segunda-feira, 2 de setembro de 2013
O fermento dos fariseus
POR CéLIA ELMY
“Ao passarem para a outra margem do lago, os discípulos esqueceram-se de levar pães. Como Jesus lhes dissesse: “Cuidado, guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus!”, puseram-se a refletir entre si: “Ele disse isso porque não trouxemos pães”. Jesus, percebendo, disse: “Homens fracos na fé! Porque refletir entre vós por não terdes pães? Ainda não entendeis, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos recolhestes? (...) Como não entendeis que eu não estava falando de pães quando vos disse: Guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus?” Então compreenderam que não dissera Guardai-vos do fermento do pão, mas sim do ensinamento dos fariseus e dos saduceus.”
Mateus, 16:5, 12
Como sempre, os homens com sua tendência para entenderem tudo ao pé da letra. Esse episódio aconteceu logo depois da multiplicação dos pães e também logo após os fariseus terem pedido a Jesus um sinal do céu para provar que Ele era o Messias Prometido, justo eles que O seguiam a toda parte, presenciaram vários fenômenos, mas não tinham “olhos de ver”, nem “ouvidos de ouvir”, queriam apenas pô-Lo à prova, terem do que O acusar perante o Sinédrio porque não acreditavam nEle.
Por isso Jesus adverte aos apóstolos: “Guardai-vos do fermento dos fariseus.” E os discípulos pensaram que dissera isso porque não haviam levados pães.
Lembremo-nos quem eram os fariseus: um partido religioso que se caracterizava pelo extremo formalismo na observação das prescrições da Lei (de Moisés e dos profetas). Apegavam-se às exterioridades como o “lavar as mãos antes das refeições” e consideravam-se puros pela observância desses rituais exteriores e atribuíam-se o papel de fiscais dos que não os praticavam.
Jesus foi duro com eles, chamava-os de hipócritas, sepulcros caiados, brancos por fora e por dentro, cheios de podridão. De fato, pelas vestes, pelas longas franjas, pelos filactérios que amarravam na testa e nos pulsos, aparentavam santidade, mas viviam envolvidos em intrigas, em tribunais de perseguição aos que não pensavam como eles, em longas discussões inúteis sobre questiúnculas da lei.
Jesus criticou-os também pelo subterfúgio que usavam, como deixar de atender aos deveres filiais de amparo aos genitores, transformando o mandamento “honrai pai e mãe” em oferenda ao templo.
É essa cegueira e desvirtuamento da religião que Ele chama de “fermento dos fariseus”. Que o pequeno grupo de apóstolos não se contaminasse com tais práticas, que conservassem a simplicidade, a união fraterna, o amor verdadeiro e poderiam bem desempenhar sua tarefa como aprenderam com o Cristo, socorrendo os necessitados do corpo e da alma.
E, como o Evangelho não é para apontarmos as faltas alheias, ele é para nós, devemos analisá-lo e ver onde nos encaixamos nesta passagem. Estaríamos agindo como os fariseus?
Consideramo-nos puros porque tomamos o nosso passe toda semana? Estamos pedindo sinais do céu, querendo apenas presenciar fenômenos mediúnicos, receber mensagens espirituais, sem cuidar de nossa renovação interior? Explanamos o Evangelho envoltos em uma aura de arrogância e prepotência, apontando os defeitos alheios sem conseguir enxergar os nossos? Estimamos longos estudos da doutrina espírita, orgulhosos do nosso extenso saber sem que isso nos torne um pouquinho mais fraternos? Ou achamos que, porque doamos o quilo, estamos quites com nossas obrigações?
Práticas exteriores não avaliam o grau do nosso progresso. Mas então nada disso é válido? Devo abandonar tudo? Tudo isso é válido, porém deve ser um meio de conseguirmos nossa transformação.
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega em dominar suas más inclinações”.
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