segunda-feira, 20 de junho de 2011

CURA DE HEMORRAGIA - Pastorino

Mat. 9:20:22

20. Ora, uma mulher, que padecia há doze anos de hemorragia, veio por detrás dele e tocou-lhe a borla do manto.
21. porque, dizia consigo, "se lhe tocar somente o manto, ficarei curada".
22. Voltando-se Jesus e vendoa, disse: "Tem ânimo, filha, tua fé te curou". E desde aquela hora a mulher ficou sã.

Marc. 5:25-34

25. Ora, uma mulher que padecia há doze anos de um fluxo de sangue,
26. e que tinha sofrido bastante às mãos de muitos médicos, gastando tudo o que possuía sem nada aproveitar, antes ficando cada vez pior,
27. tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocoulhe o manto,
28. porque, dizia: "se eu tocar somente sua veste, ficarei curada".
29. No mesmo instante, secou a fonte de sangue, e sentiu em seu corpo que estava curada de seu flagelo.
30. Conhecendo Jesus logo, por si mesmo, o poder que dele saíra, virando-se no meio da multidão perguntou: "Quem tocou meu manto"?
31. Responderam-lhe seus discípulos: "Vês que a multidão te comprime, e perguntas quem me tocou"?
32. Mas ele olhava ao redor para ver quem fizera isso.
33. Então a mulher, receosa e trêmula, cônscia do que nela se havia operado, veio, prostrou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade.
34. E Jesus disse-lhe: "Filha, a tua fé te curou; vai-te em paz e fica livre de teu mal".

Luc. 8:43-48 

43. E uma mulher que por doze anos tinha um fluxo de sangue e que gastara com médicos todos os recursos vitais, tendo conseguido ser curada por nenhum,
44. chegando-se por detrás tocou-lhe a borda do manto; e imediatamente cessou
fluxo de sangue.
45. Perguntou Jesus "Quem me tocou”? negando-o todos, disse Pedro: " a multidão te comprime e sufoca, e perguntas quem tocou"?
46. Mas Jesus disse: “Alguém me tocou, que percebi que de mim um poder”.
47. Vendo a mulher que não tinha ficado despercebida, veio tremendo prostrar diante dele e declarou, na presença todo o povo, o motivo por que o havia tocado e como fora imediatamente
curada.
48. E ele lhe disse: “Filha, tua fé te curou, vai-te em paz".

Interessante observar que os três sinópticos mantiveram a mesma ordem dos fatos, colocando a cura da
hemorragia no percurso entre o local do pedido de Jairo e a casa dele. 

Também aqui Mateus abrevia os fatos. 

Observemos que não mais se trata de uma cura à distância (como a do servo do centurião), nem do toque intencional de Jesus (como, por exemplo, fez com a sogra de Pedro); trata-se de um contato com Sua roupa, e realizado de surpresa para Ele. 

Nota-se que Marcos e Lucas, que assinalam que a filha de Jairo tinha doze anos, dão à doença da mulher, tal como Mateus, a mesma idade.

Ela consultara numerosos médico, sem obter resultado. Marcos acrescenta que "muito sofrera, gastando seus haveres e piorando cada vez mais", confirmando o que se lê na Mischna (tratado Qidduchin,
4:4) que "o melhor dos médicos é digno da geena" ... Mas Lucas, que também era médico, desculpa
seus colegas, dizendo apenas "que não obtivera a cura".

O catamênio era considerado impureza legal (Levit.  15:15) e contaminava todos os que tocassem a
enferma ou que fossem por ela tocados. Por isso a  pobre mulher mantinha secreta sua enfermidade.
Seu pensamento intuitivo dizia-lhe que "se tocasse nem que fosse a borla (kr·spedon) de seu manto
(im·tion), ela ficaria curada.

YHWH ordenara (Núm. 15:37-41 e Deut. 22:12) que nos cantos do manto, os israelitas deviam pendurar borlas de fios de lã branca, com um fio azul cada uma, a fim de recordarem os mandamentos e os observarem.

Sendo esvoaçante, o manto era mais fácil de ser tocado que a túnica presa à cintura e mais aderente ao
corpo. E a enferma resolutamente abre passagem entre o povo que comprimia Jesus e toca-lhe o manto.

Imediatamente o Mestre sente que de seu corpo saiu um jato de fluidos (poderes) magnéticos curativos, atraídos (sugados) pelo ímã da  fé poderosa. A fé plasma a forma mental da coisa desejada (cfr.
Hebr. 11: 1), e esta funciona como um recipiente a vácuo, que atrai a si os elementos que o encherão;
ou como um "fio-terra", que retira a eletricidade para derramá-la no solo.

Instintivamente indaga quem O tocou. Ninguém se acusa. E Pedro, temperamental, diz-lhe, quase em
tom de reprimenda: "Mestre, a multidão te aperta, e perguntas quem te tocou”? Jesus então confessa a
razão essa pergunta: sentiu a inesperada saída de fluidos curativos. Esta anotação é privativa do "médico" Lucas, não tendo Marcos ousado incluí-la. em suas anotações.

Quando a mulher, que já se refizera de sua emoção ao sentir-se curada, viu que fora descoberta (talvez
por um olhar mais penetrante de Jesus), confessou seu gesto. O Mestre não lhe faz a mínima restrição,
limitando-se a atribuir todo o mérito do ocorrido à sua fé (cfr. Jerôn., Patrol. Lat. vol. 26, col. 58).

A essa mulher a Acta Pilati ou "Evangelho de Nicodemos" (cap.7) dá o nome de Beronike e os textos
latinos "Verônica". A lenda apoderou-se dessa figura e fez que ela, no percurso de Jesus para o calvá-
rio, lhe enxugasse o rosto suado e ferido, ficando Sua Face gravada no lenço (sudário) que mais tarde
operou numerosas curas (cfr. Mors Pilati, 1; Vindicta Salvatoris, 22, 26, 27, 29 e 32, in "Los Evangelios Apócrifos", Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1956).

Observemos o que nos ensina esse fato material.

Em primeiro lugar, notemos que os três evangelistas o colocam na mesma posição: no percurso para a
casa de Jairo, entre o pedido do pai e a cura da filha.

Além disso, os três assinalaram que a mulher sofria de seu catamênio havia DOZE anos; e também que
a menina curada tinha exatamente DOZE anos.

Outros pormenores: o nome hebráico Y‚'yr (Jair, helenizado em Jairo) significa "o sexto". Ora, já vimos (vol. 2) que o número doze, no plano humano, exprime "o holocausto de si mesmo".
O simbolismo é intensificado pelo tipo da enfermidade: a perda de sangue, é a expiação da alma" (hebraico: ki-haddam hu bannephesh iakapher; grego: tò gàr haima autou anti psychês ecsilásetai; Levit. 17:11).

Realmente, o Levítico afirma, nesse local, que "a alma de toda carne é seu sangue" (vers. 11; hebraico:
ki-nephesh habbassar baddam hu; grego: hê gàr psychê pasês sarkòs haima autou esti); e repete a
mesma frase por duas vezes no versículo 14, numa das quais há pequena modificação, para que não
paire dúvida: "porque (quanto) à alma de toda carne, o sangue é por sua alma" (hebraico: ki-nephesh
kal-bassar damô benapheshô hu).

Parece, então, bem claro que a palavra "alma" (do latim ánima, porque sua função é animar o corpo)
corresponde ao que atualmente é chamado, nos meios espiritualistas, de corpo astral, que é o que vivifica e anima o corpo físico. Assim como o duplo etérico toma sua forma visível no sistema nervoso, assim o corpo astral toma sua forma visível no elemento biológico denominado sangue: o sangue é a alma de qualquer animal.

Nós sabemos, com efeito, que o sangue passa constantemente pelo coração, em cujo nó de Kait-Flake
e His está fixa, embora em outra dimensão, a Centelha Divina ou Mônada; aí o sangue capta as vibra-
ções da Vida Divina, que leva a todos os mínimos recantos do corpo para vivificá-lo: se impedirmos a
circulação sanguínea de qualquer membro, este se  necrosa, porque onde não há sangue não há vida,
pois não há alma. Além de buscar vida no coração, o sangue vai apanhar nos pulmões o prana (nitrogênio), para com ele alimentar as células, por mais microscópicas que sejam. Alimento importantíssimo e vital (embora não único), bastando lembrar que, enquanto as células podem viver até dias sem comer nem beber, não conseguem manter-se vivas senão alguns minutos, se parar a respiração, que as alimenta de prana.

Mas, como tudo em a Natureza é aproveitado, o sangue serve de veículo para, enquanto fornece alimento, recolher as impurezas, levando-as ao forno crematório dos pulmões, onde o oxigênio se encarrega de queimá-las na hematose. Veículo do prana (nitrogênio) parece que são os leucócitos (segundo o biologista Dr. Jorge Andréa) que, além disso tem a tarefa de combater os micróbios por meio a fagocitose. Então verificamos que os dois principais elementos sanguíneos têm suas funções bem definidas: enquanto os leucócitos alimentam as células, lhes carreiam as impurezas e as defendem contra os invasores prejudiciais, as hemácias transportam os fluidos vitais, produzindo vida no corpo físico que, sem ele, se reduziria a simples cadáver.

Tendo, pois, o sangue essa importância vital, o máximo sacrifício que pode uma criatura fazer é derramá-lo para defender uma causa; e esse sacrifício serve de "expiação para a alma" (resgata os carmas dos erros do "espírito"). Daí o grande valor das primeiras testemunhas (mártires) do cristianismo, cujo sangue, cristãos" no dizer de Tertuliano, era "a semente de novos cristãos”.

Feito esse preâmbulo, vejamos o simbolismo desse fato material passou no plano físico.

A mulher (elemento feminino, porque representa a "alma" que se manifesta no sangue) aproxima-se de
Jesus (a individualidade) porque completara o resgate de seus erros, e já estava cansada de sofrer por
causa deles. Compreendemos que se trata disso, pelo número DOZE apresentado, simbolizando o autosacrifício voluntário, realizado conscientemente para queimar os carmas dolorosos do passado com o derramamento do próprio sangue (que faz "expiação" pelo espírito).

Nenhum médico terreno conseguira estancar o sangue, antes do final do resgate. Com efeito, por mais
sábia e santa que seja a entidade, encarnada ou desencarnada, ela não conseguirá libertar quem quer
que seja de seus resgates, se não tiver chegado o tempo: só a própria criatura poderá fazê-lo.

Chegado esse tempo, a alma vai, silenciosa e ocultamente (porque qualquer contato deve ser secreto)
em busca do Encontro com a individualidade, dizendo: "por menor que seja  esse contato, por mais
rápido que seja, ficarei liberta de minhas dores". Busca então tocar (entrar em contato) com “a borla de
seu manto" (é pelas pontas que melhor se escoa o magnetismo). Aí alma crê que ao entrar na vibração
da plano da individualidade, certamente terá "estancada a fonte de sangue", ou seja, o kyklos anánke"
(ciclo fatal) do carma.

Acredita, também, que todo o seu agir permanecerá secreto, não contando com a sabedoria da individualidade. Mas sua própria fé, que forma como que um vácuo, atrai a si com força o magnetismo espiritual do Cristo Interno. Sua aspiração é satisfeita de todo, e o espírito lhe dá a paz tão desejada, esclarecendo-lhe que todo o merecimento desse Encontro rápido cabe totalmente à sua fé. No ato material, Jesus faz questão de que o ato se torne público a fim de não perder o ensejo de uma lição preciosa. Daí ter confessado que "sentiu sair de si um fluido", a fim de provocar a confissão da beneficiada, e com isso dar-nos o ensinamento.

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