Marc. 6:30-31
30. Reunindo-se os emissários com Jesus, contaram-lhe tudo o que tinham feito e o que tinham ensinado.
31. E disse-lhes: "Vinde vós, sozinhos, a um lugar isolado e descansai um pouco". Pois eram muitos os que vinham e iam, e nem tinham vagar para comer.
Luc. 9:10
10. Tendo regressado os emissários, relataramlhe o que tinham feito. E, levando-os, ele retirou-se isoladamente, para uma cidade, chamada Betsaida.
Os emissários regressaram de sua excursão apostólica; mas tanta gente cercava Jesus, "indo e vindo", que não havia vagar nem para alimentação, quanto mais para uma boa conversa íntima, em que os pormenores fossem contados e sugestões fossem dadas.
Para maior calma, Jesus decide retirar-se para um local isolado. Com isso atingiria dois objetivos: proporcionar a todos um pouco de repouso e palestrar com tranquilidade. Vai então para os arredores de Betsaida- Júlias (hoje El-Tell), nos domínios do tetrarca Filipe, também filho de Herodes o Grande,
mas de caráter pacífico.
A sudeste da cidade, havia vasta planície que se estendia até as colinas. O nome Júlias lhe fora atribuí-
do (cfr. Josefo, Ant. Jud. 18, 2, 1) pelo tetrarca, em homenagem a Júlia, filha do Imperador Augusto. A excursão dos apóstolos deve ter sido mais ou menos longa (talvez várias semanas) pois haviam percorrido diversas cidades e aldeias, e muita coisa havia para conversar na intimidade.
Interessante observar que, apÛs a aÁ„o externa da personalidade, a individualidade sempre a convida para um repouso em lugar ermo. A palavra Betsaida È expressiva, pois significa "Casa dos Frutos" (ou "local de boa pescaria"). Nada mais significativo que, depois de trabalho intenso, em que se lançaram sementes a todo vento, deva haver um repouso exatamente no local em que podem colher-se os frutos do trabalho realizado. Frutos que ser„o a paz e a meditaÁ„o silenciosas, longe do burburinho de uma multidão que "vem e vai" sem descanso.
A personalidade n„o poder· manter-se equilibrada, se n„o houver altern‚ncia de trabalho e repouso, de aÁ„o e oraÁ„o. E isto sÛ pode obter-se no isolamento, em companhia apenas do Cristo-que-em-nÛshabita.
Só assim podem ser aproveitados os frutos da experiÍncia.
OPINIÃO DE HERODES
Mat. 14:1-2
1. Nessa época, ouviu o tetrarca Herodes a fama de
Jesus.
2. e disse a seus cortesãos:
"esse é João o Batista; ele
despertou dentre mortos, e
por isso os poderes operam
nele".
Marc. 6:14-16
14. E Herodes o rei ouviu
(porque o nome dele se tornava conhecido) e disse:
"João o Batista despertou
dentre os mortos, e por isso
os poderes operam nele".
15. Outros diziam: "É Elias”;
outros ainda: "É profeta,
como um dos profetas".
16. Mas, ouvindo isso, Herodes
dizia: “É João, que eu degolei, que despertou dentre
os mortos".
Luc. 9:7-9
7. Ora, o tetrarca Herodes
ouviu tudo o que foi feito
por ele (Jesus), e admirouse, porque era dito por alguns:
8. "João despertou dentre os
mortos", por outros: "Elias
apareceu", e outros: "reencarnou um dos antigos profetas".
9. Disse, porém, Herodes:
"Eu degolei João, mas
quem é este de quem ouço
tais coisas". E procurava
vê-lo.
Além da ação pessoal de Jesus a pregar as Boas-Novas, houve um recrudescimento de fatos extraordinários, que se multiplicaram com a saída dos Emissários Dele, por diversas aldeias concomitantemente. A fama de Jesus, em nome de Quem todos agiam, cresceu muito, estendendo-se tanto que chegou
aos ouvidos do tetrarca daquela região.
As palavras de Herodes dão a perfeita impressão de que ele se convenceu da ressurreição de João Batista, "ressurreição" no sentido atual do termo, isto é, que o "morto" voltara a viver no mesmo corpo.
Herodes não se refere à reencarnação, conforme o notara já Jerônimo (Patrol. Lat. vol. 26, col. 96)
com razão: Jesus tinha mais de trinta anos, quando João desencarnou.
* * *
Para fins de estudo, observemos o emprego dos verbos gregos nesses textos, e para isso analisemos
antes os próprios verbos.
Aparecem dois; egeÌrÙ e anÌstÍmi, ambos traduzidos correntemente com a mesma palavra portuguesa:
"ressuscitar". Mas o sentido difere bastante de um para outro.
EGEÍRÔ, composto de GER com o prefixo reforçativo E (cfr. o sânscrito ajardi, que significa "estar
acordado") tem exatamente o sentido de "despertar do sono, acordar", ou seja, passar do estado de
sono ao de vigília. Era empregado correntemente com o sentido de ressuscitar, isto é, sair do estado de
sono da morte, para o da vigília da vida. Para não haver confusão, acrescentava-se ao verbo o esclarecimento indispensável: egeÌrÛ ek (ou apÛ) nekrÙn, "despertar de entre os mortos".
ANÍSTÊMI, composto de ANÁ (com três sentidos: "para cima", ou "de novo" ou "para trás") e ÍSTÊ-
MI ("estar de pé"). De acordo com as três vozes, teríamos os seguintes sentidos:
a) voz ativa (transitivo) - "levantar alguém", "elevá-lo"; ou "tornar a levantar”, ou então "fazer alguém voltar";C. TORRES PASTORINO
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b) voz média - "levantar-se" (do lugar em que se estava sentado ou deitado, sem se cogitar se se estava desperto ou adormecido), ou "tornar a ficar de pé”, ou "regressar” ao lugar de onde se viera;
c) voz passiva - "ser levantado por alguém", ou "ser posto de novo em pé", ou "ser mandado embora
de volta".
Esse verbo, portanto, apresenta maior elasticidade de sentido que o anterior, podendo, inclusive, ser
interpretado como "ressuscitar"; com efeito, não só a ressurreição pode ser compreendida um "despertar do sono da morte" (egeÌrÙ, que é o mais exato tecnicamente), como também pode ser entendida
como um "levantar-se" de onde se estava deitado (o caixão); ou como um "tornar a ficar de pé”; ou
como um "regressar ao lugar de onde se veio". No sentido de ressuscitar foi usado por Homero ("Ilíada", 24, 551), por Ésquiles de Elêusis ("Agamemnon", 1361), por Sófocles ("Electra", 139), etc.
No entanto, esse verbo anÌstÍmi apresenta outro sentido muito importante, e que geralmente é desprezado pelos hermeneutas, que procuram esconder as idéias originais dos autores, quando não estão de
acordo com a sua, e isso até em obras "cientificamente" organizadas (N„o estamos fazendo acusaÁıes
levianas. Para sÛ citar um exemplo moderno, tomemos a obra "Lexique de Platonî, publicada em dois
volumes (1964) pelas ediÁıes "Les Belles lettres" (portanto editora crítica, da qual se espera fidelidade absoluta ao original). Pois bem, nessa obra, preparada pelo padre …douard des Places, jesuÌta,
n„o figuram anístêmi, nem egeírô, nem o substantivo anástasis, nem qualquer outra palavra que signifique "reencarnaÁ„o" ...), e é o sentido de "reencarnar". Realmente, a reencarnação é um "levantarse" para reaparecer na Terra; é um "tornar a ficar de pé", e é sobretudo um "regressar ao lugar de sua
vida anterior". Nesse sentido foi bastante empregado pelos autores gregos. Anotemos, todavia, que
esse não era um verbo especializado nesse sentido, como o é, por exemplo, ensÛmatÛÙ ou o substantivo paliggenesÌa. Numerosas vezes é usado, mesmo nos Evangelhos, com a simples acepção de "levantar-se" do lugar em que se estava sentado (cfr. Marc. 3:26; Luc. 10:25; At. 6:9, etc.).
Daí a necessidade de interpretar, pelo contexto, qual o sentido exato em que foi empregado.
Ora, nos textos em estudo, os três sinópticos referem-se à opinião de Herodes com o mesmo verbo
egeÌrÙ (que sistematicamente traduzimos por "despertar", seu significado real e etimológico). No entanto, o próprio Lucas que empregou egeÌrÙ para exprimir a idéia de "ressurreição", nesse mesmo versículo 8, para exprimir o "regresso à Terra" de algum dos antigos profetas, muda o verbo, e usa anÌstÍmi ... Então, não era a mesma coisa: João "ressuscitara", despertara do sono da morte; mas o antigo
profeta "regressara à Terra", ou seja, em linguagem moderna, "reencarnara". E assim traduzimos, acreditando haver agora justificado nossa tradução afoita.
Para antecipadamente responder à objeção de que não havia esse rigor "literário" nos evangelistas,
queremos chamar a atenção para o verbo usado com referência a Elias. Era crença geral que Elias não
desencarnara, mas fora raptado num carro de fogo (cfr. 2.º Reis, 2:11). Ora, nesse caso especial, não
podia ser empregado egeírô (despertar dentre os mortos), nem anistÍmi (reencarnar); e de fato, nenhum
dos dois foi usado por Lucas, e sim um terceiro verbo: eph·ne, isto é "apareceu".
* * *
A Herodes não ocorria outra explicação mais plausível, em vista dos "poderes" (dyn·meis) espirituais
que se manifestavam, e de cujos resultados assombrosos ouvia falar com insistência. Realmente, enquanto Jesus permanecera em Cafarnaum e adjacências, sua fama aí ficara adstricta ao pessoal mais
humilde. Mas depois das excursões mais prolongadas, sobretudo após a ação conjunta dos doze emissários que se espalharam por muitas aldeias e cidades, os fatos começaram a atrair a atenção e admira-
ção gerais, tanto mais que, durante sua existência terrena João jamais operara prodígios nem fizera
demonstrações de curas, limitando-se seu ensino a falar e exemplificar.
Os "poderes" exprimem aqui (como em Marc. 5:30, em 1.º Cor. 12:10, 28, 29, em Gál. 3: 5 e em Hebr.
6:5) a faculdade, a força de realizar obras extraordinárias; e não as próprias obras em si mesmas (como
em Marc. 6:2, em At. 2:22; 8:13 e 19:11, em 2.ª Cor. 12:12, em Hebr. 2:4, etc.).
Entretanto, a opinião de Herodes não foi aceita concordemente pelos cortesãos, já que alguns diziam
que Elias reaparecera na Terra, e Jesus havia afirmado o mesmo em relação ao Batista, como lemos emSABEDORIA DO EVANGELHO
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Mat. 11: 4 ,3 17:10-13, e em Marc. 9:9-13, garantindo a reencarnação de Elias na pessoa de João Batista; o mesmo também foi confirmado por Lucas (1:17). Dizem alguns comentaristas ortodoxos (cfr.
Lagrance, "Le Messianisme", cap. 6, pág. 210-213), que essa assertiva de Jesus se prende a uma "saí-
da" do Mestre, para que Seus contemporâneos não Lhe objetassem que Ele não era o Messias, porque
Elias não viera antes! Então Jesus "inventou" isso. Até esse triste papel é atribuído a Jesus, por Seus
"representantes" na Terra, contanto que o pensamento deles não seja "atrapalhado" pelo ensino do
Mestre!
Mas outras vozes fazem-se ouvir: trata-se de um profeta, como tantos já houve em Israel; e mais: "é a
reencarnação de um dos antigos profetas" que teria regressado a seu povo, para reavivar o entusiasmo
religioso. Não obstante essas opiniões, que pretendiam desviar o tetrarca de suas apreensões, Herodes
insiste, amedrontado, em seu ponto de vista: "eu degolei (por "mandei degolar") João, mas ele voltou
do meio dos mortos". ... E procurava conhecer Jesus, para certificar-se da veracidade de seus temores,
com a secreta esperança de que não fosse João ... Mas só conseguiu esse intento por ocasião da condenação de Jesus (cfr. Luc. 23:8).
A atuaÁ„o de Herodes È tÌpica das personalidades ainda sem o contato Ìntimo com o Cristo: apavoram-se com as experiÍncias, temem o resultado de seus erros, supıem as mais absurdas coisas, olhando outras criaturas como abantesmas que as assustam. Obra do remorso que lhes estrangula o consciente e que, sufocado de um lado, surge de outro, como as cabeÁas da Hidra de Lerna.
A personalidade, que vive presa na materialidade, julgando real apenas o curto perÌodo de uma existÍncia terrena, amedronta-se diante de qualquer ocorrÍncia que lhe pareÁa comprovar uma sequÍncia
da vida apÛs a cadaverizaÁ„o no t˙mulo. A voz da consciÍncia fala em silÍncio, mas nem por isso deixamos ‡ e ouvi-la, pois È mais forte que os ruÌdos de que nos possamos cercar externamente para
abaf·-la.
DaÌ a necessidade absoluta de aniquilarmos n„o a consciÍncia, mas a personalidade, mergulhando
em busca do Cristo Interno que em nÛs habita. SÛ assim nos libertaremos do medo. O desconhecimento dessa verdade leva a esses paroxismos angustiosos, e como os involuÌdos sÛ conhecem a personalidade, esta È temida.
Verificamos que Herodes n„o teme a realidade, mas aparÍncias: n„o tem medo da individualidade
eterna (que ele nem sabe existir), mas se apavora diante das personalidades palp·veis e visÌveis (˙nicas que conhece). O temor do tetrarca refere-se a um reaparecimento da personalidade do Batista,
entidade concreta que o aterrorizava. Assim, hoje, o ser imaturo teme a polÌcia, n„o o EspÌrito; tem
medo das enfermidades e da morte, e n„o das consequÍncias mais remotas de seus erros na existÍncia
seguinte.
Ao lado disso, comprovamos o medo p‚nico que os involuÌdos tÍm, naturalmente, do plano astral: dos
fantasmas, das ameaÁas de espÌritos atrasados, dos "lobisomens", etc., sem experimentarem o menor
receio da Lei de Causalidade, t„o rigorosa em seus efeitos, depois que "plantamos" as causas. Escondem-se de um homem para que os n„o veja praticar m·s aÁıes, e n„o se d„o conta de que o Cristo
Interno, habitando dentro deles, È permanente e silenciosa testemunha de tudo o que fazem, embora
sozinhos, embora trancados num quarto ‡ noite, embora apenas em pensamento ...
Outro ponto ainda a considerar È que, nesses ambientes, os seres jamais ficam de acordo: cada um
tem sua opini„o, que procura fazer prevalecer acima da dos outros. DaÌ surgem as divergÍncias, as
discussıes, as separaÁıes, surgindo sÈrias controvÈrsias que os tornam atÈ inimigos, levantando-se
perseguiÁıes de uns contra outros. Comportamento totalmente diferente ocorre no ‚mbito das individualidades cÙnscias de si: todos os grandes mÌsticos, de qualquer religi„o ou seita, do oriente e do
ocidente, dizem a mesma coisa, falam a mesma lÌngua espiritual, qualquer que seja a Època de sua
vida terrena, acreditam nas mesmas verdades, unem-se ao mesmo Pai que em todo habita.C. TORRES PASTORINO
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JESUS É SEGUIDO
Mat. 14: 13-14
13. Tendo Jesus ouvido isso, afastou-se dali
num barco para um lugar deserto, sozinho;
e quando as multidões o souberam, seguiram-no das cidades, por terra.
14. E Jesus, ao desembarcar, viu grande multidão, compadeceu-se dela e curou seus enfermos.
Marc. 6:32-34
32. E foram no barco sozinhos para um lugar
deserto.
33. E os viram partir e muitos os reconheceram; e correram para lá a pé de todas as cidades (e lá chegaram antes deles).
34. Ao desembarcar, viu Jesus grande multidão
e compadeceu-se dela, porque era como
ovelhas sem pastor; e começou a ensinarlhes muitas coisas.
Luc. 9: 11
11. E ao saber isso, a multidão seguiu-o; e tendo-a Jesus acolhido, falou-lhe do reino de
Deus, e curava os que tinham necessidade
de cura.
João 6:1-4
1. Depois disso, Jesus atravessou o mar da
Galiléia, que é o de Tiberiades.
2. Grande multidão seguia-o, porque tinha
visto os sinais que operara nos que se achavam enfermos.
3. Jesus subiu ao monte, e ali se sentou com
seus discípulos.
4. E estava próxima a Páscoa, festa dos Judeus.
Duas razões principais levaram Jesus a afastar-se da Galiléia, dominada por Herodes Antipas.
A primeira foi proporcionar aos discípulos, que acabavam de regressar de um giro de pregações e curas, um pouco de repouso longe das multidões sofredoras e sequiosas de conhecimento (cfr. Marc.
6:30-31 e Luc. 9:10).
A segunda foi discretamente colocar-se fora do alcance do tetrarca, que já ouvira falar Dele (cfr. Mat.
14:1-5; Marc. 6: 14-16; Luc. 9:7-9) e que, segundo Lucas, "procurava conhecê-Lo". Ora, tendo ouvido
falar nessas coisas, e sobretudo no assassinato de João, julgou prudente dirigir-se para o território do
tetrarca Filipe, a leste do lago, rumando para Betsaida- Júlias (Mat. 14:22; Luc. 9:10). Esta razão, porém, não era assim tão importante, pois ao dia seguinte de manhã Jesus regressou a Cafarnaum.
Caladamente embarcou com os discípulos e iniciou a travessia.
Aconteceu, entretanto, que O viram embarcar e observaram o rumo que tomava. Ao verificar para
onde se dirigia, alguns mais entusiasmados resolveram segui-Lo por terra. A distância entre Cafarnaum e Betsaida- Júlias não chega a 10 km, que portanto podia ser coberta folgadamente por uma e
meia a duas horas (Marcos assinala que alguns "corriam a pé"). E em seu alvoroço alegre iam dando
notícia a todas as pessoas que encontravam pelas aldeias do caminho, e novos contingentes engrossa-SABEDORIA DO EVANGELHO
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vam a comitiva, de tal forma que, ao desembarcar, Jesus encontrou na praia pequena multidão que O
aguardava.
No barco, não havia pressa: iam descansar. Já haviam começado a conversar a respeito do que ocorrera
a cada um no giro. E assim a viagem transcorria suave e demorada.
Ao ver a massa que se comprimia, frustrando Suas primitivas intenções de repouso, Jesus não demonstra nenhum movimento de impaciência, antes: "compadeceu-se ternamente" (esplagchnÌsthÍ) e
começou a falar-lhes e a curar os enfermos. Aquela gente humilde, pobre, suarenta, desnorteada, deuLhe a impressão de "um rebanho sem pastor". E Monsenhor Louis Pirot ("La Sainte Bible", Letouzey,
Paris, 1946, vol 9, pág 472) escreve: "Jesus teve piedade dessa multidão; os que deviam esclarecê-la,
padres e doutores da lei, são infiéis à sua missão ou estão abaixo de sua tarefa. Preocupados, na maioria, unicamente nos proventos pecuniários que lhes renda seu sacerdócio, ou prisioneiros das tradições
dos Padres, que deformaram a lei e alteraram o verdadeiro espírito do mosaísmo autêntico, eles são
incapazes de guiar o povo para o Messias prometido que, no entanto, se apresenta em pessoa a Israel".
São palavras não minhas, mas de um Monsenhor católico. Mutatis mutandis ...
Diante desses fatos, Jesus sobe da margem para pequena elevação de terreno (João, vers 3) e ali come-
ça a falar.
As horas passam, e todos permanecem embevecidos, presos a seus lábios "que falavam palavras cheias
de amor" (cfr. Luc. 4: 22). Os enfermos, revigorados na saúde, já podem permanecer ali sem maiores
sofrimentos.
Frequentemente a individualidade sente imperiosa necessidade de recolher-se a um lugar isolado,
levando consigo apenas seus veÌculos, para dedicar-se ‡ meditaÁ„o e ‡ prece, para auscultar a "voz
do coraÁ„o", para responder ‡s d˙vidas de seu intelecto, para atender ‡s necessidades de suas emo-
Áıes ensinando-as a controlar-se, para aliviar as tensıes de suas sensaÁıes exacerbadas nos embates
da vida.
Mormente apÛs viagens de pregaÁ„o ou perÌodos de trabalhos mais intensos (ou apÛs cada perÌodo
encarnatÛrio na Terra), aparecem sintomas desagrad·veis, agregaÁıes fluÌdicas, cansaÁo cerebral,
perturbaÁıes emocionais; e sair da "multid„o" para o isolamento do silÍncio e da meditaÁ„o, em
contato com o Eu Profundo È o remÈdio eficaz.
No entanto, nem sempre se consegue isso. Quantas e quantas vezes, exaustos e confusos, vamos ‡ procura de repouso e, em lugar dele, encontramos outra "multid„o" ‡ nossa espera, pedindo favores, suplicando conselhos, solicitando "passes", expondo-nos d˙vidas, jogando-nos em cima seus problemas
... Cabe a nÛs aprender a liÁ„o que nos È aqui ensinada: n„o aborrecer-nos, nem sequer impacientarnos. Olhar sempre os sofredores como "ovelhas sem pastor" e segurar o b·culo do serviÁo, compadecendo-nos de todos os que, ainda presos ‡s ilusıes do corpo e da matÈria, se crÍem injustiÁados.
Mas a liÁ„o tem outro pormenor: o atendimento tem que ser multiface. Em primeiro lugar, o ensinamento, para que o conhecimento apague d˙vidas; depois a cura dos males; em seguida (ve-lo-emos no
prÛximo capÌtulo) o atendimento social. A import‚ncia da urgÍncia e da necessidade de cada um dos
passos È ensinada pela ordem em que foi executada pelo Mestre: 1.º O ensino (alimento do espÌrito); È
o atendimento mais elevado e imprescindÌvel, que se pode dar ‡ humanidade; 2.º a cura das enfermidades (realizada em grande parte pelo conhecimento adquirido com o ensino dado, que desperta a fÈ
e refaz o equilÌbrio); e em 3.º lugar (o ˙ltimo) o atendimento social (alimento do corpo que lhe refocila as forÁas fÌsicas, para dar-lhe energias, a fim de prosseguir na luta di·ria.
* * *
Outra interpretaÁ„o. Nosso Eu ou individualidade jamais deve cansar-se de atender ‡s necessidades
de seus veÌculos, nem de perdoar seus erros. Por vezes, sabemos que È mais difÌcil perdoar a si mesmo, que fazÍ-lo aos outros. Apesar de toda imperfeiÁ„o e incapacidade de nossa personalidade,
aprendamos a suport·-la, ensinando-lhe a evoluir, atendendo-a com amor, sem nervosismos nem an-C. TORRES PASTORINO
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g˙stias, quando ela se mostra incapaz de atingir o alvo que desejarÌamos; demos-lhe o ensino paciente, sem dela exigirmos mais do que possa dar de esforÁo; alimentemos-lhe a fome de conhecimento
com palavras simples, demonstrando que a evoluÁ„o È realmente coisa penosa e difÌcil, carecente de
carinho e ajuda.
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