sábado, 23 de julho de 2011

Ninguém é Profeta em sua Terra - Gênese


1. E, tendo vindo à sua terra natal, ele os instruía nas sinagogas, de sorte que, tomados de espanto, diziam: De onde lhe vieram essa sabedoria e esses milagres? _ Não é este o filho do carpinteiro? Sua mãe não é Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não se acham todas entre nós? E assim faziam dele objeto de escândalo. Mas Jesus lhes disse: Um profeta só não é honrado em sua terra e em sua casa. _ E não fez lá muitos milagres devido à sua incredulidade. (S. Mateus, Cap. XIII, vers. de 54 a 58).
2. Jesus enunciou ali uma verdade transformada em provérbio, que é de todos os tempos, e à qual se poderia dar mais extensão dizendo que ninguém é profeta enquanto viver.
Na linguagem usual, esta máxima se aplica ao crédito que alguém goza entre aqueles em cujo meio vive, da confiança que lhes inspira pela superioridade do saber e da inteligência. Se sofre exceções, são raras, e em todo o caso, elas não são jamais absolutas; o princípio desta ver dade é uma conseqüência natural da fraqueza humana, e pode explicar-se assim.
O hábito de se verem desde a infância, nas circunstâncias vulgares da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que faz com que, muitas vezes, as pessoas recusem reconhecer uma superioridade moral naquele que foi o companheiro ou o comensal, que saiu do mesmo meio e de quem se viram as primeiras fraquezas; o orgulho sofre pelo ascendente que é obrigado a suportar. Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e com a inveja; aqueles que se sentem incapazes de atingir sua altura esforçam-se por rebaixá-lo por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; gritam tanto mais forte quanto se vêm menores, acreditando se engrandecer e eclipsá-lo pelo ruído que fazem. Tal tem sido e tal será a história da humanidade, enquanto os homens não compreenderem sua natureza espiritual e não houverem alargado seu horizonte moral; também este preconceito é próprio dos espíritos estreitos e vulgares, que tudo medem por sua própria personalidade.
Por outro lado, toda gente em geral, faz dos homens apenas conhecidos por seu espírito um ideal que cresce com o afastamento dos tempos e dos lugares. Eles são como que despojados da humanidade; parece que não devem falar nem sentir como o mundo; que sua linguagem e seus pensamentos devem estar constantemente no diapasão da sublimidade, sem cuidar que o Espírito não poderia estar constantemente em estado de tensão, e num perpétuo estado de super-excitação. No contato diário da vida privada, se vê demasiado o homem material, que nada distingue do vulgar. O homem corporal, que impressiona os sentidos, apaga quase o homem espiritual, que apenas impressiona o Espírito; de longe, apenas se percebem os brilhos do gênio; de perto, vê-se o repouso do Espírito.
Depois da morte, a comparação não existe mais, o homem espiritual permanece só, e parece ser tanto maior, quanto se afasta a recordação do homem corporal. Eis porque os homens que marcaram sua passagem por obras de valor real, são mais apreciados depois de sua morte que enquanto vivem. São julgados com mais imparcialidade, porque os invejosos e os ciumentos desapareceram, e os antagonismos pessoais não existem mais. A posteridade é um juiz desinteressado que aprecia a obra do Espírito, aceita-a sem entusiasmo cego se ela for boa, rejeita-a sem ódio se ela for má, feita abstração da individualidade que a produziu.
Jesus pouco podia escapar às conseqüências desse princípio, inerente à natureza humana, por viver num ambiente pouco esclarecido e entre homens devotados inteiramente à vida material. Seus compatriotas viam nele apenas o filho do carpinteiro, o irmão de homens tão ignorantes quanto eles, e se perguntavam que é que podia torná-lo superior a si próprios e dar-lhe o direito de censurá-los; também, vendo que sua palavra tinha menos crédito sobre os seus, que o desprezavam, foi pregar entre aqueles que o escutavam, no meio onde encontrava simpatia.
Pode-se julgar de que sentimentos seus conhecidos estavam animados em relação a ele, pelo fato de que seus próprios irmãos, acompanhados de sua mãe, vieram a uma assembléia onde ele se encontrava, para se apoderarem dele, dizendo que ele havia perdido o espírito. (S. Marcos, Cap. III, vers. 20, 21, e de 31 a 35). O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV).
Assim, por outro lado, os sacerdotes e os fariseus acusavam Jesus de agir pelo demônio; do outro, era taxado de loucura pelos seus próprios parentes. Não é assim que hoje se costuma fazer com relação aos espíritas, e estes devem se queixar de não serem melhor tratados por seus concidadãos do que o foi Jesus? Aquilo que nada tinha de espantoso há dois mil anos, num povo ignorante, é mais estranho no século XIX, nas nações civilizadas.

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