segunda-feira, 22 de agosto de 2011

JESUS EM NAZARÉ ( 71 – 74 )


JESUS EM NAZARÉ ( 71 – 74 )
( Sábado, 21 de outubro do ano 29 D.C. )
Mat. 13:54-58
54 E chegando a sua aldeia, ensinava a eles
na sinagoga deles, de modo que se
admiravam e diziam: 'Donde lhe vem
esta sabedoria e esses poderes?
55 Não é este o filho do carpinteiro? Sua
mãe não se chama Maria e seus irmãos
não são Tiago, José, Simão e Judas?
56 E não vivem entre nós todas as suas
irmãs? Donde lhe vem, pois, isso tudo?"
57 E ele lhes era uma pedra de tropeço. Mas
disse-lhes Jesus: "Um profeta só é
desprezado em sua terra e em sua
casa".
58 E não exerceu ali muitos poderes, por
causa da incredulidade deles.
Marc. 6:1-6a
1 Jesus saiu dali e foi para sua aldeia, e
seus discípulos o acompanharam.
2 Chegando o sábado, começou a
ensinar na sinagoga; e muitos ao
ouvi-lo, se admiravam, dizendo:
"Donde lhe vêm estas coisas? Que
sabedoria é essa que lhe é dada? E
que significam esses poderes
operados por sua mão?
3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria,
irmão de Tiago, de José, de Judas e
de Simão? e suas irmãs não estão
aqui entre nós"? E ele lhes era pedra
de tropeço.
4 Então Jesus lhes disse: "Um Profeta só
é desprezado em sua terra, entre
seus parentes e em sua cata".
5 E não conseguia exercer ali nenhum
poder, a não ser que pos as mãos
sobre alguns enfermo e os curou .
6 E admirava-se, por causa da
incredulidade deles.
Luc. 4:22b-30
22 b E perguntaram: "não é este o filho de
José"?
23 E ele lhes diste: "Certamente aplicareis a
mim este provérbio: "Médico, cura-te a ti
mesmo", o que ouvistes ter sido feito
em Cafarnaum, faze-o também aqui, em
tua terra".
24 Diste mais: "Em verdade vos digo, que
nenhum profeta é aceito em sua terra";
[72]          25 mas, sem dúvida, digo-vos que muitas
viúvas havia nos dias de Elias em Israel,
quando o céu se fechou por três anos e
seis meses, de forma que houve grande
fome em toda a região;
26 mas Elias não foi enviado a nenhuma
delas, a não ser a uma moça viúva, em
Sarepta de Sidon;
27 e muitos leprosos havia no tempo de
Eliseu, o profeta, em Israel, mas nenhum
deles foi limpo, a não ser Naaman, o
sírio".
28 Tendo ouvido estas coisas, eles ficaram
cheios de raiva na sinagoga.
29 E, levantando-se, o expulsaram para fora
e o levaram até um precipício na
montanha em que estava construída a
cidade deles, para lançá-lo abaixo.
30 Ele, porém, passando pelo meio deles,
foi embora.
.
João, 4:44
44 E o próprio Jesus atestou que um
profeta não recebe honra em sua
própria forraSabedoria do Evangelho     Dr. Carlos Tôrres Pastorino
Volume 3 pág. 46/126
Em Marcos encontramos a seqüência cronológica De lá, sai Jesus para sua. aldeia nativa.,
Nazaré, aonde deve ter chegado no fim do ano 29 (sábado, 21 de outubro?). Com Ele seguem seus
discípulos e comitiva, pois não foi para visitar parentes, mas para divulgar a Boa-Nova.
Nazaré fica a cerca de 50 quilômetros de Cafarnaum, e Jesus já passara por lá ao dirigir-se
para fixar residência numa cidade mais importante, em maio/junho desse mesmo ano (veja vol. 2
o
  ,
pág. 47 e cfr. Mat. 4:13 e Luc. 4: 16-22a).
Neste trecho, Lucas se afasta de Mateus e Marcos. Vejamos primeiro estes dois.
Repetindo o que fizera na primeira visita, aguarda o sábado para, na sinagoga local, falar ao
povo. Nesta segunda visita não estamos informados do texto comentado por Jesus. A verdade é que
Suas palavras e os fatos prodigiosos que Dele se narraram, operados em Cafarnaum por Ele
(literalmente: dià tou cheirôn autou, "por meio das mãos dele"), suscitavam uma série de indagações.
Os nazarenos sabiam que Ele era de condição modesta (Marcos, "carpinteiro", téktôn; Mateus, "filho
de carpinteiro” tou téktonos). Sabiam que "sua mãe se chama Maria" (com o verbo no presente do
indicativo, indicando que ela ainda se achava encarnada entre eles) . Sabiam que tinha quatro
irmãos, cujos nomes são citados: Tiago (o menor) considerado "uma das colunas da comunidade de
discípulos" (cfr. Gál. 1: 19; 2:9, 12; Art. 12:17; 15:13; 21:18 e Flávio Josefo, Ant. Jud. 20, 11, 1), autor
de uma epístola, chefe do grupo de Jerusalém até sua morte em 62);  José; Judas (denominado
"Tadeu", outro dos discípulos) e Simão (que não sabemos se terá sido o chamado “ Zelotes", também
discípulo de Jesus). Das irmãs não são citados os nomes, mas deviam ser várias, por causa do
adjetivo empregado: "todas as suas irmãs” .
Dado esse conhecimento de Sua origem, de Sua família e de Sua educação, os nazarenos se
perguntaram como teria Ele conseguido tamanha cultura e de que modo teria obtido os poderes de
dominar a natureza. Diante do conhecimento, não podia ser o Messias, cuja origem deveria ser
desconhecida (cfr. João 7:27). Então a própria figura de Jesus fê-los "tropeçar" na incredulidade e
desconfiança.
[73] Jesus cita um provérbio, aproveitando o ensejo para demonstrar a seus discípulos,
contemporâneos e posteriores, que jamais pensassem em conquistar para sua crença os familiares e
conterrâneos: "o profeta só não recebe honra em sua cidade, entre seus parentes e em sua família".
Sêneca tem a mesma opinião: vile habetur quod domi est (De Benel 3,3): "o que está no lar é julgado
vil".
Dessa maneira, a não ser alguns enfermos a quem curou com Seus passes (imposição das
mãos), nada mais PÔDE fazer, por falta de fé dos compatriotas. Sem a receptividade indispensável
da fé, "que é a substância da coisa desejada (Hebr. 11: 1 ) e portanto forma o "vácuo" que atrai os
fluidos magnéticos, qualquer irradiação se perde no ar, não adere, escorrega pela superfície sem
conseguir penetrar na criatura, qual ocorre com a água numa superfície impermeabilizada. Marcos é
explícito, quando afirma que Jesus NÃO CONSEGUIU; o que para nós é de suma importância para
ensinar-nos a não desanimar quando também não conseguimos realizar determinados efeitos
benéficos em certas pessoas. Uma advertência para admoestar-nos: nem tente!
Nota ainda Marcos que Jesus "se admirou" da falta da fé, da incredulidade deles, dos quais
provavelmente esperava (como todos nós esperamos dos familiares) maior compreensão e mais fé,
provocada exatamente pelo velho conhecimento e pela antiga amizade de companheiros de infância,
aos quais mais do que a ninguém, desejamos ajudar a fazer subir.
Inegavelmente a lição é profunda e eficaz.
Lucas relata essa visita em termos diferentes, talvez porque longe dos acontecimentos e sem
ligação pessoal com os nazarenos, não tenha tido receio de relatar fatos mais graves.
Começa salientando que o próprio Jesus percebe a descrença deles e lê o pensamento que
eles não haviam ousado proferir em voz alta: "Certamente me direis: médico, cura-te a ti mesmo, e
faze aqui o que fizeste em favor de Cafarnaum ( eis tên Kapharnaoum )” .
Dito isto, responde com outro provérbio: "nenhum profeta é aceito em sua pátria” . E para
confirmá-lo cita dois exemplos extraídos da própria Escritura. Refere-se a primeiro a Elias que, (cfr. 1º
Reis, 17:8 e seguintes) perseguido pelos seus na grande fome que durou três anos (Lucas: três anos
e seis meses), não pôde atender a ninguém, mas renovou a provisão de azeite e farinha de uma
viúva de Sarepta, ao sul de Sidon. O outro refere-se a Eliseu, quando curou de lepra o sírio Naaman
(2º Reis, 5: 1 e seguintes), embora não tenha curado nenhum leproso na Samaria.
Essas palavras causam tumulto na sinagoga, provocado pelo despeito que se torna raiva
contra o insolente que, além de nada fazer, diz que só beneficiará outras cidades. Levantou-se a
multidão e expulsou-o aos empurrões da sinagoga, levando-O para "um precipício na montanha emSabedoria do Evangelho     Dr. Carlos Tôrres Pastorino
Volume 3 pág. 47/126
que estava construída a cidade". Não é necessário supor, como diz a tradição, que se tratava do
rochedo de Esdrelon, que fica a 3 km de Nazaré. Não. Qualquer altitude de 3 a 4 metros dava para,
após jogá-lo em baixo, poder liqüidá-lo pela lapidação.
Entretanto, a calma de Jesus em Sua tranqüila dignidade fez que Ele se voltasse sereno,
passasse no meio deles, sem que eles conseguissem mover um dedo contra Ele: num silêncio
constrangedor, eles O vêem retirar-se. Para quem tivesse boa-vontade, o simples fato de haver Jesus
passado pelo meio deles, silenciando a multidão enfurecida, bastaria para demonstrar o “ sinal" que
eles haviam desejado.
[74] A quem lê o evangelho de Lucas de seguida, não deve estranhar o fato de que ele tenha
reunido numa só narrativa as duas visitas de Jesus a Nazaré. Na primeira, Ele se declara
categoricamente o Messias, tendo reservado para seus conterrâneos a primeira revelação explícita, e
com isso conquista-lhes a benevolência. Cerca de quatro meses após, Jesus vai colher o resultado
de Sua declaração anterior; mas o ciúme causado pelo ministério realizado fora da pequenina aldeia
suscita-lhes a má-vontade, que chega ao despeito e à raiva. Lucas, de modo geral, gosta de terminar
uma narrativa no mesmo local, mesmo que para isso tenha que unir dois pormenores afastados no
tempo.
Todas as vezes que uma criatura dá o salto da personalidade para a individualidade, ela se vê
a braços com sérios problemas em seu círculo de parentesco e de amizades. Daí a quase
necessidade de o indivíduo afastar-se de casa, para poder dar cumprimento às tarefas que lhe
competem. Em casa não é recebido: "veio para o que era seu, e os seus não O receberam"; no
entanto os de fora da casa consangüínea, "todos os que O recebem e crêem em Seu nome, a esses
Ele dá o direito de se tornarem filhos de Deus” embora "não tenham nascido do sangue, nem da
vontade da carne, nem da vontade do homem” porque "nasceram de Deus" (cfr. João, 1:11-13). Os
mais afins a nós espiritualmente, sempre os encontramos fora do círculo doméstico.
Lição que precisamos ter sempre diante dos olhos, para não desanimarmos ao ver que,
exatamente os que mais são ligados a nós pela convivência, esses é que mais nos repelem, e até
muitas vezes nos perseguem e caluniam, porque demos mais atenção aos “ outros" do que a eles ...
São trazidos argumentos de "direitos adquiridos" pelos laços do sangue, pela afeição mais
antiga, e todos tropeçam naquele que pode elevá-los na evolução, mas que "não o consegue" pela
falta de fé da parte deles.
O próprio Jesus "se admira da incredulidade deles", dizendo-nos com isso que o mesmo há de
ocorrer com todos os que seguissem Seu exemplo. Os franceses dizem, com razão, "qu'il n'y a pas
de grand homme pour son valet de charnbre", trazendo para o cotidiano o que dissera Jesus: "Só na
própria terra o profeta não é honrado."
Em outro sentido mais restrito, encontramos que os piores inimigos do homem são seus
parentes mais íntimos e mais próximos, ou seja, seus veículos inferiores. Quando o Espírito descobre
os altos cimos espirituais e quer escapar à personalidade, negando-a, os mais ferrenhos opositores
são seu intelecto que duvida, suas emoções que o arrastam para fora de si, suas sensações que
reclamam maior bem estar e comodismo, seu corpo que pesa tristemente numa sonolência que corta
qualquer meditação.
Diante do próprio eu pequenino, o Eu Maior se vê rejeitado, negado e até, se possível, expulso,
pois é julgado qual intruso que busca destronar o vaidoso e personalista eu de suas ilusões
efêmeras.
Num e noutro caso, aquele que souber vencer os percalços e óbices, amando o Cristo mais
que sua personalidade (cfr. Mat. 10:37) e que souber perseverar até o fim (cfr. Mat. 10:22), esse
obterá a vida imanente. Mas caso se deixe envolver por esses laços asfixiantes que escravizam a
criatura, não obterá a liberdade gloriosa dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8:21).
Fomos avisados com clareza, sem ambages; cabe a nós agora a decisão...

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