sexta-feira, 9 de maio de 2014

AS TRÊS REVELAÇÕES: MOISÉS, CRISTO, O ESPIRITISMO - Leda Ebner

AS TRÊS REVELAÇÕES: MOISÉS, CRISTO, O ESPIRITISMO - Leda Ebner Dezembro / 2001

1 – Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para dar-lhes cumprimento. Porque em verdade vos digo que o céu e a terra não passarão, até que não se cumpra tudo quanto está na lei, até o último jota e o último ponto.
( Mateus, V: 17-18).
         
O título do capítulo indica o seu objetivo, ou seja compreender que os ensinos de Jesus não contrariam as leis naturais ou divinas, embora contrariem as leis dos homens.
         
Para isso, Kardec decidiu estabelecer raciocínios em torno das três revelações: Moisés, Cristo e o Espiritismo.
         
Lembremo-nos que a palavra revelação significa " ato ou efeito de revelar, ou de revelar-se. Manifestação, prova, testemunho..." Revelar quer dizer " tirar o véu a; descobrir, declarar, fazer conhecer, divulgar.
         
Kardec considerou como revelações divinas e maiores na história da humanidade terrena os ensinos de Moisés, de Jesus e do Espiritismo.
         
Inicia seu estudo por Moisés, a primeira grande revelação, visto que sempre, em todas as épocas e em todos os lugares, em todos os povos há revelações divinas através de
         
Homens que se manifestam à frente do seu tempo, em conhecimentos e vivências.
         
Iniciando pois, os raciocínios em torno de Moisés, ele esclarece a existência de duas partes bem distintas nas suas leis: a lei de Deus, recebida no monte Sinai e a lei civil ou disciplinar, estabelecida por Moisés, portanto, lei humana, necessária à aquele povo, à aquela situação, à aquela época.
         
A primeira é para todos os tempos, para toda a humanidade da Terra, mudando-se apenas a sua aplicação e vivência na medida da evolução da inteligência, da sensibilidade e da moral dos homens.
         
A segunda é sempre variável, transformando-se, conforme mudam-se os costumes e hábitos dos homens que compõem essa comunidade, esse povo para o qual essas leis foram feitas. Assim, toda mudança realizada pela maioria dos homens de uma nação, transforma-se em lei civil, como mostra claramente a história de cada nação.
         
A lei de Deus está demonstrada nos Dez Mandamentos:

I.   Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
Não terás deuses estrangeiros diante de mim. Não farás para ti imagens de escultura, nem figura alguma de tudo o que há em cima do céu, e do que há embaixo na terra, nem de coisa que haja nas águas, debaixo da terra. Não adorarás, nem lhes darás culto.
II.   Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
III.  Lembra-te de santificar o dia de Sábado
IV.  Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a terra que o Senhor teu Deus te há de dar.
V.   Não matarás.
VI.  Não cometerás adultério.
VII. Não furtarás.
VIII. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
IX.    Não desejarás a mulher do próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem outra coisa alguma que lhe pertença.
         
Estes mandamentos constituíram-se na base da justiça da legislação humana, na base do amor que viria mais tarde, caracterizando a revelação de Jesus.
         
A primeira revelação buscou auxiliar os homens no desenvolvimento da justiça no relacionamento entre os mesmos.
         
Todas as outras leis, que fazem parte de lei mosaica, foram feitas por Moisés para um povo atrasado, indisciplinado, subordinado durante muito tempo à leis estranhas a sua cultura, com anseios de liberdade, mas também acomodados aos costumes do povo que o subjugava. Se ainda hoje, a maior parte da humanidade procura satisfações imediatas, com dificuldades de trabalhar por resultados a médio e longo prazo, com todo o progresso científico, tecnológico, e também o da moral ( embora bem menor) realizado pela inteligência do homem, imaginemos as dificuldades encontradas por Moisés na condução daquele povo, durante quarenta anos , para chegar à terra prometida !
         
Precisou então, impôr leis rigorosas e severas para atingir o objetivo que era de todos, mas nem todos estavam preparados para as dificuldades e sacrifícios necessários. Deu a essas leis a autoridade divina para que pudessem aceitá-las. E deu a Deus características de severidade e de rigor terríveis ( Talvez Deus fosse assim também percebido por ele, como saber ? ).
         
Somente a idéia de um Deus, Senhor dos Exércitos, que castiga seus inimigos e premia seus amigos, severo, terrível na sua vingança, na sua cólera, poderia, pelo temor, conservar a união entre eles em torno do objetivo de chegar à terra prometida, mantendo a sua crença em um Deus único.
         
As leis de Moisés eram leis humanas adequadas à um povo, naquela época e, portanto, tinham o caráter provisório como toda lei humana.
         
Mais de mil anos depois, vem Jesus, dizendo que não veio destruir a lei ou os profetas, veio dar- lhes cumprimento.
         
No capítulo XI deste livro, Kardec transcreve um texto de Mateus, XXII:34-40, no qual Jesus responde aos fariseus que o maior mandamento da lei é " Amarás ao Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma , e de todo o teu entendimento." "E o segundo, semelhante a este é : Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." E acrescenta "Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas."
         
Alterou Jesus os dez mandamentos recebidos por Moisés? Não. Se bem observarmos, os dois primeiros referem-se a Deus, ao relacionamento entre os homens e Deus, aos seus deveres para com Ele; os outros referem-se ao próximo, ou seja ao relacionamento dos homens entre si, estabelecendo os deveres de cada um para com o outro.
         
Jesus portanto, esclareceu que para o cumprimento verdadeiro desses mandamentos, em toda a sua extensão e profundidade, é necessário amar ao próximo.
         
Jesus veio para dar cumprimento ao amor e à justiça divina, que não abandona seus filhos, mas os auxilia no seu desenvolvimento intelectual e moral, enviando Espíritos Maiores a fim de despertar a humanidade rebelde que, ainda hoje. tem dificuldade em apreender as leis de Deus. Jesus foi o maior de todos !
         
Jesus alterou sim (e muito!) as leis civis de Moisés, porque já era hora de iniciar-se na Terra a Era do Espírito, onde os valores espirituais sejam discutidos, analisados, aprendidos e vivenciados. Só então, o mal desaparecerá da Terra e o Bem prevalecerá para sempre.
         
 A grandeza da missão de Jesus é demonstrada nos seus ensinos, na sua vivência de plenitude do amor e da sabedoria, dando aos mandamentos recebidos por Moisés, a amplitude de entendimento não só da justiça, característica da primeira revelação, como do amor, característica da segunda.
         
Na frase: " O céu e a terra não passarão, até que não se cumpra tudo quanto está na lei, até o último jota e o último ponto.", fica bem expressa a idéia da necessidade do cumprimento da lei divina na Terra em toda a sua pureza e em toda a sua sabedoria. A lei do progresso é inexorável e força tudo e todos ao desenvolvimento do seu potencial.
         
Assim interpretada, essa vivência de todos nessa lei iguala toda a humanidade no mesmo destino : Deus é Pai de todos, contrariando a idéia de povo eleito acima de outros.
         
Os ensinos de Jesus são pois, para todos os homens, para todos os tempos, sendo seu entendimento ampliado com o desenvolvimento intelectual e moral dos homens.
         
Jesus veio ensinar a lei do amor e o caminho a ser trilhado no desenvolvimento desse amor no coração e na inteligência de todos os homens.
         
Ensinou também, que a verdadeira vida, não se encontra na Terra, onde a lei da destruição é ainda necessária, para que tudo se transforme e evolua. A vida verdadeira, para a qual todos caminhamos é a do Reino de Deus, onde os Espíritos puros vivem a vida espiritual, de amor e trabalho, pois disse Jesus: " Meu Pai trabalha incessantemente e eu também."
         
Jesus, o Espírito mais perfeito que veio à Terra, falou das leis divinas, muitas vezes claramente, outras de forma mais velada, para que permanecendo nos seus ensinos, pudessem ser, mais tarde, esclarecidas, quando a ciência, fruto da inteligência dos homens permitisse mais e melhor entendimento. Então, o homem, mais esclarecido, mais amadurecido, mais sensível às coisa espirituais, poderia compreender melhor as leis do Pai.
         
E foi assim que no século XIX surgiu o Espiritismo, cumprindo a promessa de Jesus de enviar outro Consolador, "... que vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito." ( João, XIV: 26)

AS TRÊS REVELAÇÕES: MOISÉS, CRISTO, O ESPIRITISMO PARTE -2
CAPÍTULO 1 – ITEM 5

O ESPIRITISMO
 No mês anterior, vimos as duas primeiras revelações: Moisés e Jesus. Vamos refletir um pouco sobre a terceira , que é o Espiritismo.
         
Por que Kardec, baseado nas revelações do Espíritos, colocou esta nova doutrina como a terceira grande revelação?
         
No Evangelho de João, capítulo XIV : 15 a 17 e 26, encontramos: " E eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. – Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito." No capítulo XVI : 12 a 14 lemos:" Tenho ainda muito que vos dizer, mas não o podeis suportar agora; quando vier o Espírito de Verdade ele vos guiará a toda verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir."
         
O espiritismo veio no século XIX, quando a Ciência, não mais permitindo aos homens a aceitação do que sua razão não podia aceitar, propiciou-lhe a abertura intelectual necessária para compreender a Ciência do Espírito, a que veio revelar um novo mundo interagindo conosco, suas leis, seus habitantes, esclarecendo muitos dos ensinos de Jesus, até então aceitos sem ou com pouca compreensão.
         
O espiritismo desvendou aos homens esse mundo espiritual como " uma das forças vivas e, incessantemente, atuante da natureza, como a fonte de fenômenos, até então incompreendidos, e por essa razão rejeitados para o domínio do fantástico e do maravilhoso!"
         
O espiritismo veio provar a imortalidade da alma, aceita e divulgada pelas religiões existentes .
         
Assim como Jesus, o espiritismo não veio revogar as leis do Pai, mas esclarecê-las com novas e comprovadas explicações, que tornaram muitos dos ensinos de Jesus , até então, aceitos somente pela fé dogmática, aceitáveis pela razão e portanto, facilitando a sua aplicação no viver cotidiano da Terra.
         
Cumpre desse modo, o espiritismo a promessa de Jesus de ensinar todas as coisas até então ocultas e de lembrar as que estivessem esquecidas, tornando mais claras as lições ensinadas, muitas sob a forma de alegorias.
         
É o novo Consolador porque consola através da razão, com explicações lógicas e claras, mostrando o que somos, de onde viemos, o que fazemos e para onde vamos, o porquê do sofrimento na Terra, ao mesmo tempo que desperta a nossa sensibilidade para o desenvolvimento do amor em nós.
         
Os princípios espíritas vão pouco a pouco, penetrando na mente e no coração dos homens, transformando - os em seres mais conscientes da justiça e do amor de Deus, das suas próprias potencialidades, das suas possibilidades infinitas que os levarão a viver o verdadeiro amor ao próximo, que tornarão a Terra no mundo de paz e felicidade, almejado por todos.
         
O espiritismo difere das outras duas revelações, porque não está centrada em ninguém, sendo o resultado dos ensinos dos Espíritos, através de médiuns de toda parte do mundo, Espíritos que ainda hoje continuam se manifestando, na tarefa de auxiliar o progresso moral da humanidade.
         
Allan Kardec não criou o espiritismo. Apenas percebeu nos fenômenos que surgiam por toda parte e que sempre existiram, leis novas e desconhecidas, dispondo-se a estudá-las, o que fez, codificando assim, a nova doutrina Criou a palavra espiritismo para destacar os novos ensinos do espiritualismo existente.
         
Se a característica da revelação de Moisés é a justiça, a do Cristo o amor, a do espiritismo é a verdade; não que as anteriores não tivessem também essa qualificação, mas porque veio trazer verdades que só então, o homem , mais esclarecido e mais amadurecido, poderia compreender, para melhor poder vivenciar as leis de Deus de dentro para fora, pela sua razão e sensibilidade.
         
A finalidade do espiritismo é o desenvolvimento da fé raciocinada, "que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade."
         
A missão do espiritismo é pois, a mesma de Moisés e de Jesus: auxiliar o progresso moral dos homens, a fim de que eles possam desenvolver-se na justiça, no amor e na verdade.
         
Jesus é o Espírito mais puro que já viveu na Terra, a quem Deus confiou a evolução dessa humanidade e continuará na direção dessa tarefa, enquanto esses Espíritos , sob a sua direção, não atingirem a perfeição e a felicidade possíveis.
         
Jesus é a porta para o reino Deus, o espiritismo é a chave que nos ajuda a transpô-la, facilitando a aplicação dos seus ensinos, mesmo em um mundo imperfeito como a Terra.

Leda de Almeida Rezende Ebner
Janeiro / 2002

ALIANÇA DA CIÊNCIA COM A RELIGIÃO
Neste item, Kardec apresenta" o conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal, leis tão imutáveis como as que regulam o movimento dos astros e a existência dos seres" como o traço de união entre a Ciência e a Religião.
         
Considera ele a Ciência e a Religião como sendo as duas alavancas da inteligência humana, ou seja instrumentos de seu desenvolvimento, reconhecendo que a primeira revela as leis do mundo material e a segunda as leis do mundo moral.
         
Como ambas têm o mesmo princípio, que é Deus, elas não deveriam se contradizer. Ambas deveriam andar juntas, facilitando o desenvolvimento do homem." A incompatibilidade que se acredita existir entre ambas está em uma falha de observação e do excesso de exclusivismo de uma e de outra parte." A Ciência definiu seu campo de ação em sendo apenas os fatos materiais. A Religião se manteve firme nos seus dogmas, ignorando as descobertas da Ciência.
         
Lembremo-nos que no século XIX, o desenvolvimento intelectual e científico teve um avanço muito expressivo, contrariando dogmas das religiões dominantes, gerando um desenvolvimento muito grande do materialismo, alargando o fosso existente entre religião e ciência.
         
Assim, compreendeu Kardec a importância dos ensinos espíritas na revelação do mundo espiritual, das suas leis, dos seus habitantes, da sua influência sobre o mundo material e os seres. Percebeu ele que com os estudos novos do espiritismo, a Ciência deixará um dia de ser exclusivamente material, levando em conta também o elemento espiritual do homem ; a Religião por sua vez, acompanhará as comprovações científicas, conhecendo-as, aceitando-as, porque a Ciência também tem origem divina. E escreve Kardec : " Então a Religião não mais desmentida pela Ciência, adquirirá uma potência indestrutível, porque estará com a razão e não se lhe poderá opor a lógica irresistível dos fatos".
         
Escreveu Kardec que o espiritismo, sendo uma doutrina também em evolução como tudo que existe, jamais será ultrapassado, visto que se a Ciência provar algo diferente do que diz, ele se modificará nesse ponto e acompanhará a Ciência.( A Gênese, cap. I item55)
         
Até hoje todavia, Kardec não foi desmentido em um único ponto. O contrário acontece : a Ciência caminha na direção da descoberta do Espírito imortal e seus princípios, como os da reencarnação, da influência do mundo espiritual sobre os encarnados, cada vez são mais aceitos por pessoas não espíritas.
         
Em O Livro dos Espíritos, questão 917, Fénelon prevê: " O espiritismo, bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, as usanças e as relações sociais."
         
Carlos Toledo Rizzini, no seu livro Fronteiras do Espiritismo e da Ciência, escreve que" Kardec sintetizou todos os conhecimentos numa só moldura, ao declarar que as leis da natureza fazem parte da lei de Deus e que as duas ciências se completam...", sendo uma indispensável à compreensão e ao progresso da outra.
         
Diz também que o conhecimento que a Ciência propicia gera condições favoráveis ao desenvolvimento da fé, que precisa de conteúdo intelectual: para crer é preciso compreender e que o método científico da experimentação e da observação, se ajusta bem à finalidades religiosas, tendo provado a existência do espírito. Sendo a Ciência a maneira moderna de obter conhecimentos, e Religião um sentimento," uma e outra se completam no processo de evolução de todas as almas para o Criador e para a perfeição de Sua obra." ( Emmanuel ).
         
Afirma Kardec que com o conhecimento do mundo espiritual, das suas leis e suas relações com o mundo material, que o espiritismo constatou pela experiência," uma nova luz se fez : a fé se dirigiu à razão; esta nada encontrou de ilógico na fé e o materialismo foi vencido."
         
Toda idéia nova encontra barreiras na sua compreensão e na sua aceitação. Mas os princípios espíritas, sendo esclarecimentos de leis naturais, caminha , cada vez melhor compreendido, pois a Ciência, somente, não é capaz de satisfazer os anseios espirituais do homem, que precisam ser satisfeitos, juntamente, com a satisfação das necessidades físicas e biológicas, para ser feliz e viver em paz consigo e com os outros.
         
Com o conhecimento científico e com os ensinos espíritas tem o homem as duas alavancas que o auxiliarão na tarefa de seu próprio desenvolvimento.
         
Fica claro também que o espiritismo não veio como uma religião constituída como as demais, para competir no entendimento da verdade. É religião no sentido de levar seus adeptos a terem sentimento religioso de ligação a Deus, de elevarem-se acima das coisas materiais no desenvolvimento de sua espiritualidade, pelo uso da razão na aceitação das leis divinas, no esforço de melhorar-se a si próprio e de melhorar o mundo em que vive.
         
"A fé preconizada pelo espiritismo é a fé raciocinada, ou seja, dotada de conteúdo intelectual e submetida à luz da razão; os princípios aceitos são aqueles que são demonstrados com evidência ou os que ressaltam logicamente da observação."
         
A Ciência pois, tem muito a ganhar com suas revelações, que lhe ampliam seu campo de ação no entendimento maior do mundo em que vivemos e dos seus habitantes.

Leda de Almeida Rezende Ebner
Fevereiro / 2002

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS: A NOVA ERA - UM ESPÍRITO ISRAELITA - MULHOUSE 1861
Assina esta mensagem mediúnica Um Espírito Israelita, recebida em Mulhouse em 1861.Faz ele uma análise das missões de Moisés, de Jesus e do Espiritismo, demonstrando-as adequadas ao entendimento dos homens de sua época. Os ensinos que cada um trouxe, numa seqüência clara e lógica, conforme o amadurecimento espiritual da humanidade terrestre, encontraram mentes e corações esclarecidos, que os receberam, compreenderam-nos e os divulgaram.

 Interessante observar que a primeira revelação foi revelada a um homem Moisés, a segunda foi trazida e revelada por Jesus, o Espírito mais perfeito que veio à Terra e a terceira é centrada numa doutrina , codificada por um homem Allan Kardec, a partir das revelações de milhares de Espíritos através de médiuns de muitos países . Jesus continua na direção desse movimento renovador e redentor para auxiliar a humanidade no seu progresso espiritual.

Embora um povo, o hebreu, tenha sido escolhido para receber a primeira grande revelação, pela sua fé firme em um só Deus, Moisés a recebeu para toda a humanidade, pois os Dez Mandamentos constituíram-se no alicerce de toda a moral trazida por Jesus cerca de um mil e trezentos anos depois e a base para todos os códigos da justiça humana.

" Os comentários da Bíblia reduziam-lhes o sentido porque, postos em ação em toda a sua pureza, não seriam então compreendidos. Mas os Dez Mandamentos de Deus nem por isso deixaram de ser o brilhante frontispício da obra como um farol que devia iluminar para a humanidade o caminho a percorrer."

Os povos da época de Moisés, ainda muito atrasados quanto à evolução espiritual, não conseguiram compreender a adoração a Deus sem os holocaustos ou sacrifícios e nem tinham amadurecimento espiritual para compreenderem valores espirituais, por estarem ainda quase que inteiramente voltados para a vida material, na satisfação das suas necessidades materiais. Necessitavam pois, de uma religião que atendesse a essas necessidades. " Os sacrifícios pois, lhes falavam aos sentidos, enquanto a idéia de Deus lhes falava ao espírito."

Necessário então se torna separar, para a humanidade atual, a lei de Deus contida nos Dez Mandamentos das leis criadas por Moisés para um povo rude e atrasado na evolução espiritual.

A moral ensinada e vivida por Jesus, embora ainda difícil de ser praticada até para os que aceitam Jesus como o Messias Prometido é a moral que deve ser desenvolvida por todas as humanidades do Universo infinito, embora possa ser mais minuciosa e exigente em mundos onde habitam os Espíritos muito evoluídos.

A meta para a humanidade terrestre, constituída de encarnados e desencarnados, é viver segundo a moral que Jesus ensinou através das palavras e dos exemplos. Por isso Jesus disse: " Eu sou o caminho, a verdade e a vida e ninguém vai ao Pai senão por mim." Ele sabia o que dizia !

A moral de Jesus é o mais perfeito código de leis , o único capaz de transformar o homem, vindo dos reinos inferiores em anjos de luz, como Jesus demonstrou ser. Capaz de encarnar em um mundo inferior, morada de Espíritos imperfeitos e rebeldes à lei do Amor, conviver com eles, aceitando-os como eram, ensinado-lhes, com sabedoria e amor, as leis divinas, respeitando as leis humanas, imperfeitas, parciais, injustas, semeando muito para uma colheita fraca, aos poucos, no decorrer de milênios, entregando-se até ao sacrifício da cruz, por amor a seus irmãos inferiores.

A moral de Jesus é a única que tornará a Terra um mundo superior, morada de Espíritos sábios e bons, porque a lei do progresso é para todos e para tudo. A progressão é para o espírito e para a matéria. Tudo evolui para melhor !

O grande desenvolvimento científico e tecnológico atual, prenunciando avanços nunca antes imagináveis, não tem sido capaz de tornar o homem feliz, que é o maior desejo de todos, e a realização dessa aspiração está incluída na lei divina pois, não se pode conceber Deus Criador e Pai com criação imperfeita e filhos infelizes.

A moral de Jesus, direcionando toda a inteligência e capacidades espirituais é que tornará toda a humanidade feliz, um dia, como já tem tornado felizes os Espíritos Puros. Na proporção da evolução moral dos seus habitantes , a Terra, galgando os degraus da escala evolutiva será um mundo melhor e o único caminho a para isso é a vivência da moral contida nos Evangelhos de Jesus.

Esse desenvolvimento não será feito sem lutas, mas será realizado porque a razão nos diz que o progresso é um determinismo divino.

Termina o autor: " Foi Moisés quem abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o espiritismo a concluirá."

Leda de Almeida Rezende Ebner
Março / 2002

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS: A NOVA ERA - FÉNELON - POITIERS 1861
Assina a mensagem mediúnica, sem título, FÉNELON, recebida em Poitiers em 1861. É toda uma exortação aos cristãos, aos que ouvem as vozes dos Espíritos esclarecidos que revelaram o complemento que faltava para o entendimento mais completo da mensagem de Jesus, a trabalhar para a implantação do reino de Deus na mente e nos corações humanos.

Diz ele que um dia, veio Jesus, trazendo a luz que iluminaria toda a Terra, que então andava em trevas. Após, o mundo viveu alternando verdade e obscuridade, mais obscuridade que verdade. Vieram então, os considerados mortos, numa " invasão organizada ", como denominou Conan Doyle no livro História do Espiritismo, através de médiuns de nacionalidades diferentes, em lugares diferentes, falando da continuidade da vida, da existência do mundo espiritual, onde vivem os que partiram, através da morte, demonstrando que levamos para o além túmulo tudo o que somos internamente, em faculdades, qualidades e imperfeições e que a lei do progresso existe não só para as coisas materiais, mas igualmente para a espirituais, tanto na Terra quanto fora dela.

Afirma Fénelon que o espiritismo é de ordem divina, porque repousa sobre leis da natureza, leis divinas, sábias, justas, misericordiosas, imparciais, perfeitas, e que tudo que vem de Deus tem sempre uma finalidade elevada e nobre.

Assim, veio o espiritismo, numa época em que a Ciência florescia, como hoje, mas conduzindo os homens, unicamente, para o bem- estar material, desprezando sua parte espiritual, não satisfazendo portanto, suas necessidades espirituais, facilitando assim, a expressão do egoísmo e do orgulho, com todas a suas conseqüências. Afirma Fénelon que " o coração e o amor devem marchar unidos à ciência."

Exorta-nos a voltarmo-nos para as lições de Jesus. O espiritismo esclarecendo sobre quem somos, nosso destino, nossas necessidades, a responsabilidade de cada um no seu progresso espiritual, leva os homens a viver a moral ensinada por Jesus.

O conhecimento espírita das leis divinas, aliando razão e sentimento, naturalmente, mostra ao homem a necessidade de ser moral no relacionamento com ele mesmo, com o próximo e com Deus, estimulando-o a querer ser bom, que é o maior objetivo da vinda de Jesus na Terra: que o homem seja inteligente e bom.

É determinismo divino que o progresso seja feito em tudo e em todos e quem não progride pelo amor o faz pela dor. Assim, exorta-nos Fénelon ao estudo dos Evangelhos à luz do espiritismo, num esforço de compreensão, aceitação e vivência, fortalecendo-nos para melhor enfrentar as dificuldades do presente e do futuro, a revolução mais moral do que material, que a humanidade já vive e continuará vivendo até que a Terra possa ser um mundo melhor.

A fé raciocinada deve estimular o trabalho de todos em favor da melhoria da humanidade, numa convivência de respeito mútuo aos direitos e deveres de cada um e de todos, a partir do campo de atuação de cada homem.

" Os homens mediante sua inteligência chegaram a resultados jamais vistos no que diz respeito às Ciências, à Artes e ao bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: é o de fazer reinar entre eles a caridade, a fraternidade, a solidariedade, para assegurar-lhes o bem – estar moral." . ( A Gênese, Allan Kardec, capítulo XVIII, item 5).

" Sois o grão de areia, mas sem os grãos de areia não haveria montanhas." " A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho" " A nova cruzada começou: apóstolos da paz universal, e não da guerra, modernos são – Bernardos, olhai para a frente e marchai! A lei dos mundos é a lei do progresso."

Nós , cristãos, estamos sendo convocados a trabalhar em favor da paz em todo lugar a começar pelo nossos lares, com nossos vizinhos, companheiros de trabalho e de outras atividades , ligando-nos pelo pensamento e sentimento aos habitantes e governantes de nosso país e de todas as demais nações , para que aprendamos a conviver na compreensão e respeito na diversidade de idéias e opiniões, transformando a Terra em um mundo melhor, mais justo e mais prazeroso.

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS: A NOVA ERA - ERASTO, DISCÍPULO DE SÃO PAULO - PARIS 1863
Erasto, discípulo de Paulo trouxe essa mensagem em Paris, em 1863 sobre Santo Agostinho, que ele afirma ser um dos maiores divulgadores do espiritismo, manifestando-se por toda parte, através de médiuns diversos. Assim ele o faz porque, quando encarnado, aos trinta e dois anos de idade, ele " sentiu na própria alma a estranha vibração que o chamava para si mesmo e lhe fez compreender que a felicidade não estava nos prazeres enervantes e fugidios."
         
Sua mãe, desde que ele nascera em 13 de novembro de 354 em Tagaste, na província romana da Numídia, na África, cristã convicta, educou-o nos princípios da religião, o que ele desprezar.
         
Em um dia, deprimido e angustiado procurando por um sentido na vida, ouviu uma voz de criança a cantar seguidamente: "Toma e lê, toma e lê." Havia um livro sobre a mesa. Ele o abre ao acaso e lê : " Não caminheis em glutonarias e embriaguez, não nos prazeres impuros do leito e em leviandades, não em contendas e emulações, mas revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis da carne com demasiados desejos." Parou de ler, "uma espécie de luz inundou-lhe o coração, dissipando todas as trevas da incerteza." Eram palavras de Paulo de Tarso. Decidiu então, penetrar " naquela regra de fé, por onde, há muito, sua mãe caminhava."
         
Tornou-se vigário, bispo e permaneceu por mais de quarenta anos ligado à igreja de Hipona.
         
Até o quarto século, o cristianismo era uma doutrina, aparentemente, simples, baseada nos escritos evangélicos, sem fundamentação filosófica, ou seja " não se apresentava como um conjunto de idéias produzidas e sistematizadas pela razão em um todo lógico. Era uma doutrina revelada e não uma filosofia."
         
Houve " tentativas de mostrá-lo ( o cristianismo) como doutrina não oposta às verdades racionais do pensamento filosófico helênico, tão respeitado pela autoridades romanas.. São Justino ( séc. II), Clemente de Alexandria ( sec. II e III ) e Orígenes ( sec. III) caminharam por essa via e revestiram a revelação cristã de elementos da especulação filosófica grega." Todavia, outros " reagiram contra essa mistura e defenderam a idéia da revelação cristã baseada exclusivamente na fé e nada tendo a ver com a especulação racional." Dentre estes, Tertuliano ( sec. II e III) que afirmava crer ainda que isso fosse absurdo.
         
Santo Agostinho tentou fazer essa aliança entre a fé e a razão, realizando uma síntese à qual denominou "filosofia cristã", sistematizando uma concepção do mundo, do homem e de Deus, que se tornou por muito tempo a doutrina fundamental da igreja católica.
         
Erasto nos apresenta Santo Agostinho como" um dos mais firmes pilares do Evangelho", desde sua conversão na Terra , em agosto do ano 386. Cita, numa demonstração de fé e de previsão do espiritismo, suas palavras, após o desencarne de sua mãe: " Estou certo de que minha mãe virá visitar-me e dar-me os seus conselhos, revelando-me o que nos espera na vida futura."
         
Afirma Erasto que , " vendo chegada a hora de divulgação da verdade, que ele já havia pressentido, faz-se o seu ardente propagador, e se multiplica, por assim dizer, para atender a todos os que o chamam."
         
Procurou Erasto mostrar-nos a continuidade da vida do Espírito, desenvolvendo-se sempre, num aprendizado constante na busca da verdade maior e continuando na tarefa de divulgar a verdade que apreende, auxiliando seus irmãos na retaguarda, cooperando na obra do Pai.
         
Kardec, em uma nota, faz a seguinte pergunta: "- Santo Agostinho vem, por acaso, modificar aquilo que ensinou?"
         
O homem na Terra, recebe os conhecimentos e os assimila segundo seu grau evolutivo. Assim, os que mais avançam em desenvolvimento espiritual e trabalham para o desenvolvimento dos seus irmãos na difusão da verdade possível, são também limitados pela inferioridade da humanidade e analisam muitas coisas segundo a percepção que conseguem alcançar neste plano. Estes , ao desencarnar, evidentemente vêem com muito mais clareza e facilidade a verdade e modificam algumas ou muitas de suas idéias.
         
Desse modo, no plano espiritual, Santo Agostinho ao compreender o cristianismo com toda a sua pureza, pode, perfeitamente, pensar de maneira diferente sobre determinados pontos da verdade que abraçara . Justamente por isso, sabendo que o espiritismo não contraria em nada a doutrina do Cristo, sendo, ao contrário, o complemento que faltava a ele , quando encarnado, torna-se um seu divulgador, continuando a ser um cristão mais esclarecido que antes, continuando sua tarefa de servir a Jesus, na obra de Deus, procurando conduzir os cristãos " a uma interpretação mais sã e mais lógica dos textos."
         
Da mesma forma, Espíritos que ensinaram e exemplificaram o mal, que colaboraram para erros e enganos, quando esclarecidos, se arrependem, preparam-se e retornam à Terra, mais tarde, para desfazer o que fizeram; sofrem as conseqüências nas ações dos que lhe seguiram as idéias contrárias às leis de Deus, lutam e trabalham para os convencer dos enganos, levando-os a modificarem suas idéias e atitudes.
         
Bendito é Deus que criou leis sábias através das quais, seus filhos progridem sempre, em qualquer lugar, em qualquer tempo, em direção da perfeição e da felicidade !

           Nota : Os dados sobre a vida de Santo Agostinho foram tirados do livro Santo Agostinho, da coleção, Os Pensadores, da Nova Cultural, de São Paulo, em 1987.

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