sábado, 1 de fevereiro de 2014

A segunda volta do Cristo

A propósito do segundo advento do Cristo, Allan Kardec, em “A Gênese”, destaca inicialmente dois trechos do Evangelho:

►  Em Mateus, capítulo 16, versículos 24 a 28:


“Disse então Jesus a seus discípulos:

▬  Se algum quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; ▬ porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo. ▬  Pois o Filho do homem deve vir na glória de seu Pai, com seus anjos, e então dará a cada um segundo suas obras. Digo-vos, em verdade, que alguns daqueles que aqui se encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o Filho do homem no seu reino”.

► Em Marcos, capítulo 14, versículos 61 e 62:


“O sumo sacerdote ainda o interrompeu e lhe disse:

▬  Sois vós o Cristo, o filho de Deus abençoado para sempre? Jesus lhe respondeu:

▬  Eu sou, e vereis um dia o Filho do homem sentado à direita da majestade de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.”


Desses dois trechos kardec considera:

Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que voltará à Terra com corpo carnal, nem que personificará o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos forem chegados.

Considerando que nos albores do terceiro milênio muitos são os cristãos que estabelecem interpretação equivocada de alguns trechos evangélicos, e em particular dos acima transcritos, com humildade e prudência apresento reflexões encontradas no Espiritismo, que talvez venham a dissipar quaisquer névoas sobre o seu entendimento.

►  Os trechos citados formam um grande painel, cuja síntese espírita, sempre concorde com Kardec, pode ser a seguinte:


A) A vida eterna é a do Espírito - a física, efêmera. Convém, pois que cuidemos da primeira, com desprendimento da segunda (a material);


B) Jesus vir com anjos para dar reconhecimento (méritos) subentende a aplicação, pelo Plano Espiritual, da Lei Divina de Justiça, que terá repercussão na Terra, onde atualmente vivem os bons junto com os maus; tal aplicação terá por objetivo separá-los, de forma que:

♣  Os bons (por seus créditos de virtudes) receberão passaporte para permanecerem na Terra, então regenerada (planeta de regeneração é aquele onde o bem supera ao mal);


♣  Os maus terão emigrado compulsoriamente para mundos mais atrasados do que este, onde levarão progresso, ao tempo que se redimirão;

C) Uma segunda vinda de Jesus nos remete inicialmente a três reflexões:


1ª - Um segundo advento do Cristo pode perfeitamente ocorrer. Ele o afirmou categoricamente. Assim, o que impediria tal ocorrência?


2ª - Mas, para os não-cristãos, Jesus não seria o “Cristo” (Ungido de Deus, o Messias) o qual, nem sequer teria vindo uma primeira vez. Assim, no atual patamar religioso terreno, uma eventual volta de Jesus, como da primeira vez, pelo menos para muitos, provavelmente não o fará ser considerado o Messias. Como vemos, aqui há um embate de credos.

3ª - Para a maioria dos cristãos (espíritas, em particular), Jesus não retornará porque… jamais nos deixou, ou deixaria. Apóiam-se na afirmação do próprio Cristo: “Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28:20).

De nossa parte, excluindo a 2ª reflexão, as 1ª e 3ª conciliam-se e tanto uma quanto a outra são viáveis. Ademais, essa questão da “volta de Jesus” deve ser encarada com muita prudência. Para começar, três dias após a crucificação Ele esteve com os Apóstolos, a partir da Estrada de Emaús (Lucas, capítulo 24).

Além das considerações de Kardec, que sintetizamos acima, colhemos as de outros quatro espíritas, todas bem econômicas, demonstrando que o tema não se presta a grandes dissertações… Ei-las:


1ª ▬  Em “Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo”, de Aurélio A. Valente, 9° capítulo, p. 204 e 205, Ed. 1937, FEB, RJ/RJ: “Jesus descerá em toda a sua glória, dirigindo a falange dos Espíritos eleitos do Senhor. De acordo com as escrituras, Ele veio entre os hebreus restabelecer o reino de Deus, mas não foi reconhecido porque eles esperavam o reinado dos homens”;


2ª ▬  Em “Allan Kardec”, de Z. Wantuil e F. Thiesen, Vol. III, p. 85, 2ª Ed., 1982, FEB, RJ/RJ: “A vinda de Jesus, anunciada no Evangelho, processar-se-á, no porvir, quando necessária, no tempo certo, que não sabemos avaliar”;


3ª ▬  Em “Jesus – nem Deus, nem homem”, de Guillon Ribeiro, p. 14, 3ª Ed., 1990, FEB, RJ/RJ: “Esse segundo advento (de Jesus) se dará quando o mesmo Jesus, como Espírito da Verdade, vier em todo o seu fulgor espírita ao planeta terreno purificado e transformado, na qualidade de seu soberano, visível para as criaturas também purificadas e transformadas, mostrar a verdade sem véu”;

4ª ▬  Em “Quando voltar a primavera”, de Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo P. Franco, p. 13, 6ª Ed., 1997, LEAL, Salvador/BA: “Jesus prossegue sendo a eterna Primavera por que todos anelamos. Esperar a Sua volta é a ambição que devemos, no momento, acalentar, preparando a Terra desde então para esse momento de vida, beleza e abundância”.


Dentro do tema, Kardec, ainda em “A Gênese”, registra:

“Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes. (Mateus, capítulo 25, vers. de 31 a 33)”.

Inúmeras são as reflexões de incontáveis autores espíritas sobre o Juízo Final, máxime sobre essa afirmação evangélica que preconiza a separação de bodes para um lado e ovelhas para outro. Em análise objetiva, tais palavras expressam o reconhecimento dos méritos de cada Espírito terreno, encarnado ou desencarnado - aos bons, a Terra regenerada, e aos maus, expurgo daqui, com passaporte e emigração compulsória para mundos primitivos ou mesmo de “provas e expiações”, que os há aos milhões, no Universo.


Destarte, para nós, espíritas, o “Juízo Final” simboliza a regeneração planetária, pelo que nem “Final”, nem coletivo, mas sim, individual, nem tal julgamento acontecerá num exato momento para todos: Na opinião de vários Espíritos, Kardec inclusive, ele (Juízo Final) já começou há tempos e nisso, como aliás desde sempre, quem define com infalível acerto as coisas é a consciência de cada um, ditando-lhe seu destino.

Àqueles que tenham anestesiada a consciência, a infalibilidade das Leis Divinas, em particular a de Justiça, aplica-se automaticamente, no dizer magnânimo de Jesus, que repetimos: a cada um, segundo suas obras. Mas, ainda refletindo sobre eventual volta de Jesus há uma penosa realidade (pelo menos nos tempos de hoje) para os cristãos: Ele não é nem nunca foi unanimidade terrena.

Senão, vejamos:

♣  A época de Jesus na Terra, a população mundial, segundo estimativa de alguns demógrafos, oscilava de 170 a 250 milhões de habitantes: fiquemos na média;


♣  Mem todos O aceitaram como o Mestre dos mestres;


♣  Até hoje, não aceitar o Cristo como o Messias, de forma alguma exclui alguém de proceder fraternalmente, de “ser do bem”. Não! Ser bom jamais foi apanágio apenas dos seguidores de qualquer credo ou religião, ou mesmo de eventuais ateus;


♣  Em 1952, no livro “Roteiro”, Ed. de 1952, da FEB, RJ/RJ, pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito Emmanuel informava que para os dois bilhões de Espíritos encarnados havia vinte bilhões desencarnados (2:20);


♣  Em 1964, no “Anuário Espírita de 1964”, Ed. do I.D.E., Araras/SP, pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito André Luiz informava que para os três bilhões de Espíritos encarnados havia vinte e um bilhões desencarnados (3:21);


♣  Assim, na primeira citação (de Emmanuel), temos que para um encarnado havia dez desencarnados (1:10), e na segunda (de A.Luiz), a proporção era de um para sete (1:7);


▬  Atualmente, seis bilhões e meio de pessoas habitam a Terra.

▬  Quantos desencarnados?
Se ficarmos com o último dado, de A. Luiz: 21 + 3 – 6,5 = 17,5 bilhões;


♣  Todos esses números (citação feita apenas como conjetura, que como tal, não passa de opinião pessoal) parecem sinalizar que o planeta Terra, do tempo de Jesus entre nós aos dias atuais, vem sendo destino de grande número de Espíritos alienígenas.

♣  Se volvermos ao tempo de Jesus (210 milhões de encarnados) imaginar qual o número de desencarnados de então é número que fica difícil de ajuizar, mas pela proporção, talvez seja de dez vezes mais do que dos encarnados, isto é, algo em torno de três bilhões;

♣  Dessas reflexões temos que para mais de vinte bilhões de Espíritos, encarnados e desencarnados, sequer estariam na Terra, quando da primeira vinda de Jesus, logo, para eles, não haveria retorno, senão sim, um primeiro contato;

♣  Segundo o “Almanaque ABRIL - Mundo” de 2002, Editora Abril, SP/SP, p. 83, em 2000 havia cerca de dois bilhões de cristãos no mundo. Ora, dedutivamente (6,5 – 2 = 4,5) quatro e meio bilhões não O têm como referencial de “Salvador”.

Triste. Mas essa é a realidade, hoje!


▬  Contudo, quem poderá negar que com os fantásticos meios de divulgação hoje existentes, um novo estágio de Jesus entre nós agirá como sublime catalisador de uma expressiva melhoria moral da Humanidade, catalisando a regeneração deste planeta?

Fonte: Jornal dos Espíritos.

▬  Sim, temos a confirmação de que Jesus voltará em breve, e precisamente, na próxima noite do dia 24 de dezembro, que, embora historicamente não coincida com os fatos - mas é esta a data em que comemoramos, cristãos de todo o planeta - o nascimento daquele que foi e é o nosso maior exemplo a ser seguido.

Também poderíamos dizer, mas desta vez um pouco mais à frente:

▬  Sim, Jesus voltará no coração de cada homem e de cada mulher que se fizer seu(sua) seguidor(a), pois assim “está escrito” que seja, não por predestinação, não porque uma ou outra religião humana ou crença esotérica ou exotérica tenha assim predito, conforme o mito ou arquétipo (universal) do Messias em que se baseia, mas porque nós, seres humanos em trânsito da fase moral de provas e expiações terrenas e de outras dimensões de vida, estaremos nos encaminhando natural e espontaneamente para Ele, que tão clara, explícita e objetivamente explicou e exemplificou que assim fôssemos e fizéssemos. Dizia ele:

▬  "Eu sou o caminho, a verdade, a vida; ou ainda: Ninguém vai ao Pai, senão por Mim"

É tão clara e explícita foi a sua lição, que nós, em nossa pobre humanidade, até agora, questionamos a sua efetiva validade, pois não conseguimos assimilar, porque rebuscados e complexos são os caminhos que a raça humana escolheu e escolhe.

Uma mensagem divina, para nós, não poderia vir de uma simples manjedoura, sem atavios ou enfeites, cercada de animais domésticos e de gente empobrecida e sacrificada, pois um Ser Divino deve possuir o selo da excelência, nascer em berço de ouro, e, se nos tempos atuais, em apartamento de cobertura ou em condomínio fechado, de pais cujo status social lhe assegurasse o futuro, fácil de ser previsto, pois cercado de facilidades, pompa e circunstância.

Uma mensagem divina, para ser “verdadeira”, jamais se cercaria de sacrifícios ao bem-estar próprio, à posição social, aos bens, à juventude, ao vigor da inteligência.

O flagício da cruz, em nosso entendimento, jamais seria o caminho para a implantação de uma nova idéia, ou de uma verdade. Pois os caminhos que traçamos para o estabelecimento de um novo paradigma perpassam pelos organismos internacionais, pelos conluios com as autoridades representativas do Estado e dos governos; pelas políticas, pelos cargos necessários, em nosso entendimento, mas profundamente falhos em essência, pois não constituem verdades de razão - para que ela, a idéia, ou paradigma, se firme.

De nenhuma forma, jamais passaria pelo nosso pensamento, que o sacrifício implicasse em abandono de amigos e família, de despojamento de posição ou status social, de torturas morais e físicas inauditas, pois se Jesus era e é divino, grandiosos foram os seus sofrimentos (porém, não em nossa forma de pensar).

☻  E como seria um Justo, um Messias, um Ser Divino?
☻  E como Ele viria até nós?
☻  E o que diria?

Em parte já o dissemos, mas ainda assim nos sentaríamos em assembléia de doutos conselheiros para discutir se a sua Divindade é real ou fictícia, e talvez ficássemos anos e anos nessa discussão. E concluiríamos, finalmente, de que não há, absolutamente, provas que atestem a veracidade de sua identidade. Chamaríamos doutores de todas as especialidades para a discussão científico-filosófica ou filosófico-científica acrescidas das ponderações teológicas de tal ou qual religião através de seus magnos representantes.

E sairíamos a apontar os detalhes de sua aparência, idade, status social e performance intelectual, analisaríamos as Suas palavras pela semântica, morfologia e sintaxe empregados, as suas expressões faciais e postura física, a qualidade das grifes com as quais, evidentemente, estaria trajado, as colocações mais acertadas e objetivas, a qualidade do vocabulário.

Certamente, Ele teria que ser um doutor em várias especialidades, mormente em psicologia avançada, pois seria autor de um evangelho que, necessariamente traria receituários terapêuticos para a felicidade imediata, para o bem-estar moral e físico...

A Sua vinda teria que trazer toda a tecnologia avançada que se preze, e talvez, quem sabe, viria até nós, à semelhança dos antigos deuses da mitologia, que se exibiam aos olhos espantados da humanidade-infante, em carruagens de fogo, por entre relâmpagos e trovões. Mas talvez bastasse um veículo interplanetário com toda a tecnologia de ponta (desconhecida na Terra), esta sim, importante, para atestar a veracidade de sua Divina Identidade.

Certamente é de se esperar que Ele nos livrasse da violência de todas as formas hoje expressas, do ódio, da corrupção, da leviandade, do sofrimento, da fome ou dos excessos, das doenças crônicas e agudas, das epidemias e pandemias, das síndromes psicológicas, dos transtornos de comportamento, dos sentimentos torpes, da carência moral, espiritual e afetiva, da falta de assistência, de amizade, de amor, do vazio existencial imenso e terrível, pois este é o papel do mito.

Contudo, Ele, o Ser Divino por excelência veio até nós, há 2010 anos, numa noite fria, em uma pobre manjedoura cercada do calor físico de animais domésticos, do amor de seus pais, do respeito dos pastores. Foi saudado por Reis, amado pelos bons, odiado pelos maus.

Personificando o Refúgio da Dor, ensinou-nos como combatê-la, ou melhor, compreendê-la. Amante da verdade, ensinou-nos como procurá-la, e encontrá-la; Caminho por entre as trevas, mantém ainda acesas as luzes da verdade divina para que possamos nos conduzir sem grandes tropeços. Revelou-nos o Pai de amor e misericórdia que nos criou e continua a velar por nós, filhos ingratos, rebeldes e malvados.

E porque desejasse que fossemos felizes, legou-nos uma herança, aliás, duas.

Uma delas é o seu Evangelho, a outra é a promessa contida nele, de que estaria em espírito e verdade através do paracleto, em dias futuros, quando deixássemos a brutalidade dos instintos vigentes por sobre a inteligência e a afetividade, e quiséssemos alcançar o reino, por livre e expontânea vontade.

E em abril de 1857, um simples professor - pois os grandes mestres e grandes missionários não trazem atrativos transitórios , um pedagogo da alma e do espírito, burilado ele mesmo nas reencarnações de labor, renúncia e aflições, trabalha intensamente com os representantes do reino para implantar, em definitivo, o caminho, a verdade e a vida acrescidos de elementos conducentes ao entendimento do porquê devemos ser bons. E retira o seu nome, substituindo-o por um pseudônimo, para que não entendêssemos que ele detinha os direitos de autoria de um ensino eterno e sublime, mas do qual era apenas portador, organizador e trabalhador.

E porque é simples a sua mensagem, e a do paracleto, o Espiritismo, e porque é através da humildade de princípios e da coragem de se superar; e porque o Seu fardo é leve, fácil de passar pela porta estreita, é que não aceitamos o jugo, suave por excelência, de Jesus.

E porque não aceitamos a humildade, a simplicidade; e porque teimamos em carregar o fardo da intolerância, da cupidez, do personalismo doentio, da agressividade contra tudo e contra todos, como um permanente estado íntimo de guerra, nos demoramos hoje no sofrimento profundo, violento, destruidor e destrutivo.

Quem sabe, um dia, festejaremos o verdadeiro Jesus desataviado das crenças mitológicas que teimam em permanecer vigentes em nossa forma de ser e estar na existência, e comemoraremos, subindo aos telhados, literal e abstratamente, e ergueremos as mãos para o alto, e assim, surpresa!, alçaremos vôo para encontrarmos a nossa própria divindade, transcendente e imanente, e nesse vôo sublime, nos encontraremos com Ele, Jesus, que, estará, apenas e tão somente, simples e amorosamente, feliz pelo reencontro pois, então, poderemos ser todos um só com o Pai.

Por Sonia Theodoro da Silva - São Paulo – SP

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
O Evangelho Segundo o Espiritismo:
Allan Kardec.
Boa Nova:
Humberto de Campos,
Chico Xavier.


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