sexta-feira, 18 de julho de 2014

Lição de simplicidade

Lição de simplicidade



No mês de dezembro recém-findo, passamos por uma experiência que nos mostrou a transformação que o Espiritismo bem vivenciado produz em seus adeptos, a simplicidade a que ele conduz aqueles que o sentem na alma. Fomos convidados a falar numa cidade do Paraná, num domingo à tarde, no encerramento das atividades do ano. Na estrada, uma chuva suave. Ao lá chegarmos, soubemos que uma chuva muito forte havia acabado de passar pelo local. O centro espírita, de grandes proporções, fica numa baixada. Chegamos meia hora antes e nos deparamos com um grande lamaçal. A lama tinha descido de uma área próxima e invadiu tudo ali, até no asfalto. Vimos a marca de água e barro marcando o muro, cerca de meio metro de altura. As pessoas que chegavam ficavam sem saber o que fazer. Deveria ser cancelado o evento? De longe, viam-se alguns voluntários com galochas nos pés tentando limpar o barro de dentro do local. Difícil tarefa! A lama estava demais!

 Um dos confrades comentou que estava acostumado com estradas de sítios e que não ia atolar, ia entrar com o carro lá. Entramos com ele. Depois dele, tendo visto que era possível, as pessoas foram entrando. A dirigente, uma senhora afável e carinhosa, nos estendeu, no seu dizer, um “tapete vermelho”, para não sujarmos os pés, um pedaço de papelão grosso, que cumpriu bem o papel, pois os pés dela, de tênis, eram pura lama e os nossos, de sandália, não se sujaram nada, com a sua providência.

 Os que chegavam eram dirigidos para o andar superior, pois no térreo, onde tudo estava preparado, era impossível. Todos estavam sujando os pés, alguns até o tornozelo, mas sorridentes, porque não desistiram. Montamos uma nova sala, com cerca de setenta cadeiras. Brincamos que aquilo estava sendo bom para quebrar qualquer formalidade. Uma das voluntárias, das mais ativas na limpeza ali, perguntou se nosso assunto seria a simplicidade, pois ela estava aprendendo naquele momento essa grande lição. Aproveitamos e abordamos esse tema.

 Foi bom vermos todos com alegria, apesar dos percalços. Jesus ama a simplicidade e aquele grandioso centro espírita era um local de simplicidade naquele momento, com o é sempre. A grandiosidade da obra é evidente, mas seus trabalhadores demonstraram na atitude a grande fraternidade que ali reina.

 Jerônimo Mendonça, o Gigante Deitado, há muitos anos, comunicou-se conosco através de uma médium de confiança, que estranhou vê-lo se aproximar de terno branco e os pés sujos de lama. “Ele está me dizendo”, disse ela, “que o verdadeiro cristão não deve temer sujar de lama os pés, no trabalho edificante do bem”. Aquilo nos fez ter certeza que era ele. A linguagem do Jerônimo e um fato de que, quando jovem, de terno branco, num sítio aonde estava indo fazer uma palestra, tomava o maior cuidado para não se sujar e caiu numa poça de lama, tendo que fazer a palestra com o terno enlameado.

 O Espiritismo é Jesus conosco e Jesus é simplicidade. Jesus ama a simplicidade. Eram suas as palavras. Aquele que quiser ser meu discípulo seja aquele que mais ame. Aquele que quiser ser o maior seja o menor, o servo de todos. Exemplificou, ajoelhando-se diante dos discípulos e lavando-lhes os pés.

 As pessoas que estiveram presentes no domingo em que falamos, demonstraram simplicidade. Ficaram serenas, alegres, sem reclamações com a situação e todas se ajudaram para que tudo desse certo. A simplicidade está nas atitudes. O centro é muito grande e bonito, mas vemos ações humildes e belas, trabalhos de amor ali.

 A simplicidade caminha com a humildade, uma das virtudes mais preciosas e exemplificadas por Jesus desde a situação de seu nascimento. Numa manjedoura, entre animais. Poderia ter sido num trono dos mais poderosos da terra, mas preferiu nos mostrar que isso não é o mais importante, mas sim o amor.

 O Espiritismo é Jesus conosco. Aproveitemos as lições. Tenhamos simplicidade e que os centros espíritas, por mais grandiosos que sejam, sejam simples, sem formalidades, amorosos, com trabalhos de fraternidade, onde tremule a bandeira de Kardec: igualdade, fraternidade, tolerância.



             Jane Martins Vilela



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