segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A PERSONALIDADE DE JOÃO BATISTA - Aparência e realidade - Caibar



"Partidos que foram os mensageiros de João, começou Jesus a falar ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Mas que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Os que se vestem ricamente e vivem no luxo, assistem nos palácios dos reis. Mas, que saístes a ver? Um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta. Este é aquele de quem está escrito: Eis aí, envio eu ante a tua face o meu anjo, que há de preparar o teu caminho diante de ti.
Eu vos digo: Entre os nascidos de mulher não há nenhum maior do que João; mas o menor no Reino de Deus, é maior que ele. Ao ouvir isto, todo o povo e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, sendo balizados com o batismo de João; mas os fariseus e os doutores da lei frustraram o desígnio de Deus quanto a si mesmos, não sendo balizados por ele.

"A que, pois, compararei os homens desta geração e a que são eles semelhantes? São semelhantes aos meninos que se assentam na praça e gritam uns para os outros: Nós vos tocamos flauta e não dançastes; entoamos lamentações e não pranteastes. Pois veio João Batista não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Ele tem demônio. Veio o Filho do Homem comendo e bebendo, e dizeis: Eis um homem glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Contudo, a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. "
(Lucas VII, 24-35)
"Ao partirem eles, começou Jesus a falar ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Mas, que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Os que vestem roupas finas, assistem nos palácios dos reis. Mas, para que saístes? Para ver um profeta? Sim, vos digo, e ainda mais do que profeta. Este é aquele de quem está escrito: Eis aí, envio eu ante a tua face o meu anjo, que há de preparar o teu caminho diante de ti.
Em verdade vos digo que não tem aparecido entre os nascidos de mulher outro maior que João Batista, mas o menor no Reino dos Céus é maior que ele. Desde os dias de João Batista até agora o Reino dos Céus é tomado à força, e os que se esforçam são os que os conquistam. Porque todos os profetas e a Lei profetizaram; e se quereis recebê-lo, ele mesmo é o Elias que há de vir. O que tem ouvidos, ouça. Mas a que hei de comparar esta geração? É semelhante aos meninos sentados nas praças, que gritam aos seus companheiros:

"Nós vos tocamos flauta e não dançastes. "Entoamos lamentações e não pranteastes. "Porque veio João não comendo nem bebendo e dizem: Ele tem demônio. Veio o Filho do Homem comendo e bebendo, e dizem: Eis um homem glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Contudo a sabedoria é justificada pelas suas obras. " (Mateus xi, 7-19)

Hoje, como ontem, o homem não tem valor pelo que verdadeiramente vale, mas sim pelo que mostra valer. O povo não tem reto juízo, julga pelas aparências. O hábito é que faz o monge. A vestimenta, os ornamentos, a aparência exterior é que caracterizam "os sábios, os sacerdotes, os gênios, os missionários".

Para ser recebido neste mundo como um emissário da Divindade, é preciso ser um homem de vestes ricas e de apresentação, semelhante aos que assistem nos palácios dos reis, ou então, uma "cana agitada pelo vento", um judeu errante sem bagagem, que exerce o sortilégio e se anuncia remédio para todos os males, adivinho de todas as sortes.
Do contrário, não será recebido nem por nobres, nem por plebeus, porque o mundo atual é composto ainda das tradicionais gerações que só dançam ao som de flautas e só pranteiam ao som de cânticos de lamentações. Um homem que não come pão nem bebe vinho, porque não lhe apraz esse tratamento, ou é maluco ou tem demônio.Um missionário que come de tudo o que se vende na praça e bebe vinho, não pode ser missionário; é glutão e beberrão.

Os missionários, para a gente atual, ou hão de vir envoltos de ornamentos, com anéis e cruzes de pedrarias, vestidos de seda e púrpura, ou então serão tipos desleixados que mal se podem manter, aparentando figuras fantasmáticas, que, porém, tiram sortes, profetizam sobre a vida e os negócios, dão fortuna e aplicam "mezinhas". O povo não tem o senso preciso para julgar, para discernir os homens; é como as crianças: onde uma vai, vai também a outra, e o que uma diz, dizem todas juntas.

Não há realidade para os homens de hoje, tudo é aparência e todos são distinguidos pela aparência com que se manifestam. Os racionalistas são postos à margem, por falta de equilíbrio. De fato, entre gente que não raciocina, os que raciocinam não podem deixar de estar sós; são os desequilibrados do círculo.

Esse estrabismo hereditário impedia os judeus de reconhecerem Jesus como o Cristo e João Batista como seu precursor, assim como impede, hoje, a recepção do Espírito da Verdade, encarregado de guiar-nos na estrada direta do progresso que temos de atingir para nossa própria felicidade.

As Escrituras tanto falavam de João Batista como de Jesus; mas as Escrituras eram desconhecidas das passadas gerações, como desconhecidas são da atual. As partes das Escrituras entregues ao povo eram falsas interpretações do verbo dos profetas, traduções feitas por votos e dependentes sempre de uma maioria servil e condicional, composta de sacerdotes e rabinos da Lei.
De modo que nem pelas Escrituras o povo podia chegar ao conhecimento dos dois vultos extraordinários que percorriam a Galiléia, um pregando o arrependimento, outro ministrando aos sedentos de justiça a Nova Lei do Amor que os vinha redimir do mal.
A personalidade de João Batista, classificado por Jesus como "o maior de todos dentre os nascidos de mulher", destaca-se solenemente pela sua austeridade no modo de anunciar o Grande Enviado, chegando a atrair multidões a si, que, convictas da sua superioridade moral e espiritual, e convertidas para uma vida superior, em sinal da mudança de situação a que eram levadas, entravam no Jordão limpando-se das máculas e gafeiras do "homem velho" e de lá saíam limpos de corpo para simbolizar a limpeza da alma a que aspiravam, por uma vida de progresso e perfeição.

Os doutores da Lei e os fariseus continuavam insubmissos ante a evidencia que a Verdade lhes oferecia. Não é que esse "batismo" de que fala o Evangelho fosse um sacramento instituído pelo Profeta, para dar uma espécie de distintivo aos seus prosélitos, porque não representava mais que um ato público de momento, para a libertação do preconceito e do servilismo que dominavam os homens.

Os fariseus, endurecidos e contumazes, repeliam antes a pregação do Profeta do que o formalismo por ele lembrado para reformar uma lei bárbara, como era a da circuncisão, que já não tinha razão de ser, embora na Época Mosaica fosse uma necessidade higiênica. Duros de cerviz e incircuncisos de coração, não deixariam a religião de seus pais, a religião dos magnatas, dos poderosos e governadores para receberem a Palavra humilde e simples do pobre Carpinteiro, que eles bem conheciam e propositadamente repeliam.

A verdade, entretanto, é que a sabedoria que manifestavam foi justificada por suas obras, e hoje todos vemos quão pretensiosas eram as suas intenções e quão errados se achavam na sua justiça.

Mas o moderno Farisaísmo não cessou ainda a sua ação, e aqueles que trabalham pela divulgação da verdade, não lhe devem ignorar as investidas, que continuam, para que prevaleçam suas maldosas intenções. Estamos nos tempos da ceifa e de joeiramento, e o bom grão não pode ficar ao lado do joio, para que não se contamine. A geração futura nos pedirá conta do trabalho que fizemos e oxalá ela não nos incrimine de imperícia, ou de falta nos deveres que nos foram confiados.
Cairbar Schutel

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