sábado, 29 de março de 2014
O mandamento maior - Felipe
POR FANTINO FELIPE
Recebia o pequeno grupo de espíritos que voltavam ao término de mais uma vida vivida na Terra, um luminoso espírito, imponente com suas vestes resplandecentes de luz. Era ele o porteiro do Céu. Examinando as fichas dos recém-vindos, foi chamando-os pelo nome: “Vicente, pode se aproximar, meu irmão”.
Soberbo, adiantou-se um espírito envergando uma batina de padre. “Que trazes da Terra?”, interpelou o porteiro com afabilidade.
– Trago o coração cheio de amor a Deus, nosso Pai. Amei-O com toda a devoção. Dediquei minha vida a Ele como sacerdote da Igreja Romana. Distribuí 1.523.578 hóstias do Santíssimo Sacramento. Ouvi 557.372 fiéis em confissão e os absolvi de seus pecados. Rezei 32.200 missas e agora busco o meu lugar de direito no Céu, ao lado de Deus Pai Criador.
– No entanto, vejo-te o coração obscuro. Fizeste tudo isso, é verdade, mas esqueceste que o amor a teus irmãos deveria ser o móvel de teus dias. Afastaste-te deles, apenas ministrastes os sacramentos. Volta à Terra. Precisas aprender a amar aos teus irmãos, filhos do mesmo Pai que já amas. Foste orgulhoso e distante, encastelado em uma pretensa superioridade.
– O próximo! Ezequiel, pode se aproximar. Vejo que pertenceste às Igrejas Reformadas.
– Com todo o orgulho! Servi a Deus fielmente. Amei a Bíblia. Tenho-a inteiramente gravada, versículo por versículo em minha memória e em meu coração.
– Mas que bem espalhaste?
– O da palavra! Preguei com voz veemente. Usei o verbo para investir contra o mal onde quer que ele se encontrasse. Condenei os pecadores e os afastei do recinto sagrado da Igreja. Agora os eleitos aguardam a recompensa do Altíssimo.
– Meu irmão, falhaste enxergando o mal onde existia apenas uma oportunidade de renovação da criatura. Esqueceste que Jesus veio para os doentes e os pecadores? Volta à Terra abençoada e aprende a amar a teus irmãos incondicionalmente.
Eis a vez de Atílio, que foi ateu. “Que trazes do Planeta, amigo?”
– Eu? Nada. Estava tão ocupado atendendo a orfandade da Terra que não tive tempo para me ocupar com Deus. Sequer sabia se ele existia mesmo, como diziam. Creio que não faço jus a um lugar no Céu, dada a minha descrença Naquele que, agora vejo, é o Senhor de tudo.
– Fizeste bem em socorrer aos teus irmãos. Isso basta. Entra.
– Mas como? – bradaram todos. Ele não professou religião alguma!!
– Professou a verdadeira: a da caridade. Jesus não disse que chamaria a Si aqueles que Lhe tivessem dado de comer, de beber, vestido e visitado? Pois ele fez tudo isso. Quanto a vocês, meus queridos, voltem e façam o mesmo.
Ante a voz sábia e justa da razão amorosa, ali, no país da verdade, onde as desculpas e ilusões da Terra não mais prevalecem, renderam-se à evidência de que necessitariam internar-se novamente no educandário terreno, pois já sabiam amar a Deus sobre todas as coisas, mas precisavam aprender a amar ao próximo como a si mesmos.
Agora encaixe o espírita nessa história. Como ele seria recebido? Ele entraria no “Céu”? Que argumentos ele teria a seu favor? Que ilusões poderia ter cultivado?
FANTINO FELIPE
Mensagem psicografada pela médium Célia Elmy em 20 de agosto de 2005, em Tremembé, SP.
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