domingo, 2 de setembro de 2012

O TRIBUTO DO TEMPLO - Pastorino


(abril do ano 30)

Mat. 17:24-27

24. Tendo chegado a Cafarnaum, dirigiram-se a Pedro os que cobravam as duas dracmas
e perguntaram: “Vosso Mestre não paga as duas dracmas"?
25. Respondeu-lhes ele: "Paga". E quando Pedro entrou em casa, antecipou-se Jesus, dizendo;
"Que te parece, Simão: de quem recebem os reis da Terra tributo ou imposto?
de seus filhos ou dos estranhos"?
26. Respondeu Pedro; "Dos estranhos". Jesus disse: "Então os filhos estão isentos ...
27. Mas para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe
que subir, tira-o; e abrindo-lhe a boca, encontrarás um "státer"; apanha-o e entregalhes
por mim e por ti".


Depois de percorrer a planície de Genesaré, proveniente de Betsaida-Júlias, chega finalmente a comitiva
a Cafarnaum, recolhendo-se cada um a seu lar.
Pouco após a chegada, batem à porta os “cobradores do imposto do Templo”. Jesus residia com Pedro
e é a este, o dono-da-casa, a quem se dirigem os cobradores, perguntando-lhe “se o Mestre não pagava
o imposto de dracmas".
A origem do “imposto do Templo” se prende a Moisés (Êx.30:11-13), quando YHWH ordena que, ao
serem contados os israelitas, de cada um fosse cobrado um tributo de “meio siclo", que correspondia a
vinte gueras. Na época da restauração, Neemias (10:33) baixou a tarifa para um terço de siclo, especificando
ao mesmo tempo a finalidade do imposto: a manutenção do Templo e dos serviços religiosos.
Na época de Jesus, já voltara a ser meio-siclo. O siclo de prata tinha o valor de quatro dólares atuais.
Sua equivalência nas moedas contemporâneas era de quatro denários (moeda romana) e de quatro dracma
(moeda grega). Então, o imposto de meio-siclo correspondia a duas dracmas (a que chamavam
didracma). Para duas pessoas, havia necessidade de quatro dracmas, que perfaziam um "státer".
Mateus chama aos coletores desse imposto hoi tò dícrachma lambánontes, isto é, os recebedores de
didracmas.
A coleta começava: em Jerusalém no dia 25 de adar e fora da capital a 15 de adar, que era o nome do
mês que precedia o de nisan, no qual era celebrada a Páscoa. Deveria terminar a coleta e ser recolhido
o resultado até o dia l.º de nisan, na Sala do Tesouro do Templo, para ser usado com as despesas da
Páscoa. Nas regiões mais distantes o resultado da coleta devia ser enviada a Jerusalém até 15 dias antes
de Pentecostes; e as do exterior deviam chegar até 15 dias antes da Festa dos Tabernáculos, quando
afluíam a Jerusalém os israe1itas da Diáspora. O montante era levado pelos próprios peregrinos de
confiança.
Estavam obrigados ao imposto os israelitas maiores de 20 anos, inclusive os levitas, os prosélitos e os
libertos; eram isentos os menores daquela idade, os escravos, as mulheres e os sacerdotes (sobre o que
muito se discutia). Em vista da crescente fama de Jesus como Messias, os cobradores ficam na dúvida
se Ele não pretendia valer-se da isenção, e interrogam Pedro. Observe-se que a casa é apresentada
como moradia de Jesus (tal como em 13:1 e 36), e não mais essencialmente como casa de Pedro,
(como em 9:14).
Por esse pormenor verificamos que estávamos a um mês da Páscoa, o que confirma o afirmado em
João 6:4.

Pedro responde aos cobradores, sem hesitar: “Paga”! E ao entrar em casa, Jesus “se antecipa" a Ele,
perguntando de quem recebem imposto os reis, se dos filhos ou dos estranhos. A resposta é óbvia. E
lógica a conclusão de Jesus que conscientemente, se sabia filho de Deus, porque Nele já agia o Cristo
Interno em sua plenitude, e não a personalidade filha da carne.
Não obstante, julga dever ser evitado qualquer mal-entendido, ou, como se diz, “escândalo". E resolve,
para satisfazer ao pagamento, dizer que Pedro chegue até a praia e lance o anzol, avisando-lhe que na
boca do primeiro peixe encontrará um "státer”. Com esse "státer", diz Jesus, seria pago seu tributo e,
num gesto de delicada cortesia para com o amigo, acrescenta: "e o teu".
Pergunta-se: 1.º) como teria sido obtido que essa moeda estivesse na boca de um peixe; 2.º) como teria
Jesus tido conhecimento de que lá havia uma moeda; e 3.º) como sabia que esse seria o primeiro peixe
a morder a isca lançada por Pedro.
Logicamente, não estamos em condições de dar resposta certa e definitiva, com cabal garantia do que
houve realmente. Apenas poderemos formular hipóteses. E a única que nos parece viáve1 e aceitável, é
a de que não havia lá nenhuma moeda: mas Jesus, por meio dos espíritos que o rodeavam "e o serviam”
(Mat. 4:11), providenciou para que, na boca do primeiro peixe que mordesse a isca lançada por
Pedro, fosse materializada (ou para lá "transportada") a moeda. O "transporte" é coisa que pode ser
realizada, desde que haja capacidade por parte do agente.
Outra lição para todos os espiritualistas. De modo geral, ao atingir certo grau evolutivo que julgam
ter, os espiritualistas começam a sentir desapego das coisas materiais e procuram evitar quaisquer
pagamentos. Acham que tudo merecem "de graça", pois estão isentos das obrigações terrenas. Realmente
a sensação é justa. Mas para que e por que, ensina o Mestre, escandalizar e suscitar aborrecimentos?
Quem está na Terra, utilizando o corpo físico-denso cujas células todas são tiradas do material
do planeta, e servindo-se diariamente das coisas que o cercam, deve também contribuir para o
aprimoramento e a melhoria física do ambiente em que vivem eles mesmos e os outros irmãos seus.
Seres evoluídos não são apenas os Santos e Místicos, nem somente os Gênios e Artistas: também os
inventores, os construtores, os industriais, os comerciantes, todos enfim que colaboram no progresso
do planeta para conforto e beleza da casa que o Pai fornece gratuitamente para nossa habitação tempor
ária, todos esses são colaboradores valiosos da Obra do Pai, missionários do Alto. Como seria
triste e difícil a Terra sem eles! Que desequilíbrio terrível se verificaria, se os Espíritos atualmente
muito evoluídos, tivessem que habitar um planeta ainda caótico e selvagem, como era este na era
quaternária! O conforto material e o progresso físico também ajudam a evoluir, proporcionando satisfa
ção espiritual e ambiente mental para aquisição de cultura.
Por isso devemos sujeitar-nos aos impostos que nos são solicitados pelas autoridades, a fim de, por
esse meio, compensar a hospedagem que recebem nossos corpos durante nossa estada gratuita neste
imenso e belíssimo albergue que o Pai colocou à nossa disposição.
Mas há outro ponto de vista. É a relação existente entre a individualidade e os corpos físicos. Muitas
vezes a personalidade pede "pagamento" de tributos ao Espírito. São horas de sono para refazimento
das energias dos órgãos; são distrações para repouso dos neurônios cerebrais; são passeios nas
montanhas e no mar para revigorar o sangue com oxigênio novo e puro; é a alimentação para sustentar
as células; são períodos de lassidão para contrabalançar as distensões musculares; são enfim
tantas pequenas exigências de nossos veículos, que PRECISAM ser atendidas. Tudo isso pode ser
comparado ao "imposto do Templo", já que, na realidade, "nosso corpo é o templo de Deus vivo" (2
Cor.6:16) e como tal tem que ser bem cuidado. É o veículo que tomamos ao nascer e que terá que levar-
nos ao termo da viagem sem acidentes provocados por nosso descuido. Muito viríamos a sofrer se
perdêssemos o veículo no meio da viagem por culpa nossa: o que faltasse da estrada teria que ser
feito a pé!


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