domingo, 27 de outubro de 2013

Pensando Sobre A Deficiência - A Raiz da Cegueira Social....

Pensando Sobre A Deficiência - A Raiz da Cegueira Social....

Rinaldo Correr




O homem é um animal muito inteligente. Nós ampliamos, ao longo de um curto período evolutivo, todas as nossas potencialidades. Nossa inteligência nos torna imbatíveis em qualquer lugar e diante de qualquer força viva. Olhemos para a nossa sociedade e para a nossa história: um complexo, emaranhado e fascinante conjunto de possibilidades é o reflexo da pessoa humana. Cada um de nós é o espelho da singularidade, da diferença. Hoje, mais do que algumas décadas atrás, fala-se muito em eficiência, estar “plugado”, ser dinâmico, estar na moda... O homem está entre duas situações de julgamento pelos seus semelhantes. Por um lado, teme e evita o anonimato, o ser um “ninguém”, um zero à esquerda”, aquele que ninguém percebe a presença ou a ausência. Por outro lado, todos tem medo de serem criticados pela roupa que está vestindo, por aquilo que faz, pela pessoa que está acompanhando e por mil outras coisas que povoam nossos pensamentos.
Ter uma deficiência neste nosso mundo é um fardo muito pesado, pois coloca a pessoa com algum tipo de dificuldade, congênita ou adquirida, automaticamente no rol das pessoas indesejáveis. Indesejáveis para a amizade, para o trabalho, para a família, para si próprio. Antes mesmo de sabermos o nome ou arriscar conhecer um pouco da pessoa com deficiência, uma parede espessa magicamente se levanta entre nós e o outro. Esta escuridão que nos cega responde pelo nome de preconceito. O pior de tudo é nos cega da pior forma, em todos os sentidos, principalmente na capacidade de amar, apreciar, acreditar... Nos torna imunes aos fatos, quando estes insistem em revelar que, como qualquer pessoa, temos fraquezas e valores. Algumas teorias insistem na justificação das nossas atitudes excludentes e discriminatórias, dizendo que rejeitamos o “corpo danificado”, que temos medo daquele que é essencialmente diferente, em que a diferença está “na cara” ou na imprevisibilidade dos comportamentos. Ora, a pergunta ressoa em meus ouvidos: Será que o homem que construiu sua própria imagem e que determina com inteligência sua complexa natureza, uma verdadeira “metamorfose ambulante”, não consegue tornar obsoletos essas determinações.
Talvez os construtores da verdade (que a inventam e a mantém) queiram continuar com os mesmos ideais de homem - belo, forte e feliz - que se escondem atrás daquilo que deve ser consumido, principalmente aquilo mais caro, disponíveis virtualmente pelos que possuem riqueza, e que se sustentam no desejo que não se realiza nunca...
Eu sou incorrigível na crença de que a chave da construção de uma sociedade justa está nas nossas mãos. Podemos nos libertar dos fantasmas do passado e celebrar a diversidade e a maravilhosa aventura que é viver.

Para a cura da cegueira social é preciso duvidar das certezas e desvelar o homem que está escondido debaixo do homem. Não custa tentar.
 
Rinaldo Correr
Psicólogo, Mestre em educação, Doutorando em Psicologia Social - USP, Diretor da ABEP e Professor da Universidade do Sagrado Coração - Bauru/SP.
Contato e-mail: rcorrer@uol.com.br

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