domingo, 19 de junho de 2016

Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo

Reencarnação - objetivos existenciais
Qual o maior objetivo de nossa existência? Por que muitos não valorizam a própria vida? Segundo a Doutrina Espírita, o que significa as palavras "nascer de novo", proferidas por Jesus? É-nos possível a conquista do "Reino de Deus"?
       

          Nossos objetivos mais imediatos são aqueles que dizem respeito à família, ao trabalho, às relações sociais, às amizades... Todos eles representam prioridades que, quando bem administradas, garantem nosso bem-estar físico e emocional.

         Todavia, é considerável o número de pessoas que, por não possuírem propósitos e ideais bem definidos, fazem do seu dia uma experiência insossa e vazia, mesmo que tenham uma família para cuidar, um emprego a manter ou pessoas com quem se relacionar. Dessas, quantas são as que se queixam de que tudo dá errado em sua vida! Mas, se as questionarmos sobre o que, verdadeiramente, desejam, e o que estão fazendo para assim o conseguirem, não saberão responder.

         O Espírito Joanes faz a seguinte advertência:



            Seria muito belo se cada pessoa, principalmente as que ainda não encontraram sentido para as próprias vidas, resolvessem perguntar-se: o que é que posso fazer em prol do mundo onde estou? Ou, por outro lado: afinal, para o que é que vivo? Para quem é que eu vivo?

            Muito dificilmente não achará respostas valiosas, caso esteja, de fato, imbuída da vontade de conferir um sentido para a sua existência no mundo.

            (...) Quando se encontram razões para viver, passa-se a respeitar e honrar as bênçãos da existência terrestre, o que converte cada momento em oportunidade valiosa para crescer e progredir.

            A vida na Terra não precisa ser um ‘campo de concentração’ a impor-lhe tormentos a cada hora. Se você quiser, ela será um jardim de flores ou um pomar de saborosos frutos, após a sementeira responsável e cuidadosa que você fizer. Dedique-se a isso.  [1]



         Nessas palavras, Joanes faz referência a um dos ensinamentos mais relevantes da Doutrina Espírita. É o postulado de que existe, sim, uma finalidade maior a envolver cada ação que praticamos, cada pensamento que produzimos e cada sentimento que alimentamos: o nosso aperfeiçoamento íntimo, a evolução própria.

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         Numa noite, quando Jesus foi visitado pelo fariseu Nicodemos (Jo 3:1-15) [2] – e os fariseus eram extremamente rigorosos quanto ao cumprimento das leis mosaicas e dos costumes e rituais judaicos, este reconheceu a autoridade moral e espiritual do Cristo, dizendo-lhe: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.”

         Captando-lhe o estado íntimo, Jesus, de pronto, lhe respondeu: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus.”

         E o que seria esse reino? Algum lugar circunscrito? Em linhas gerais, podemos afirmar que ele é, na realidade, um estado íntimo de harmonia e paz, fruto da conscientização da própria imortalidade e da superação de toda forma de conflito íntimo.

         Porém, muitas religiões cristãs interpretam esse “nascer de novo” como sendo o batismo: ritual de iniciação ou de conversão com o uso da água. Mas Nicodemos compreende que o sentido das palavras do Cristo não era esse; tanto que, logo em seguida, questiona: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”

         Entendemos que o fariseu não teria dito “voltar ao ventre materno e nascer segunda vez”, se o renascimento na carne não fosse uma teoria conhecida na época – mesmo que não aceita por muitos, porque senão suas palavras teriam se reportado, por exemplo, ao ritual que João Batista já praticava com seus seguidores.

         Contudo, Jesus volta a enfatizar sua anterior resposta: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água (segundo a interpretação espírita: corpo imerso no ventre materno) e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.”

         No entanto, a literatura espírita argumenta que a reencarnação – ou seja, esse “nascer de novo” – representa uma dádiva que não é devidamente valorizada nem mesmo por muitos espíritas! E por quê? Porque são poucos os indivíduos que, efetivamente, estabelecem, para si mesmos, propósitos e objetivos elevados e se mantêm na trilha deles, não permitindo que as dificuldades e as exigências da vida cotidiana os façam perdê-los de vista.

         Reconsiderar conceitos, repensar hábitos, aprofundar conhecimentos, reformular pensamentos, redirecionar sentimentos, superar limitações e imperfeições, trabalhar pela melhoria da própria realidade: eis o programa para quem deseja levar da Terra o maior número de experiências positivas.

         O pensamento inscrito no dólmem construído sobre o túmulo de Allan Kardec, em Paris, “nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”, sintetiza não apenas o propósito maior da reencarnação, que é a evolução do indivíduo, mas todo um processo de conquista íntima do “Reino de Deus”, a ser realizado por cada um de nós ao longo da eternidade.

         O Espírito Eça de Queirós fala sobre a relevância da oportunidade que a reencarnação representa:

       

            Sabemos que, ao aportarmos neste orbe em cumprimento a mais uma reencarnação, trazemos no Espírito marcas indeléveis de comportamentos inadequados que mantivemos e, retornando, muitas delas afloram, aquelas que Deus permite, para que as dirimamos de vez.

            (...) A falta de conhecimento de que a vida continua, de que o Espírito é imortal (...), faz com que aqueles que assim não pensem assumam compromissos profundos por darem à sua existência um rumo inadequado. Eles colocam todas as expectativas de vida em conquistas menores, esquecidos de que trazem uma inteligência concedida por Deus, para promoverem o seu aprimoramento, desenvolverem suas potencialidades, pensando na imortalidade do Espírito, para que sua passagem pela Terra deixe marcas de dignidade, de elevação de caráter, de esforço, porque só assim estarão realizando o crescimento espiritual.

            (...) Se somos compelidos a encarnar sucessivamente, dentro dessas oportunidades que Deus nos concede, devemos aproveitá-las todas em favor do próprio aprimoramento, para que, a cada retorno ao mundo de origem, levemos o Espírito menos carregado de débitos e com algum aprendizado realizado.

            (...) Contudo, devemos considerar: seja qual for a condição em que cada um chega para cumprir a sua encarnação, é justamente aquela em que deverá estar, em vista da sua programação de vida.

            Deus sabe o de que cada um necessita e o coloca no lugar adequado, para o seu próprio bem. (...) Ele visa ao Espírito, pois é este que deve, após os embates da vida, brilhar e refulgir.

            Enquanto esse dia não acontece, vamos vivendo, indo e vindo, aceitando o que temos, compreendendo o lugar onde fomos colocados, mas lutando sempre e não nos acomodando, porque é da nossa capacidade de lutar que progredimos.  [3]






A REENCARNAÇÃO

            166 – A alma que não alcançou a perfeição na vida corpórea, como acaba de depurar-se?
            Suportando a prova de uma nova existência.
         
            — Como a alma realiza essa nova existência? É por sua transformação como Espírito?
            Depurando-se, a alma sofre, sem dúvida, uma transformação; mas para isso lhe é necessária a prova da vida material.

            — A alma passa, pois, por muitas existências corporais?
            Sim, todos nós passamos por várias existências físicas. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram; esse o seu desejo.

            — Parece resultar desse princípio que a alma, depois de deixar um corpo toma outro, ou, então, ela se reencarna em novo corpo; é assim que se deve entender?
            É evidentemente.
         
            167 – Qual é o objetivo da reencarnação?
            Expiação, aprimoramento progressivo da Humanidade, sem o que, onde a justiça?

            168 – O número das existências corporais é limitado ou o Espírito se reencarna perpetuamente?
            A cada nova existência, o Espírito dá um passo no caminho do progresso; quando se despojou de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.

            169 – O número de encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?
            Não, aquele que caminha depressa se poupa das provas. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas porque o progresso é quase infinito.

            170 – Em que se transforma o Espírito depois da sua última encarnação?
            Espírito bem-aventurado; é um Espírito puro. [4]





Silvia Helena Visnadi Pessenda

sivipessenda@uol.com.br





REFERÊNCIAS


[1] JOANES (espírito); TEIXEIRA, José Raul (psicografado por). Para uso diário. 2. ed. Niterói, RJ: Fráter. 2000. Cap. 25.

[2] BÍBLIA. Português. Bíblia de estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

[3] QUEIRÓS, Eça de (espírito); CANUTTI, Wanda (psicografado por). O bem e o mal. 3. ed. Capivari, SP: Editora EME, 2003.
Cap.1. p. 11-14.

[4] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Livro II. Cap. IV.


ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Jesus e o evangelho à luz da psicologia profunda. 1. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2000.

SANTOS, Paulo R. Adolescente, mas de passagem. 1. ed. Capivari, SP: Editora EME, 2000.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus. 17. ed. Matão, SP: Casa Editora O Clarim, 2001.

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