sábado, 23 de julho de 2011

JESUS EM NAZARÉ - Caibar

JESUS EM NAZARÉ

"Indo a Nazaré, onde se criara, ao sábado, entrou na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías e, abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para anunciar boas novas aos pobres e enviou-me para proclamar a liberdade aos cativos, restaurar a vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e proclamar o ano aceitável do Senhor. "

"Tendo fechado o livro, entregou-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fixos nele: Então começou Jesus a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura nos vossos ouvidos. E todos lhe davam testemunho e se maravilhavam das palavras cheias de graça que saíam da sua boca, e perguntavam: Não é este o filho de José? Disse-lhes Jesus: Sem dúvida citar-me-eis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; tudo o que soubemos que fizeste em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra. E proseguiu: Em verdade vos afirmo que nenhum profeta é aceito na sua terra.
Porém com certeza vos digo que muitas viúvas havia em Israel nos dias de Elias, quando se fechou o Céu por três anos e seis meses, de modo que houve uma grande fome sobre a Terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta, de Sidon. Havia também muitos leprosos em Israel no templo do profeta Eliseu; e nenhum deles ficou limpo, senão Naamã, o sírio. E todos na sinagoga se encheram de ira ao ouvir estas coisas; levantando-se, expulsaram-no da cidade e olevaram até o cume da montanha sobre o qual estava edificada a cidade, para o precipitarem; mas Jesus, passando por meio deles, seguiu o seu caminho. " (Lucas iv, 10-30)

"Tendo Jesus saído dali, foi para a sua terra, e seus discípulos o acompanharam. Chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ao ouvi-lo, se admiravam dizendo: Donde lhe vem estas coisas, e que sabedoria é esta que lhe é dada? E que significam tais milagres operados por sua mão? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E suas irmãs não estão aqui entre nós?"

"E ele lhes servia de pedra de tropeço. Então Jesus lhes disse: Um profeta não deixa de receber honra, senão em sua terra, entre os seus parentes e na sua casa. E não podia fazer ali nenhum milagre, a não ser que pôs as mãos sobre alguns enfermos e os curou. E admirou-se por causa da incredulidade do povo. Ele andava pelas aldeias circunvizinhas ensinando. " (Marcos vi, 1-6)

"E chegando à sua terra, ensinava o povo na sinagoga, de modo que muitos se admiravam e diziam: Donde lhe vem esta sabedoria, e estes milagres? Não é este o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isso? E ele lhes servia de pedra de tropeço. Mas disse-lhes Jesus: Um profeta não deixa de receber honra, senão na sua terra e na sua casa. E não fez ali muitos milagres por causa da incredulidade do povo. " (Mateus XIII, 54-58)

Os profetas só têm honra em sua terra, depois de mortos. Nessa ocasião todos lhes dão a primazia, todos exploram o direito patriótico de os exaltarem. Enquanto vivos, contudo, deles todos zombam, são menosprezados, repudiados. Assim acontece nas demais ramificações do saber humano: em sua terra um artista não tem arte, um sábio não tem 
sabedoria, um santo não tem virtudes, embora suas obras se contraponham às negações.

Poderia, porventura, Jesus, criado em Nazaré, oriundo de família humilde, pobre artista que vivia do seu trabalho rústico, gozar, na sua terra, das regalias de um profeta de Deus? Não, não podia. Os preconceitos humanos estão acima de todos os raciocínios, de toda a lógica, impedindo o funcionamento da razão. O Mestre e Senhor já sabia de tudo isto, mas fazia-se mister que o Evangelho fosse pregado em Nazaré; por isso, logo que chegou, aguardou o sábado, em que as sinagogas funcionavam, e tomou a tribuna, porque era esse um direito que a ninguém podia ser recusado.

Naquele tempo os livros que formam hoje o Antigo Testamento não se achavam enfeixados num só volume. Foi-lhe entregue o do profeta Isaías. O Mestre escolheu o trecho que fazia referência à sua missão, toda celeste, toda divina; leu-o, fechou o livro, passou-o ao assistente e sentou-se. Até aquela data o Senhor já havia dado demonstração positiva da alta incumbência que lhe fora confiada: muitas excelentes novas já animavam corações, inúmeros cativos se achavam libertos, cegos haviam recuperado a vista, e o ano aceitável do Senhor já se irradiava em luz benéfica por toda a Palestina.
O Mestre poderia, sem receio, apregoar que nele, de fato, se cumpria aquela Escritura, cujo anúncio era ansiosamente esperado por todas as nações. Mas o homem terreno não se prende ao fundo, à essência, ao Espírito de quem fala; olha para a forma e fascina-se pela palavra que soa. A forma não era má, a palavra era atraente, mas a condição humilde de quem falava era um embaraço para a recepção da Doutrina, que, para ser mesmo pura e verdadeira, deveria ser dada por alguma eminência de alta estirpe e trazer o selo oficial!
Todos aplaudiam o Mestre, arrebatados pela sua Palavra sem mácula, cheia de graça e de amor; ficavam maravilhados, mas o espírito do preconceito perguntava pelos seus lábios: "não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não estão entre nós? Não é este o filho do carpinteiro José?"

Como poderia Jesus livrar-se desse maldito espírito que em vez de sondar corações, devassa a vida privada, semeando mazelas onde não as encontra e distribuindo defeitos onde só há virtudes? Por maior que fosse a força moral do Mestre, por maior que fosse a autoridade de que se revestisse, Ele não se livraria daquele "defeito" - ser um carpinteiro, filho de humilde carpinteiro José, e ter por mãe, irmãos e irmãs, gente do povo que não se salientava por nenhuma representação oficial.

Como poderia o "médico que curava os outros", curar a si mesmo, do mal que os outros diziam prejudicá-lo? Poderia ele fazer em Nazaré tudo o que fizera em Cafarnaum? Não, não podia, porque nenhum profeta é aceito na sua terra, e, além disso, os profetas não podem ser mesmo recebidos por todos, nem a todos são enviados. Em Israel havia muitas viúvas no tempo de Elias, entretanto, a nenhuma delas Elias foi enviado senão à de Sarepta, de Sidon. Muitos leprosos haviam em Israel no tempo de Eliseu, mas nenhum deles ficou limpo, senão Naamã, chefe do exército do rei da Síria.

Os profetas não são enviados a quem não está em condições de recebê-los, assim como não se dá pérolas a suínos, nem brilhantes a felinos, nem as coisas santas aos cães, para que não as despedacem. E como se poderia enviar um médico a doentes que não se querem tratar?!
Mas os mesmos que se arrebatavam, primeiramente com suas palavras cheias de graças, aqueles mesmos que se mostravam maravilhados ouvindo-o, quando ouviram essa censura acre, mas cheia de razão, encheram-se de ira, expulsaram-no da cidade, tentaram precipitá-lo do monte sobre o qual estava a cidade, mas o Mestre não se deixou prender e partiu para outro lugar, pois lhe convinha anunciar o Evangelho em outras povoações.
Entretanto, mesmo na terra da descrença, em Nazaré, Jesus conseguiu curar alguns enfermos, diz o Evangelista Marcos; e, se mais não pôde fazer, diz Mateus, foi devido à incredulidade do povo. A visita a Nazaré, feita por Jesus, testemunha ou faz lembrar mais um dos inúmeros sentimentos de benevolência e abnegação que eram os característicos de tão extraordinária individualidade.
Ele sabia de antemão os resultados que produziria a sua ida a Nazaré, mas era preciso que ficasse gravada nas páginas de sua História mais esse ato de altruísmo do seu elevadíssimo caráter.
Cairbar Schutel

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