domingo, 5 de maio de 2013
A TRADIÇÃO DOS ANTIGOS - Rigonnati
A TRADIÇÃO DOS ANTIGOS
1 - Então chegaram a ele alguns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo:
2 - Porque violam os teus discípulos a tradição dos antigos? pois não lavam as mãos quando comem pão.
3 - E ele, respondendo-lhes disse: E vós também porque transgredis o mandamento de Deus pela vossa tradição? Porque Deus disse:
4 - Honra a teu pai e à tua mãe e o que amaldiçoar a seu pai ou à sua mãe, morra de morte.
5 - Porém vós, outros dizeis: Qualquer que disser a seu pai ou à sua mãe: Toda a oferta que eu faço a Deus te aproveitará a ti.
6 - Pois é certo que o tal não honrará a seu pai ou à sua mãe; assim é que vós tendes feito vão o mandamento de Deus pela vossa tradição.
7 - Hipócritas, bem profetizou de vós outros Isaías, quando diz:
8 - Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.
9 - Em vão pois me honram, ensinando doutrinas e mandamentos que vêm dos homens.
É muito mais fácil observarem-se preceitos materiais do que preceitos morais. Os preceitos materiais se apóiam em formalidades exteriores, ritos vãos, ostentação, orgulho e hipocrisia. Ao passo que a observância dos preceitos morais parte do íntimo do indivíduo; sem íntimo regenerado, sem reforma interior não é possível praticá-los.
A observância dos preceitos morais satisfaz a consciência e a observância dos preceitos materiais satisfaz a vaidade, as conveniências mundanas e o comodismo.
Os preceitos materiais constituem doutrinas e mandamentos que vêm dos homens; são moldados segundo as conveniências da matéria e na prática deles jamais o coração toma parte.
Quanto a honrar Jesus com os lábios, mas não tê-lo no coração, é justamente alguém querer esquivar-se à reforma Íntima, dando, contudo, hipócritas demonstrações de seguir os ensinamentos dele. Isso acontece, ordinariamente, com os oradores que pregam em todos os lugares a doutrina de Jesus, porém não vivem de conformidade com o que ensinam aos outros; a semelhante proceder dá-se o nome de hipocrisia. E Jesus que amava os humildes, os fracos, os pecadores e os ignorantes, insurgia-se contra os hipócritas e não os tolerava. E lhes condena as práticas religiosas materiais, com as quais julgavam ocultar dos olhos de Deus os vícios e os crimes, que não queriam extirpar de seus corações.
10 - E chamando a si as turbas lhes disse: Ouvi e entendei.
11 - Não é o que entra pela boca o que faz imundo o homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem.
O uso da palavra é um dom divino, que devemos aproveitar para o bem. As palavras más que ferem nosso próximo, a maledicência promotora da desarmonia, da desconfiança, da suspeita e da calúnia que mancham as reputações alheias; toda a palavra que pode trazer perturbações a nosso próximo e até causar-lhe ruínas, isso é o que torna o homem imundo.
É um péssimo hábito querer alguém dirigir a vida dos outros ou se imiscuir nela pela palavra. Há certas ocasiões em que é preciso saber calar, para que se evitem males maiores. O silêncio é uma jóia de inestimável valor, mas que raros encarnados sabem apreciar. A maioria gasta o tempo em conversas fúteis e mesmo de baixa qualidade, que não beneficiará nem a si nem ao próximo. É preciso que nós nos recordemos que constantemente irradiamos fluidos, os quais são criados e dirigidos pelo nosso pensamento. Pensamentos puros criam fluidos puros e conversas puras dão mais força a esses fluídos que podem ir beneficiar grandemente todos aqueles a que lhes são dirigidos; e se a conversa for elevada beneficiará e fortalecerá a todos. Pensamentos impuros criam fluídos impuros que prejudicam quem os emite e as palavras daí oriundas podem ir prejudicar os outros e voltarem a ferir quem as pronuncia, em virtude do choque de retorno, que faz com que o bem e o mal voltem a seus promotores.
12 - Então, chegando-se a ele seus discípulos, lhe disseram: Sabes que os fariseus, depois que ouviram o que disseste, ficaram escandalizados?
Os fariseus ficaram escandalizados por dois motivos: os ensinamentos que Jesus trazia, eram novos e poucos estavam à altura de compreendê-los. Depois notaram que os ensinamentos de Jesus estavam em completo desacordo com o gênero de vida, que eles, os fariseus, levavam, não só na parte material, como também na parte religiosa; porque através da religião que aparentavam servir, na realidade serviam a seus próprios interesses. Para seguirem os ensinamentos de Jesus, teriam de reformar radicalmente seus corações, seus costumes e suas instituições, o que os deixou abalados.
Na verdade, não se corrigem sem lutas os hábitos errôneos arraigados na alma desde inúmeras gerações; era preciso que os fariseus fizessem grande esforço para isso; Jesus convidava-os, mas eles o repeliam.
13 - Mas ele, respondendo, lhes disse: Toda a planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada pela raiz.
14 - Deixai-os; cegos são e condutores de cegos; e se um cego guia a outro cego, ambos vêm a cair no barranco.
As árvores que o Pai celestial não plantou são as religiões organizadas pelos homens com fins meramente lucrativos. São organizações mundiais que desfrutam do poder e do conforto materiais, desde o primeiro dia em que se tornaram religiões oficiais, isto é, protegidas dos governos. Onde quer que formos, sempre as encontraremos de braços dados com os poderosos e a amealharem o ouro da terra. Jamais cuidaram de cultivar a espiritualidade dos povos; ao contrário, seus principais esforços tenderam sempre a conservar os povos na ignorância para auferirem maior proveito. Seus sacerdotes, cegos pelo brilho das coisas terrenas e afastados das leis divinas, dão péssimos exemplos ao povo; e mandam que seus adeptos observem fórmulas, rituais e práticas vãs, fazendo com que se percam na materialidade as almas que deveriam encaminhar para Deus.
A medida que a humanidade se for esclarecendo espiritualmente, irão desaparecendo tais religiões, até chegar a época em que estarão completamente extirpadas da face da terra.
E também plantas que o Pai não plantou, são os vícios, as paixões inferiores e o mal em suas variadas manifestações. O progresso espiritual dos homens fará com que estas plantas sejam arrancadas do coração de cada um dos filhos de Deus.
15 - E respondendo, Pedro lhe disse: Explica-nos essa parábola.
16 - E respondendo Jesus: Também vós outros estais sem inteligência?
17 - Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce ao ventre, e se lança depois num lugar excuso?
18 - Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem imundo;
19 - Porque do coração é que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias;
20 - Estas coisas são as que fazem imundo o homem. O comer porém com as mãos por lavar, isso não faz imundo o homem.
Jesus insiste na reforma Íntima de cada um, deixando bem patente que, de nada valem as cerimônias exteriores. É no Íntimo do indivíduo que se gera o mal, o qual depois se concretiza em atos. Por conseguinte, sem reforma interior, jamais conseguiremos purificar nossos corações. E sem coração purificado, jamais sairão da bôca coisas que honrem e elevem a alma.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário