito, para trabalhar essa questão da alma.
Então aqueles equívocos, aqueles erros que perpetramos em outras vidas, em outras existências, não se apagaram.
Mas não foi outra pessoa que viveu esse passado? Sim, foi outra pessoa, mas o mesmo indivíduo.
A pessoa, a personalidade é a máscara; Persona, do latim, quer dizer máscara, cara.
Em cada existência, mudamos de face, mudamos de cara, mudamos de persona, mudamos a personalidade, mas é o mesmo indivíduo mudando de caras, mudando de máscaras. Quando trocamos de roupa, não deixamos de ser quem somos.
Então, os erros que cometemos no passado voltam conosco. Estamos de roupa nova, mas a alma é a mesma e temos que dar conta disto.
Os acertos que tenhamos feito no passado também retornam conosco.
É por isso que já merecemos uma sociedade com progressos, já temos luz elétrica, já temos vacinas, já temos remédios, já temos uma moradia boa.
Isso tudo corresponde ao bem que já espalhamos na Terra, ao bem que já fizemos na Terra, às realidades luminosas que inauguramos na Terra.
No entanto, os erros cometidos, os enganos perpetrados, Cristo disse: Só saireis daí depois de pagardes o último quadrante, a última moeda.
É importantíssimo perceber que a Terra é, ao mesmo tempo, uma escola, também um hospital, também uma cadeia, dependendo daquilo que estejamos fazendo aqui.
Quem precisa continuar aprendizados que não foram concluídos no seu passado e está na Terra, a Terra se lhe mostra uma escola.
Quem não foi punido pela justiça no passado, foi esperto e escapou da lei, para esses, quando retornam, a Terra é a mão da justiça, é um presídio, é um cárcere.
Para aqueles que criaram patologias nas vivências desorganizadas do seu passado, os que se encheram de drogas, de excessos e infelicitaram a vida e saíram do corpo mais cedo, voltam à Terra e, para esses, a Terra é um hospital.
De qualquer forma, seja uma escola, um hospital, uma oficina de trabalhos, seja um presídio, a Terra é o nosso campo abençoado de oportunidades.
Tudo quanto não temos explicações na atualidade, essas explicações estão no nosso passado, nas coisas que fizemos, positivas ou negativas.
Todos estamos na Terra nascidos de novo, como lembrou Jesus.
Quem não nascer de novo, não progride, não avança, não melhora, não tem tempo para isto.
Seria terrível em uma única existência definirmos tudo. Quem vive cem anos na Terra não aprende tudo. Imaginemos quem nasce e morre, quem morre jovem não aprendeu tudo, nem no mundo do intelecto, nem no campo da moral, da ética.
É por isso que precisamos voltar à essa escola, voltar a esse cárcere, voltar a esse hospital, voltar a esse campo de aprendizados, que é a Terra.
Todas as questões para as quais não encontremos respostas hoje, essas respostas estão no ontem nosso, pessoal ou no ontem da Humanidade.
Raul Teixeira
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