terça-feira, 20 de setembro de 2011

O REINO DOS CÉUS



Artigo publicado no jornal Unificação - Ano IX - Agosto de 1961 - Número 101

“E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou, Ei-lo ali, porque eis que o Reino de Deus está entre vós”.
(Lucas, Cap. XVII, v. 20/21).

“ E dizia: A que é semelhante o Reino de Deus, e a que o compararei? É semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta, e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.
E disse outra vez: A que compararei o Reino de Deus?
É semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou”.
(Lucas, Cap. XIII, v. 18/21).

“O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu, e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo”.

(Mateus, Cap. XIII, v. 44).
“ O reino dos céus é semelhante ao homem negociante, que busca boas pérolas.
E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.
O reino dos céus é semelhante a uma rede lançada no mar, e que apanha toda a qualidade de peixes.
E, estando cheia, a puxam para a praia; e assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora”.
(Mateus, Cap. XIII, v. 45/48).

Nos trechos evangélicos supra, o Mestre fez evidenciar que o Reino dos Céus não existe como lugar confinado, como mansão de repouso ou plano de contemplação beatífica.
Asseverando que o Reino dos Céus virá sem qualquer demonstração exterior, e ainda mais, que o tão almejado reino está perenemente entre nós, Jesus definiu, de modo inequívoco, como deveremos concebê-lo.
Evidentemente, se uma criatura vive em paz com sua consciência e é perseverante na observação dos ensinamentos evangélicos, estará, obviamente, vivendo num paraíso. Por outro lado, se qualquer indivíduo apenas pratica iniqüidades e reluta em seguir as veredas do Bem, estará, implicitamente, vivendo num verdadeiro inferno.
O Espiritismo proclama a existência dos planos superiores da Espiritualidade, onde os Espíritos que bem desempenharam o aprendizado nas “múltiplas moradas da casa do Pai”, gozam das bem-aventuranças peculiares àqueles que souberam assimilar as leis do amor. Essas regiões elevadíssimas não são destinadas à inação, ao descanso ou a servirem de reduto para espíritos egoístas que consideram a humanidade como parias ou intocáveis relegados à própria sorte.
No intuito de revelar aos seus pósteros a premente necessidade da preparação das almas para a tarefa dignificante de assimilação do reino dos Céus, o Nazareno fez várias comparações concludentes em torno do verdadeiro sentido em que devemos conceber a existência daquele reino. Naquelas felizes demonstrações o Reino dos Céus foi apresentado sob vários prismas que giram em torno do mesmo significado. Comparou-o, Jesus, ao grão de mostarda, que apesar de ser uma das mais minúsculas sementes, produz enorme vegetação; ao fermento que é capaz de levedar grande quantidade de massa; ao tesouro escondido, que, quando é achado por uma criatura, esta vende tudo quanto tem para adquiri-lo; a uma pérola de grande valor, que, quando achada serve de incentivo para quem a descobrir vender tudo quanto tem a fim de adquiri-la e, finalmente, a uma rede lançada ao mar e que, apanhando grande quantidade de peixes, uns são lançados fora como ruins e outros guardados como bons.
A máxima: “Buscai antes o Reino de Deus e sua justiça e tudo vos será acrescentado”, por si só é suficiente para demonstrar que, abrindo o coração para que nele se aninhe o sentimento do Bem, a criatura estará, tacitamente, recebendo pequena semente que se traduzirá em coisas empolgantes e gigantescas a ponto da criatura se sentir em íntimo contacto com as entidades boas e puras da Espiritualidade Superior, as quais, como aves do céu, dela aproximar-se-ão atraídas pelos vários ramos de virtude que emanam da sua alma.
Aquele que sentir em seu íntimo o despertar para as coisas de Deus deverá se desvencilhar de todas as imperfeições, deixando à margem todos os impulsos menos edificantes. Nesse caso deverá agir como aquele homem que, encontrando uma pérola de alto valor ou um tesouro escondido, se decidiu a dispor de tudo quanto tinha a fim de adquiri-los. O ser que pressentir, no âmago da sua alma, que as primícias do Reino dos Céus o estão bafejando com seus influxos, dada a sua qualidade de pessoa que pretende palmilhar a senda do Bem, deverá abandonar todas as preocupações escusas, os vícios, os maus pendores, a fim de possuir aquele Bem maior.
Fazendo analogia entre o Reino dos Céus e uma rede cheia de peixes, da qual o pescador separará os bons, guardando-os na cesta, e atirando os maus para fora, o Messias nos legou um ensino velado do qual temos que subtrair o espírito que vivifica.
O Reino dos Céus é para todas as criaturas de Deus. A rede generosa é lançada para toda a humanidade, indistintamente, assim como o Senhor derrama da sua infinita misericórdia sobre todos os seus filhos. Muitos, porém, não se contagiam por essas coisas sublimes e, quando ultrapassarem o limiar do túmulo, ocorrerá àquela separação lógica que os Evangelhos nos retratam, simbolizada no levantamento da rede e separação dos peixes: aqueles que se compenetraram dos seus deveres entrarão no gozo das coisas do Alto e aqueles que perverteram suas obrigações, que apenas aninharam o mal em seus corações, serão atirados para os lugares onde haverá choros e ranger de dentes – os planos terra-a-terra onde os espíritos ociosos curtirão as dores oriundas de um dever não cumprido, o umbral tenebroso servirá de cenário para essas criaturas que prevaricaram com os seus deveres.
Quando alguém nos disser que o Reino dos Céus está ali ou acolá, não devemos dar crédito. O tão aspirado Reino está dentro de nós e sua penetração em nosso coração se fará sem qualquer manifestação exterior, ou seja, pela simples prática das boas obras, conforme nos ensina o Cristo, através dos versículos 20 e 21 do Capitulo XVII do Evangelho de Lucas.

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