terça-feira, 20 de setembro de 2011

NÃO VADES PARA OS GENTIOS


NÃO VADES PARA OS GENTIOS

"Não vades a caminho de gentios, nem entrei nas cidades dos Samaritanos,
mas ide antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel.. (Mateus, 10:5-7).
À primeira vista parece que razões insondáveis teriam levado Jesus Cristo a recomendar a seus discípulos que não procurasseis os gentios nem os samaritanos, mas de preferência aqueles que, em Israel, estivessem desviados do caminho certo.
Porventura não preceituou o Mestre que "o Pai faz o sol nasce para os bons e para os maus, e a chuva beneficiar justos e injustos". Não é certo que o Mestre tomou os Samaritanos como paradigma de bondade ou de compreensão, conforme se depara da Parágrafo do Bom Samaritano, do seu colóquio com a Mulher Samaritana; do episódio da Cura dos Dez Leprosos? Nestas três passagens evangélicas o Senhor situou alguns samaritanos em nítida situação de superioridade moral e espiritual sobre muitos judeus ortodoxos.
O Mestre jamais recomendou qualquer espécie discriminação, por parte dos seus discípulos, quando fossem pregar as verdades eternas dos Evangelhos. Na recomendação acima ele disse "ide antes" às ovelhas perdidas da Casa de Israel. Isso significa, que, após terem ido às aldeias e cidades de Israel, poderiam aldeias e cidades dos gentios.
À primeira vista parece que estas palavras de Jesus encerram sentimentos de intolerância e menosprezo por determinados agrupamentos humanos, e o trecho acima, do Evangelho de Jesus, deve ter servido, no passado, para justificar perseguições e severos movimentos de repressão contra minorias religiosas que pactuavam com a ortodoxia religiosa prevalecente.
Realmente, o Mestre foi enviado às ovelhas desgarradas de Israel, e não poderia ter sido de outra forma, a povo judeu havia sido adredemente preparado, no decurso de vários séculos, para receber o Grande Missionário. O esforço no sentido de se manter uma estrutura monoteísta no arcabouço religioso do povo hebraico havia custado lágrimas, longos cativeiros, dores e até morte. Graças ao empenho dos antigos profetas e de outros grandes missionários que habitaram a Terra, Israel era a única nação que estava preparada para receber o Messias, para que em seu solo ele desempenhasse sua fulgurante missão de paz e de luz. Eis por que ele disse à Mulher Samaritana: "A salvação vem dos judeus".
O desempenho de um Messiado no seio de uma nação politeísta teria sido muito mais difícil, demandaria muito maior esforço e lograria menor êxito, a trabalho dos apóstolos teria sido muito mais espinhoso, pois entre os gentios tudo estava por fazer, a começar da necessidade de se implantar a crença num só Deus. Haja vista o trabalho gigantesco que Paulo de Tarso, Barnabé e outros missionários tiveram de desenvolver no sentido de proceder à semeadura cristã no coração daqueles povos.
Recomendando a seus apóstolos que não fossem aos pagãos, não representou isso qualquer descaso pela sua conversão, o que teria sido pouco caridoso e até conflitante com o caráter universal da revelação cristã.
É óbvio que o Mestre tem suas vistas voltadas para toda a Humanidade, uma vez que sua missão abarca todos os povos da Terra, entretanto, em seu incomensurável amor, previu tudo para que o seu Messiado fosse completo e suscitou outros missionários que tiveram a tarefa gigantesca de proceder à semeadura da sua mensagem no cenário dos povos politeístas.
Este ensinamento do Mestre se aplica aos homens de todas as épocas, muitos dos quais nem sempre estão preparados para a assimilação dos ensinamentos reformadores. Sempre existiram e existem os céticos, os escarnecedores, os obstinados, os detratores, os opositores sistemáticos. A estes de pouco adiantam palavras esclarecedoras, as quais eles não estão aptos a receber.
O Mestre jamais se importunou em converter os grandes da Terra. Quando algumas pessoas de influência lhe pediram um sinal, sua resposta foi categórica: "Nenhum sinal será dado a esta geração má e infiel". Quando Herodes mandou procurá-lo, pretextando querer conhecê-lo, ele deu ao portador do convite o célebre recado: "lde dizer a essa raposa que ainda por três dias devo expulsar os maus espíritos e curar os leprosos e paralíticos e no terceiro dia serei levantado". Não estava na cogitação imediata de Jesus a conversão dos homens insensíveis, dos cegos que não queriam ver, dos gentios que viviam a braços com grotesco paganismo e dos samaritanos que estavam mergulhados no mais denso obscurantismo, originado por dogmas e observância de pueris tradições. O Senhor preferia antes ir em demanda dos pequeninos, dos Lázaros, das Madalenas, dos Zaqueus, das Marias de Betânia e de outros dessa linhagem - ovelhas desgarradas que careciam voltar sem mais delongas ao redil.
Enquanto, na época de Jesus, devido à estreiteza das idéias: à materialidade dos costumes, tudo estava confinado, hoje, as idéias tendem para um sentido libertador e a tendência é de se caminhar para um mais ativo processo de espiritualização. Na atualidade não existem mais "povos eleitos", nem "gentios", nem "samaritanos pois todos os povos estão sendo preparados para a assimilação luz que brilha nos horizontes do mundo e que não é privilégio de nenhuma nação, de nenhum povo, de nenhuma religião. Os "gentios" deixaram de ser um povo para se tornar uma opinião generalizada em cujo seio as verdades reveladas por Jesus triunfariam um dia. Assim, como o Cristianismo causou a derrocada do paganismo, o Espiritismo, que representa a revivescência de seu Evangelho revelado por Jesus, triunfará de todos os sistemas que não estiverem fortemente fundamentados nas verdades imorredouras do Cristianismo.
Paulo A. Godoy

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