domingo, 21 de dezembro de 2014

Motivos de resignação • Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante

“Quando o Cristo disse: ‘Bem-aventurados os aflitos, que deles é o reino dos céus’, não se referia àqueles que sofrem em geral, porque todos os que estão neste mundo sofrem, estejam sobre o trono ou sobre a palha; mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desencorajamento é uma falta; Deus vos recusa consolações porque vos falta coragem.” (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, item 18)
Desde que não haja mais mistério sobre o passado, entendendo a transmigração para o plano espiritual, porque a vida material é feita de momentos necessários para a nossa evolução, não nos revoltaremos mais contra as Leis Universais e compreenderemos que é preferível manter-se resignado diante das tribulações da vida.
Resignação ativa, porém. Resignar-se significa reconhecer uma potência superior a si, que é Deus, que nos ama e protege como pai zeloso, mas que é também o educador supremo, deixando-nos com a obrigação de reconhecer as atitudes errôneas a fim de corrigi-las.
Todas causam sofrimento, senão não se falaria em planeta de provas e expiações. Mas há duas maneiras de passar por uma situação desairosa: a revolta, que nos aconselha a vingança, e a resignação, que nos mostra que o caminho a seguir pode ser doloroso, mas representa a libertação das amarras que nos prendem ao passado.
É a velha comparação que fazemos: Não é melhor nos dedicarmos ardentemente ao trabalho para poder quitar uma dívida em um ano, dívida esta que levaríamos dez anos para pagar se continuássemos a resmungar e não nos esforçássemos por meio do trabalho? É desta forma que Deus age conosco. Uma situação que poderia levar anos, e até mesmo várias reencarnações, resolveremos de uma só vez pela resignação e compreensão dos fatos. Não há noite eterna que não se suceda da luz de um dia glorioso. Assim é com relação às nossas vidas. Vivemos situações difíceis que serão resolvidas se não nos revoltarmos contra as Leis Divinas.
“Que remédio, pois, recomendar àqueles que estão atacados de obsessões cruéis e de males cruciantes? Um só é infalível: a fé, o olhar para o céu. (...) É a fé o remédio certo do sofrimento; ela mostra sempre os horizontes do infinito, diante dos quais se apagam os poucos dias sombrios do presente.” (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, item 19)
É a perfeita compreensão das assertivas: Tudo o que nos acontece é para o nosso bem! Não há sofrimentos eternos! Não há um mal que não seja para um bem! E tantas outras que ouvimos e até repetimos sem compreender bem a profundidade dessas afirmações. Que quanto mais duradouro seja o mal que nos aconteça mais a nossa fé estará fortalecida. Que possamos caminhar resolutos, rumo à perfeição eterna. Nós é que atribuímos o valor às coisas. Da mesma forma que precisamos aprender a desde já nos desapegarmos dos bens materiais, que são empréstimos divinos, também devemos nos desapegar dos sofrimentos. Pode parecer um contrassenso: desapegar dos sofrimentos? Pensamos assim: Mas o que queremos mesmo é nos livrar deles! Temos algumas muletas psicológicas, e uma delas é usar o sofrimento como escudo e fazer com que aqueles que nos cercam venham em nosso socorro, demonstrando, assim, o seu amor por nós.
Como crianças que não temos a afetividade baseada em terreno firme, solicitamos a presença do outro em nossas vidas de forma errada, martirizando-nos e fazendo sofrer os que nos amam. Aprendi que devemos agir de forma positiva perante a vida, mesmo que estejamos vivendo situações desagradáveis. Quando me perguntam como estou, respondo: Tudo em paz! E quando está difícil de suportar, respondo: Tudo sob controle! Só que nunca menciono o complemento: Tudo na paz de Deus e tudo no controle de Deus. Podemos não saber de forma efetiva porque sofremos, mas a doutrina nos explica que não existem filhos deserdados do pai. Se um pai terrestre não dá pedra a um filho que lhe pede pão. Por que Deus permitiria o nosso sofrimento se não tivesse uma razão de ser? O que pode parecer um ponto de discórdia e que muitos não compreendem ao adentrar à doutrina espírita, para mim, representa o mais belo laurel: o sofrimento nos iguala a todos. A diferença consiste na forma como procedemos para apressar ou retardar o nosso passo diante das intempéries da vida. Quando algo acontece que nos desagrada, temos duas opções: ficar irritados, nervosos, ofender o outro e depois ficar calmos para poder resolver a situação; ou ficar calmos logo e agir com discernimento. Por experiência própria, a segunda opção dá mais resultados. Que possamos expandir os nossos horizontes e verificar que se a morte nos batesse à porta, neste momento, o que realmente teria valor de tudo o que vivemos até agora e, principalmente, será que se pudéssemos reescrever a nossa história não faríamos diferente? Já que o tempo não volta, que possamos escrever uma história nova a partir de agora.
A nova página poderia começar da seguinte forma: Deus, Pai misericordioso que és, que não nos desamparas nunca, segura em minha mão para que eu não fraqueje diante das provas da vida. Que diante do sofrimento mais atroz eu me lembre de ti segurando a minha mão. Que eu não enxergue no meu próximo um instrumento de sofrimento e sim de libertação, que, como eu, procura de alguma forma consolo para suas dores e que ainda não compreendeu a magnitude de estar encarnado. Que, mais a frente, quando não mais me entristecer diante das dores, renda graças a ti, oh Pai, pela oportunidade bendita de estar encarnado e possa, mesmo diante de minhas dores, estender minha mão amiga ao meu próximo, sabendo que a outra estará segurando a tua, Pai amado.

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